Prefácio Há poucos livros sobre a história da educação, e ainda menos livros que procuram mostrar o papel que a obra educacional exerceu no desenvolvimento das nações. O fato de não ser possível separar a religião do sistema de educação mantido por seus defensores, e ter nele sua base, é algo que já foi reconhecido por muitos historiadores de forma casual; mas, segundo o conhecimento do autor, até o momento, ninguém fez desse pensamento o assunto de todo um livro. Ao ensinar a história da educação e o crescimento do protestantismo, a íntima relação entre este e os verdadeiros métodos de educação levou a um estudo cuidadoso do sistema educacional das nações da Terra, em especial daquelas nações que exerceram uma influência duradoura sobre a história do mundo. A presente obra é o resultado desse estudo. D'Aubigné afirma que, na Reforma, "a escola foi imediatamente colocada ao lado da igreja; e essas duas grandes instituições, tão poderosas para regenerar as nações, foram reavivadas por ela. Foi por meio dessa íntima aliança com o ensino que a Reforma penetrou o mundo". A verdadeira educação, o protestantismo e o republicanismo formam uma tripla união que desafia os poderes da Terra em seus esforços para destruí- la; mas, atualmente, as igrejas protestantes estão se tornando fracas, e a ostentada liberdade da democracia americana está sendo trocada por princípios monárquicos de governo. Alguns atribuem essa fraqueza diretamente à falta de uma educação adequada. E muitos outros chegariam à mesma conclusão de que a falta de uma educação adequada é a causa para a degeneração prevalecente, caso os efeitos fossem traçados até a sua fonte. O autor desta obra procurou, por meio do uso generoso de citações históricas, organizar os fatos de maneira que o leitor perceba que a esperança do protestantismo, bem como do republicanismo, reside na correta educação da juventude; que esta verdadeira educação pode ser encontrada nos princípios dados por Jeová ao Seu povo escolhido, os judeus, e posteriormente demonstrado de forma mais completa pelo Mestre por excelência, Jesus Cristo; que a Reforma testemunhou um reavivamento desses princípios; e que os protestantes da atualidade, se forem fiéis à sua fé, educarão seus filhos de acordo com esses mesmos princípios. O justo crédito é dado aos autores citados, e uma lista com seus nomes é apresentada ao final deste volume. E. A. Sutherland Capítulo 1 Introdução: Deus, a Fonte da Sabedoria "Na verdade, a prata tem suas minas, e o ouro, que se refina, o seu lugar. O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre. [...] Da terra procede o pão, mas embaixo é revolvida como por fogo. Nas suas pedras se encontra safira, e há pó que contém ouro. Essa vereda, a ave de rapina a ignora, e jamais a viram os olhos do falcão. Nunca a pisaram feras majestosas, nem o leãozinho passou por ela" (Jó 28:1-8). "Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento? O homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos viventes. O abismo diz: Ela não está em mim; e o mar diz: Não está comigo. Não se dá por ela ouro fino, nem se pesa prata em câmbio dela. [...] O ouro não se iguala a ela, nem o cristal; ela não se trocará por joia de ouro fino; [...] Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento? [...] Deus lhe entende o caminho, e Ele é quem sabe o seu lugar" (Jó 28:12-23). Algumas vezes o homem acha que ele mesmo compreende o caminho da sabedoria, e se orgulha de saber o lugar dela. De fato, em certa medida ele pode compreendê-la, e até mesmo determinar onde ela se encontra; mas esse conhecimento vem de uma única fonte, e apenas dela. Aquele que entende o seu caminho e sabe o lugar dela abre um canal que liga a Terra à fonte da vida. Na criação do universo, essa sabedoria foi manifestada. "Quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, então, viu ele a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou" (Jó 28:26, 27). Escrita na face da criação está a sabedoria do Eterno. "E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento" (Jó 28:28). Em outras palavras, quando o homem vive em harmonia com Deus -- isto é, quando fisicamente age em conformidade com as leis do universo; quando mentalmente os seus pensamentos são os pensamentos do Pai; e quando espiritualmente sua alma responde ao fascinante poder do amor, o poder que controla a criação --, então ele ingressou na vereda real que conduz diretamente à sabedoria. Onde está o sábio? Em cada coração humano encontra-se implantado um anseio de entrar em contato com a sabedoria. Deus, pela abundância de vida, é como um grande imã, atraindo a humanidade para Si. Tão íntima é essa união que em Cristo estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Em um homem -- um homem feito de carne e sangue como todos os que agora vivem sobre a Terra -- habitou o espírito de sabedoria. Mais que isso, Nele "todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos"; e, assim, a vida de Emanuel permanece como uma constante testemunha de que a sabedoria de todas as eras está acessível ao homem. O registro sagrado acrescenta: "Também Nele estais aperfeiçoados" (Cl 2:10). Essa sabedoria traz vida eterna, pois Nele "todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos" (Cl 2:3); "também Nele estais aperfeiçoados". "E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17:3). Cristo, no poço de Jacó, explicou à mulher samaritana, e por meio dela explica a mim e a você, o meio de receber sabedoria. O poço de água viva, de cujas profundezas o patriarca havia tirado água para ele, seus filhos e seu gado, poço este que também foi deixado como rico legado às gerações futuras, que dele beberam e bendisseram o seu nome, simbolizava a sabedoria do mundo. Hoje, os homens confundem esta sabedoria com aquela descrita em Jó, cujo caminho Deus entende e cujo lugar Ele sabe. Cristo falou a respeito desta última quando disse: "Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva" (Jo 4:10). "Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba" (Jo 7:37). Por que, então, se a sabedoria é concedida ao pedirmos, se essa bebida espiritual pode ser adquirida quando tomada, não estão todos plenos dela? A fonte jorra gratuitamente; por que não estão todos saciados? Há somente uma razão: os homens, ao buscá-la, aceitam o erro no lugar da verdade. Isso embota suas sensibilidades, até que o erro pareça verdade e a verdade pareça ser erro. "Onde está o sábio? [...] Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?" (1Co 1:20). "Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta [...]; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu" (1Co 2:6-8). Há, então, uma distinção entre a sabedoria de Deus e a sabedoria do mundo. Como, então, podemos atingir uma vida mais elevada -- a genuína e verdadeira sabedoria? Há coisas que o olho não viu, nem o ouvido ouviu, que os olhos deveriam ver e os ouvidos deveriam ouvir, "mas Deus revelou [essas coisas] pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus" (1Co 2:10). Ao homem, se nascido do Espírito, é então dada uma visão espiritual que penetra o infinito e permite que a alma comungue com o Autor de todas as coisas. Não é de se admirar que a compreensão de tais possibilidades dentro de si mesmo levou o salmista a exclamar: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; é sobremodo elevado, não o posso atingir" (Sl 139:6). E o próprio Paulo exclamou: "Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!" [...] Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?" (Rm 11:33, 34). "Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente" (1Co 2:12). Consequentemente, a nós é dado o poder de comungar com Ele e de sondar os mistérios que de outra forma seriam impenetráveis. Lidar com a sabedoria é educação. Se for a sabedoria do mundo, então é a educação mundana; se, por outro lado, é a busca pela sabedoria de Deus, trata-se da Educação Cristã. É acerca dessas duas questões que a controvérsia entre o bem e o mal tem sido travada. O triunfo final da verdade colocará os defensores da educação cristã no reino de Deus. "Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:24). Essa educação que liga o homem a Deus, que é a fonte da sabedoria e o autor e consumador de nossa fé, é uma educação espiritual e prepara o coração para aquele reino que deve ser estabelecido dentro dele. Capítulo 2 A Escola Celestial O trono de Deus, o centro ao redor do qual orbitam os mundos que saíram das mãos do Criador, era a escola do universo. Aquele que sustenta os mundos era, Ele mesmo, o grande Mestre, e Seu caráter e amor eram os temas de contemplação. Cada lição era uma manifestação de Seu poder. Para ilustrar as obras das leis de Sua natureza, este Mestre teve apenas que falar, e diante das hostes atentas, seres vivos vieram à existência. "Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu" (Sl 33:9). Anjos, e incontáveis seres de outros mundos, eram os alunos. O curso foi planejado para durar a eternidade; observações deveriam ser realizadas através do espaço ilimitado e incluíam desde o menor até a mais poderoso agente, desde a formação da gota de orvalho até a formação dos mundos e o crescimento da mente. Para concluir o curso, se tal expressão nos é permitida, a intenção era atingir a perfeição do próprio Criador. Anjos como Professores Uma tarefa foi dada à hoste angélica. Os habitantes dos mundos estavam em um período probatório [on probation]. Era o deleite dos anjos ministrar e ensinar outras criaturas do universo. A lei do amor estava escrita em todos os lugares; era o constante estudo dos seres celestiais. Cada pensamento de Deus era apreciado por eles; e conforme viam a realização de Seus planos, eles se lançavam diante do Rei dos reis clamando "Santo, Santo, Santo" (Is 6:3). A eternidade era muito curta para revelar o Seu amor. O Lugar de Lúcifer na Escola de Cristo O Pai e o Filho frequentemente entravam em conselho. Envolvidos naquela glória, o universo aguardava pela expressão da vontade harmoniosa Deles. Como um querubim cobridor, Lúcifer ocupava o primeiro lugar em poder e majestade em meio às hostes celestiais. Seus olhos contemplavam, seus ouvidos ouviam, e ele tinha conhecimento de tudo, exceto dos conselhos secretos que o Pai, desde a eternidade, havia proposto ter com o Filho. "Cristo, o Verbo, o Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai -- um em natureza, em caráter e em propósito -- o único Ser que podia penetrar em todos os conselhos e propósitos de Deus. [...] O Pai operou por Seu Filho na criação de todos os seres celestiais.[1] "Porque Nele foram criadas todas as coisas [...], sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl 1:16). Anjos são ministros de Deus, radiantes com a luz que emana da Sua presença, voando velozmente para executar a Sua vontade. Mas o Filho, o Ungido de Deus, "a expressão exata do Seu Ser", "o resplendor da [Sua] glória", "sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder" (Hb 1:3), Aquele em quem "tudo subsiste" (Cl 1:17). Lúcifer, o "filho da alva" (Is 14:12), que era "o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. [...] Toda pedra preciosa era a tua cobertura: [...] Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas" (Ez 28:12-16). Aquele que pairava sobre o trono de Deus, que estava no monte da congregação nas extremidades do Norte, e que andava livremente em meio às pedras vivas, que cintilavam com brilho eletrificante a glória do reflexo da luz, olhou para aquele conselho e invejou a posição do Filho. A Razão Toma o Lugar da Fé Até esse momento, todos os olhos tinham se voltado para o centro da luz. Uma nuvem, a primeira conhecida, obscureceu a glória do querubim cobridor. Voltando os olhos para si, concluiu que havia sido injustiçado. Não havia sido ele, Lúcifer, o portador de luz e o deleite dos mundos além? Por que não poderia seu poder ser reconhecido? "Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti" (Ez 28:15). "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor" (Ez 28:17). "E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo" (Is 14:13, 14). O Caráter do Verdadeiro Mestre Enquanto Lúcifer assim raciocinava, Cristo, envolvido pela glória do Pai, estava oferecendo Sua vida pelo mundo no momento da sua criação. O pecado ainda não havia surgido, pois o mundo ainda não havia sido criado; mas ao estabelecer os planos, o Filho disse: "Caso o pecado entre no mundo, Eu, a partir deste momento, me torno um com aqueles que ora criamos, e a queda deles significará a Minha vida na Terra. Meu coração nunca se envolveu tanto em qualquer criação como nesta. O homem, em seu lar terreno, receberá a mais elevada expressão de Nosso amor e, por ele, Meu amor exige que Eu coloque a Minha vida ao lado da dele no momento de sua criação". Oh, que maravilhoso dom! Oh, que amor altruísta! Como podia aquele querubim cobridor, no momento quando o Filho de Deus entregava a Sua vida, planejar sua exaltação própria? Tristeza, a primeira tristeza já conhecida, encheu o Céu. O coro angelical ficou em silêncio; as pedras vivas retiveram seu brilho. O silêncio foi sentido em todo o universo. A Criação Escolhe Que Mes tre Seguirá Uma proposta foi feita para que ele retrocedesse, mas o orgulho havia vedado o canal. Compaixão e admiração pelo líder das hostes levaram muitos a pensar que Deus era injusto e severo. O universo estava sendo provado. "Satanás e seus simpatizantes lutavam para reformar o governo de Deus. Eles desejavam perscrutar Sua insondável sabedoria e averiguar o Seu propósito em exaltar Jesus e dotá-Lo com tal ilimitado poder e comando"[2]. Aqueles que antes, inspirados pelo amor, se apegavam à palavra de Deus e consideravam seu mais elevado prazer observar as revelações de Seu amor, colocaram, então, a própria mente no lugar da palavra de Deus e alegaram que tudo estava errado. Os desdobramentos de Seu amor, que havia significado a própria vida deles, pareciam, agora, nada mais que escuridão e desespero. A sabedoria de Deus, obscurecida ao ser colocado o eu entre eles e o trono, tornou-se loucura. "Toda a hoste celestial foi convocada para comparecer perante o Pai a fim de que cada caso ficasse decidido"[3]. "Em redor do trono reuniam-se os santos anjos, em uma multidão vasta, inumerável -- 'milhões de milhões, e milhares de milhares' -- estando os mais exaltados anjos, como ministros e súditos, a regozijar-se na luz que, da presença da Divindade, caía sobre eles."[4] O Surgimento do Sistema Rival de Educação Os princípios do governo de Deus foram, então, revelados: não eram nada além de um grande e abrangente sistema de desenvolvimento educacional, e as hostes angélicas, naquele momento, decidiram se a fé em Sua Palavra seria o padrão de sua obediência, ou se a finita razão dominaria. Mesmo o próprio Satanás foi quase vencido, quando as notas de louvor ressoaram pelas abóbadas celestiais; mas novamente o orgulho dominou. Nascia, aqui, o sistema rival -- egoísmo supremo contrastando com a abnegação de Cristo, a razão sendo colocada acima da fé. Após longas súplicas, e em meio a profundo pranto, os portais do Céu se abriram para então se fecharem para sempre àquele que, juntamente com seus seguidores, se desviou da luz em direção às trevas do desespero. Uma nova era foi inaugurada; uma controvérsia havia começado. O Céu, com seus princípios eternos de amor, vida e progresso, foi desafiado por um inimigo sutil, o pai da mentira. Um passo tão profundo quanto a miséria que o acompanha, mas coexistente com o movimento descendente foi formulado o plano por meio do qual, após o transcorrer das eras, seria provada, sem restar sombra de dúvida, a grande verdade de que "Deus é amor". A vereda é o caminho da cruz. É um retraçar da degradação mental ocasionada pela queda, mas o processo ocorre de acordo com a lei da escola do Céu -- "conforme a vossa fé" (Mt 9:29). Todas as coisas são possíveis ao que crê. Notas: 1. Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, p. 8. 2. Ellen G. White, História da Redenção, p. 19. 3. Ibid., p. 18. 4. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 10. Capítulo 3 A Escola Edênica A Criação "Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir" (Sl 33:9). Do trono do Infinito saiu o decreto, e a vida, qual relâmpago, atravessou o espaço, e um mundo surgiu. Miríades de outros mundos, suspensos em suas órbitas pelo inesgotável poder do amor, mantinham seu circuito ao redor do trono de Deus. Mas um espaço no universo havia sido reservado para a mais elevada expressão do Seu amor, onde seriam manifestas as profundezas desse atributo divino. "A Terra, porém, era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo" (Gn 1:2). Mas Sua presença penetrou as próprias trevas; e enquanto o "Espírito de Deus pairava sobre as águas" (Gn 1:2), Ele disse: "Haja luz" (v. 3), e as trevas se dissiparam do mundo. A luz, refletida de Seu próprio Ser, O agradou; e Ele desejou que ela estivesse sempre presente, acompanhando cada forma de vida. O primeiro dia de trabalho estava concluído -- um dia igual ao que o homem, após sua criação, conheceria e que, mesmo no seu estado caído, mediria os seus anos. O segundo dia ouviu a ordem para que as águas se separassem; e no terceiro dia as águas se ajuntaram em mares e apareceu a porção de terra seca. E então "disse Deus: Produza a terra relva" (v. 11) -- a fina lâmina cobrindo a nudez da Terra como um manto verde vívido, tão humilde, mas parte da vida do Criador, pois Seu fôlego de vida a formou, e ela tornou- -se participante desta vida. Depois vieram as ervas que dão sementes e as árvores frutíferas, cujas sementes estavam nelas -- autorreprodutivas -- pois a vida é reprodutiva; e como a brasa viva acende o fogo sagrado, assim cada árvore possui, em si, a capacidade de reproduzir a sua espécie. "E viu Deus que isso era bom" (v. 12). Assim, a fim de que Sua própria luz fosse sempre a fonte do crescimento, Ele colocou luminares nos céus, cada um sendo o reflexo de Seu semblante. Por meio deles, a vida deveria ser mantida. O poder da vida penetrou as águas em movimento. "E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus" (v. 20). Por Sua palavra, a terra, o céu e o mar foram abundantemente povoados. Cada gota de água sustentava a vida; cada centímetro quadrado de ar amparava suas miríades. E desde o grande e forte leviatã que folgava sobre as águas, até o minúsculo inseto que flutuava pelo ar, todos os seres viventes proclamavam o amor de Deus; e o Criador, vendo com satisfação a obra de Sua mão, declarou que todas as formas de vida eram perfeitas em sua esfera. Cada uma continha, em seu próprio corpo, o fôlego de vida; cada ser, a cada movimento, cantava aleluias ao Criador dos Céus e da Terra. A Criação do Homem A Mente, a Mais Elevada Forma de Criação Mas a obra ainda não estava concluída. Uma mente controlava o universo; e os poderes dela podiam ser apreciados e seu amor profundo retribuído, no mais pleno sentido, somente por meio de outra mente -- por seres feitos à imagem do próprio Deus. "E disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança" (Gn 1:26). Assim, o homem terá domínio sobre as ordens inferiores da criação, e, sendo a posição do homem em relação a esses outros seres a mesma que mantemos em relação ao universo, toda a natureza verá no homem o Nosso poder. "E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou" (v. 27). E como demonstração de que o momento de supremo empenho havia sido realizado pelo próprio Deus, Ele moldou a forma do barro -- a de um único ser -- à Sua imagem. Ele soprou em suas narinas o Seu próprio fôlego -- fôlego esse que, ao se tornar audível, pôs mundos em movimento e diante do qual os anjos se inclinaram em adoração. Aquele penetrante elemento de vida moveu-se como ondas através da poderosa estrutura, os órgãos desempenharam as suas funções e o cérebro funcionou; o homem Adão ergueu-se, forte e perfeito; e ao invés de um penetrante choro que hoje anuncia o começo de uma nova vida, seus lábios abriram-se, e uma canção de louvor ascendeu ao Criador. Ao seu lado estava seu Irmão mais velho, Cristo, o Rei do Céu. Adão sentiu uma emoção, um misto de unidade e harmonia; e embora "um pouco menor" (Hb 2:7), nele estavam presentes as possibilidades de alcançar maiores alturas do que os anjos. Ele deveria ser a companhia de Deus, o reflexo perfeito da Sua luz e da Sua glória; não havia nenhum pensamento de Deus que não estivesse acessível ao cérebro do homem. O universo foi desvendado diante dele em uma visão panorâmica. A Terra, recém-nascida, apresentava belezas indescritíveis. Ao seu lado estava a sua companheira, a outra metade de sua própria natureza, os dois formando um todo perfeito. A harmonia de pensamento trazia força e vida; e como resultado dessa unidade, novos seres, como eles mesmos, seriam trazidos à existência, até que a Terra toda fosse povoada. O Lar Edênico Deus plantou um jardim na região oriental no Éden, e dentre as belezas da Terra, o Senhor escolheu o mais belo local para ser o lar do novo par. No centro do jardim estava a árvore da vida, cujo fruto fornecia ao homem o perfeito alimento físico. Embaixo de seus ramos espalhados, o próprio Deus os visitava e, conversando com eles face a face, revelava-lhes o caminho para a imortalidade. Quando comiam do fruto da árvore da vida, e tinham cada uma de suas necessidades físicas supridas, eram constantemente lembrados da necessidade do alimento espiritual que podia ser adquirido por meio de conversa aberta com a Luz do Céu. A glória de Deus circundava a árvore, e envoltos nesse esplendor, Adão e Eva devotavam muito tempo à comunicação com os visitantes celestiais. Segundo o sistema divino de ensino, eles estavam ali para estudar as leis de Deus e aprender de Seu caráter. "O santo par não era apenas filhos sob o cuidado paternal de Deus, mas estudantes a receberem instrução do Criador todo-sábio."[1] Estudos na Escola Edênica Matérias Ensinadas na Primeira Escola da Terra Anjos, contemplando as maravilhas da nova criação, deleitavam-se em voar até a Terra; e dois da hoste celestial, indicados de modo especial, tornaram-se os instrutores desses santos. "Estavam cheios do vigor comunicado pela árvore da vida, e sua capacidade intelectual era apenas pouco menor que a dos anjos. Os mistérios do Universo visível -- 'maravilhas Daquele que é perfeito nos conhecimentos' -- conferiam-lhes uma fonte inesgotável de instrução e deleite. As leis e operações da Natureza, que têm incitado o estudo dos homens durante seis mil anos, estavam-lhes abertas à mente pelo infinito Construtor e Mantenedor de tudo."[2] Botânica, Zoologia, Astronomia, Física, Meteorologia, Mineralogia "Entretinham conversa com a folha, com a flor e a árvore, aprendendo de cada uma os segredos de sua vida. Com cada criatura vivente, desde o poderoso leviatã que folga entre as águas, até o minúsculo inseto que flutua no raio solar, era Adão familiar. Havia dado a cada um o seu nome, e conhecia a natureza e hábitos de todos. A glória de Deus nos Céus, os mundos inumeráveis em suas ordenadas revoluções, 'o equilíbrio das grossas nuvens' (Jó 37:16), os mistérios da luz e do som, do dia e da noite, tudo estava patente ao estudo de nossos primeiros pais. Em cada folha na floresta, ou pedra nas montanhas, em cada estrela brilhante, na terra, no ar, e no céu, estava escrito o nome de Deus. A ordem e harmonia da criação falavam-lhes de sabedoria e poder infinitos. Estavam sempre a descobrir alguma atração que lhes enchia o coração de mais profundo amor, e provocava novas expressões de gratidão."[3] Ficavam maravilhados à medida que novas belezas lhes chamavam a atenção. Cada visita dos professores celestiais despertava nos estudantes terrestres questionamentos que eram o deleite dos anjos responder; e eles, por sua vez, desvendavam à mente de Adão e Eva os princípios da verdade viva que movia o casal a desempenhar suas prazerosas tarefas diárias, cheios de indagadora curiosidade e dispostos a usar cada sentido dado por Deus para descobrir as ilustrações da sabedoria do Céu. "Enquanto permanecessem fiéis à lei divina, sua capacidade para saber, vivenciar e amar cresceria continuamente. Estariam constantemente a adquirir novos tesouros de saber, a descobrir novas fontes de felicidade, e a obter concepções cada vez mais claras do incomensurável, infalível amor de Deus."[4] Método e Instrução O método de ensino divino é revelado aqui -- a maneira de Deus lidar com as mentes que são leais a Ele. As leis que governam o universo foram expostas. O homem, como que observando um quadro, encontrou na terra, no céu e no mar, bem como no mundo animado e inanimado, a exemplificação dessas leis. Ele cria, e com uma luz celestial que é a recompensa da fé, aproximava-se de cada novo tema de investigação. Verdades divinas eram continuamente reveladas. Vida, poder e felicidade eram temas que evoluíam com o desenvolvimento do homem. Os anjos encorajavam o desejo de questionar e, novamente, conduziam seus alunos na busca por respostas às suas próprias indagações. Em seu trabalho de cuidar do jardim, Adão aprendeu verdades que somente o trabalho poderia revelar. Da mesma forma que a árvore da vida fornecia alimento para o corpo, e constantemente lembrava a respeito do necessário alimento mental e espiritual, também o treinamento manual incorporava luz à disciplina mental. As leis do mundo físico, mental e espiritual eram declaradas; a tripla natureza do homem recebia atenção. Isso constituía a educação, perfeita e completa. A força magnética em redor da árvore da vida sustinha o homem, preenchendo seus sentidos com um sentimento de deleite. Adão e Eva viviam por meio daquela força, e a mente humana era um canal aberto para a torrente do pensamento de Deus. Rapidamente o caráter do par edênico foi se formando, mas a força não poderia advir de uma mera ação automática. Foi-lhes dada liberdade para escolher a companhia e o espírito de Deus; e embora Ele os atraísse com Seu mais terno amor, uma árvore de outro tipo havia sido posta no meio do jardim. Uma Lição de Fé Disse Deus ao homem: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:17). Qual era o significado dessa ordem? Quando os anjos professores ouviram essa pergunta vinda dos lábios do homem, uma nuvem pareceu obscurecer o esplendor da glória deles. Não sentiu Adão uma estranha sensação, como se a plenitude do pensamento divino fosse repentinamente detida em seu percurso até seu cérebro? Ele estava se preparando para aceitar os ensinamentos de uma fonte diferente. Então foi-lhe relatada a história de tristeza que o Céu havia vivenciado -- a queda de Lúcifer e as trevas que vieram sobre ele; e que, enquanto vivesse, o decreto de Deus era que ele não mais poderia permanecer dentro das fronteiras do Paraíso. Em tom pesaroso foi relatado como alguns não viam a justiça dessa decisão; que a Lúcifer fora concedida a Terra como seu novo lar; que ele usaria sua astúcia para capturá-los, mas que luz e poder haviam sido dispostos em torno da árvore da vida, e caso permanecessem fiéis aos ensinos dados dentro do seu raio de alcance, nenhum mal poderia alcançá-los. "Fé, tenham fé na palavra de Deus", disse o anjo, enquanto voava em direção ao Céu. A palavra "morte" não soava natural aos ouvidos humanos, e ao se sentarem para conversar a respeito das palavras do anjo, um desejo de compreendê-las enchia seus corações. Medo? Eles não conheciam essa palavra. O seu Criador não era amor? Eva, desviando-se da companhia de seu esposo, achou-se, sem se dar conta, próxima à árvore do conhecimento do bem e do mal. Ela parou, olhando fixamente à distância, quando, do interior do intenso verdor, uma voz da mais doce música disse: "Bela mulher, feita à própria imagem de Deus, o que pode macular sua perfeita beleza? O que pode interromper a vida que agora corre em suas veias? 'É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? [...] É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal'" (Gn 3:1-5). Enquanto falava, ele tomou o fruto e comeu. Era este o enganador? Não havia ela recebido a promessa de conhecimento de todas as coisas? Não tinha estado ela com Deus? Talvez essa fosse alguma uma nova revelação de Sua bondade. Ela não sentiu o perigo. A serpente comeu, então por que não poderia ela comer também? Efeitos da Dúvida Sua curiosidade foi atiçada, e ela sentiu-se lisonjeada pelas palavras da serpente. Ao invés de fugir dali, ela argumentou com o inimigo e tentou decidir, por si mesma, entre o certo e o errado. Mas Deus lhe havia dito o que era certo. Aquele momento de indecisão, de dúvida, foi a oportunidade do diabo. Incapaz de acessar a alma do homem por meios diretos, Satanás aproximou-se por meio de outros canais: os sentidos. Ele tinha tudo para vencer e, então, procedeu cautelosamente. Se a mente do homem pudesse ser conquistada, seu grande trabalho poderia ser concluído. Para fazer isso, ele usou um processo de raciocínio -- um método contrário àquele usado pelo Pai em Suas instruções junto à árvore da vida. A mente de Eva era forte, e rapidamente chegou a conclusões; logo, quando seu novo professor disse "no dia em que dele comerdes [...] sereis como Deus" (v. 5, ARC), a mente de Eva concluiu: Deus possui imortalidade. "Portanto", disse Satanás, "se comerdes, 'certamente não morrereis'". A conclusão foi logicamente traçada. E o mundo, desde os dias de Eva até o tempo presente, tem baseado suas crenças religiosas nesse silogismo, cuja premissa principal ele deixa de reconhecer como falsa, assim como Eva o fez. Por quê? Porque ele usa a mente para decidir o que é a verdade, em vez de buscar uma afirmação direta do Autor da sabedoria. Desta primeira falsa premissa deriva a doutrina da imortalidade natural do homem, com intermináveis variações e alguns nomes modernos, como, por exemplo, teosofia, espiritualismo, reencarnação e evolução. Os filhos e filhas de Eva a condenam pelo erro cometido há mais de seis mil anos, enquanto eles mesmos o têm repetido. É pregado nos púlpitos, é ensinado nas salas de aula, e seu espírito permeia o pensamento de cada livro publicado, cujo autor não esteja em perfeita harmonia com Deus e a verdade. Naquele momento, também teve início o estudo da "dialética", tão destruidora da fé cristã. Eva foi Enganada Porque Dependeu de suas Percep ções Sensoriais Tendo aceitado a lógica da serpente, e tendo transferido sua fé na palavra de Deus para a árvore do conhecimento do bem e do mal, segundo a sugestão de Satanás, a mulher pôde facilmente ser conduzida a testar a veracidade de todas as suas declarações por meio de seus sentidos. Uma teoria havia sido desenvolvida; o processo experimental teve início. Esse é o meio pelo qual os homens adquirem seu conhecimento, porém sua sabedoria vem de outra forma. Eva fixou o olhar sobre o fruto proibido, mas nenhuma mudança física foi percebida como resultado do uso errôneo desse sentido. Isso a levou a ter mais certeza de que o argumento usado estava correto. Seus ouvidos estavam atentos às palavras da serpente, mas não percebeu mudança alguma como resultado do uso pervertido da audição. Esse fato, para a mente em mudança da mulher, foi uma prova ainda mais conclusiva de que as palavras de Cristo e dos anjos não significavam aquilo que ela, a princípio, havia pensado que significavam. Os sentidos do tato, olfato e paladar foram usados, por sua vez, e cada um deu mais força às conclusões a que o diabo havia chegado. A mulher foi enganada e, por meio do engano, sua mente foi mudada. Essa mesma mudança de mente pode ser efetuada tanto pelo engano quanto pelo resultado de falso raciocínio. Uma Mudança na Mente de Adão Eva abordou Adão com o fruto em suas mãos. Ao invés de responder usando as repetidas palavras de Cristo "no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:17), ele assumiu a lógica da serpente. Ao comer o fruto, sua mente também mudou. Aquele cujos pensamentos desde a criação haviam sido os pensamentos de Deus estava se rendendo à mente do inimigo. A exatidão com que ele havia um dia compreendido a mente de Deus foi exemplificada quando ele deu nome aos animais, pois o pensamento de Deus, que havia formado os animais, percorria a mente de Adão "e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles" (v. 19). Evidências de uma Mente Transformada A plenitude da mudança que ocorreu é vista no argumento usado quando Deus caminhou no jardim na viração do dia. Disse Adão: "A mulher me deu o fruto e eu comi. Tu me deste a mulher. Logo, Tu és o culpado". Esta foi decididamente outra conclusão lógica do ponto de vista da sabedoria da serpente, e foi repetida por Eva, que primeiro depositou a culpa sobre a serpente e, por fim, sobre o próprio Deus. Justificação própria, autoexaltação, autoadoração -- eis aqui a origem humana do papado, aquele poder "o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus" (2Ts 2:4). Morte Espiritual: O Primeiro Resultado do Pecado A morte espiritual que acompanhou a perversão dos sentidos foi seguida, do devido tempo, pela morte física. Na verdade, o fruto mal tinha acabado de ser comido quando a atenção do homem e de sua esposa voltou- se para a aparência externa. A vida espiritual, que havia envolvido o homem físico como um manto de luz, desapareceu, e o homem físico surgiu. Um senso de sua nudez agora os amedrontava. Algo estava faltando; e apesar de toda a glória que eles haviam conhecido e de todas as verdades que lhes haviam sido reveladas, nada havia que pudesse tomar o lugar da natureza espiritual que os havia deixado. "Ao morrer, morrerás", foi o decreto; e não tivesse o Salvador, nesse momento, revelado a Adão o plano da cruz, a morte eterna teria sido inevitável. Deus os havia ensinado que a recompensa da fé seria a vida imortal. Satanás ensinou, e tentou provar sua lógica por meio de um direto apelo aos sentidos, que havia vida imortal na sabedoria que resulta da razão humana. O método empregado por Satanás é aquele atualmente denominado pelo homem de método natural, mas, na mente de Deus, a sabedoria do mundo é loucura. O método que, para a mente piedosa, para a natureza espiritual parece natural, é loucura para o mundo. A Verdadeira Educação e a Redenção Existem apenas dois sistemas de educação -- aquele baseado no que Deus chama de sabedoria, cuja dádiva é a vida eterna; e outro baseado no que o mundo considera sabedoria, mas que Deus afirma ser loucura. Este último exalta a razão acima da fé, e o resultado é a morte espiritual. Não é possível contestar que a queda do homem foi o resultado da escolha do falso sistema de educação. A redenção vem como resultado de se adotar o verdadeiro sistema de educação. Recriação é uma mudança da mente -- uma troca do natural pelo espiritual. "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente" (Rm 12:2). A fim de que tal mudança seja possível, Cristo deve ferir a cabeça da serpente, isto é, a filosofia do diabo deve ser refutada pelo Filho de Deus. Cristo assim o fez, e ao fazê-lo, Seu calcanhar, representando Sua natureza física, foi ferida. O resultado da aceitação da filosofia satânica tem sido sofrimento físico, e quanto mais completamente o homem se render ao sistema edificado sobre essa filosofia, mais completa será a sujeição da raça humana às enfermidades do corpo. Degeneração Física Após a queda, o homem voltou-se para artigos dietéticos de baixa qualidade, e sua natureza tornou-se gradualmente mais rude. A natureza espiritual, que era a parte predominante de seu ser, foi diminuída e dominada até que passou a ser uma "fraca voz" interior. Com o desenvolvimento físico e intelectual, em detrimento do espiritual, vieram os males da sociedade moderna -- o amor à exibição, a perversão do paladar, a deformação do corpo e todos os pecados relacionados que levaram à destruição de Sodoma e que, agora, ameaçam nossas cidades. O homem também se tornou descuidado, e a terra deixou de produzir em sua plenitude. Como resultado, cardos e abrolhos surgiram. O Fundamento da Verdadeira Educação Não nos causa surpresa, após o declínio da raça, descobrir que o sistema de educação introduzido por Cristo tem início com a instrução dada no jardim do Éden, e que ele é baseado na simples lei da fé. Podemos apreciar melhor o dom de Cristo quando nos demoramos no pensamento que, embora ele tenha sofrido fisicamente, embora tenha levado nossas enfermidades sobre o próprio corpo, ainda assim Ele preservou uma mente sã e uma vontade em submissão completa à vontade do Pai, de forma que, ao fazer isso, a filosofia do arquienganador fosse suplantada pela filosofia divina. Além disso, nada mais natural supor que, quando chamado a decidir entre os dois sistemas de educação, o humano e o divino, e a educação cristã é escolhida, o homem também irá efetuar uma reforma na sua alimentação e na sua forma de viver. A dieta original do homem é novamente tornada conhecida, e, como moradia, ele é instado a escolher um lugar no campo, longe das grandes cidades, onde Deus possa falar à sua natureza espiritual por meio de Suas obras. Deus usa, sem dúvida, os sentidos do homem, mas o conhecimento assim adquirido somente se transforma em sabedoria quando, iluminado pelo Espírito, a porta que dá acesso à fonte é aberta com a chave da fé. A Ciência Falsa e a Morte Debaixo dos galhos da árvore da vida teve origem o mais elevado método de educação -- o plano de Deus do qual o mundo necessita hoje. Debaixo dos galhos da árvore do conhecimento do bem e do mal surgiu o sistema conflitante, com apenas um objetivo em vista: derrubar os eternos princípios da verdade. Sob um disfarce, e depois sob outro, esse falso sistema tem exercido influência na Terra. Quer seja por meio do ensino babilônico, da filosofia grega, da sabedoria egípcia, do brilho da pompa papal, ou dos empreendimentos mais modestos, mas não menos sutis, da ciência moderna, os resultados têm sido, e sempre serão, um sabor de morte para a morte. A Verdadeira Ciência da Vida Assim como a modesta vida do Salvador da humanidade, quando andou na Terra, passou despercebida pelos imponentes fariseus e pelos sábios de Seu tempo, assim tem sido o progresso da verdade. Tem se mantido firme em marcha progressiva, independentemente da opressão. A mente humana, anuviada pela autoadoração, deixa de reconhecer a voz do Céu. Ela é rejeitada quando os suaves murmúrios do trovão à porta Formosa, no momento em que o Pai falou a Seu Filho, e o resplendor da luz celestial circundando a verdade eterna são explicados por meio de causas naturais. A razão humana opõe-se à simples fé, mas aqueles que finalmente alcançarem o estado de completa harmonia com Deus terão começado onde Adão fracassou. A sabedoria somente é alcançada pela fé. O eu, então, desaparecerá na adoração à grandiosa Mente do universo, e aquele que foi criado à imagem de Deus, que foi declarado pela Mente suprema como "muito bom", após a batalha contra o pecado, será restabelecido à harmonia do Universo por meio do simples ato da fé. "Tudo é possível ao que crê" (Mc 9:23). Notas: 1. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 22. 2. Ibid., p. 22. 3. Ibid., p. 22. 4. Ibid., p. 23. Capítulo 4 A História de 15 Séculos Assim como uma pedra, ao ser arremessada do pico de uma montanha, faz seu ruidoso percurso em direção ao vale abaixo, ganhando velocidade à medida que cai, até que nela se concentre uma força destrutiva sem medida, também o homem, ao atravessar o portão do Paraíso, começou uma carreira descendente que, em intensidade e rapidez, somente pode ser calculada quando comparada ao elevado nível de onde ele iniciou. Mentes gigantes conseguiam resistir com sucesso a forças poderosas. Poucos poderes podiam enfrentar a decidida vontade dos homens dos primeiros dez séculos. Assim como a perfeição era o patamar a que o homem podia alcançar, assim também o nível a que ele decaiu foi o de total confusão. A vida humana, em vez de ser limitada ao breve espaço de 70 anos, se media por séculos; e o intelecto, poderoso desde o nascimento, tinha tempo, bem como força, para expandir-se. Um homem de 70 anos não passava de um moço com a vida e todas as suas possibilidades desdobrando- se diante de si. Adão viveu o suficiente para ver seus filhos até a oitava geração; e quando pensamos que de seus próprios lábios Enoque ouviu a história da queda, das glórias do lar edênico; quando temos em mente que Enoque provavelmente viu esse seu ancestral deitado na terra para ali volta a ser pó, entendemos melhor a relação que ele desejou manter com o seu Deus. Depois de viver 300 anos, durante os quais, o registro sagrado declara, "andou [...] com Deus" (Gn 5:22), sua atração pelas coisas terrenas enfraqueceu-se tanto que ele foi levado ao Céu. Isso ocorreu menos de 60 anos após a morte de Adão. As Escolas antes do Dilúvio Tendo saído dos portões do Éden, duas classes de mentes se desenvolveram. Tão clara e distinta como é a diferença entre a luz e a escuridão era a diferença entre elas. Caim, ao exaltar suas próprias capacidades de raciocínio, aceitou a lógica de Satanás. Admitindo a esfera física como o fundamento adequado pelo qual viver, ele perdeu toda a apreciação pelas coisas espirituais e passou a depender completamente dos seus sentimentos. É verdade que por algum tempo ele aderiu à forma de adoração instituída ao ir semana após semana ao portão do Éden a fim de oferecer sacrifício; mas os olhos da fé estavam cegos. Quando viu que o sacrifício de seu irmão fora aceito, um sentimento de ódio brotou no peito e, erguendo a mão, tirou a vida do próprio irmão. Os homens se assustam com o rápido declínio da pureza edênica para uma condição na qual o assassinato se tornou fácil, mas esse foi o resultado natural do sistema educacional escolhido por Caim. Quando a razão é exaltada acima da fé, o homem torna-se semelhante a uma locomotiva desgovernada. O Caráter Desenvolvido na Escola do Mundo Assassinato, no entanto, foi apenas um dos resultados da decisão tomada por Caim. Ele fugiu da presença de Deus e, com seus descendentes, construiu cidades no lado do oriente. As necessidades físicas predominaram tanto que a total atenção desse povo voltou-se para a satisfação dos desejos carnais. O orgulho aumentou, o amor às riquezas era uma paixão dominante; o artificial, cada vez mais, tomou o lugar antes ocupado pelo natural. No lugar da adoração a Deus ficou a adoração ao eu, ou paganismo. Este foi o aspecto religioso. Aqui surgem os primeiros adoradores do sol, os antecessores humanos do papado moderno. O Governo é Afetado Do mesmo modo que houve uma mudança na religião, também houve uma mudança no governo. Não era mais possível existir uma teocracia, na qual o pai da família era o sumo sacerdote de Deus. O Senhor fora perdido de vista, e Seu lugar foi ocupado pelo próprio homem. Em consequência, esses descendentes de Caim se reuniram em cidades, onde o mais forte governava sobre o mais fraco, e assim se desenvolveu uma monarquia absolutista, que se perpetuou até os dias de hoje nos reinos da Ásia oriental. A educação que mantinha o paganismo na religião e a monarquia no governo era a mesma que, tempos depois, dominou a Grécia e que ficou conhecida como platonismo. É outro nome para um tipo de educação que exalta a mente humana acima de Deus e coloca a filosofia humana à frente da filosofia divina. A Origem da Falsa Filosofia A filosofia que dessa forma exaltada -- chamada falsamente de ciência -- endeusou a natureza, o que hoje é conhecido como evolução. Você pode achar que é um nome moderno. Pode ser, mas a filosofia surgiu antes do dilúvio, e as escolas daqueles antediluvianos ensinavam as tradições humanas tão certamente quanto o fazem na atualidade. Podemos pensar, talvez, que não havia escolas naquela época, mas isso é um erro. "O treinamento da juventude naqueles dias seguia a mesma ordem em que as crianças são educadas e treinadas nesta época -- amar a estimulação dos sentidos, glorificar a si mesmas e seguir a imaginação de seus próprios corações malignos".[1] Suas mentes aguçadas se apoderavam das ciências; eles mergulhavam nos mistérios da natureza. Eles fizeram maravilhoso progresso nas invenções e em toda busca por ganhos materiais. Mas a imaginação dos pensamentos do coração era só má continuamente. A Vida na Cidade Desqualificou a Mente para a Verdade Crianças educadas nas cidades tinham suas tendências para o mal intensificadas. O ensino filosófico da época apagou toda a fé; e quando Noé, um mestre da justiça, levantou a voz contra a educação popular e proclamou sua mensagem de fé, até mesmo as criancinhas zombaram dele. As cidades ficaram tão poluídas que Enoque escolheu passar muito tempo em lugares retirados, onde podia estar em comunhão com Deus e em contato com a natureza. Algumas vezes ele voltava às cidades, proclamando aos habitantes a verdade que Deus lhe havia transmitido. Alguns o ouviam e, ocasionalmente, iam até ele em seu retiro a fim de lhe ouvirem as palavras de advertência. Mas a influência do treinamento anterior, a pressão da sociedade e a filosofia das escolas exerciam um poder forte demais para ser resistido, e eles davam as costas aos apelos da consciência e retornavam à sua antiga vida. O Ensino Antediluviano de Ciência era Contrário à Palavra de Deus Enquanto Noé pregava a respeito do dilúvio vindouro, e enquanto ele e seus filhos construíam a arca, homens e crianças o ridicularizavam. "Água do céu! Ah, Noé, você pode falar de seu conhecimento espiritual, mas quem já ouviu falar de água caindo céu? Isso é impossível; é contrário a toda razão, a toda verdade científica e a toda experiência terrena. Você pode achar que tais coisas lhe foram reveladas, mas, desde os dias de nosso pai Adão, nada parecido com isso jamais aconteceu". Tais declarações pareciam verdade. Geração após geração havia olhado para um céu claro sem nuvens de chuva. Noite após noite o orvalho regava as plantas para seu crescimento. Por que deveriam eles crer em algo diferente? Eles não conseguiam ver razão para isso. Para os antediluvianos, a possibilidade de um dilúvio parecia tão absurda quanto a narrativa desse acontecimento como fato histórico para os críticos modernos. Estava em desarmonia com os sentidos do homem, logo uma impossibilidade. O estudante no século 19 encontra grandes lençóis de carvão na crosta terrestre, ou os restos de monstros que um dia viveram sobre a Terra, e a explicação que apresenta é que "o tempo é longo". Nas palavras de Dana, "se o tempo do início da idade siluriana incluía 48 milhões de anos, o que alguns geólogos considerariam uma estimativa baixa demais, a parte paleozoica, segundo a proporção acima, abrangeria 36 milhões de anos, a mesozoica nove milhões e a cenozoica três milhões". Livros-texto modernos estão cheios dessas ideias relacionadas à evolução, que explicam os efeitos do dilúvio por meio de mudanças graduais durante milhões de anos. Uma Educação Baseada na Visão e Não na Fé A Palavra de Deus é novamente deixada de lado, e o homem, por seu próprio poder de raciocínio, elabora conclusões contrárias ao testemunho do registro inspirado. A teoria da evolução é, assim, confirmada na mente humana; e assim como ocorreu com os antediluvianos que, por sua pretensa sabedoria e pesquisa científica, foram desqualificados para receber a mensagem do dilúvio, também as pessoas hoje, ao seguirem um curso semelhante, estão se incapacitando para a mensagem do aparecimento de Cristo nas nuvens do céu. Quando o homem aprenderá que há coisas que os olhos não viram, que os ouvidos não ouviram e que, mesmo assim, existem tão verdadeiramente quanto essas poucas coisas -- poucas comparadas às muitas nas regiões além -- que estão dentro do nosso campo de visão? Antes do dilúvio, nenhum estrondo de trovão jamais havia ressoado por entre os montes, nenhum raio jamais havia riscado o céu. Você, que tem lido as obras dos maiores autores da Terra, que tem mergulhado nos segredos da ciência, já descobriu a alma humana? Já encontrou o fio dourado da fé? Se o Todo-Poderoso o questionasse, assim como fez com Seu servo Jó, você passaria no teste? Você teria a mesma sorte da geração de Noé. Quatro homens construíram a arca. Tal feito nunca havia sido realizado antes. "Que coisa mais fora de proporção", diziam eles. "Quão absurdo é pensar que água cairá sobre a Terra até que isso flutue!" Mas aos ouvidos daqueles quatro fiéis sussurrava a calma e suave voz de Deus, e o trabalho prosseguiu firmemente. O Dilúvio: Resultado de uma Educação Equivocada A controvérsia era um problema educacional. A educação cristã estava quase extinta da Terra. Parecia que a sabedoria mundana iria triunfar. Em termos de números, seus alunos superavam aqueles que estudavam nas escolas cristãs. Seria esse aparente triunfo do mal sobre o bem um sinal de que o mal era mais forte que a verdade? De forma alguma. Somente no sentido de maquinar e enganar é que o diabo tem a vantagem, pois Deus pode somente trabalhar de maneira honesta. A árvore da vida ainda estava sobre a Terra, um emblema da sabedoria de Deus. O homem, entretanto, havia dado as costas para ela. O comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal trouxe a morte, e os habitantes da Terra estavam a ponto de perceber isso, embora sua sabedoria mundana os ensinasse o contrário. A árvore da vida foi levada para o Céu antes do dilúvio (cf. Ap 2:7), como um símbolo de que a verdadeira sabedoria estava deixando a Terra. O dilúvio veio. Fortes estrondos de trovão sacudiram a própria Terra. Homens e feras fugiram aterrorizados dos relâmpagos. Os céus se abriram; a chuva caiu -- a princípio em grandes gotas. A Terra vacilou e se abriu; as fontes do grande abismo romperam-se; água veio de cima, água veio de baixo. Um clamor foi elevado ao Céu enquanto pais se agarravam a seus filhos na agonia da morte; mas o Espírito do Doador da vida havia se retirado. Isso parece cruel? Deus havia pleiteado com cada geração, com cada indivíduo dizendo: "Por que razão morrereis"? (Ez 33:11). Mas apenas ouvidos surdos se dirigiram a Ele. O homem, satisfeito com a instrução de seus sentidos, em depender de sua própria força de raciocínio, fechou, uma por uma, cada avenida por meio da qual o Espírito de Deus poderia trabalhar; e a natureza, em resposta a essa perda, com seu coração partido, chorou um dilúvio de lágrimas. Uma família, e somente uma, unia o Céu à Terra. Por sobre o seio das águas balançava a arca em segurança. O Espírito de Deus repousava lá, e em meio àquela grande turbulência, que os anjos jamais haviam testemunhado antes, uma paz que supera todo o entendimento encheu a mente e o coração daquele grupo fiel. As águas baixaram; a Terra se tornou uma massa desolada. As montanhas se ergueram sombrias e estéreis onde antes havia somente planícies de um verde extenso e vivo. Árvores, magníficas em sua gigantesca força, jaziam mortas quando as águas deixaram a Terra. Grandes volumes de rochas cobriam lugares antes inabitados. Os membros dessa família saíram como estranhos em terra estranha. A Fé como Fundamento da Nova Educação O plano de educação devia começar de uma nova maneira. Cada sucessivo passo para longe de Deus representava ao homem um acesso mais difícil ao Seu trono; tal afastamento acrescentava, por assim dizer, mais degraus na escada até Deus. Houve, a princípio, esta primeira lição a ser aprendida pela fé: que Deus foi verdadeiro ao dizer: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:17). Foi uma lição da fé versus a razão. Em seguida vieram mais duas lições de fé: primeiro, fé em contraste com a razão; e segundo, o plano da redenção por meio de Cristo. Então se seguiu a terceira lição -- o dilúvio. Como seria bom se o homem tivesse aprendido a primeira lição, ou, não a tendo aprendido, tivesse compreendido a segunda, ou, mesmo perdendo esta, tivesse se aproveitado da terceira e evitado o dilúvio. Do início ao fim sempre foi uma questão de educação. Cristãos na atualidade exaltam o material em detrimento do espiritual, da mesma forma que os homens fizeram antes do dilúvio. Não colheremos os mesmos resultados, uma vez que princípios semelhantes estão em jogo? A educação das escolas populares advogava o estudo da natureza; mas, ao deixar Deus de fora, eles endeusaram a natureza e explicaram a existência de todas as coisas por meio das mesmas teorias que hoje são denominadas de evolução. Essa é a teoria da criação idealizada pelo homem com a fé deixada fora da equação. "Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios" (2Pd 3:5-7). "Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem" (Lc 17:26). Nota: 1. Ellen G. White, Manuscript Releases, v. 12, p. 89. Capítulo 5 A Escola de Abraão Rápido Declínio após o Dilúvio A facilidade com que os homens caem em hábitos malignos é ilustrada na história do mundo após o dilúvio. Ao sair da arca, quatro famílias que haviam conhecido a Deus receberam o encargo de povoar a Terra. Mas as tendências para o mal, resultantes da familiaridade com a iniquidade do mundo antediluviano, ganharam força, e os filhos de Noé, ao falharem em cumprir os princípios da verdadeira educação em seus lares, viram seus filhos afastarem-se de Deus. É bem verdade que o arco da promessa frequentemente aparecia no céu como lembrança dos terríveis resultados do pecado, bem como lhes dizia a respeito de Deus, o Pai, que buscava o serviço de seus corações. Entretanto, novamente a lógica do maligno foi aceita, e os homens disseram: "Certamente não morreremos". Como sinal de sua confiança na própria força, construíram a torre de Babel. Eles haviam sido espalhados pela região montanhosa, onde a natureza e o cenário natural tendiam a elevar seus pensamentos. Eles seguiram em direção ao vale e construíram cidades nas planícies. Não mais que um século havia decorrido desde que o dilúvio havia destruído todas as coisas. A mudança foi rápida. Os sucessivos passos na degeneração foram prontamente dados. Eles escolheram uma educação dos sentidos em detrimento de uma educação da fé; eles deixaram o campo e congregaram-se em cidades; uma monarquia surgiu. Surgiram escolas que perpetuaram essas ideias; o paganismo substituiu a adoração a Deus. A torre era um monumento ao sol; ídolos ocupavam os nichos que compunham a estrutura. Homens ofereciam os filhos em sacrifício. A matança de bebês e crianças não passa de um extremo do que sempre ocorre, mental e espiritualmente, quando uma falsa filosofia é ensinada às crianças. A fim de que o homem não trouxesse sobre si destruição imediata, a língua foi confundida, e a educação na falsa filosofia foi, consequentemente, tornada mais difícil. Abraão Chamado de Ur Foi para longe dessa influência - a mesma que havia na cidade de Ur dos caldeus - que Abraão foi chamado. Muito embora a família de Terá conhecesse o verdadeiro Deus, e a adoração a Ele fosse mantida no lar, era-lhe impossível neutralizar a influência da cidade com suas práticas idólatras; então, Deus chamou Abraão para o campo. Ele foi obrigado a seguir pela fé. A saída de sua cidade representava o rompimento com todas as ligações terrenas. Riqueza e conforto foram trocados por uma vida de peregrinações. Abraão não sabia como iria obter o sustento. Ele não entendia como poderia educar seus filhos, mas seguiu em frente com Terá, seu pai, e com Ló, seu sobrinho. Eles acamparam em Harã, uma cidade menor, e permaneceram lá até a morte do pai de Abraão. Então veio a ordem para seguir avante. Ele partiu, rumo a um novo país, como peregrino e estrangeiro. "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto." "Não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus" (Hb 11:8-12; Rm 4:20). Chamado a Ensinar Foi quando o patriarca começou a jornadear por terra estranha, e quando não sabia para onde estava indo, que seu trabalho como professor iniciou. A comissão que Cristo deu a Seus apóstolos, "Portanto, ide, ensinai todas as nações" (Mt 28:19, ARC), não foi mais enfática do que a ordem dada a Abraão. Deus o chamou para ensinar, e ele seria um mestre de muitas nações. Aos discípulos foi dito: "É-me dado todo o poder" [...]. Portanto, ide, ensinai todas as nações" (v. 18, 19, ARC). Poder acompanharia o ensino dos apóstolos. Poder é sinônimo de vida; não há poder sem vida, e um professor tem poder na proporção em que vive o que deseja ensinar. Abraão deveria ser um mestre de várias nações, logo deveria ter poder. Tal poder só poderia se manifestar como o resultado de uma vida de fé. Assim sendo, toda a vida do patriarca foi uma contínua lição de fé. Cada experiência o tornava um mestre mais poderoso. Deus Prepara Abraão para Ensinar Sua fé cresceu por meio de provações à medida que subia degrau a degrau a escada que atravessava o abismo entre o Céu e a Terra, e que parecia alongar-se a cada geração sucessiva. Um período não inferior a 25 anos -- anos repletos de dúvida, medo e ansiedade -- foram necessários para trazê-lo ao ponto em que o nome Abraão -- pai de nações -- pudesse, com justiça, ser reivindicado por ele. Mais um quarto de século transcorreu, anos em que viu o crescimento do filho da promessa. Então a voz de Deus o chamou para erguer sua mão e tirar a vida daquele filho. Aquele que havia dito que em Isaque todas as nações da Terra seriam abençoadas, agora exigia o sacrifício daquela vida pela mão do próprio pai. Mas Deus, o Doador da vida no evento do nascimento da criança, era agora Aquele em quem o patriarca cria para doar a vida ao seu filho caso a morte a roubasse. Assim, o pai não hesitou. Esses 50 anos, com Deus e os anjos como professores, nos revelam, como nenhum outro período o faz, os resultados da verdadeira educação e merecem cuidadosa atenção. Se as obras do Espírito alguma vez efetuaram mudanças no coração humano, tais mudanças ocorreram em Abraão. Não causa estranheza o fato de que quando Deus o chamou pela primeira vez, Sua voz parecia muito distante e despertou apenas parcialmente a alma adormecida. Como em um sonho, ele, seu pai, sobrinho e esposa romperam com os laços terrenos e, partindo das belas planícies dos caldeus, onde o luxo e a erudição faziam parte da rotina diária, jornadearam em direção à região montanhosa. Como Deus Ensinou a Fé Já foi declarado anteriormente que Deus ensina por meio da exposição de princípios, ou leis universais, e o espírito que provém da fé ilumina os sentidos a fim de que possam compreender as ilustrações dessas leis no mundo físico. Esse é o método do Céu para ensinar a hoste angélica, e foi o método utilizado antes da queda. Com Abraão, o processo foi, no início, longe do ideal. Ali estava um aluno que precisava de fé. Como ele poderia ser ensinado sobre a sabedoria do Eterno? Deus age de maneiras misteriosas. Assim como Cristo viveu Sua vida de forma visível, pois os olhos da fé de Israel estavam cegos, também, no tempo de Abraão, Deus ensinou de forma indutiva, do mesmo modo que Ele agora diz que os pagãos devem ser ensinados. Àquele que não possuía fé, Deus veio, inicialmente, de forma perceptível; e seguindo passo a passo, desenvolveu uma fé que, antes de sua morte, possibilitou que Abraão compreendesse princípios eternos da verdade se Deus apenas falasse. Em Ur, Deus disse: "De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!" (Gn 12:2). Anos passaram, a idade se arrastava e ainda não havia nenhum herdeiro. Teria ele entendido mal a voz que lhe ordenou ir para Canaã e prometeu a ele e sua descendência toda a terra, desde "o grande rio, o rio Eufrates, [...] até ao mar Grande para o poente do sol" (Js 1:4)? "Respondeu Abrão: Senhor Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro" (Gn 15:2, 3). Esse foi o modo humano de resolver uma promessa feita pelo Criador do universo. Será que nós já estamos além dessa lição básica de fé? Será que nós conseguimos compreender a promessa de fé que Deus nos faz, e, sem temor ou cogitação, deixar os resultados com Aquele que sabe todas as coisas? Não, Abraão; não penses que o Céu é limitado pela fronteira que delimita o teu horizonte. "Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro" (Gn 15:4). E pondo-se sob a cobertura do céu estrelado, a alma de Abraão compreendeu o poder do Criador. Ele seria pai! Sua face se iluminou com um santo regozijo enquanto ele relatava a Sarai sua experiência com Deus. Mas Sarai não lhe dava filhos; e a fim de ajudar o Céu a cumprir sua promessa, ela ignorou a divina lei do casamento e deu a Abraão sua serva, Agar, como esposa. Quem dera se esse homem pudesse compreender ao menos o princípio das coisas que Deus é capaz de fazer! Indizível sofrimento foi o resultado daquele único passo de incredulidade. Não uma, nem duas pessoas, mas gerações ainda por nascer tiveram seus destinos arruinados por essa falta de fé. Agar, sentada a pouca distância de seu filho a morrer, e chorando por causa de seu destino doloroso, é um constante retrato de uma tentativa de viver por vista (cf. Gl 4:22, 25). Contudo, a aproximação do anjo e o resgate do menino registram, em caracteres vívidos, o anseio Daquele que Se compadece de nossa cegueira e nos recompensa com muito mais do que podemos pedir ou imaginar. O Nascimento de Isaque Noventa e cinco anos se passaram para o patriarca, e a voz do mensageiro celestial ainda era lembrada com riso quando a promessa era repetida. Sara se pôs próximo à porta da tenda quando o Hóspede celestial, a quem haviam alimentado, repetiu a Abraão a promessa envolvendo sua esposa. E Sara deu um filho a Abraão a quem Deus chamou de Isaque, em quem as nações da Terra foram abençoadas. Incalculável alegria encheu o coração da mãe e do pai quando seguraram o bebê. Essa foi a alegria de poder ver com os olhos [a concretização da promessa]. Vinte e cinco anos antes, ela era tão verdadeira quanto agora, e Abraão poderia ter legitimamente trabalhado com base na veracidade dela; mas, o teimoso coração humano requer muitas lições. Vinte e cinco anos após esse acontecimento, a força da fé de Abraão foi testada no altar do sacrifício. Saindo de casa de manhã bem cedo, ele levou fogo, colocou a madeira sobre os ombros do jovem e iniciou a jornada em direção ao monte Moriá. "Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" (Gn 22:7), perguntou o filho. "Deus proverá para Si, meu filho, o cordeiro", respondeu o homem que finalmente havia aprendido a crer em Deus. Temos aqui nada mais do que uma simples história de um idoso patriarca, mas a Palavra de Deus registra que "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça" (Rm 4:3). "E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa" (Gl 3:29). Aqui repousa o valor dessa lição para nós. Somos seus herdeiros se nos ligamos ao poder do Infinito pelo mesmo laço da fé. Somente por meio de uma vida e de uma educação como essa é que o reino de Cristo pode ser estabelecido em nosso interior. Lições como essas fizeram de Abraão um mestre bem-sucedido. A Escola de Abraão Aqueles que desejavam adorar o verdadeiro Deus se reuniam ao redor das tendas de Abraão e se tornavam alunos em sua escola. A palavra de Deus era a base de toda instrução, assim como está escrito: "Estes, pois, são os mandamentos, [...] que mandou o Senhor, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir" (Dt 6:1). Essa palavra era a base para o estudo da ciência política, e os "métodos de governo" de Abraão eram "levados para as casas a que eles [seus alunos] presidiam"[1]. A igualdade de todos os homens era a primeira lição aprendida no lar. "A afeição de Abraão para com os filhos e sua casa, levou-o [...] a comunicar-lhes o conhecimento dos estatutos divinos, como o legado mais precioso que ele lhes poderia transmitir, e por meio deles ao mundo. A todos se ensinava que estavam sob o governo do Deus do Céu. Não deveria haver opressão por parte dos pais, nem desobediência por parte dos filhos."[2] Na escola de Abraão não somente a teoria era ensinada, mas a prática era enfatizada. Ao estudar a ciência política, eles formaram o núcleo de um governo divino; ao estudar finanças, eles, na verdade, ganharam dinheiro e aumentaram os rebanhos, o que lhes trouxe reconhecimento por parte das nações circunvizinhas. "A persistente integridade, a beneficência e cortesia abnegada, que haviam conquistado a admiração dos reis, eram ostentadas em seu lar."[3] Essa Escola Foi o Início de uma Nação A influência da vida no campo e o contato direto com a natureza, em contraste com a enervante influência da cidade com seus ensinos idólatras e métodos artificiais, desenvolveram uma raça resistente, um povo de fé a quem Deus poderia usar para estabelecer o fundamento da nação israelita. Vemos, então, que, quando Deus estabelece uma nação, os fundamentos dela são lançados em uma escola. A nação que Abraão e seus seguidores formaram no princípio prefigurava a Terra redimida, onde Cristo reinará como Rei dos reis. A educação da escola de Abraão simbolizava a educação cristã. "E, se sois de Cristo, também sois descendência de Abraão, e herdeiros segundo a promessa" (Gl 3:29), não somente do reino, mas da educação que prepara os habitantes para aquele reino. Como a fé foi o método de ensino empregado nos dias do patriarca, assim também nas escolas de hoje a fé deve ser a motivação para o trabalho, a avenida para a fonte da sabedoria. Há aqueles, hoje, que não conseguem harmonizar seus sentimentos e ideias de educação com o plano que Deus confiou a Seu povo. De igual modo, nos dias de Abraão houve pelo menos uma família que se afastou da influência da escola. Ló Escolheu uma Escola Mundana Ló havia sentido os efeitos da influência de Abraão, mas por meio da influência de sua esposa, "mulher egoísta, irreligiosa"[4], ele abandonou o altar onde um dia haviam adorado juntos e mudou-se para a cidade de Sodoma. "O casamento de Ló e sua escolha de Sodoma como residência foram os primeiros elos em uma cadeia de acontecimentos repletos de males para o mundo durante muitas gerações."[5] Tivesse ele sofrido sozinho, não precisaríamos seguir a história; mas a escolha de um novo lar lançou seus filhos nas escolas dos pagãos; orgulho e amor à ostentação foram promovidos, o casamento com os sodomitas foi uma consequência natural, e a destruição final deles na cidade incendiada foi o terrível, porém inevitável resultado. "Quando Ló entrou em Sodoma, inteiramente se propunha ele conservar-se livre da iniquidade, e ordenar a sua casa depois dele. Mas, de maneira bem patente, fracassou. As influências corruptoras em redor dele tiveram efeito sobre sua fé, e a relação de seus filhos para com os habitantes de Sodoma ligaram até certo ponto seus interesses com os deles."[6] Há uma declaração familiar afirmando que as escolas deveriam ser estabelecidas onde uma educação diferente da do mundo possa ser oferecida, pois os pais são incapazes de neutralizar as influências das escolas do mundo. A experiência de Ló é um lembrete convincente da veracidade dessa declaração. E a ordem "Lembrai-vos da mulher de Ló" (Lc 17:32) deveria servir como aviso para os cristãos contra a atitude de se reunirem em grande número nas cidades para dar a seus filhos uma educação. As palavras de Spalding são verdadeiras: "Não morem em grandes cidades, pois uma cidade grande é um moinho que tritura o grão até se tornar farinha. Vá até a cidade para conseguir dinheiro ou pregar o arrependimento, mas não vá até lá para se tornar um homem mais nobre". A Educação nas Cidades Os dois sistemas de educação não são retratados em nenhum outro lugar de forma tão vívida como nas experiências de Abraão e Ló. A educação nas tendas de Abraão, sob a guia do Espírito de Jeová, trouxe vida eterna? A educação nas escolas de Sodoma trouxe morte eterna? Isso não era algo antinatural. Você não encontrará aqui nenhuma obra arbitrária da parte de Deus. O compartilhar do fruto da árvore da vida comunica vida. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal foi dito "no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:17). Se o sistema de educação revelado a Abraão fosse totalmente cumprido, teria posto Israel em uma esfera de existência acima das nações do mundo. Era uma educação espiritual, alcançando a alma por meio de um direto apelo à fé, e teria colocado o povo de Deus como mestres das nações. Não era plano que apenas uns poucos ensinassem, mas a nação como um todo deveria ensinar outras nações. O segundo Israel ocupará uma posição semelhante por intermédio da educação cristã. Notas: 1. Ellen G. White, Patriarcas e profetas, p. 141. 2. Ibid., p. 142. 3. Ibid., p. 142. 4. Ibid., p. 174. 5. Ibid., p. 174. 6. Ibid., p. 168. Capítulo 6 A Educação em Israel "Por isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do mar" (Hb 11:12). Da mesma forma que Deus lidou com um homem, Ele lidou com a nação. Do mesmo modo pelo qual conduziu o homem de uma esfera humilde para uma exaltada posição, igualmente Ele conduziu a nação até que ela se tornasse um espetáculo a todo o mundo. Ele os escolheu não porque fossem grandes em número, mas, ao tomar a menor quantidade de homens, desejava mostrar ao mundo o que poderia ser feito pelo poder do amor. Israel: um Povo Peculiar Esse pequeno povo, porém, seria aquele que lideraria o mundo no sentido mais literal do termo. A fim de que liderassem, em vez de serem liderados, o Senhor os fez um povo peculiar para Si, dando-lhes, em primeiro lugar, o rito da circuncisão, que estabeleceria uma barreira eterna entre o adorador do Deus de Israel e todas as nações do mundo. Essa separação seguia um propósito. O fato de que eles devessem ser um povo peculiar aos olhos das outras nações foi meramente um passo preventivo, não algo de importância em si mesmo. Deus tinha uma missão para a nação; e a fim de que ela pudesse ser realizada, todo o esforço deveria convergir naquela direção. Unidade de propósito é uma lei divina, e é nesse sentido que Israel deveria liderar, ocupando uma posição à frente de todos os outros povos. Esferas de Existência Os homens vivem em diferentes esferas. Há aqueles com uma constituição física tal que se sentem contentes com a satisfação de seus desejos e aspirações físicas. Esses podem ser facilmente guiados por homens que vivem em uma esfera mental. O fato é que a mente sempre foi reconhecida como superior à matéria, de modo que, sem que se deem conta disso, os dotados de força física se rendem a quem lhes é mentalmente superior. Quase que inconsciente de seu poder, o homem na esfera mental guia e controla aqueles na esfera física; ele não consegue evitar. É uma lei natural; um lidera, o outro segue. Dois indivíduos, um vivendo em uma dessas esferas, e o outro em uma esfera superior, nunca contenderão por conta de princípio, pois o homem que se desenvolveu apenas fisicamente acha natural seguir as ordens do outro. Essa é, e sempre foi, a condição da sociedade. A própria natureza destaca os líderes. Eles não são feitos líderes; eles nascem líderes. Eles são poucos, é verdade, pois as massas sempre preferem ser conduzidas. Mas não foi como meros líderes mentais que Deus chamou Israel. Acima da esfera mental há ainda uma esfera mais elevada à qual poucos atingem. Do mesmo modo que os números diminuem ao passar da esfera física para a mental, eles reduzem ainda mais ao passar da esfera mental para a espiritual. Como as Pess oas Alcançam a Esfera Espiritual É somente pela fé que o homem alcança essa esfera mais alta de existência. Isso requer constante abnegação e desenvolvimento contínuo. Na verdade, é um viver como contemplando Aquele que é invisível. O homem físico depende quase que totalmente do conhecimento adquirido por meio dos sentidos. Mas o que se desenvolve mentalmente depende da razão. Muitos combinam essas duas naturezas, e tais indivíduos são guiados pelo senso da razão na exata proporção em que as duas naturezas são desenvolvidas. O conhecimento resultante das percepções sensoriais e raciocínio finitos engloba a maior parte da humanidade. A vida de fé, o caminhar com Deus, abrange apenas poucos. Israel Deveria Viver na Esfera Espiritual Consegue perceber por que Deus escolheu um povo pequeno? Ele os escolheu, como nação, para serem sacerdotes ou professores para Si. Como indivíduos, e como nação, Israel deveria se estabelecer sobre a esfera espiritual, alcançando e mantendo sua posição por uma vida de fé. Assim, segundo a lei natural, todos os que estivessem em esferas inferiores prestariam obediência a eles. Como o mental controla o físico sem nenhum atrito, assim o espiritual controla todas as outras esferas. Por essa razão, disse o Senhor: "Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente" (Dt 4:5, 6). Israel como Mestres do Mundo Os estatutos em si não conseguem impor respeito a qualquer povo, mas Deus deu a Israel um estilo de vida que o ligava a Si. Ao viverem numa esfera espiritual, o mundo todo iria buscar orientação em Israel. Assim como alguém não consegue alcançar e ajudar aqueles que estão acima dele, mas, estando em uma posição superior, deve erguer outros a si, assim foi indicada a Israel uma vida que levasse outros a segui-lo a despeito de si mesmo, enquanto, ao mesmo tempo, estaria seguindo o que sabia ser a verdade. Esta é a posição exaltada que a verdade sempre ocupou. A Singularidade Dependia do Sistema de Educação Admitindo que Israel lideraria em virtude da esfera de existência sobre a qual ele se firmava, e que ela era alcançada por uma vida de fé, percebe-se facilmente por que havia sido indicado para a nação um sistema de educação que diferia tão completamente dos sistemas das outras nações do mundo quanto a vida espiritual difere de uma existência puramente física ou estritamente mental. Isso tornou impossível que houvesse qualquer mistura dos sistemas sem que ocorresse a completa ruína da esfera espiritual; pois, assim que o sistema de educação desceu para qualquer dos outros níveis, ele deixou de ser espiritual e perdeu seu poder de liderar. Resultado da Mistura de Sistemas Educacionais Caso Israel tentasse adotar a educação das nações circunvizinhas, sua educação certamente assumiria um caráter papal, pois seria, então, uma combinação do divino com o mundano. Se uma teocracia de criação humana, um governo de igreja e estado, é papal em princípio, o divino e o mundano combinados nos sistemas educacionais não tem menos do princípio papal. Israel fez tal combinação mais de uma vez, mas com os resultados registrados em Salmo 106:34-38: "[Eles] se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras; deram culto a seus ídolos, os quais se lhes converteram em laço; pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios e derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e filhas, que sacrificaram aos ídolos de Canaã." Embora a verdade e o erro possam ser misturados, eles nunca formarão uma mistura homogênea. A união dos dois nunca produz a verdade, e o resultado é a morte. A amalgamação da verdade com o erro, assim como a do ouro com o mercúrio, permanece adormecida até ser liberada. Israel não podia abandonar as formas de educação dadas por Deus sem renunciar a seu lugar como líder das nações. Destinada a ser cabeça e não cauda, a nação imediatamente inverteu sua posição quando adotou um sistema misto. A Natureza Espiritual da Educação em Israel A educação que havia sido planejada para os filhos de Israel era a cultura da alma, pura e simples. Seu objetivo era desenvolver a alma, que nada mais é do que Deus no homem; então a Divindade planejou que todo verdadeiro judeu fosse um homem em que Deus pudesse habitar. A educação iria desenvolver a centelha da divindade concedida ao nascer, e era privilégio de todo judeu possuir, do mesmo modo que Aquele judeu, Cristo, possuía, o Espírito sem medida. Vejamos, então, qual era o plano que conduziria o bebê recém-nascido e o acompanharia por toda a vida, fazendo dele um membro de uma nação de seres espirituais. Deus reconhecia as influências pré-natais, e então deu direcionamentos e leis concernentes à vida dos pais. Isso pode ser ilustrado através da história de Ana e da esposa de Manoá, de Isabel e de Maria, mãe de Jesus. Escolas Judaicas Nos primórdios da história da nação, como afirma Painter, "a educação era restrita à família, na qual o pai era o principal professor. Não havia escolas populares nem tampouco a profissão de professores. Todavia, a instrução do judeu [...] abrangia um vasto número de particularidades".[1] Hinsdale declara: "A educação judaica começava com a mãe. O que a verdadeira mãe judia, considerada como professora, era, nós conhecemos por meio de ambos os Testamentos e por muitas outras fontes. As próprias tarefas domésticas que ela realizava moldavam seus filhos conforme a disciplina nacional. 'A refeição sabática, o fato de acender a lâmpada do sábado e de pôr de parte uma porção da massa do pão para a família, tudo isso eram exemplos com que todo taph [criança], enquanto agarrava a saia da mãe, devia estar familiarizado'. O pedaço de pergaminho preso no umbral da porta, no qual o nome do Altíssimo estava escrito, [...] estaria entre as primeiras coisas a prender sua atenção." "Era na escola dos joelhos da mãe que as histórias dos patriarcas e profetas, de governantes e guerreiros, de poetas e sábios, de reis e juízes, eruditos e patriotas, bem como do próprio Doador da lei -- esse todo formando o melhor conjunto de material para a criação de filhos encontrado em qualquer língua -- eram contadas e recontadas até que se tornassem parte da própria mente." Ele menciona então o caso de Timóteo e acrescenta: "Como professoras de seus filhos, as mulheres de cada país podem aprender lições das respeitáveis mães de Israel".[2] Esse era, evidentemente, o plano original, e tivessem as famílias se mostrado fiéis ao seu encargo, a maior parte da educação, se não toda ela, teria ficado restrita à escola familiar. Sempre, todavia, enquanto Israel permaneceu como nação, a criança (considerada assim até os 12 ou 15 anos) estava sob a instrução dos pais. As Escolas Paroquiais Judaicas Da escola do lar seguimos a criança judia até à sinagoga ou à escola da igreja. Moisés foi instruído pelo Senhor para fazer com que cada sacerdote fosse um professor, de tal modo que a nação tivesse toda uma tribo de professores. Como cada cidade tinha sua sinagoga, então "uma cidade onde não há escolas deve perecer".[3] Citando Hinsdale novamente: "As crianças eram reunidas para a instrução nas sinagogas e nas escolas do lar, onde o professor, geralmente o chazzan, ou o oficial da sinagoga, 'transmitia a elas o precioso conhecimento da lei, com constante adaptação às suas capacidades, com incansável paciência, intensa seriedade, rigor temperado com bondade, mas, acima de tudo, com o mais elevado objetivo de seu treinamento sempre em vista: proteger as crianças de todo o contato com o vício; treiná-las para serem dóceis, mesmo quando tivessem sido injustiçadas da forma mais cruel; mostrar o pecado em sua repulsa, em vez de aterrorizá-las por meio de suas consequências; treiná-las para se apegarem à estrita veracidade; evitar tudo o que pudesse levar a pensamentos desagradáveis ou indelicados; e fazer tudo isso sem mostrar parcialidade, sem também severidade desmedida ou disciplina frouxa, com aumento judicioso de estudo e trabalho, com atenção cuidadosa ao rigor na aquisição do conhecimento -- tudo isso e muito mais constituía o ideal colocado diante do professor e tornava seu ofício da mais alta estima em Israel.'"[4] Esses mestres assumiam a juventude no período mais crítico de seu desenvolvimento. E como era completa a compreensão que tinham das necessidades das mentes em desenvolvimento! As Escolas dos Profetas Nos dias de Samuel, lemos pela primeira vez a respeito das escolas dos profetas, onde os jovens se reuniam para estudar a lei, música, poesia, história e vários ofícios. O nome Escola de Profetas indicava a espiritualidade de sua obra, e a referência ao tempo de Elias e Eliseu, bem como a experiência de Saul, provariam a verdade da inferência. Os Estudos nas Escolas Judaicas Não somo deixados em ignorância com relação às disciplinas ministradas, se estudarmos a história do povo judeu. Assim, mais uma vez citando Painter: "Os pais hebreus não deviam apenas transmitir instrução oral para seus filhos, mas também ensinar-lhes a leitura e a escrita. Como deles se esperava que inscrevessem as palavras de Deus nos umbrais e portas, deveriam aprender a escrever; e como os pais as escreviam para seus filhos, deduz-se que estes aprendiam a ler. Logo, parece que a habilidade de ler e escrever era comum entre os antigos judeus, e nesse particular, superaram todas as outras nações da antiguidade."[5] Hinsdale afirma: "Desde o ensino do alfabeto ou da escrita na escola primária até os mais avançados limites de instrução nas escolas secundárias dos rabis, tudo era marcado por um extremo zelo, sabedoria, rigor, tendo propósitos morais e religiosos como objetivo final."[6] A Bíblia como Livro Didático "Até os dez anos de idade a Bíblia era o único livro didático; dos dez aos 15 anos, o Mishná, ou lei tradicional, era usado; depois disso, o aluno era admitido nas discussões sobre as escolas rabínicas. Um curso de estudos mais profundo, entretanto, era seguido apenas por aqueles que mostrassem uma decidida aptidão para o aprendizado. O estudo da Bíblia se iniciava com o livro de Levítico, então se seguiam outras partes do Pentateuco; na sequência vinham os profetas e, finalmente, a hagiografia [biografia de santos]."[7] Fisiologia No trabalho em prol desse povo escolhido, Deus curava as enfermidades físicas com a mesma facilidade com que curava uma alma doente pelo pecado; e, juntamente com as leis para o crescimento espiritual, foram dadas diretrizes para a preservação da saúde. Cada sacerdote era um médico, e as leis referentes ao uso de alimentos simples e saudáveis, à respiração adequada, à ventilação, ao uso de desinfetantes, ao banho, etc., eram familiares a todos os que liam os estatutos de Jeová. Estudos Adicionais Painter diz com relação a outras matérias ensinadas: "Dentre os potentes instrumentos educacionais dos judeus, o dos festivais nacionais anuais merece consideração. [...] Ao celebrarem importantes eventos nacionais, eles mantinham o povo familiarizado com sua história passada. [...] Essas reuniões frequentes não somente contribuíam para a unidade nacional e religiosa, mas também exerciam uma forte influência educativa sobre o povo."[8] "Os levitas, mais do que qualquer outro hebreu, deviam estudar o livro da lei; para o preservarem e disseminarem em cópias precisas; para desempenharem as funções de juízes e genealogistas e, consequentemente, serem teólogos, juristas e historiadores. [...] Como os sacerdotes e levitas testavam a precisão dos pesos e medidas, [...] era necessário que entendessem um pouco de matemática; e por terem a responsabilidade de determinar e anunciar as festas, as luas novas, os anos e os anos intercalares, eles tinham a oportunidade de estudar astronomia", afirma Jahn. Uma vez que as escolas de profetas floresceram nos dias de Saul e Davi, não seria surpresa se Davi tivesse adquirido um pouco de sua habilidade musical lá, bem como nos montes cuidando das ovelhas, pois poesia e música faziam parte da instrução dada nessas escolas. Um autor prestou uma grande homenagem a essas disciplinas ao dizer: "A poesia grega é bela; a poesia hebraica é sublime". Os Efeitos da Educação Judaica Quando os filhos eram fortalecidos por esse tipo de educação desde a infância até a idade adulta, não é de se admirar que a influência que a nação "tem exercido sobre o mundo seja incalculável. Ela tem fornecido a base para toda verdadeira teologia; deu um sistema de moralidade irrepreensível; e, no cristianismo, proveu a mais perfeita forma de religião. A civilização da Europa e da América pode ser diretamente rastreada até os judeus."[9] Não é difícil determinar qual teria sido o resultado se a nação tivesse vivido à altura de seus privilégios decorrentes de seu sistema educacional. A história da Terra teria sido encurtada em pelo menos dois mil anos; pois a nação nunca teria sido escravizada, e Cristo nunca teria sido traído. À medida que as pessoas têm se apropriado desses princípios de educação cristã novamente, com que interesse deve o progresso da obra estar sendo acompanhado pelos habitantes de outros mundos, que já viram fracassos passados em decorrência da falta de fé! O fato de a educação hebraica conduzir, principalmente, a um desenvolvimento do homem interior, em vez de meramente fornecer um conglomerado de fatos, é bem expresso por Wines. Ele diz: "A lei hebraica requeria um treinamento prévio, constante, vigoroso e eficiente da disposição, do julgamento, dos modos e hábitos, tanto de pensamento quanto de sentimento. Os sentimentos considerados adequados ao homem em sociedade eram assimilados juntamente com o leite da infância. Os modos vistos como convenientes nos adultos eram diligentemente comunicados na infância." A Educação dos Três Aspectos da Natureza Humana A educação, entretanto, não era somente moral e intelectual, mas também física, pois a todo menino judeu era ensinado um ofício que lhe daria o sustento próprio. Riqueza ou posição não diminuíam essa necessidade. Paulo, que sentou aos pés de Gamaliel enquanto estudava a lei, foi capaz de ganhar seu sustento como fabricante de tendas enquanto pregava o evangelho. O Ensino Verdadeiro Exemplificado Havia nisso tudo, entretanto, o seguinte pensamento: toda instrução tinha como objetivo desenvolver a natureza espiritual. Tornar-se sacerdote era considerado a mais elevada honra (todo judeu poderia ter sido tanto sacerdote quanto professor), e nesse ofício o homem permanecia próximo de Deus. Essa era uma posição espiritual por excelência e prefigurava a obra do Messias. Verdade, a nação israelita nunca alcançou o padrão estabelecido para ela, nunca escalou, por assim dizer, aquela escada que ligava a Terra ao Céu; e coube a um único Homem, o Mestre de Israel, unir a esfera física e a espiritual. Mas de tempos em tempos apareciam homens na nação judaica que compreendiam, num sentido muito mais amplo que a maioria, o significado da verdadeira educação, conforme fornecida aos judeus, e que, ao submeterem-se à influência educadora do Espírito de Deus, foram capazes de se tornar líderes do povo e representantes de Deus na Terra. Moisés, Daniel, Jó e Ezequiel foram homens assim, bem como, em certa medida, todos os profetas de Israel. Em todos eles, o homem espiritual ergueu-se acima do homem físico, até encontrar a sua força sustentadora no coração de Deus. Isso possibilitou que Moisés falasse face a face com o Pai, e que Ezequiel seguisse o anjo da revelação até a fronteira do lar de Deus. Esses homens apenas desfrutaram do que todo homem em Israel poderia ter experienciado caso a nação tivesse permanecido no caminho para o qual foram chamados, recebendo sua educação pela fé. Alguém pode ser tentado a perguntar o motivo de sua queda. A resposta é a mesma dada àquela outra pergunta: Por que não estamos em posição elevada? Eles deixaram de olhar para o alto; a fé fracassou, e a razão assumiu o seu lugar; e em vez de liderar, buscaram ser como as nações ao redor. Sistemas Mundanos de Educação Diante deles estava o Egito, com seus homens poderosos, e o coração carnal ansiava por um pouco da ostentação egípcia. A fim de compreender isso, devemos novamente considerar a diferença tanto na vida quanto na educação. Vida, na esfera espiritual, significa abnegação, esquecimento do eu, mas quando desejos carnais são seguidos, a queda se mostra inevitável. A educação egípcia centrava-se em grande medida no aspecto físico. É verdade que o desenvolvimento mental era alcançado, mas apenas por uns poucos, e esses poucos, presos a grilhões terrenos, eram incapazes de livrar-se deles inteiramente. As multidões, não somente na educação, mas também na religião, tinham o foco no aspecto físico, especialmente no aviltamento moral. O touro sagrado era uma personificação da divindade. Por quê? Porque Deus, para um egípcio, era a personificação da luxúria. Todos os seus deuses, todos os seus ritos e cerimônias, cada parede do templo e cada serviço religioso exalavam o terrível odor da licenciosidade. Os historiadores registram que a classe sacerdotal tinha mais conhecimento. E isso era um fato. Mas a percepção deles não era a da verdade, pois, se fosse, nunca poderiam ter se tornado sacerdotes e mestres dessa religião e desse sistema de educação. Essas palavras, proferidas por um antigo sacerdote egípcio, falam verdadeiramente sobre o espírito da educação egípcia. Ele diz: "Eu que já vi quase 80 anos de miséria; [...] eu que tenho dominado todas as artes, ciências e religião do antigo Egito -- uma terra já envelhecida séculos antes da era de Moisés; eu que sei tudo o que os sacerdotes de Kem já ensinaram ao povo, bem como as mais elevadas e mais ocultas formas de ignorância nas quais os próprios sacerdotes criam -- eu verdadeiramente não sei nada! Eu dificilmente creio em algo, exceto nas trevas universais, para as quais a aurora não vem, e na miséria universal para a qual não há cura. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" E ainda assim os judeus deixaram aquela educação que lhes oferecia a vida eterna por outra que o mais bem-educado egípcio reconhecia como trevas e somente trevas. Foi desse contexto que Deus livrou Israel; mas muitos, hoje, reivindicando ser o Israel espiritual, ainda buscam a sabedoria e a filosofia do Egito para si e para seus filhos. Israel não conseguiu entrar em contato com esse estilo de vida sem se contaminar. Não somente isso, a nação caiu de seu estado exaltado e nunca mais o alcançou novamente. "Jerusalém foi destruída porque a educação das crianças foi negligenciada". A lei cerimonial, dada após a saída do Sinai, no início daquela marcha memorável de 40 anos, era necessária porque a nação havia perdido toda a apreciação pelo espiritual, e não conseguia ter qualquer ideia de Deus como Espírito, exceto por meio do apelo aos sentidos. Essa condição devia-se ao fato de quatro gerações terem sido submetidas à educação egípcia. Israel no Tempo do Êxodo Somente o plano de tipos e cerimônias poderia apelar à mente. E mesmo nesse método de ensino indutivo, a nação parecia tardia em aprender, pois os 40 anos entre o Mar Vermelho e o Jordão mal conseguiram desenvolver fé suficiente para guiar as pessoas até a terra prometida. A lei de Deus, escrita nas tábuas do coração com a pena da fé, apelava apenas a uns poucos. Os homens comeram o maná do Céu, porém não sabiam que ele era um símbolo de um Salvador crucificado; eles beberam da água que constantemente fluía da rocha ferida, e jamais sonharam que ela prefigurava o sangue derramado do moribundo Filho de Deus. Uma vez que estavam estabelecidos em Canaã, todo o sistema de educação foi planejado de modo a ensinar a criança a aceitar a Cristo pela fé. Alguns compreenderam essa verdade espiritual; mas uns poucos tinham olhos que percebiam as coisas ocultas da multidão, pois a fé era um caminho que chega à própria alma. Tendo o privilégio de viver pela fé, e de aceitar o ensino divino a esse respeito na sua forma mais elevada, preferiram a forma antiga e caminharam por vista. "Se porventura não virdes [...], de modo algum crereis" (Jo 4:48); "homens de pequena fé" (Mt 8:26). Quando olhamos para o que os israelitas poderiam ter sido e para o que foram, há um sentimento de dor intensa, pois a ruína é inexprimivelmente grande. Pouco a pouco, Jeová empenhou-Se para atingir a natureza mais elevada novamente e conduzir Israel ao lugar que o Céu escolhera para eles. Houve firme progresso até os dias de Salomão, cuja sabedoria suplantou as dos maiores homens da Terra, e Israel como nação estava novamente na iminência de tornar-se o mais importante povo do mundo em termos políticos, intelectuais e morais. A Sabedoria de Salomão Salomão foi elevado a uma posição de eminência entre os grandes homens da Terra porque aprendeu de Deus o segredo da verdadeira educação. Sua sabedoria não foi um dom a ele dado com exclusividade, mas foi oferecido a todo aquele que se conformasse com os requisitos educacionais. A respeito de Salomão, lemos que Deus lhe concedeu um ouvido atento. Seus sentidos espirituais foram despertados pela fé, e ele estava em tal harmonia com o Deus da Natureza que todas as obras do Criador podiam ser por ele lidas como um livro aberto. Sua sabedoria parecia grandiosa em contraste com a dos demais judeus simplesmente porque os outros falharam em viver de acordo com seus privilégios. Deus desejava que toda a nação estivesse perante os outros povos como Salomão esteve perante os reis da Terra. A característica espantosa para a maioria dos estudantes é o fato de que o sistema de educação dado por Deus, quando seguido, desdobrará ao homem grandes vantagens materiais. Não é, conforme é comumente acusado de ser, conceitual e teórico, mas deficiente no aspecto prático. Pelo contrário, é da mais elevada natureza prática, abrindo aos seus adeptos todas as possibilidades legítimas de prosperidade e colocando seus defensores acima de todos os concorrentes. Isso pode ser visto na experiência do rei mencionado. Como estadista e advogado, Salomão era reconhecido; como cientista, ultrapassou os eruditos do mundo; quanto à riqueza e esplendor, nem a metade pôde ser dita; durante o seu reinado, a arquitetura judaica, como exemplificada no templo, assumiu tal magnitude que se tornou o modelo até mesmo para os estéticos gregos. No cuidado com o solo e cultivo de frutas, a intenção de Deus foi sempre que Israel superasse as outras nações (cf. Dt 28). Os jovens eram treinados para assumir posições de confiança, bem como aprendiam os deveres práticos da vida cotidiana. Tal treinamento era oferecido não apenas para os rapazes, mas também para moças, preparando-as para preencher adequadamente sua esfera designada como donas de casa e mães em Israel (cf. Pr 31). Da queda que se seguiu a essa exaltação, Israel nunca se recuperou. Quando o sistema educacional perdeu seu verdadeiro caráter, a nação foi finalmente levada ao cativeiro. Quando a raça hebraica perdeu a espiritualidade de sua educação, ela perdeu tudo; pois poder político, reputação nacional, tudo dependia de um pilar. "Jerusalém foi destruída porque a educação das crianças foi negligenciada". Essa destruição não veio de repente. Houve um declínio, então uma arremetida adiante, e em seguida outra recaída, e a cada vez a queda era ainda maior e a reação ainda mais débil. Uma Reforma Educacional Diversas vezes houve uma pausa, e a vida nacional se prolongava por um retorno aos métodos de educação prescritos. Josafá, por exemplo, nomeou levitas como professores nas diferentes cidades de Israel; e como resultado, "veio o terror do Senhor sobre todos os reinos das terras que estavam ao redor de Judá, de maneira que não fizeram guerra contra Josafá" (2Cr 17:10). Caso a reforma tivesse sido conduzida da mesma forma como havia iniciado, toda a história nacional teria sido diferente. Outro fato perceptível é que a libertação da escravidão sempre foi anunciada por duas reformas. Por exemplo, antes da libertação do cativeiro da Babilônia, Daniel foi levantado para dar ao povo instrução sobre a reforma de saúde e a reforma educacional. Essas duas sempre acompanham uma a outra. A primeira afeta o corpo, preparando-o para tornar-se o templo do Espírito Santo; a segunda conduz a mente em direção à verdade, para que o Espírito de Deus possa pensar por meio dela. Um corpo purificado pelo viver correto e uma mente treinada de acordo com as leis da educação cristã proporcionam uma experiência como a que Daniel teve (cf. Dn 10). É evidente que ele viveu em uma esfera acima da maioria dos homens. Ele mesmo diz: "Só eu, Daniel, tive aquela visão; os homens que estavam comigo nada viram" (Dn 10:7). O que para Daniel era a voz de Deus, àqueles cujos ouvidos não estavam em sintonia com o Infinito soou como trovão ou como terremoto. Era privilégio de todos verem e ouvirem como Daniel via e ouvia, mas eles escolheram uma vida de qualidade inferior, uma existência vibratória mais moderada, na qual a força mental era diminuta, e as cordas do coração mais frouxas. Era mais fácil estar em harmonia com o Egito ou com a Babilônia do que com o Deus do Céu. E quando o Filho do homem nasceu, Ele achou difícil selecionar até mesmo um pequeno grupo cujas vidas estivessem em harmonia com a Dele. A Educação de Israel era Cristã A educação de Israel era uma educação espiritual. Seu Rei estabeleceria um reino espiritual no coração de um povo espiritualizado pela presença da verdade. Era o mesmo sistema que havia sido dado a Adão por Cristo; o mesmo por meio do qual Abraão foi ensinado; e o que não foi alcançado em eras passadas será alcançado pela educação cristã nos dias preparatórios para a Sua segunda vinda. Notas: 1. History of Education, p. 29. 2. Jesus as a Teacher, p. 28-30. 3. Nota do tradutor: A ideia judaica a respeito do valor das escolas pode ser compreendida por meio dos adágios apresentados no Talmude (uma coletânea de livros sagrados dos judeus, um registro das discussões rabínicas relacionadas à lei, ética, costumes e história do judaísmo): "O mundo é preservado pelo fôlego das crianças nas escolas"; "Uma cidade onde não há escolas deve perecer"; "Jerusalém foi destruída porque a educação das crianças foi negligenciada". 4. Jesus as a Teacher, p. 31. 5. History of Education, p. 28. 6. Jesus as a Teacher, p. 30. 7. Ibid., p. 31. 8. History of Education, p. 29. 9. History of Education, p. 27. Capítulo 7 O Sistema Educacional do Mundo Pagão Deus chamou Israel para tornar-se uma nação de mestres e lhes deu estatutos e juízos que, quando formavam a base dos sistemas educacionais, tendiam a tornar a nação um povo peculiar, uma nação de sacerdotes, uma raça espiritual, tornando-os, assim, o principal povo do mundo. De onde eles foram chamados? "Mas o Senhor vos tomou e vos tirou da fornalha de ferro do Egito" (Dt 4:20). Lemos ainda: "Do Egito chamei o Meu Filho." (Mt 2:1). O Egito ergue-se como personificação do mundo pagão, e seu próprio nome significa trevas. O escuro manto do paganismo sempre obstruiu a brilhante luz da verdade. Como o poder físico, intelectual e político de Israel derivava e dependia de seu sistema de educação, então seria muito natural supor que o poder oposto, o do paganismo, possuísse ideias educacionais e fosse controlado por um sistema de instrução em harmonia com suas práticas. Ou, para afirmar de modo mais lógico, concluímos necessariamente que o mundo pagão estava fundamentado sobre um sistema de educação distinto e que os costumes e práticas das nações pagãs eram o resultado das ideias educacionais que eles defendiam. O sistema dado por Deus, como observado entre os hebreus, fundamentava- se na fé e desenvolvia o lado espiritual da natureza humana, tornando possível à Divindade, no mais elevado sentido, unir-se com a humanidade. O resultado dessa união do humano com o divino -- Emanuel -- é a mais elevada criação do universo. Ela, em si mesma, representava um poder diante do qual homens e demônios se curvavam. O Paganismo Significa Autoadoração Quanto ao paganismo e seu sistema de educação, qual era a religião do mundo pagão? E quais eram as ideias que ele se esforçava por propagar? Primeiro, ele estabeleceu o estudo e a adoração do eu acima de Deus. Cristo é "a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo o homem." (Jo 1:9). Todos os homens possuem, então, em algum momento da vida, luz suficiente para guiá-los à verdade, pois, por meio do evangelho, "a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis" (Rm 1:18-20). Os homens, portanto, que inevitavelmente recebem luz, podem rejeitar essa luz, tornando-se, então, pagãos. Paulo, no primeiro capítulo da carta aos Romanos, declara que é uma lei universal que, quando a verdade é rejeitada, o erro assume o lugar. Paulo continua: "Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios [ou filósofos, conforme a tradução de Fenton em língua inglesa], tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém" (Rm 1:21-25). Volvendo-se da adoração a Jeová para a adoração do homem, de aves, feras e répteis, observamos, associadas a essa adoração, as formas mais grosseiras de licenciosidade. Isso é relatado por Paulo no primeiro capítulo de Romanos. O pensamento que deve ser mantido em mente é que o homem se afasta de Deus e adora a si mesmo. Ele não consegue conceber outro poder além de sua própria mente, nenhuma forma mais elevada que a dele próprio. Seu primeiro ídolo é a forma humana, masculina ou feminina. Ele dota esse ídolo de paixões humanas, uma vez que ele não conhece outro coração senão o seu próprio. Pela contemplação ele se transforma na mesma criatura dominada por paixões; um animal torna-se a personificação de sua divindade, e o touro sagrado o seu deus. Tudo o que envolve essa adoração é grosseiro, e aves, crocodilos e todo tipo de répteis se tornam objeto de adoração. Isso é o Egito. Isso, na verdade, retrata a adoração final em qualquer nação que se afasta de Cristo e deposita a fé no homem. Existe uma variedade de formas de adoração, do mesmo modo que existe uma variedade de cor da pele nas pessoas de diferentes regiões; contudo, o esquema é um só e o mesmo do começo ao fim, tendo como fundamento o mesmo sistema de educação, produzindo os mesmos resultados, quer planejados na orgulhosa corte babilônica, na detestável imundície do Egito, na Grécia com seu orgulho e cultura intelectuais, na lei romana, ou nos mais modernos países europeus. O paganismo é o monstro de olhos verdes, rastejando na costa sul do Mediterrâneo, cujo corpo segue o curso do Nilo, cujas patas alcançam tanto o leste quanto o oeste, e cujo hálito tem envenenado a atmosfera de toda a Europa. Os homens têm olhado fixamente para esses olhos na expectativa de encontrar sabedoria. Não passava do brilho intenso do demônio, à semelhança do olhar atento do tigre à noite. A Religião e a Educação do Egito O próprio Egito anulou todos os direitos individuais, colocando as massas como um simples rebanho a contorcer-se em superstições nas mãos de um rei tirânico e de um sacerdócio ardiloso. Era, de fato, uma "fornalha de ferro", como Deus denominou, e como Israel descobriu por meio de triste experiência. Era tirania no governo; era uma tirania ainda mais amarga na educação e na religião. Com resultados tão satisfatórios como os de alguém que tentasse se esforçar para mover as pirâmides, ou extrair palavras da silenciosa Esfinge, assim era a esperança de mudar a vida no Egito por meio de qualquer coisa apresentada ali. O Cultivo dos Sentidos Sobre a educação egípcia, Jahn afirma: "[Os] sacerdotes compunham uma classe separada [..] e desempenhavam não somente os serviços religiosos, mas também os encargos de todas as funções civis nas quais o aprendizado era necessário. Eles, portanto, devotaram-se, de modo muito peculiar, ao cultivo das ciências. [...] Estudavam filosofia natural, história natural, medicina, matemática (em especial astronomia e geometria), história, constituição civil e jurisprudência." Coloque esse programa de estudos ao lado da educação judaica, e você perceberá neste último a Bíblia e assuntos que visavam ao desenvolvimento da espiritualidade, coisas que somente a fé conseguia compreender; por outro lado, a educação dos egípcios tinha uma base completamente intelectual e lidava com assuntos que apelavam aos sentidos e à razão humana. Quando esse sistema como tal é investigado em outras nações, especialmente na Grécia, essa característica se torna alarmante ao extremo; e se é comum fazer referência a ele em contraste com o sistema judeu, isso se deve ao fato de que nesse ponto se encontra o eixo sobre o qual a história das nações gira. Ou é a fé ou a razão hoje, como tem sido a fé em oposição à razão através das séculos. No lugar da razão, use a palavra filosofia, pois esta era uma das expressões favoritas entre os pagãos. A Filosofia Pagã é Loucura O evangelho permanece em oposição à filosofia do mundo desde o princípio. A esse respeito lemos: "Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus poder divino e filosofia divina, [na tradução de Fenton em língua inglesa]. [...] Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne [filósofos populares -- tradução de Fenton], nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento" (1Co 1:18-26). É essa filosofia divina que os de mente espiritual compreendem, e que é a essência de sua educação. É essa filosofia humana, ou filosofia natural, que aos olhos de Deus é loucura, que o Egito e seus seguidores adotaram. Mentes que se aprofundam na filosofia humana nunca encontram a Deus, nem se aproximam da esfera da filosofia divina. Há uma filosofia divina, e ela é compreendida pela fé; e há uma filosofia humana, uma criação da mente humana, uma ciência formulada a partir de deduções que apelam aos sentidos naturais. Mas mesmo o homem mais sábio segundo o conhecimento humano, permanece como um tolo aos olhos de Deus, pois o homem interior não foi alcançado. A Sabedoria do Egito Entretanto, nosso estudo da educação pagã não está restrito ao vale do Nilo. Na verdade, algumas das fases mais interessantes, algumas das mais fortes características desse sistema foram desenvolvidas em outro lugar. O Egito foi o berço, mas Grécia e Roma foram os campos onde essas ideias ganharam força. Nós lemos: "Os antigos olhavam para o Egito como uma escola de sabedoria. A Grécia enviou para lá ilustres filósofos e legisladores -- Pitágoras e Platão, Licurgo e Sólon -- para ali completarem seus estudos." "Logo, mesmo os gregos nos tempos antigos estavam habituados a se apropriar tanto da política quanto do saber dos egípcios."[1] A Educação de Esparta e o Egito Dos quatro homens mencionados, consideramos Licurgo como o fundador do governo espartano, reconhecido pelo treinamento físico que fornecia e pela total sujeição do indivíduo ao Estado. Todos os historiadores reconheceram esse fato como decorrência do sistema de educação introduzido por Licurgo e seguido por seu povo. O bebê recém-nascido era julgado merecedor da vida ou da morte por meio um conselho do Estado, e a decisão era baseada na condição física da criança. Aos sete anos, a criança tornava-se propriedade do Estado, e assim permanecia até a idade de 60 anos. Era uma educação mais exclusivamente física, ou puramente secular, do que qualquer outra oferecida na Terra. Atenas e o Egito A prosperidade de Atenas, onde "se forjou o mais perfeito modelo de civilização pagã", data do período de Sólon, que, como já vimos, concluiu sua educação no Egito. Nesses dois homens vemos como a aprendizagem voltada para o aspecto físico se tornou tão proeminente na educação pagã. "O programa acadêmico na escola de Pitágoras abrangia matemática, física, metafísica e medicina. Ênfase especial era dada à matemática, que Pitágoras considerava a mais nobre das ciências." Aqui é revelada a inclinação da educação pagã para o puramente intelectual. Sobre Platão leremos mais adiante. A Natureza Universal da Educação Egípcia Se o Egito ofereceu solo para a germinação da semente da educação pagã, a Grécia fez com que a planta produzisse sementes; e Roma, atuando como o vento que sopra a plumagem, disseminou por toda parte a educação pagã. De Roma lemos: "Ela reuniu em seus braços os elementos das culturas grega e oriental, e à medida que seu fim se aproximava, os disseminou livremente por todo o restante da Europa. Roma foi a disseminadora da cultura para o mundo moderno."[2] Platão e a Educação A fim de compreender a fertilidade das sementes da educação pagã, é necessário considerar com cuidado o mentor desse sistema, a saber, Platão. Emerson, em sua obra Representative Men [Homens Representativos], define a posição de Platão e de sua filosofia tanto no mundo pagão quanto no conhecido mundo cristão, onde os ensinos desse filósofo grego, educado no Egito, exclui a própria Palavra de Deus. Ele diz: "De Platão procedem todas as coisas que ainda são escritas e debatidas por homens pensantes. [...] A Bíblia dos doutos por dois mil e duzentos anos, cada jovem sagaz, que diz em sequência coisas refinadas a cada geração hesitante (Erasmo, Bruno, Locke, Rousseau, Coleridge), é algum leitor de Platão." Isso é o mesmo que dizer que, por 2.200 anos Platão e seu sistema educacional, conhecido em todos os lugares como platonismo, tomou o lugar da Bíblia para as mentes proeminentes do mundo. "Platão é filosofia, e a filosofia é Platão -- ao mesmo tempo a glória e a vergonha da raça humana, visto que nem saxão nem romano conseguiu acrescentar qualquer pensamento às suas categorias", continua Emerson. "Ele não tinha esposa nem filhos, mas os pensadores de todas as nações civilizadas são sua posteridade e são marcados com sua mente. Quantos homens grandiosos a natureza sem cessar faz emergir da noite para se tornarem seus homens -- platonistas!" A Influência de Platão Então ele fornece uma lista de nomes ilustres que têm se levantado em prol da aprendizagem em vários períodos da história do mundo, e continua: "O calvinismo está em seu Fédon [livro escrito por Platão]; o cristianismo está nessa obra". Quão pouco esse escritor conhecia do poder da verdade conforme revelada por Cristo! Sem dúvida ele formou o seu julgamento por meio de professos mestres cristãos. Mas ele continua: "O islamismo desenvolve toda a sua filosofia, em seu manual de costumes, [...] de Platão. O misticismo tem Platão como fonte de todos os seus textos. Esse cidadão de uma cidade da Grécia não é nem um aldeão nem um patriota. Um inglês lê e diz: 'Como soa inglês!'; um alemão, 'Como soa teutônico!'; um italiano, 'Como soa romano e grego!'" E para mostrar que o reconhecimento de Platão não é limitado pelo Atlântico, nosso versátil escritor da Nova Inglaterra diz: "Platão soa, a um leitor da Nova Inglaterra, como um gênio americano". Tem o leitor alguma dúvida de que nossas instituições americanas de educação possam ter reconhecido a universalidade desse mestre da filosofia e adotado em seu currículo seu sistema de raciocínio? Pode-se delinear, sem o auxílio de lentes de aumento, o fio da filosofia pagã percorrendo todas as escolas americanas. "Da mesma forma que nossas Bíblias judaicas foram inseridas nas mesas de conversa e na vida familiar de cada homem e mulher das nações americanas e europeias, assim os escritos de Platão têm ocupado o primeiro lugar em cada instituição de ensino, cada amante do pensamento, cada igreja, cada poeta -- tornando impossível pensar, em certos níveis, a não ser por meio dele. Ele se estabelece entre a verdade e a mente de cada homem e quase imprimiu seu nome e selo sobre a língua e as formas primárias de pensamento. [...] Aqui está o germe da Europa que conhecemos tão bem, em sua longa história literária, artística, cultural e política; aqui estão todos os seus traços, já discernidos pela mente de Platão. [...] Como Platão chegou a se tornar a Europa, a filosofia e praticamente a literatura, eis um problema que temos que resolver."[3] Não nos causa mais surpresa que Paulo, quando se dirigiu à igreja de Corinto, rodeada como estava por essa filosofia e em contato diário com essas ideias que dominaram o mundo, tenha escrito contra a aceitação da filosofia de homens em lugar da filosofia divina que ele e os outros apóstolos estavam pregando por meio da cruz de Cristo. Escreve o apóstolo: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria [raciocínios grandiosos ou filosofias -- tradução de Fenton]. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. [...] A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria [raciocínios filosóficos cativantes -- tradução de Fenton], mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana [filosofia humana -- tradução de Fenton], e sim no poder de Deus" (1Co 2:1-5)."Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo" (Cl 2:8). O Evolucionismo: Base do Platonismo Visto, então, que o sistema platônico de educação tem exercido, e ainda está exercendo, tamanha influência sobre a mente humana, nos convém averiguar os princípios básicos do seu sistema. No que esse filósofo acreditava e o que ensinava? Citações já foram apresentadas mostrando que ele é o pai da filosofia moderna. Emerson define essa filosofia. Ele diz: "A filosofia é a explicação que a mente humana dá a si mesma com relação à constituição do mundo". Todas as tentativas, portanto, para explicar a constituição do mundo, quando um "assim diz o Senhor" é recusado, constitui filosofia. E filosofia é Platão. "Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem" (Hb 11:3). Mas o platonismo é a mente tentando explicar a constituição dos mundos para si mesma. Como, você pode pensar, o autor dessa filosofia lida com a explicação de coisas que podem ser compreendidas unicamente pela fé? "A Platão pertence a honra de ser o primeiro a submeter a educação a um exame científico", afirma Painter. Aqui teve início o laboratório de experimentação que tem sido perpetuado por Huxley, Darwin e outros. E, assim, a partir de Platão, a Europa e a América receberam suas ideias sobre a evolução. Platão trouxe essas ideias do Egito e de Babilônia, e as escolas de hoje seguem essa filosofia de fabricação humana. Nossos homens de intelecto escrevem livros-textos e os colocam nas mãos da juventude, ensinando-os a explicar a constituição dos mundos segundo o pensamento da mente de homens. Mais algumas reflexões sobre Platão e veremos o que é a evolução, bem como onde ela é encontrada agora. Aristóteles, o ilustre discípulo de Platão, "criou a ciência da lógica", "a ciência do raciocínio exato", como Webster apresenta. Emerson declara, "A alma equilibrada surgiu". "Sua imaginação ousada fornece a ele uma compreensão dos fatos mais sólida. [...] Segundo a antiga frase, 'se Júpiter descesse à Terra, ele falaria no estilo de Platão.'" Neste último o cristão pode crer sem hesitação. Mas o Filho do homem usou um discurso completamente diferente, embora Platão tenha antecedido seu nascimento em mais de 400 anos e fosse, no tempo do advento de Cristo, o soberano intelectual do mundo. "Na leitura de logaritmos, ninguém está mais seguro do que quando segue Platão em seus voos." Ao próprio Platão é dado o crédito por dizer: "Há uma ciência das ciências -- eu a chamo de dialética -- que é o intelecto discernindo entre o falso e o verdadeiro". Há certamente uma ciência das ciências -- a ciência da salvação. Há verdadeiramente uma forma de julgar entre o falso e o verdadeiro, pois o Espírito da verdade o guiará a toda a verdade. Contudo, o cérebro humano jamais poderá fazer isso. Foi essa mesma lógica, "a ciência das ciências" de Platão, que recebeu tamanha proeminência nas escolas papais e na educação medieval. O Platonismo nas Escolas Modernas Aqui se apresentam os dois sistemas lado a lado, um deles dirigido pela razão humana, o outro dirigido pelo Espírito do Deus vivo. Lembre- -se de que o mundo se curva a Platão; e, ao erguer suas mãos em atitude de adoração, deposita a seus pés o seu tributo, seu mais estimado ídolo -- seu sistema educacional. A enciclopédia de Chambers, no verbete "Platão", mostra de forma conclusiva que esse filósofo grego ainda sustenta sua posição exaltada nos círculos literários e entre os educadores. É dito: "Desde a Revolução Francesa, em particular, o estudo de Platão tem sido adotado com renovado vigor na Alemanha, na França e na Inglaterra; e muitos de nossos destacados autores, sem professar de forma declarada o platonismo -- como Coleridge, Wordsworth, a Sra. Browning, Ruskin, etc. --, têm formado um forte e crescente partido de adeptos que não encontrariam nenhuma outra bandeira em comum sob a qual pudessem, de modo tão conveniente e honroso, unir-se além da de Platão." Os cristãos devem estar reunidos sob o estandarte de Cristo (cf. Is 11:12); mas muitos educadores da atualidade não encontram "nenhuma outra bandeira em comum sob a qual possam, de modo tão conveniente e honroso, unir-se além da de Platão". Cristianismo ou paganismo, o que deve fazer parte da educação das crianças protestantes de hoje? O que ocorreu para as ideias de Platão terem sido tão amplamente aceitas por toda a Europa? O artigo na enciclopédia de Chambers, de onde a citação acima descrita foi extraída, relata nas seguintes palavras como a igreja cristã primitiva tornou-se contaminada pelos ensinos de Platão: "As obras de Platão foram extensamente estudadas pelos pais da igreja, dentre os quais um alegremente reconhece, no grande mestre da academia, o instrutor que, na plenitude do tempo, estava destinado a educar os pagãos para Cristo, assim como Moisés instruíra os judeus." Se a igreja primitiva adotou o sistema educacional de Platão, então não é de surpreender que a Europa da Idade Média estivesse pronta para a filosofia grega. O Platonismo na Europa e América No ano de 1453, os turcos tomaram Constantinopla, e "muitos eruditos gregos se refugiaram na Itália. Os tempos eram favoráveis a eles". É importante lembrar que esse foi um dos marcos na história da Idade Média. O latim tinha se tornado a língua universal nos dias da supremacia papal. Houve uma revolta contra a tirania do papado sobre o pensamento, e as línguas modernas começaram a aparecer. A fim de deter a maré sem perder terreno, o papado dirigiu a atenção da mente para os clássicos gregos em vez de para a Bíblia de Wycliffe ou de Erasmo, e um pouco mais tarde para os escritos de Lutero. De fato, "os tempos eram favoráveis" para o papado. "Patrocínio nobre e abastado não faltou, e sob seu cuidado protetor eles (os gregos) tornaram-se, por um tempo, os professores da Europa. Eles tiveram êxito em acender um extraordinário entusiasmo pela antiguidade. Manuscritos foram reunidos, traduções foram feitas, academias foram estabelecidas e bibliotecas foram fundadas. Vários dos papas tornaram-se patronos da erudição da antiguidade. [...] Ávidos eruditos da Inglaterra, da França e da Alemanha sentavam-se aos pés dos mestres italianos a fim de, posteriormente, carregar a preciosa semente da nova cultura para além dos Alpes."[4] Painter, subsequentemente, apresenta os efeitos dessa propagação dos clássicos gregos: "Na Itália, ela tendia fortemente a paganizar seus partidários. O ardor pela antiguidade tornou-se, finalmente, intoxicação. A incredulidade prevaleceu nos mais elevados escalões da igreja; o cristianismo foi desprezado como superstição; a imoralidade abundou nas mais vergonhosas formas. O paganismo de Atenas foi reavivado na Roma cristã." E eruditos da Inglaterra, da França e da Alemanha sentavam-se aos pés desses mestres pagãos, bebendo de sua filosofia, e depois apressando- -se através dos Alpes para propagar essas ideias nas escolas que educavam a juventude. Essa foi a influência contra a qual a Reforma teve que lutar. Foi de Oxford, Cambridge e das universidades da Alemanha e França que as faculdades e universidades americanas assimilaram essas mesmas ideias pagãs. A Natureza dos Clássicos Os clássicos formam a espinha dorsal do paganismo, da mesma forma que a Bíblia forma a base da educação cristã. Os clássicos são duradouros porque representam o mais elevado produto da mente humana. A recente mudança nos círculos educacionais, e por parte de algumas de nossas proeminentes faculdades, contra o estudo das "humanidades" (dos clássicos gregos e latinos), e em favor do estudos "modernos" (isto é, ciência, línguas modernas e história), nunca poderá alcançar um ponto de estabilidade até que a Bíblia seja colocada em sua apropriada posição como fator educacional, pois substituir os clássicos sem colocar em seu lugar aquilo que seja igualmente forte, ou até mesmo mais forte, é inútil. Uma reação é inevitável, e os clássicos voltarão a seu antigo lugar de honra. A educação cristã em sua simplicidade é a única alternativa. Isso não significa colocar uma aula sobre a Bíblia ou a história sagrada no lugar dos clássicos antigos. Como a literatura clássica tem sido a base de toda instrução em nossas escolas desde a Idade Média, uma reforma requer um decidido rompimento com o antigo sistema e a adoção de um novo, erigido sobre um fundamento completamente diferente -- um sistema no qual a Palavra de Deus seja a base de toda a educação, bem como o livro-texto em todo ramo de estudo. O Paganismo e Nossos Filhos Os pais, ao lerem isso, podem afirmar que apenas uma pequena proporção de pessoas conseguem obter uma educação clássica. Mas se você enviar seu filho aos modernos jardins da infância, ele ouvirá a história de Plutão, ou de Ceres, deusa dos grãos dourados; de Mercúrio, o deus mensageiro alado; das ninfas das florestas; de Éolo, que domina os ventos e traz tempestades; ou de Apolo, que é conduzido pelo céu numa carruagem de fogo. Ou, se os verdadeiros nomes gregos forem descartados, a natureza é personificada de tal maneira a fim de dar à mente infantil uma ideia distorcida das coisas, conduzindo-a a qualquer outra coisa, exceto à pura e simples verdade da Palavra de Deus. Ela, portanto, bebe dos mitos e fábulas dos gregos desde a tenra infância. Um dos primeiros livros de leitura infantil traz a história de Proserpina [filha de Júpiter com Ceres], que foi raptada e escondida sob a Terra durante um tempo. Os estudos referentes à natureza são revestidos com frequência de atrativos para a mente juvenil ao serem associados aos antigos deuses e deusas gregos. Mas mesmo na forma mais sutil, as ideias do repertório clássico são ensinadas por meio das teorias evolucionistas e da filosofia no decorrer das séries do ensino fundamental e médio. A Evolução "Filosofia", como citado anteriormente, é definida como "a explicação que a mente humana dá a si mesma com relação à constituição do mundo". Essa filosofia é agora conhecida como evolução, pois a evolução é a maneira como o homem explica a constituição do mundo e das criaturas que nele habitam. Observe estas palavras da pena de Henry Drummond. Em um artigo preparado para o Parlamento das Religiões, intitulado "Evolução do Cristianismo", ele diz: "Trabalhando em seu próprio domínio, a ciência descobriu como Deus fez o mundo." "Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus" (Hb 11:3). O Sr. Drummond continua: "Para a própria ciência essa descoberta foi surpreendente e tão inesperada como sempre foi para a teologia. Há exatos 50 anos o Sr. Darwin escreveu em assombro ao Sr. Hooker que a velha teoria da criação específica -- segundo a qual Deus fez todas as espécies separadamente e as introduziu no mundo uma a uma -- estava se desfazendo diante de seus olhos. Ele estava desabafando o pensamento, conforme ele afirma em sua carta, quase como se estivesse confessando um assassinato. Mas o mundo havia se curvado tão completamente ao peso dos fatos diante dos quais até mesmo Darwin tremeu, que um dos últimos livros sobe o darwinismo, escrito por uma mente tão religiosa como a do Sr. Alfred Russell Wallace, contém estas palavras em seu capítulo de abertura: 'Todo o mundo científico e literário, até mesmo todo o público instruído, aceita como sabedoria comum a origem das espécies a partir de outras espécies semelhantes, pelo processo comum de nascimento natural. A ideia de uma criação especial, ou qualquer outro modo de produção excepcional, está absolutamente extinta.'" O melhor seria ler as próprias palavras de Drummond, mas resumidamente ele diz: "É desnecessário, neste momento, assinalar a incomparável grandeza do novo conceito [evolução]. Como ele preencheu a imaginação cristã e motivou o entusiasmo das mentes mais sóbrias a partir de Darwin é do conhecimento de todos. Não nos é possível ser demasiado agradecidos à ciência por essa esplêndida hipótese; e somente a teologia que lhe conferir um lugar, ainda que temporário, em sua doutrina da criação poderá enriquecer-se." Que estranho Deus ter falhado em revelar essa estupenda verdade (?) por meio de Sua Palavra e ter deixado que a ciência, nas mãos dos descendentes de Platão, a descobrisse! "Era preciso", afirma Drummond, "uma apresentação digna de confiança, especialmente à luz da astronomia, da geologia, da paleontologia e da biologia. Essas áreas, como já dissemos, tornaram a primeira teoria simplesmente insustentável. E a ciência forneceu à teologia uma teoria que o intelecto pode aceitar." A fé foi deixada de lado. O intelecto humano foi exaltado, o paganismo baniu o cristianismo, e nossos meninos e meninas agora estudam a hipótese nebulosa, que explica a criação dos mundos, em sua astronomia e geografia; eles discorrem sobre as longas eras necessárias para a formação das camadas geológicas da Terra; eles estudam os fósseis de eras passadas e, a partir deles, descrevem a evolução do homem a partir de um pólipo. A Insuperável Influências das Escolas Qual a utilidade de se pregar o evangelho em um dia da semana, se nos outros seis dias o paganismo orienta o intelecto? Por que sentar- -se e sonhar com o Céu, ou gastar dinheiro para a conversão de pessoas enquanto a educação pagã conduz seus próprios filhos pela mão e entrelaça suas mentes num emaranhado de teorias que cegam seus olhos para as verdades espirituais? As palavras do presidente Harper, da Universidade de Chicago, têm peso. Ele diz: "É difícil profetizar qual será o resultado do nosso atual método de educar a juventude nos próximos 50 anos. Estamos treinando a mente em nossas escolas públicas, mas o aspecto moral da natureza da criança é quase que inteiramente negligenciado. A Igreja Católica Romana insiste em remediar esse evidente mal, mas nossas igrejas protestantes parecem ignorar isso completamente. Elas esperam que a escola dominical compense o que as nossas escolas públicas deixam por fazer, e a consequência é que nós deixamos passar um perigo tão real e tão grandioso quanto qualquer outro que já tivemos de enfrentar." Notas: 1. History of Education, p. 32, 34. 2. History of Education, p. 65. 3. Emerson, Representative Men. 4. History of Education, p. 121. Capítulo 8 Cristo, o Educador dos Educadores 1. A Vida de Cristo Um sagrado dom para o ensino havia sido confiado a Israel como nação; mas o poder havia se apartado desse povo, pois eles haviam misturado suas ideias educacionais com as dos pagãos e tinham a tal ponto se esquecido dos mandamentos de Jeová que estavam enviando seus filhos para professores pagãos, convidando, assim, para o seu meio, os profetas de Baal (cf. 2Rs 17:15-17; Jr 19:4, 5). Aquela nação, cujos profetas haviam advertido mais de uma vez os reis da Terra do perigo iminente, não mais ouvia a voz de Deus. Por aproximadamente 400 anos nenhum profeta se levantara em Israel. "A profecia havia se extinguido de forma tão completa -- o Espírito havia se apartado de forma tão absoluta de Israel, que ficara evidente para muitos que um novo profeta era uma impossibilidade". Será que o Deus que havia tirado seus pais do Egito, que havia expulsado as nações de diante deles -- o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó -- teria esquecido Seu povo? Com frequência a pergunta era feita sempre que as famílias se reuniam ao redor da mesa. Com grande expectativa, mães aguardavam pelo nascimento de uma criança, esperando que fosse o escolhido de Deus, mas nenhum profeta chegava. Israel antes do Nascimento de Cristo Os sacerdotes de Israel prosseguiam com suas atribuições rotineiras; a cada ano a nação se reunia em Jerusalém para as festas anuais. Milhares de vítimas eram imoladas, e sangue corria livremente do altar; mas não havia fogo do Senhor em resposta, não havia o brilho do Shekinah. As crianças judaicas sentavam-se dia após dia aos pés dos mestres de Israel, ouvindo a repetição da tradição e das palavras do Talmude; mas a vida havia se apartado da instrução, e não havia reação na alma humana. O Céu esperava com ansiedade pela abertura de alguma alma para a entrada do Espírito de Deus, mas as avenidas através das quais Ele poderia entrar estavam fechadas. Os professores que deveriam ter se colocado "sob o total controle do Espírito", não sabiam o que significava ouvir a voz de Deus; e as crianças, sustentadas apenas com alimento físico e mental, atingiam a maturidade com natureza espiritual ressequida, para se tornarem, por sua vez, os mestres da geração seguinte. Visto que a prosperidade do governo de Israel devia-se ao seu sistema educacional, visto que sua terra produzia em abundância quando seus filhos eram ensinados adequadamente, e visto que as nações ao redor deles se curvavam em respeito à nação escolhida de Deus à medida que esta seguia o sistema educacional que outrora lhe havia sido ofertado, não é de admirar que no ano 5 a.C., após séculos de distanciamento dessas verdades, a Palestina se encontrava sob o forte domínio de Roma, e o povo mal conseguia pagar o imposto requerido. Os olhos celestiais testemunhavam isso e muito mais. João Batista Entre os sacerdotes que ministravam no templo havia um que aguardava um libertador, e a ele o anjo Gabriel veio com as seguintes palavras: "A tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João" (Lc 1:13). Muito embora esse homem tivesse cantado os mesmos acordes que anjos cantavam e fosse capaz de sentir a pulsação do Eterno, as palavras do anjo o surpreenderam, e ele não creu nelas. E a fim de que os sons da Terra fossem, por um tempo, silenciados, e Zacarias fosse capaz de ouvir somente a voz de Deus, o anjo colocou a mão sobre ele, de modo que ficou mudo até o dia do cumprimento das palavras de Gabriel. A Educação do Precursor Nasceu um profeta que converteria o coração de Israel a Deus. Ele veio no espírito e poder de Elias, pregando o arrependimento. Sua vida era de solidão e pobreza. Seu tempo era despendido longe das cidades e das multidões; pois Jerusalém, a escolhida líder das nações, não mais oferecia uma educação adequada para seus profetas. Portanto, Deus treinou a João. Dentre os nascidos de mulher, nenhum homem foi maior do que João Batista. Jesus de Nazaré Uma vez mais Céu e Terra foram ligados. Quão próxima a ligação! Do tamanho de um barbante, por assim dizer, e o elo era o coração de uma mulher! Mas na cidadezinha de Nazaré, humilde e desprezada, vivia uma jovem, prometida a José, o carpinteiro da Galileia. Olhando para o futuro, com sonhos que iam pouco além da vida e suas esperanças, ela ergueu seus olhos e contemplou um anjo. A alma que anseia estar em harmonia com Deus traz as hostes angélicas até a Terra. Esse anelo pode ser o simples anseio de uma mãe; o Céu, contudo, se inclina para ouvir; a vibração é sentida por toda a criação. Tão perto está Deus do homem! As palavras "Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo" (Lc 1:28) surpreenderam Maria, pois ela não esperava uma resposta tão rápida. Ela ficou aflita, mas o anjo disse, "Maria, não temas". "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus" (Lc 1:35). "A plenitude do tempo" havia chegado. Deus, havendo esperado anos para que Israel se voltasse para Ele, agora realizou a obra-prima da Divindade. A criação se maravilhou. O Espírito cobriu Maria; Ele fez com que seus nervos vibrassem e, com Seu toque, trouxe à existência o embrião de um novo ser. À humanidade foi dado o poder de formar um corpo para a habitação do Deus do Céu. "Corpo me formaste" (Hb 10:5). O tesouro estava num vaso terreno, para que maior glória pudesse abundar para Deus. "Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento humano. Ele armou Sua tenda ao lado das tendas dos homens, para que Ele pudesse habitar entre nós e nos tornar familiarizados com Sua vida e caráter divinos."[1] A Educação Inicial de Cristo Os primeiros anos de Cristo quando criança encontram-No sentado aos joelhos de Sua mãe. Dos lábios dela e dos rolos dos profetas aprendeu as coisas celestiais! A natureza era Seu incansável mestre; dela Ele adquiriu estoques de conhecimentos científicos. Ele estudou a vida das plantas e dos animais, bem como a dos homens. "As parábolas pelas quais, durante o Seu ministério, Ele amava ensinar Suas lições da verdade, mostram o quanto Seu espírito estava aberto às influências da natureza e como Ele reunia o ensino espiritual dos arredores de Sua vida cotidiana." "Como suspira a corça pelas correntes das águas", assim a Sua alma suspirava por ligação espiritual com o Pai; e esse anseio que O levou a ouvir com atenção a voz de Deus na natureza desenvolveu as mais elevadas faculdades de Sua mente. O Espiritual em Primeiro Lugar na Educação de Cristo Seu crescimento não foi repentino, mas gradual, assim como o das demais crianças; e à medida que desenvolvia forte constituição física, "o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria" (Lc 2:40, ARC). O segredo da diferença entre Jesus e Seus companheiros é revelado nesse verso. A maior parte das crianças se desenvolve mental e fisicamente, em especial durante os primeiros anos de idade; mas a natureza espiritual de Cristo era a principal, e em Sua tripla natureza, a mental e a física eram sempre equilibradas pela espiritual. Como declara Hinsdale: "A mente divina, o coração humano e a natureza se encontram intimamente unidos" Nele. Ele não buscou instrução nas escolas rabínicas, pois elas haviam perdido o que para Ele era vida. Cristo Reconheceu o Trabalho de Sua Existência Em tenra idade, provavelmente não muito depois dos 12 anos, Ele reconheceu a obra de Sua existência, e dali em diante cada energia foi empregada nessa direção. Sua missão era revelar a divindade de Deus, mostrar as possibilidades do homem-Deus, provar ao mundo que é possível que Deus e o homem se unam e que a natureza espiritual tenha domínio; e, provando isso, mostrar que o sistema de educação instituído pelo Céu não era um fracasso, embora naquele tempo ele estivesse em descrédito. Cristo Escolheu o Aspecto Espiritual A idade de 12 anos era um período crítico na vida de uma criança judia, pois era nesse período que a natureza física se aproximava da maturidade. Os anos subsequentes significavam muito para o jovem, pois então cabia a ele escolher para a vida inteira a esfera sobre a qual esperava viver. Se a força física e a gratificação dos sentidos naturais são o auge da ambição, ao ceder às tentações dessa natureza por volta dessa faixa etária, os hábitos de vida são fixados. Talvez em outros países o desenvolvimento seja um pouco mais lento, devido a influências climáticas, mas dos 12 aos 16 anos cada jovem luta contra tendências e ambições que, poucos anos mais tarde, deixam de ser tentações. O mesmo se deu com Cristo; mas à medida que Ele observava o cerimonial da Páscoa no tempo de Sua primeira visita ao templo, "dia a dia observava mais claramente a significação dos mesmos. Cada ato parecia estar ligado à Sua própria vida. No íntimo despertavam-se-Lhe novos impulsos".[2] Por anos, aquele cerimonial, estabelecido com o propósito de apelar à natureza espiritual, havia sido degradado ao ponto de se tornar mera matança de animais. Pela primeira vez uma alma foi tocada e impulsos celestiais foram despertados. Foi então que a tentação de passar uma vida em sossego físico foi enfrentada e vencida. O Céu parecia se revelar aos olhos da criança, e Ele ouviu o chamado de Deus para uma vida com Ele. Ele buscou estar sozinho, e no silêncio o Seu coração captou a vibração dos seres celestiais, e a natureza física, com seus traços mais rudes, foi abandonada para sempre. Cristo e os Rabis Com a resolução formada, uma nova luz e um novo poder pareceram tomar posse de Sua mente, e, adentrando a escola que era conduzida no templo, Ele escutou avidamente para ouvir dos lábios dos rabis alguma lição espiritual. "Os doutores voltavam-se para Ele com perguntas, e se maravilhavam de Suas respostas."[3] Ele manifestava piedade tão intensa, e Suas perguntas abriam as mentes de Seus ouvintes a tais profundezas da verdade, que a mente deles se encheu de admiração. Uma harpa tocada por ventos celestiais estava diante deles, e a música caiu em ouvidos não treinados. A primeira obra do Mestre enviado pelo Céu havia iniciado. Quando José e Maria O encontraram junto ao portão do templo, Ele perguntou, "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" (Lc 2:49, ARC). Eles O contemplaram com os olhos físicos, e julgaram que Ele lhes pertencia; mas o olhar da criança havia penetrado a nuvem que separava o Céu e a Terra. A Educação Manual na Vida de Cristo Ele retornou de Jerusalém com Seus pais e os ajudava em sua vida de labor. "Escondia em Seu próprio coração o mistério de Sua missão, esperando submisso o tempo designado para começar a Sua obra."[4] Aqueles 18 anos foram anos de trabalho árduo e de estudo. Cada dia O aproximava mais do tempo em que a voz do Céu O proclamaria um divino Professor. Ele não era impaciente; como carpinteiro realizava minucioso trabalho; como filho, era obediente; como cidadão, um cumpridor da lei. A Idade da Mais Intensa Espiritualidade Ele nunca perdeu de vista o fato de que tinha uma missão e de que uma vida espiritual era necessária para cumpri-la. Ele foi tentado em todos os pontos e sofreu quando tentado; mas cada resistência era um degrau acrescentado na escada que Ele estava construindo em direção ao Céu. Havia uma lei em Israel que convocava os sacerdotes para o sagrado ofício na idade de 30 anos. Esse estatuto se baseava na lei da natureza humana. O tempo estabelecido na vida de um homem é dividido em duas porções. Os primeiros 40 anos são um tempo de crescimento; os últimos 30, um tempo de declínio. Na primeira metade, temos um período de desenvolvimento físico, então se segue um período de ascendência das faculdades intelectuais, e dos 25 aos 30 ou 35 anos temos o período de especial desenvolvimento da natureza espiritual. Todo homem tem três chances na vida; e a escolha feita, seja por honrarias mundanas, seja por força intelectual, ou por uma vida de fé, depende completamente do que é posto diante da criança pelos seus educadores. Tivesse Cristo estado sob a influência dos professores dos Seus dias, a probabilidade era que Ele tivesse escolhido viver na esfera física ou na intelectual, pois essa era a escolha feita por todos os alunos daquelas escolas; contudo, Sua instrução inicial por Maria, que, como mãe, havia se rendido como "serva do Senhor", e Sua íntima comunhão com Deus por meio das obras da natureza O guiaram para a direção correta; e no tempo favorável, Ele ofereceu-Se ao Pai para cumprir a missão que estava em Seu poder rejeitar. De Suas lutas posteriores o registro faz silêncio. Chegou um período, entretanto, que Ele poderia ter se apresentado como um líder intelectual, mas Sua decisão anterior O levou a passar imaculado por essa tentação. Para provar a veracidade desse fato, precisamos apenas estudar a natureza das tentações apresentadas no deserto. Ele manteve-Se fiel à Sua missão em virtude de Sua educação nos primeiros anos. Isso não pode ser contestado, pois é uma lei divina observada em toda a natureza (cf. Pr 22:6). 2. O Ministério do Homem-Deus Jesus como Professor Um dos dons do Espírito é o do ensino, e Cristo era um professor nato. Habilidades adquiridas têm pouca relevância onde falta o dom espiritual do ensino. Cristo foi um professor tanto por Sua nacionalidade, uma vez que todos os judeus eram chamados para ser mestres, quanto por indicação direta, pois Ele teve que cumprir em Sua própria vida o que a nação tinha recusado realizar. Ele não carregava nenhuma credencial consigo, nenhuma declaração de erudição assinada pelos doutores de Israel, pois nenhuma dessas escolas O havia conhecido como aluno; ainda assim, Nicodemos, mestre renomado em Jerusalém, após ouvir Suas palavras, procurou por Cristo nas quietas horas da noite e se dirigiu a Ele como Rabi -- Mestre. No decorrer da conversa, esse homem instruído disse: "Sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que Tu fazes, se Deus não estiver com Ele" (Jo 3:2). Foi como professor, e mais, como professor divino, que Ele ficou conhecido desde o início do Seu ministério. Seu ministério foi um ministério de ensino. Ele era conhecido como mestre não tanto pelas palavras que falava, mas pela vida que vivia e pelas obras que realizava. Como Mestre, o Sucess o Dependia da Vida As palavras de Bushnell são verdadeiras: "Podemos ver por nós mesmos, nas simples instruções e liberdade de Seus ensinos, que tudo o que Ele expunha procedia de Si mesmo". Ele doava o Seu eu, e Ele tinha um 'eu', um divino 'eu', e o fato de se doar devia-se à educação na infância e juventude. A imagem de Deus era perfeita Nele, e quando o tempo do Seu ministério chegou, reluziu o que aqueles primeiros anos tinham desenvolvido Nele. Este é o objetivo da educação cristã. O mesmo autor afirma ainda: "Ele é o Sumo Sacerdote [...] de natureza divina, falando como alguém que veio da parte de Deus e que não precisa emprestar nada que proceda do mundo. Não conseguimos detectar [...] que a esfera humana na qual Ele atuou lhe tenha transmitido qualquer coisa. Seus ensinos são tão repletos da natureza divina quanto os de Shakespeare são repletos da natureza humana." Que comentário a respeito dos dois sistemas de educação; um deles escolhendo a inspiração como fundamento, enquanto o outro, o produto da mente humana! Ele Ensinava como Alguém que Tinha Autoridade Bushnell prossegue: "Em Seu ensino, Ele não especula sobre Deus, como um acadêmico, tirando conclusões por meio do uso das palavras e considerando-as como o instrumento da prova; Ele não desenvolve uma estrutura de evidências a partir de baixo, por meio de algum processo construtivo, do modo como os filósofos se deleitam em fazer; mas Ele simplesmente fala de Deus e das coisas espirituais como Alguém que Dele procedeu, para nos comunicar o que Ele sabe. E Sua comunicação simples nos conduz à realidade; Ele a comprova a nós em sua própria sublime autoevidência; desperta até mesmo a consciência a esse respeito em nosso próprio coração, de modo que argumentos formais ou provas dialéticas nos ofendem por sua frieza e parecem, na verdade, ser apenas substâncias opacas que se interpõem entre nós e a luz. De fato, Ele precisamente ilumina o mundo por meio de Suas palavras, o preenche com um novo e direto senso de Deus, o qual nada jamais pôde apagar. O incenso do mundo superior exala de Suas vestes e flui para o exterior, como perfume, em meio ao ar envenenado." E não é de admirar, pois, quando criança, Ele havia respirado a atmosfera do Céu. Toda criança deveria ter o mesmo privilégio. Princípios da Educação de Cristo Quando os dois mestres, Cristo e Nicodemos, os representantes de dois sistemas de educação, o divino e o mundano, se encontraram, Cristo delineou ao seu inquiridor os princípios sobre os quais Seu sistema se baseava (cf. Jo 3): 1. Seu objetivo principal é preparar seus alunos para o reino de Deus, um reino espiritual. 2. O primeiro passo é um nascimento espiritual, pois "Deus é espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em espírito" (Jo 4:24). "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3:6). 3. O homem natural não consegue compreender isso, pois é discernido espiritualmente. Tentar explicar isso a você, Nicodemos, seria o mesmo que tentar explicar o soprar do vento; você pode ver os resultados, mas a verdade não pode ser compreendida pelos sentidos. Você se apresenta como mestre em Israel e não sabe essas coisas? "Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (Jo 3:12). Eu mal comecei a lhe relatar a respeito do plano do Pai. Ainda há muitas coisas, "mas vós não o podeis suportar agora" (Jo 16:12). 4. As coisas que Eu ensino são como luz na escuridão. "Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz", mas "quem pratica a verdade aproxima-se da luz" (Jo 3:20, 21). É dessa forma, portanto, que Eu identifico os verdadeiros e os falsos mestres. Quando a verdade é apresentada, alguns aceitam, e quem quer que crer no Filho de Deus terá vida eterna. Nicodemos disse: "Como pode suceder isso?" (Jo 3:9). Ele ansiava por uma prova, uma demonstração. "Prova é, de fato, o método da ciência, incluindo teologia; possui, sem dúvida, uma utilidade no ensino religioso. Mas não constitui a mais elevada forma de ensino religioso. As verdades fundamentais da religião são diretamente reveladas à consciência humana e não são debatidas ou estabelecidas pela lógica. [...] As maiores verdades religiosas jazem mais profundas do que o raciocínio formal. Esse é o motivo pelo qual os maiores mestres religiosos têm trabalhado além do nível da proposição e prova; como dito anteriormente, eles possuem algo do dom espiritual. Pode-se acrescentar que nenhum pregador [ou professor] que trabalha principalmente nessa linha atrairá as mentes mais religiosas; ele não atrairá nem mesmo aqueles que possuem a piedade do intelecto, para não dizer da piedade das afeições e da vontade. Ele pode desenvolver perspicácia lógica, habilidade crítica e poder nas polêmicas, mas mão se mostrará à altura da geração da espiritualidade. [...] Tal ministro certamente guiará o seu rebanho ao erro que agora é tão comum -- o erro de atribuir um lugar desproporcional na fé e na vida religiosas ao intelecto e à exclusão parcial do coração."[5] Os Alunos de Cristo Seu verdadeiro trabalho como professor é visto em Sua conduta, primeiro com os apóstolos, Seus seguidores mais próximos, que estavam sendo treinados para também se tornarem professores; segundo, com as multidões que se apinhavam em Seu caminho; terceiro, com as crianças que eram trazidas até Ele por suas mães, e que eram ensinadas por Ele, de modo que mães e apóstolos pudessem compreender melhor como lidar com mentes juvenis. Primariamente, Sua escola era de treinamento de obreiros, e Seus alunos representavam cada fase da maturidade humana. Ele escolheu humildes pescadores, pois a mente deles não tinha preconceitos, e possuíam muito menos para desaprender antes de aceitar a verdade. "Ele mesmo sabia o que era a natureza humana" (Jo 2:25), isto é, Ele tinha discernimento sobre o que se passava na mente e coração, e sabia exatamente o que era necessário para despertar a vida da alma de cada aluno. Este é um dom especial do professor de sucesso. Quanto do que é ensinado atualmente seria dispensável se os professores pudessem perceber a condição da alma dos alunos e alimentá-los, então, somente com alimento que os nutrisse. Isso, também, é educação cristã. Antes que o professor possa ter tal experiência, entretanto, ele deve possuir a cultura da alma, e estar em tão íntimo contato com a fonte da verdade que ele possa dela extrair o que for necessário. O poço é profundo, e apenas a fé pode trazer a água da vida à superfície (cf. Jo 4). O Campo era Sua Sala de Aula Com Seus apóstolos escolhidos, Cristo "buscou afastar-Se da confusão da cidade para o sossego dos campos e colinas, como estando mais em harmonia com as lições de abnegação que lhes desejava ensinar. [...] Ali, cercado pelas obras de Sua própria criação, Ele podia dirigir os pensamentos dos ouvintes do artificial para o natural."[6] As escolas que hoje se localizam em algum calmo lugar campestre dispõem das melhores oportunidades para a educação. Livros Didáticos Os livros usados parecem ser dois, e somente dois: os escritos dos profetas e o grande livro da natureza. Hinsdale diz: "As Escrituras fornecem a base do Seu ensino. [...] É impossível dizer quanto das Escrituras pode-se reconhecer de forma distinta em Seus ensinos, mas o número e o alcance são extensos. [...] Um dos mais interessantes desses [métodos] é Seu hábito constante de expandir as Escrituras, ou, como podemos dizer, de interpretar novos sentidos. Ele não lida, assim, somente com passagens proféticas, mas também com passagens dogmáticas; além disso, as interpretações Dele são algumas vezes novas, não somente para os mestres judaicos, mas também para os autores das próprias passagens"[7]. Isso se dava porque o Mestre era conduzido pelo Espírito da verdade, o qual guia a toda a verdade. O Sistema de Jesus Enfatizava o Aspecto Prático Devemos lembrar que essa instrução era transmitida a homens de mente madura e tendia a capacitá-los a se tornar professores de pessoas de todas as classes. Provavelmente nenhum dos apóstolos tinha menos de 30 anos. Eram homens estabilizados e que já tinham uma profissão vitalícia. João, o mais jovem, era o mais suscetível ao ensino espiritual, e finalmente desenvolveu de forma tão completa essa natureza que seu espírito deixou o corpo em visão (cf. Ap 1:10). Painter expressa bem o método de instrução seguido por Cristo. Ele relata: "Ele observa a ordem da natureza e busca somente um desenvolvimento gradual -- 'primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga' (Mc 4:28). Com Seus discípulos, Ele insiste principalmente sobre verdades práticas e fundamentais da religião, edificando, por assim dizer, uma estrutura sólida no início, que seria posteriormente conduzida pelo Espírito Santo até uma bela e harmoniosa conclusão."[8] Resultados Visíveis do Seu Ensino Foi assim que todas as verdades que chamamos de doutrinas foram ensinadas. A lição da ressurreição foi dada na tumba de Lázaro; a lição sobre a observância do sábado foi dada na sinagoga, na cura do homem com mão ressequida, ou ordenando ao mudo que falasse. Um escritor francês afirma: "Pode-se constatar que Seu programa não se caracteriza como estudos literários nem como um curso de teologia. Todavia, estranho como possa parecer, quando chegou o momento de agir, os discípulos -- aqueles pescadores iletrados -- tornaram-se oradores que moveram multidões e confundiram os doutores da lei; profundos pensadores que pesquisaram as Escrituras e o coração humano, escritores que transmitiram ao mundo livros imortais em uma língua que não era a deles." Se o valor de um sistema de educação deve ser julgado pelos resultados, o mundo deve calar-se ao considerar as obras de Cristo. Admiração novamente tomará posse dos homens quando os cristãos retornarem aos métodos de Cristo. De Sua referência à natureza não precisamos escrever, pois Suas parábolas são as maravilhas das eras e ocupam uma posição sem igual na literatura de todos os tempos. Cristo não foi, como muitos outros mestres, um escritor de livros. Seus escritos eram gravados no coração dos homens. Ele falava, e as ondas vibratórias postas em movimento reverberam até hoje e ainda vibram em nosso coração. Os que são guiados pela mente espiritual ouvem [a voz de Cristo], e mesmo hoje os homens se tornam alunos do Nazareno tão verdadeiramente como o foram Pedro, Tiago e João. Evidências de um Curso Completo Um aluno estava pronto para deixar a sala dos ensinamentos de Cristo e sair para abrir a verdade a outros somente quando pudesse dizer: "Agora é que falas claramente e não empregas nenhuma figura. Agora, vemos que sabes todas as coisas e não precisas de que alguém Te pergunte; por isso, cremos que, de fato, vieste de Deus" (Jo 16:29, 30). Com as multidões Ele fez um trabalho semelhante àquele que fez com os discípulos; mas pelo fato de irem e virem, Ele não conseguiu realizar o mesmo trabalho minucioso. Seu ensino, contudo, era sempre prático, e o fazendeiro retornava para o seu campo como um homem melhor, vendo o Criador no crescimento do grão; o pescador retornava às suas redes com o pensamento de que ele deveria tornar-se um pescador de homens ressoando na mente; a mãe retornava para seu lar reconhecendo os filhos como os mais jovens membros da família de Deus e com um forte desejo de ensinar como Ele ensinava. A tendência de todos os Seus ensinos era a de incitar a reflexão, despertar os anseios da alma e levar os corações a bater com uma nova vida nutrida com o alimento do alto. Estando a meio caminho da escala musical que liga a Terra e o Céu, a vida de Cristo vibrava em uníssono com as mais elevadas notas dos universos que circundam o trono do Pai, e com Seu braço humano Ele envolvia o mundo, comunicando aos seres daqui a mesma vida, sempre Se esforçando para trazê-los em harmonia com o Infinito. "E Eu, quando for levantado da terra", disse Ele, atrairei todos a Mim mesmo" (Jo 12:32). Notas: 1. Ver margem de João 1:14 da Revised Version em língua inglesa. 2. Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações, p. 46. 3. Ibid., p. 47. 4. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p.49. 5. Jesus as a Teacher, p. 48, 49. 6. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 198. 7. Jesus as a Teacher, p. 72. 8. History of Education, p. 84. Capítulo 9 Educação na Igreja Primitiva A Igreja com a Missão de Ensinar Todas as Nações "Não peço que os tires do mundo, e sim, que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também Eu não sou. Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade" (Jo 17:15-17). Quando Ele ergueu Seus olhos para o céu naqueles momentos de silêncio, pouco antes de entrar no Getsêmani, essas palavras saíram dos lábios do Filho do homem. Olhando para o pequeno grupo de homens reunidos ao Seu redor, Ele viu neles o núcleo da igreja que deveria ser chamada por Seu nome, e Seu coração ansiava por aquele corpo de cristãos. Muitas e ferozes seriam Suas lutas; pois Ele havia soprado no coração dos homens um sistema de instrução que, por ser verdade, despertaria toda a crueldade do inimigo da verdade; e o novo sistema deveria ser capaz de resistir a todos os dardos que mentes humanas, movidas pelo príncipe do mal, pudessem lançar. A filosofia divina deveria enfrentar e vencer a filosofia humana. Este era agora o conflito, e coube a alguns homens frágeis iniciar a abra. Que poder havia naquele Espírito de verdade com o qual foram batizados! Sua comissão para esse mesmo grupo, enquanto O viam deixar a terra no dia de Sua ascensão, foi: "Portanto ide, ensinai todas as nações" (Mt 28:19, ARC). Eles, o verdadeiro Israel, deveriam agora se tornar mestres das nações. Reconhecendo as dificuldades a serem enfrentadas, Ele havia dito em outra ocasião: "Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Mt 10:16). Não em alguma filosofia alardeada, nem em palavras pomposas, mas na simplicidade da verdade, devia residir a força deles. Das obras dos apóstolos e daqueles que creram em Cristo, por meio de seus ensinos, temos este testemunho divino: "Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do Meu nome, e não te deixaste esmorecer" (Ap 2:2, 3). Portanto, é evidente que um grande trabalho foi feito, e muito rapidamente; pois novamente a Inspiração o descreve: "Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; [...] e ele saiu vencendo e para vencer" (Ap 6:2). Aqueles homens, embora advertidos a serem tão inofensivos quanto as pombas, foram, contudo, quando mestres da verdade, habilitados a fazer-se sentir no mundo. Um chamado para Deixar a Educação Popular Aceitar o cristianismo naqueles primeiros tempos significava afastar- -se de tudo que antes era acariciado; não significava apenas afastar-se do paganismo na adoração, que seria Babilônia, mas também do paganismo no pensamento e educação, que seria Egito. Foi um segundo êxodo. Justino Mártir, um cristão nascido perto do final do primeiro século, é citado por Painter, ao descrever a vida de um seguidor de Cristo: "Nós, que antes tínhamos prazer na lascívia, agora abraçamos a castidade; nós, que uma vez abraçamos as artes mágicas, nos consagramos ao Deus bom e eterno; nós, que amávamos acima de tudo o ganho de dinheiro e posses, agora trazemos tudo o que temos para um fundo comum e damos uma parte a todos que precisam; nós, que antes nos odiávamos e matávamos, agora oramos por nossos inimigos". Com esse espírito na igreja, não ficamos surpresos ao constatar isso nas palavras de Coleman: "A terna solicitude desses primeiros cristãos pela instrução religiosa de seus filhos é uma de suas características mais belas. Eles ensinavam-lhes, já no primeiro despontar da inteligência, os nomes sagrados de Deus e do Salvador. Eles procuravam conduzir as mentes infantis de seus filhos a Deus, por meio das conhecidas narrativas das Escrituras, tais como a de José, do jovem Samuel, de Josias e do santo menino Jesus. A história dos patriarcas e profetas, apóstolos e homens cujas vidas são narradas no livro sagrado foram os contos infantis com os quais eles procuravam formar a maleável mente de seus filhos. À medida que a mente da criança se expandia, os pais tornavam seu sagrado dever e prazerosa tarefa diária exercitá-la mediante o recitar passagens selecionadas das Escrituras relacionadas com as doutrinas e deveres da religião. A Bíblia era o entretenimento ao lado do fogo. Era o primeiro, o último, quase o único livro escolar da criança; e a entoação de salmos sagrados, a única música com a qual seu choro infantil era abafado enquanto era embalado para descansar no braço de sua mãe. A canção sagrada, com sua simples melodia, foi, desde os primeiros períodos da antiguidade cristã, um meio importante de impressionar o coração infantil com sentimento de piedade e de impregnar as mentes suscetíveis dos jovens com o conhecimento e a fé das Escrituras." A Verdadeira Educação Dese nvolveu Missionários Painter escreve: "O propósito desses primeiros pais cristãos, à semelhança dos antigos judeus, era educar seus filhos no temor de Deus. Visando poupar as crianças, no máximo possível, da influência corruptora de associações pagãs, sua educação era conduzida dentro dos saudáveis recintos do lar. COMO RESULTADO, elas cresciam sem uma inclinação por prazeres degradantes; apreciavam os deveres domésticos simples; e quando chegava a hora, tomavam seu lugar como obreiros consistentes e fervorosos na igreja."[1] Essas palavras tornam vários fatos muito notáveis: 1. A educação cristã deve começar no lar. 2. As histórias da Bíblia devem ser a base para contos e canções infantis. 3. Os cristãos devem cumprir o plano de educação que os judeus deixaram de obedecer e que Cristo revelou sob uma nova luz. 4. Os resultados de tal educação cristã na escola doméstica serão caráter e obreiros nobres na causa de Deus. Educação na Igreja Primitiva Quem dera pudesse ser dito das mães cristãs hoje, o mesmo que um orador pagão certa vez exclamou a respeito dos primeiros seguidores de Cristo: "Que esposas esses cristãos têm!" O Dever dos Pais Um dos primeiros pais [da igreja cristã] expressa da seguinte maneira o perigo que crianças e jovens passam em escolas mundanas, e mostra o caráter da educação necessária: "As mães devem cuidar do corpo de seus filhos, mas é necessário também que inspirem sua descendência com amor ao bem e com temor a Deus. E os pais não se limitarão a dar aos filhos uma vocação terrena, mas se interessarão também por sua vocação celestial." "A mais bela herança que se pode dar às crianças é ensiná-las a governar suas paixões [...] Tenhamos pelos nossos filhos o mesmo temor que temos pelas nossas casas, quando os servos vão com uma luz aos lugares onde há material inflamável , como feno ou palha. Não devem ter a permissão de ir aonde o fogo da impureza possa ser aceso em seus corações, causando-lhes dano irreparável. O conhecimento das Escrituras é um antídoto contra as inclinações imoderadas da juventude e contra a leitura de autores pagãos, nas quais os heróis, escravos de todos os tipos de paixões, são elogiados. As lições da Bíblia são fontes que regam a alma. Uma vez que nossos filhos estão por toda parte cercados de maus exemplos, as escolas monásticas [o que corresponderia hoje às escolas paroquiais] são as melhores escolas para sua educação. Os maus hábitos, uma vez contraídos, não podem ser eliminados. Esta é a razão pela qual Deus conduziu Israel ao deserto, [...] para que os vícios dos egípcios fossem desaprendidos. [...] Nossos filhos estão agora rodeados de vícios em nossas cidades e não podem resistir a maus exemplos [...] Cuidemos das almas de nossos filhos, para que sejam formados para a virtude e não sejam degradados pelo vício." Esse escritor pode muito bem se dirigir a um público moderno, pois reconhece a influência de autores pagãos e afirma que somente a Bíblia pode neutralizar essa influência; ele reconhece as escolas mundanas como o Egito e diz que os cristãos devem tirar seus filhos delas; e, finalmente, ele reconhece o valor de ter escolas localizadas no campo e aconselha as pessoas a se mudarem das cidades com seus filhos. Escolas Paroquiais entre os Primeiros Cristãos Mosheim diz: "Não pode haver dúvida de que os filhos dos cristãos eram cuidadosamente educados desde a infância, e desde cedo eram obrigados a ler os livros sagrados e a aprender os princípios da religião. Para esse propósito, escolas foram erguidas em todos os lugares desde o início."[2] Escolas de Treinamento para Missionários "Devemos estabelecer uma diferença entre essas escolas para crianças e aqueles seminários dos primeiros cristãos, erigidos extensivamente nas grandes cidades, em que os adultos, e especialmente aqueles que sonhavam ser mestres públicos, eram instruídos e educados em todos os ramos do ensino, tanto humano quanto divino. Esses seminários, nos quais os jovens dedicados ao sagrado ofício aprendiam tudo o que fosse necessário para qualificá-los adequadamente para tal, os próprios apóstolos de Cristo, sem dúvida, os estabeleceram e orientaram outros a estabelecê-los (cf. 2Tm 2:2). São João, em Éfeso, e Policarpo, em Esmirna, fundaram tais escolas. Entre esses seminários, em tempos subsequentes, nenhum foi mais celebrado do que o de Alexandria, que é comumente chamado de escola catequética."[3] Então, além das escolas domésticas e paroquiais para crianças, a igreja cristã primitiva estabeleceu seminários para a educação de obreiros. Ao ler a história desse período, percebe-se que a instrução aderia intimamente às Escrituras e traçava uma nítida distinção entre a ciência da salvação e as filosofias grega e oriental ensinadas nas escolas pagãs. Escolas Cristãs Temidas pelos Pagãos A educação cristã era frequentemente considerada estreita e limitada por aqueles que amavam estudar os mistérios da sabedoria grega; mas enquanto se apegaram a seus estudos simples e fizeram da fé a base de seu trabalho, houve um poder nas verdades ensinadas pelos alunos dessas escolas, o qual fez estremecer o mundo pagão, com todos os seus grandes homens. É um fato interessante que mesmo no 4º século, depois que as escolas cristãs perderam muito de seu poder por causa da mistura de métodos pagãos com cristãos e da adoção de alguns dos estudos pagãos, elas ainda eram consideradas o reduto de cristandade. Quando Juliano, o apóstata, começou a reinar, foi feita uma tentativa de reavivar o paganismo em todo o império romano. Um de seus primeiros atos foi fechar as escolas dos cristãos. "Ele observa com desprezo", diz Gibbon, "que os homens que exaltam o mérito da fé implícita são incapazes de reivindicar ou desfrutar as vantagens da ciência; e ele argumenta em vão que se eles se recusam a adorar os deuses de Homero e Demóstenes, eles devem se contentar em expor Lucas e Mateus na igreja dos galileus." As Escolas Públicas de Juliano "Em todas as cidades do mundo romano, a educação dos jovens era confiada a mestres de gramática e retórica, que eram eleitos pelos magistrados, mantidos pelo poder público e caracterizados por muitos privilégios lucrativos e honrosos. [...] Assim que a exoneração dos professores mais obstinados estabeleceu o domínio incomparável dos sofistas pagãos, Juliano convidou a nova geração a recorrer com liberdade às escolas públicas, na justa confiança de que suas mentes suscetíveis recebessem as impressões da literatura e idolatria. Se a maior parte dos jovens cristãos fosse impedida por seus próprios escrúpulos, ou pelos de seus pais, de aceitar esse perigoso modo de instrução, eles teriam que, ao mesmo tempo, renunciar os benefícios de uma educação liberal. Juliano tinha motivos plausíveis para esperar que, no decorrer de alguns anos, a igreja voltasse à sua simplicidade primitiva e que os teólogos, que possuíam uma parcela adequada do conhecimento e da eloquência da época, seriam sucedidos por uma geração de fanáticos cegos e ignorantes, incapazes de defender a verdade de seus próprios princípios, ou de expor as várias loucuras do politeísmo." Juliano não pode ser considerado um tolo; pois, em seu desejo de tornar o mundo pagão, ele pôs o plano em execução (1) fechando as escolas cristãs onde o "mérito da fé implícita" era ensinado; e (2) obrigando a frequência às escolas públicas, ensinadas por professores pagãos, onde literatura e idolatria estavam combinadas. Como diz Gibbon, ele tinha motivos plausíveis para esperar que, no decorrer de uma geração, os cristãos assim educados perderiam a fé, parariam de se opor ao paganismo e cairiam na insignificância. Se um imperador pagão esperava isso no 4º século, seria de admirar que os protestantes de hoje, ao permitirem que seus filhos permaneçam nas escolas públicas que, em essência, ensinam exatamente as mesmas coisas que os professores de Juliano ensinavam, percam o poder e deixem de ser protestantes? Com base nas palavras de Gibbon, podemos deduzir que nos dias de Juliano havia pais que recusavam mandar seus filhos para as escolas públicas; havia algumas crianças que, "por causa de seus próprios escrúpulos", se recusavam a comparecer à escola; e havia alguns professores que paravam de dar aulas em vez de ensinar literatura e idolatria nas escolas públicas. O Seminário de Alexandria Menção especial é feita à escola de Alexandria, por estar localizada numa cidade egípcia onde se reuniram muitos notáveis estudiosos pagãos. Por mais triste que seja, precisamos mencionar, contudo, como essas escolas, especialmente esta em Alexandria, perderam sua simplicidade ao entrarem em contato com estudiosos pagãos e tentarem alcançá-los no próprio território deles. Alexandria Adota a Filosofia de Platão Mosheim diz: "Essa filosofia [de Platão] foi adotada pelos eruditos em Alexandria que desejavam ser considerados cristãos, mas ainda assim desejavam conservar o nome, a aparência e a posição de filósofos. Em particular, afirma- se que todos aqueles que nesse século presidiram as escolas dos cristãos em Alexandria [...] aprovaram tal postura. Esses homens estavam persuadidos de que a verdadeira filosofia, o grande e mais salutar dom de Deus, jazia em fragmentos espalhados entre todas as classes de filósofos; e, portanto, que era dever de todo homem sábio, e especialmente de um professor cristão, coletar esses fragmentos de todos os lados e usá-los para a defesa da religião e a refutação da impiedade."[4] Resultado da Adoção de Métodos Mundanos A lição tão preciosa a Paulo -- a de que o evangelho de Cristo é "o poder de Deus para a salvação" (Rm 3:16) -- foi perdida de vista quando esses mestres cristãos assumiram as vestes de filósofo e usaram o vocabulário do filósofo para refutar a impiedade. "Tenho, porém, contra ti", escreve o historiador inspirado dessa época, "que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro" (Ap 2:4, 5). A luz celeste da educação cristã em sua pureza estava começando a se apagar. Sua chama deve ter um suprimento constante de verdade, ou, como a vela sem oxigênio, vai se extinguindo e finalmente se apaga. Paulo, escrevendo aos coríntios que foram colocados em circunstâncias semelhantes às da escola de Alexandria, isto é, pressionados por todos os lados pela filosofia pagã, disse: "E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria [argumentos filosóficos fascinantes -- tradução de Fenton], mas em demonstração do Espírito e de poder [...]. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana [com discussão artificial de sabedoria humana -- tradução de Fenton], mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais" (1Co 2:3-5, 13). Dialética versus Escrituras A "dialética", ou lógica, era a ciência da qual Aristóteles, o discípulo de Platão, se gabava de ser o pai. Disse um escritor da igreja, depois que o declínio já estava bem adiantado: "[Ela] é a rainha das artes e das ciências. Nele a razão habita, se manifesta e se desenvolve. Só a dialética pode dar conhecimento e sabedoria; só ela mostra o que somos e de onde viemos e nos ensina o nosso destino [filosofia e evolução humana]; por meio dela aprendemos a conhecer o bem e o mal. E o quanto ela é necessária a um clérigo, a fim de que ele possa enfrentar e derrotar os hereges!" Vez após outra os homens retornaram à lógica para derrotar os hereges, mas o fizeram apenas quando o Espírito da verdade estava ausente. A Questão Educacional Causou uma Divisão O erro estava se infiltrando rapidamente na igreja, e veio principalmente por meio dessas escolas, como já foi visto. No entanto, a verdade não foi trocada pelo erro sem haver luta. Mosheim diz: "A honra que devia ser dada à erudição humana era uma questão sobre a qual os cristãos estavam quase igualmente divididos. Enquanto muitos pensavam que a literatura e textos dos gregos deviam receber atenção, havia outros que afirmavam que a verdadeira piedade e religião eram ameaçadas por tais estudos."[5] Os cristãos daquela época, assim como hoje, buscavam orientação nos líderes da igreja; e, quando esses estudos gregos estavam em alta, era difícil para as pessoas conscienciosas se aterem unicamente à educação considerada pelos outros como estreita e limitada. Frequentemente gerava contendas entre os membros da mesma igreja, e muitas vezes até mesmo pais e filhos discordavam sobre o assunto. Métodos Errados Mantidos Mosheim continua: "Mas aos poucos os amigos da filosofia e da literatura obtiveram a ascendência. Para esta questão Orígenes contribuiu muito, pois, tendo absorvido desde cedo os princípios do neoplatonismo, ele os aplicou de modo infeliz à teologia e os recomendou seriamente aos numerosos jovens que assistiam à sua instrução. E quanto maior era influência deste homem, que rapidamente se espalhou por todo o mundo cristão, mais prontamente propagado foi seu método de explicar as sagradas doutrinas." Origem do Papado Os dias em que o papado seria reconhecido como a besta de Apocalipse 13 estavam se aproximando rapidamente. Tais experiências na história da educação na igreja cristã mostram quão rapidamente a vida do Mestre, o Espírito da verdade, estava dando lugar à forma de piedade que negava o seu poder. Quem lê assim as páginas da história não pode deixar de ver que o papado se formou na mente dos homens, foi propagado nas escolas, e de fato nasceu no sistema educacional que então se desenvolveu. O poder político, convocado para ajudar a Igreja, simplesmente executou na ponta da espada aqueles princípios que se desenvolveram nas escolas. As duas correntes -- paganismo e cristianismo apóstata -- se uniram; e na corrente desvairada que fluiu dessa confluência, almas humanas se perderam para sempre. A educação cristã é a água pura da vida, límpida e cintilante, que jorra do trono de Deus; mas quando se mistura com as águas turvas do vale, ela se perde de vista e a corrente é má. O papel desempenhado pela filosofia platônica não pode ser esquecido. A fundação já havia sido lançada no 3º século para a escolástica da Idade Média, e o "meio-dia do papado que era a meia-noite moral do mundo" estava se aproximando rapidamente. Notas: 1. History of Education, p. 90. 2. Church History, século 1º, parte 2, cap. 3, seção 7. 3. Ibid. 4. Church History, século 2°, parte 2, cap. 1, par. 6. 5. Church History, século 3°, parte 1, cap. 1, par. 5. Capítulo 10 O Papado: Um Problema Educacional Os capítulos anteriores revelaram estes fatos: 1. A nação judaica foi colocada como luz para o mundo. Essa luz deveria brilhar por meio da educação, e os judeus deveriam ser professores das nações. 2. A nação judaica perdeu sua posição como líder na reforma educacional e, consequentemente, em todos os outros particulares, porque se afastou do sistema puro de educação entregue aos pais e se misturou com os pagãos, especialmente com os gregos e os egípcios. Para comprovar esse fato, temos as seguintes palavras de Neander: "Os judeus, totalmente imbuídos dos elementos da cultura helênica, procuraram encontrar um meio-termo entre ela e a religião de seus pais, à qual não desejavam renunciar. Para isso, valeram-se do sistema mais popular entre aqueles que se ocupavam com assuntos religiosos em Alexandria: o da filosofia platônica, que já havia adquirido poderosa influência sobre sua própria vida intelectual. [...] Por um lado, eles aderiram firmemente à religião de seus pais. [...] Por outro lado, suas mentes estavam dominadas por uma cultura filosófica em desacordo com essas convicções. Eles próprios não estavam inconscientes dos elementos conflitantes que enchiam suas mentes e devem ter se sentido constrangidos a buscar algum método artificial de combiná- -los em um todo harmonioso. Assim, eles seriam involuntariamente levados a intercalar nos antigos registros da religião, que para eles possuíam a mais alta autoridade, um sentido estranho ao seu verdadeiro espírito, supondo ao mesmo tempo que estavam realmente exaltando sua dignidade como a fonte de toda sabedoria."[1] 3. Essa mescla entre a filosofia grega e a verdade entregue à nação judaica levou as escolas dos hebreus a tal posição que, o Filho do homem, ao receber Sua educação, evitou-as completamente, e em Seu ensino público advertiu Seu povo contra a escolas dos doutores, que, em lugar da Palavra de Deus, ensinavam as tradições dos homens. Essa mistura de educação naquela época resultou na crucifixão de Cristo e na ruína da nação judaica. 4. A igreja cristã primitiva, composta de membros provenientes das escolas judaicas e das doutrinas puramente pagãs, primeiro ensinou a seus filhos verdades baseadas nas Escrituras; mas, antes do final do 1º século, a tendência de misturar ensinamentos cristãos e filosofia pagã já era perceptível. Paulo, escrevendo aos tessalonicenses, referindo-se a este fato, disse: "O mistério da iniquidade já opera" (2Ts 2:7). O Sofisma da Educação Papal Essa tendência, vista nos dias de Paulo, tornou-se um hábito; e quando os jovens cristãos se prepararam para a obra evangélica estudando nas escolas em Alexandria e outros lugares, uma mudança completa aconteceu. Agora se torna nosso dever investigar esse sistema alterado de educação, que, na verdade, não passa de uma mistura de cristão e pagão e, portanto, não constitui um sistema separado e distinto. Foi designado pelo apóstolo aos gentios como "o mistério da iniquidade". Da atuação desse sistema no 3º século, Mosheim faz a seguinte descrição: "É necessário, entretanto, observar que os métodos agora usados para defender o cristianismo e atacar o judaísmo e a idolatria degeneraram muito quando comparados com a simplicidade primitiva e da verdadeira regra da controvérsia. Os doutores cristãos, educados nas escolas de retóricos e sofistas, empregaram precipitadamente as artes e as evasivas de seus sutis mestres a serviço do cristianismo; e, com a intenção apenas de derrotar o inimigo, eles foram muito pouco atentos aos meios de vitória, indiferentes se eles a adquiriam por artifício ou argumentação honesta. Esse método de disputa, que os antigos chamavam de econômico e que tinha como objetivo a vitória, ao invés da verdade, era, em razão do gosto predominante pela retórica e sofismas, quase universalmente aprovado."[2] O efeito do ensino da literatura, sofística e retórica gregas nas escolas cristãs estava dando seus frutos de forma inconfundível. A simplicidade do evangelho e do homem de Deus, que era a verdade, estava passando rapidamente. Mesmo nessa data inicial, encontramos a semente da ordem dos jesuítas, os quais, na Idade Média, levaram a cabo a teoria dos platônicos e afirmaram "que não era pecado uma pessoa empregar falsidades e falácias para apoiar a verdade, quando esta estava em perigo de ser derrubada". Foi nessa época, e sob a influência desses mesmos doutores e mestres, que surgiu a prática de atribuir a escrita de certos livros a autores ilustres; "daí o livro dos cânones, que certos homens astutos atribuíram falsamente aos apóstolos, [...] e muitas outras produções dessa natureza, que, por muito tempo, foram muito estimadas por homens crédulos".[3] É evidente o quanto os homens haviam se afastado da simplicidade do evangelho. Erro introduzido por Professores A difusão de ideias contrárias à pureza do evangelho foi quase universalmente iniciada nas escolas que professavam ser cristãs; e os professores foram, quase sem exceção, os líderes desses movimentos intelectuais, que na realidade formam a base de todas as mudanças de governo ou religião. Ao longo da história dos séculos, surgiram homens que foram notáveis por suas proezas intelectuais, homens de mente forte, que estavam em busca da verdade. Rastreando o trabalho de alguns mestres representativos durante os primeiros três ou quatro séculos, vemos o papado surgindo como resultado direto de princípios educacionais. Origem dos Princípios Papais Para deixar isso claro, vamos começar pelos ensinamentos de Clemente na escola de Alexandria. Pode ser difícil distinguir entre verdade e erro, à medida que traçamos as confusas curvas da filosofia nos dias da igreja primitiva; mas é necessário encontrar a origem dos princípios fundamentais do papado contra os quais a Reforma contendeu. Para tanto, vamos à nascente do rio, geralmente encontrada em Alexandria, nas escolas dirigidas por mestres cristãos, ou doutores, como costumam ser chamados. A principal e a mais impactante doutrina do papado é a substituição da fé pelas obras. A única lição de Cristo, ilustrada centenas de modos diferentes, para multidões e para indivíduos, foi de se obter a sabedoria pela fé, a vida eterna pela fé. A igreja primitiva foi fundada sobre este princípio, e a fé na Palavra de Deus foi a primeira máxima na escola do lar, na escola da igreja e nos seminários dos primeiros cristãos. A fé proporciona ouvidos que ouvem, como no caso de Salomão; isso fornece a habilidade de estudar, que, por sua vez, traz a verdadeira sabedoria. A Corrupção Ocorreu Gradualmente Como ou onde a fé foi perdida não pode ser declarado em termos positivos. Assim como a madeira, em condições favoráveis, se transforma, pouco a pouco, em pedra sólida, um átomo de madeira dando lugar a um grão de areia, e assim por diante, até que a forma da árvore, antes uma personificação da vida, se torna uma pedra dura e sem vida, retendo, entretanto, cada cicatriz de galho e folha, cada rachadura ou dobra da casca, sim, até mesmo as marcas anuais de crescimento e os veios da madeira, da mesma forma a fé na Palavra de Deus foi perdida, átomo por átomo, e a fé perdida foi substituída pela filosofia humana. Alexandria era para a escola cristã o que o pântano é para a árvore caída. Grande parte da filosofia grega continha elementos de verdade; muitas verdades foram colocadas pelos gregos em cenários brilhantes. O próprio Deus evidentemente revelou à mente de homens como Platão, Pitágoras, Aristóteles e outros, princípios da verdade; mas não se supunha que os homens a quem foram abertos os tesouros da sabedoria e do conhecimento por meio de Sua palavra e de Seu Filho achassem necessário procurar algumas joias da verdade em meio a uma massa de erros. Desviando-se da luz pura para buscar esses pensamentos perdidos na filosofia grega, os homens perderam sua fé em Deus, deixaram de dar à Sua palavra o seu devido lugar, e em pouco tempo a árvore viva e frutífera era apenas uma imagem de seu antigo eu, moldada em pedra. Para que o leitor possa ver que essa mistura de verdade e erro foi adotada no lugar da palavra pura, o autor sugere que se leia a descrição de Clemente feita por Neander e suas citações do raciocínio daquele eminente erudito.[4] O Trabalho Escolástico de Clemente Sem ocupar o espaço necessário para fornecer essa citação, passamos a apresentar o pensamento de que Clemente introduziu essa filosofia grega na escola em que ensinava e, por meio de seus discípulos, abriu o caminho para o domínio do papado. Sobre a escola alexandrina, lemos: "Qual era o objetivo original da própria escola? Será que no início era apenas uma instituição para comunicar a instrução religiosa aos pagãos, ou há muito existia em Alexandria uma escola para formar professores para a igreja cristã -- uma espécie de seminário teológico para o clero? [...] Verificamos que originalmente uma mesma pessoa era nomeada pelo bispo de Alexandria para ocupar o cargo de catequista, cuja função era dar instrução religiosa aos pagãos e provavelmente também aos filhos dos cristãos naquele lugar. [...] Eram necessários para esse ofício homens que possuíssem um conhecimento perfeito da religião grega e, mais especialmente, que tivessem recebido uma educação filosófica, para poder conversar e disputar com qualquer sábio pagão que, após longa investigação em outras questões, voltasse a atenção para o cristianismo." "Não bastava ensinar aqui, como em outras igrejas, as principais doutrinas do cristianismo [...] Com esses catecúmenos iluminados, era necessário voltar às fontes primitivas da religião na própria Escritura e buscar iniciá-los na compreensão dela -- pois tais pessoas exigiam uma fé que resistisse ao teste do exame científico."[5] A fim de atender às demandas feitas por pagãos e filósofos gregos, a escola desistiu de sua posição elevada de ensinar uma sabedoria adquirida pela fé e colocou no lugar um curso de estudo que "resistisse ao teste do exame científico". Clemente e a Alta Crítica Clemente, um dos primeiros professores desta escola, "aponta a necessidade de elevados e ricos talentos no titular do ofício catequético em Alexandria". "A gama de instrução transmitida por esses homens", diz Neander, "gradualmente se estendeu, pois eles foram os primeiros que [...] tentaram satisfazer uma necessidade profundamente sentida por muitos -- a falta de uma exposição científica da fé e de uma ciência cristã". Este é talvez o melhor lugar para atribuir a mudança da fé para uma demonstração científica das verdades do universo. Aqui se estabelece o tempo, tanto quanto se pode assinalar com precisão, da passagem da educação pela fé à educação dos sentidos, do espiritual ao intelectual e ao físico. O fruto e a loucura absoluta da sabedoria dos sábios gregos e egípcios (?) deste sistema intelectual são vistos em seu estado maduro na Idade das Trevas. Estudantes Cristãos Alimentados por Ideias Pagãs No mesmo parágrafo, Neander continua: "Para a escola deles foram atraídos não apenas os pagãos educados, que, tendo pelo ensino desses mestres se convertido ao cristianismo, e sendo tomados pelo desejo de devotar a si mesmos e tudo o que possuíam a seu serviço, escolheram [...] os catequistas alexandrinos como seus guias, mas também aqueles jovens que, tendo sido educados no seio cristão, tinham sede de um conhecimento mais profundo, a fim de se prepararem para o ofício de professores eclesiásticos."[6] Vozes Contrárias Esta escola não encontrou seu caminho sempre salpicado de rosas; pois havia mestres eclesiásticos da classe primitiva "que olhavam principalmente para o prático e real, [...] e que temiam continuamente uma corrupção do cristianismo pela mistura de elementos filosóficos estranhos", e estes ofereciam alguma oposição à transição de uma educação de fé na Palavra de Deus a uma de investigação científica e razão. Justificativa de Clemente Aqueles foram dias de intenso debate, e os defensores da educação cristã mais de uma vez lutaram por seus princípios. "'O que eu diria àqueles que gostam de reclamar', observa Clemente, 'é isso: se a filosofia não é proveitosa, ainda assim o estudo dela é, se algum bem vier como resultado da demonstração irrefutável de que se trata de algo inútil.'" Esse argumento é utilizado atualmente por aqueles que defendem a causa da educação moderna e desejam defender o estudo dos clássicos e da doutrina da evolução. As palavras de Clemente em seus argumentos soam duplamente impressionantes, quando lembramos que hoje é sustentada com a mesma firmeza que naquela época a ideia de que a educação dos sentidos contribuirá para a compreensão da verdade eterna pela fé, embora seja fato que uma investigação cuidadosa mostre ser impossível que tal aconteça, e que o único caminho para a verdade é através da fé, em primeiro e último lugar e o tempo todo. Ele diz: "Talvez a última [a filosofia] tenha sido dada aos gregos em um sentido especial, como ação preparatória antes de nosso Senhor chamar os gentios, visto que os educou para o cristianismo, como a lei o fez em relação aos judeus; e a filosofia foi um passo preparatório para aqueles que seriam conduzidos à perfeição por meio de Cristo."[7] Clemente Perde a Fé Consequentemente, encontramos Clemente perpetuamente beirando a posição gnóstica ou platônica. "Com uma ideia de fé que fluía da própria essência do cristianismo, estava associada em sua mente a noção ainda persistente, derivada da filosofia platônica, de uma oposição entre uma religião de mentes cultas, e alcançada por meio da ciência, e uma religião de muitos, que se encontravam algemados pelos sentidos e enredados na mera opinião."[8] Nascimento do Papado Aqui se vê claramente o início daquele sistema de educação que eleva a poucos e mantém as massas em sujeição. Aqui reside a fonte de um governo monárquico e de uma hierarquia papal. Foi a propagação do sistema de educação introduzido na escola alexandrina por Clemente que formou o papado. Não nos surpreendemos ao ler na história a respeito da disputa entre as igrejas de Alexandria, Constantinopla e Roma. Roma, como árbitro, foi chamada para decidir entre os católicos gregos e os alexandrinos; e com a queda de suas rivais, ela ganhou o trono pontifício; mas isso se deu apenas para coroar as ideias educacionais da escola alexandrina e dominar o mundo pela aplicação dos princípios daquele sistema de instrução que substitui a fé pela pesquisa científica. Deus certa vez chamou Seu povo para fora do Egito; mas a igreja, abandonando a pureza do evangelho, voltou lá para sua educação. A Reforma foi Seu segundo chamado, e hoje o terceiro está soando. Tendo seguido com algum cuidado as ideias inicialmente introduzidas por Clemente, e descobrindo que o resultado da posição assumida por esse mestre foi a destruição da fé e sua substituição pela razão científica, nos voltamos para o desenvolvimento posterior dessa ideia educacional, conforme defendida por um dos alunos mais notáveis de Clemente e seu sucessor na escola alexandrina. Refiro-me a Orígenes. O Método de Orígenes Orígenes nasceu em 185 d.C., em Alexandria. Ele recebeu uma educação muito ampla e foi iniciado desde muito cedo na ciência e na arte helênicas; os princípios do cristianismo foram inculcados em sua mente por professores como Clemente de Alexandria.[9] "Ele mesmo diz que foi um motivo externo que a princípio o levou a se ocupar com o estudo da filosofia platônica e a familiarizar-se melhor com os sistemas daqueles que diferiam dele. O que o motivou foi seu relacionamento com hereges e pagãos que receberam uma educação filosófica." "Atraídos por sua grande reputação, tais pessoas" vinham frequentemente a ele, e esta é sua defesa por dedicar seu tempo à filosofia grega: "Após ter dedicado totalmente meu tempo à promulgação das doutrinas divinas e a fama da minha habilidade nelas ter começado a se espalhar, de modo que tanto hereges quanto outros que estavam familiarizados com as ciências gregas, e particularmente homens das escolas filosóficas, vieram me visitar, pareceu-me necessário que eu examinasse as opiniões doutrinárias dos hereges e o que os filósofos alegavam saber da verdade."[10] Esses fatos relativos a Orígenes são dados porque o argumento é notavelmente semelhante ao usado por muitos ministros e professores dos dias atuais e porque mostra como a filosofia platônica ganhou uma elevada posição nas chamadas escolas cristãs, dando lugar ao papado. Representantes de Três Sistemas Há três indivíduos que representam os três sistemas de ensino. Platão personifica a filosofia pagã. Cristo disse de Si mesmo: "Eu sou [...] a verdade." Orígenes personifica a mistura dos dois -- verdade e erro -- e permanece, portanto, do ponto de vista educacional, como o pai do papado, que é o mistério da iniquidade. Cabe a nós agora seguir cuidadosamente a obra desse homem. Depois de fazer isso, pode-se entender com mais facilidade por que a besta é representada como tendo várias cabeças (cf. Ap 13:1). Fé Substituída pela Especulação Segue uma extensa citação de Mosheim: "As principais doutrinas do cristianismo eram na época explicadas ao povo em sua pureza e simplicidade originais, sem qualquer mistura de raciocínios abstratos ou invenções sutis; tampouco era a mente frágil da multidão carregada com uma grande variedade de preceitos. Mas os doutores cristãos que se haviam aplicado ao estudo das letras e da filosofia logo abandonaram os caminhos habituais e se lançaram nos tortuosos ermos da fantasia. Os egípcios se destacaram neste novo método de explicar a verdade. Eles consideravam uma tarefa nobre e gloriosa trazer as doutrinas da sabedoria celestial a uma certa sujeição aos preceitos de sua filosofia e fazer pesquisas profundas e exaustivas sobre a natureza íntima e oculta das verdades que o divino Salvador havia transmitido para Seus discípulos. Orígenes era o líder dessa classe especulativa. Este grande homem, encantado pelos atrativos da filosofia platônica, a estabeleceu como o teste de todas as religiões e imaginou que as razões de cada doutrina deveriam ser encontradas nessa filosofia favorita, e a natureza e extensão delas seriam determinadas por ela. Devemos confessar que ele tratou desse assunto com modéstia e cautela; mas mesmo assim deu um exemplo a seus discípulos, e o abuso desse método não poderia deixar de ser pernicioso, e sob a autoridade dele eles se entregavam naturalmente, sem restrição, a toda fantasia desenfreada. E de fato, assim aconteceu, pois os discípulos de Orígenes, rompendo com os limites fixados por seu mestre, interpretaram, da maneira mais licenciosa, as verdades divinas da religião de acordo com o teor da filosofia platônica. É a partir desses mestres que a teologia filosófica ou escolástica deriva sua origem."[11] O Início da Alta Crítica Mosheim diz: "Orígenes inquestionavelmente se encontra à frente dos intérpretes da Bíblia nesse século. Mas, com dor, deve-se acrescentar que ele foi o primeiro entre aqueles que encontraram nas Escrituras um refúgio seguro para todos os erros e fantasias ociosas. Como este homem muito engenhoso não conseguia ver nenhum método possível de vindicar tudo o que é dito nas Escrituras contra as objeções dos hereges e dos inimigos do cristianismo, caso interpretasse a linguagem da Bíblia literalmente, ele concluiu que deveria explicar o volume sagrado da forma como os platonistas estavam acostumados a explicar a história de seus deuses."[12] A Alta Crítica é Platonismo Murdock, em suas notas, diz: "Orígenes perversamente transformou uma grande parte da história bíblica em fábulas morais e muitas das leis em alegorias. Provavelmente ele aprendeu isso na escola de Amônio, que expôs Hesíodo, Homero e toda a fabulosa história dos gregos alegoricamente. Os predecessores de Orígenes, que buscavam um sentido místico das Escrituras, ainda atribuíam um alto valor ao sentido gramatical ou literal; mas ele se expressa com frequência, como se não desse valor a isso. Antes dele, recorria-se a alegorias apenas para descobrir previsões de eventos futuros e regras de conduta moral; mas ele se dedicou a alegorias a fim de estabelecer os princípios de sua filosofia com base nas Escrituras. [...] Sua propensão a alegorias deve ser atribuída à fertilidade de sua imaginação, ao costume prevalecente dos egípcios, a sua educação, às instruções que recebeu de seus mestres e ao exemplo tanto dos filósofos, que ele admirava, quanto dos judeus. [...] Ele esperava, por meio de suas alegorias, convencer com mais facilidade os judeus, refutar os gnósticos e silenciar as objeções de ambos. Mas não devemos esquecer seu apego a esse sistema de filosofia que ele abraçou. Essa filosofia não podia ser reconciliada com as Escrituras; [...] portanto, as Escrituras tinham que ser interpretadas alegoricamente, para não contradizerem sua filosofia. [...] Como o corpo é a parte mais vil do homem, o literal é o sentido menos digno das Escrituras; e como o corpo muitas vezes leva os homens bons ao pecado, o sentido literal muitas vezes nos leva ao erro." A Razão se Coloca acima da Fé O próprio Mosheim nos conta como Orígenes determinava quando uma passagem devia ser interpretada de forma literal e quando devia ser interpretada de forma alegórica: "Sempre que as palavras, se entendidas literalmente, proporcionarem um significado valioso, digno de Deus, útil aos homens e conforme a verdade e a razão correta, então o significado literal deve ser mantido; mas sempre que as palavras, se entendidas literalmente, expressarem o que é absurdo, ou falso, ou contrário à razão correta, ou inútil, ou indigno de Deus, então o sentido literal deve ser descartado, e apenas o moral e místico deve ser considerado. Essa regra ele aplica a todas as partes do Antigo Testamento e do Novo." Esse raciocínio é suficientemente forte para qualquer um de nossos críticos modernos ligados à alta crítica. Se isso levou diretamente à remoção da Palavra de Deus das pessoas comuns na Idade Média, visto que os mestres julgavam que só a mente deles era capaz de determinar se certa passagem deveria ser interpretada literal ou alegoricamente, para qual direção o mesmo tratamento das Escrituras conduzirá agora? E se os discípulos de Orígenes, sem a cautela do grande mestre, foram conduzidos à grosseira licenciosidade dos pagãos, quanto da maldade da sociedade moderna deveria ser atribuída ao espírito da alta crítica, ecoado do púlpito e alimentado na sala de aula? Mentes Preparadas para o Papado Mosheim continua: "Ele [Orígenes] atribui duas razões pelas quais fábulas e absurdos literais são admitidos no Volume Sagrado. A primeira é que, se o sentido literal fosse sempre racional e bom, o leitor estaria inclinado a descansar nele e não buscar o sentido moral e místico. A segunda é que representações alegóricas e incongruentes com frequência fornecem instruções morais e místicas que não poderiam ser transmitidas por fatos e representações sóbrios." Talvez isso seja suficiente para mostrar que a escolástica, ou uma interpretação filosófica das Escrituras, teve sua origem nas escolas cristãs. Sabendo isso, fica claro o motivo que levou esses jovens a se tornarem papistas, em vez de seguidores do manso e humilde galileu. Não havia outra teoria que pudesse ter eliminado a fé com tanta eficácia como essa. Nenhum outro ensino além dessa alta crítica poderia ter desenvolvido mais verdadeiramente aquele poder que profere "palavras contra o Altíssimo" e cuida "em mudar os tempos e a lei" (Dn 7:25). Tal instrução formou a besta no 3º século; e está formando a imagem da besta no século atual. Os alunos sob tal instrução haviam recebido ampla preparação para a crença no direito da igreja de interpretar as Escrituras e para a crença na infalibilidade do papa. A Escolástica e a Alta Crítica Vimos a origem de duas das correntes que, unindo-se, ajudaram a engrossar a torrente do papado. Há ainda outros afluentes desse poderoso rio. Cada um surge em algum lugar do paganismo, flui com um curso tortuoso, mas finalmente, como se de acordo com alguma grande lei natural, se une com essas outras correntes na formação do mistério da iniquidade. Cada corrente é um princípio educacional, oposto em si mesmo ao cristianismo; mas em vez de se perder nas profundezas do canal principal, parece desenvolver maior poder de fazer o mal e leva seus adeptos a uma degradação mais completa após a mistura do que antes. Misticismo O terceiro princípio que se apresenta para análise é conhecido como misticismo. Tanto os ensinamentos de Clemente quanto a escolástica de Orígenes exaltaram a razão acima da fé. O misticismo foi defendido por Orígenes e mais tarde por Agostinho. É definido como "a faculdade da razão da qual procede a saúde e o vigor da mente, [...] uma emanação de Deus para a alma humana, e nela estão contidos os princípios e elementos de toda a verdade, humana e divina".[13] Existe uma centelha de divindade em cada pessoa. É objetivo da educação cristã desenvolver a imagem de Cristo no ser humano; os místicos, porém, defendiam que "o silêncio, a tranquilidade, o repouso e a solidão, acompanhados de atos de mortificação que tendam a extenuar e exaurir o corpo, eram os meios pelos quais a palavra oculta e interna era estimulada a produzir suas virtudes latentes e instruir os homens no conhecimento das coisas divinas". A Educação Prossegue em seu Declínio Não é tanto com a doutrina, mas com os resultados produzidos pelos ensinos dessa doutrina que estamos preocupados. A partir da adesão a esse método de raciocínio surgiu todo o sistema monástico; pois, Mosheim diz, "esse método de raciocínio produziu efeitos estranhos e levou muitos a cavernas e desertos, onde maceravam seus corpos com fome e sede e se submetiam a todas as misérias da disciplina mais severa que uma imaginação sombria poderia prescrever". O Egito logo se encheu desses fanáticos, e toda a história da Idade Média gira em torno deles. Eles romperam os laços do afeto familiar, derrubaram governos e entronizaram papas. Draper, falando sobre os monges, afirma: "Há relatos de que houve uma vez nesse país [Egito], dentre esse grupo de religiosos contemplativos, nada menos do que 76 mil homens e 27 mil mulheres. Com inúmeras outras formas rudes, sob o sol quente daquele clima, pareciam ter sido desovados da lama do Nilo." "Do Egito e da Síria o monasticismo se espalhou como uma epidemia." "Foi significativamente observado que o caminho para a elevação eclesiástica passava pelo pórtico do mosteiro e, muitas vezes, a ambição vestia o capuz por certo tempo com satisfação, para que pudesse agarrar com mais segurança a mitra."[14] Escolas Controladas pe los Monges Precisaremos estudar o sistema monástico como repositório de aprendizado na Idade Média e, portanto, daremos apenas uma rápida olhada na origem da ordem por meio da doutrina do misticismo. Seus males não podem ser retratados sem rubor, e foi contra esse sistema, segurando em suas garras a educação das massas, que a Reforma lançou seu peso. Vimos a verdade lutando contra o erro. Foi nas escolas dos primeiros cristãos que a sabedoria pela fé foi ensinada. Foi nessas mesmas escolas que a filosofia pagã se infiltrou. Foi o professor que adotou essa filosofia, e foi igualmente um professor que se opôs a ela. Os alunos absorveram as ideias dos principais educadores e tornaram- se mestres da igreja. As mentes mais fortes, desviando-se da Palavra, e somente dela, tornaram-se expositores da filosofia e das ciências. As Escolas da Idade Média Gradualmente o erro prevaleceu, até que nas escolas, quase inteiramente em mãos monásticas, a verdade foi tão encoberta que a descrição de D'Aubigné a respeito do trabalho dos escolásticos da Idade Média é impressionante. Ele diz: "Esses diligentes artesãos do pensamento haviam desvendado todas as ideias teológicas e, valendo-se de todos os fios que tinham em mãos, tinham tecido uma teia, sob a qual teria sido difícil para pessoas mais hábeis do que seus contemporâneos reconhecer a verdade em sua pureza primitiva." Não é função deste capítulo lidar com as controvérsias teológicas em si. Atenção será dada a elas somente quando tais controvérsias se apoderaram dos cursos de estudo nas escolas e os moldaram, e somente quando encontraram seus maiores apoiadores nas pessoas dos professores, foram levadas ao mundo pelos alunos e contribuíram para solidificar a obra do papado e dar-lhe poder sobre a mente dos homens. Falsa Educação e Penitência Citando novamente D'Aubigné: "A doutrina pelagiana, expulsa da igreja por Agostinho quando se apresentou com ousadia, foi introduzida lentamente como semipelagianismo e sob a máscara das formas de expressão agostinianas. Esse erro espalhou-se com surpreendente rapidez por toda a cristandade. O perigo da doutrina era particularmente manifesto no conceito de que, ao colocar a bondade fora, e não dentro, do coração, ela atribuía um grande valor às ações externas, observâncias legais e obras penitenciais. [...] Enquanto o pelagianismo corrompeu a doutrina cristã, ele fortaleceu a hierarquia. [...] Quando ele estabeleceu uma doutrina de que o homem poderia atingir um estado de santificação perfeita, também afirmou que os méritos dos santos e mártires poderiam ser aplicados à igreja. [...] O pelagianismo multiplicou ritos e cerimônias." "Mas foi especialmente pelo sistema de penitência, que fluiu diretamente do pelagianismo, que o cristianismo foi pervertido. No início, a penitência consistia em certas expressões públicas de arrependimento. [...] Aos poucos, foi estendido a todos os pecados, até os mais secretos. [...] Em vez de buscar o perdão em Cristo, somente pela fé, ele era procurado principalmente na igreja por meio das obras penitenciais. [...] Flagelações foram acrescentadas a essas práticas. [...] Consequentemente, inventou-se o sistema de troca celebrado sob o título de indulgências. [...] Uma bula de Clemente VII declarou que a prática era um artigo de fé. [...] Os filósofos de Alexandria falaram de um fogo no qual os homens deveriam ser purificados. Muitos doutores antigos adotaram essa noção; e Roma declarou essa opinião filosófica um princípio da igreja. O papa, por meio de uma bula, anexou o purgatório ao seu domínio."[15] "A Igreja Católica não era o papado", diz D'Aubigné. "O papado era o opressor, a igreja católica era a oprimida." Draper define resumidamente o papado como "a tirania da teologia sobre o pensamento". Resumo Os homens se afastaram da simplicidade de um evangelho pela fé. A razão e a pesquisa científica tomaram o lugar da fé na Palavra. A educação desviou a mente dos homens de Deus para si, e a razão foi exaltada. O papado foi assim formado. Se buscarmos uma união visível da igreja e do Estado antes de reconhecê-lo como papado, nos encontraremos numa armadilha; pois é a atuação de um sistema de educação baseado na filosofia humana que forma o papado; e a organização que adota esse sistema de educação naturalmente se volta para o Estado em busca de apoio. O papado é Subvertido pe la Educação Cristã É por causa da verdade dessa declaração que o papado exerce sua influência por meio de suas escolas; é por isso que ele sempre temeu mais um renascimento do saber do que as forças combinadas de todos os exércitos do mundo. Um golpe mortal no papado só pode ser desferido pela introdução de um sistema de educação baseado nos ensinamentos de Cristo, colocando a Palavra de Deus como guia e inspirando a fé como o único caminho para a sabedoria. Notas: 1. Church History, tradução de Torrey, vol. 1, p. 71, 73. 2. Church History, tradução de Maclain, século 1°, parte 2, cap. 3, par. 10. 3. Ibid. 4. Ver tradução de Torrey, vol. 2, p. 237. 5. Church History, vol. 2, p. 224, 225. 6. Ibid. p. 226. 7. Ibid., p. 238. 8. Ibid., p. 242. 9. Ver a Enciclopédia de Chambers. 10. Citado por Neander, Church History, vol. 2, p. 463, 464. 11. Church History, Tradução de Maclain, século 3°, cap. 3, par. 1 12. Ibid. Tradução de Murdock, século 3°, parte 2, cap. 3, par. 5. 13. Mosheim, Church History, tradução de Maclain, século 3°, cap. 3, p. 2. 14. Intelectual Development of Europe, vol. 1, p. 432, 434. 15. History of Reformation, livro 1, cap. 1. Capítulo 11 A Educação na Idade Média O desenvolvimento do papado conduziu diretamente à Idade das Trevas, pois "o meio-dia do papado correspondeu à meia-noite moral do mundo". O papado foi o resultado lógico de um esquema educacional; portanto, a escuridão moral que se espalhou pelo mundo durante o período profético de 1.260 anos foi devida a métodos errôneos de educação. As pessoas não caem na degradação e no pecado quando devidamente educadas. A verdade eleva e, quando incorporada no homem, leva-o para mais perto de seu Criador. A fé é a escada pela qual ele sobe, e quando falta esse elemento em um sistema educacional, as massas afundam cada vez mais. A Tirania da Teologia do Papado sobre o Pensamento A mente é uma coisa maravilhosa, o estudo mais profundo do universo. Ela foi projetada para ser livre, para compreender as poderosas leis Daquele que a criou, e um meio foi fornecido pelo qual isso poderia se efetivar: "Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, [...]. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando" (Tg 1:5, 6). Para manter a supremacia assim obtida, era necessário que a educação dos jovens ficasse inteiramente sob o controle da hierarquia papal; e é com suas instituições e métodos educacionais que temos de lidar agora. Espera-se que o estudo da Idade das Trevas destaque de tal forma a importância de os protestantes manterem suas próprias escolas, que a tendência agora tão forte na outra direção possa ser detida. A educação iniciada nas escolas dos primeiros cristãos acabaram se transformando nas instituições monásticas da Idade Média. A vida e o poder do cristianismo se foram, e apenas a forma permaneceu. Já foi dito que "o paganismo com as vestes do cristianismo entrou na igreja", e pode-se acrescentar que a porta de acesso para ele foram as escolas. Escolas Primárias Papais A fim de traçar cuidadosamente a educação oferecida pelo papado -- e isso envolvia tudo o que era então oferecido --, as primeiras citações são relativas à instrução primária. Laurie diz: "A instrução começava por volta dos sete anos de idade. O alfabeto, escrito em tábuas ou folhas, era memorizado pelas crianças, depois sílabas e palavras. O primeiro livro de leitura era o saltério latino, e este era lido continuamente até que pudesse ser dito de cor; e numerosos padres, e até monges, contentavam-se durante toda a vida com o mero som de palavras latinas, que podiam ler e recitar, sem contudo entender."[1] Proeminência do Trabalho de Memória Observe com cuidado que as atividades realizadas por essas crianças eram quase exclusivamente trabalho de memória. Eles deveriam aprender de cor e repetir sem entender. Este foi o primeiro passo nesse grande sistema que prende a mente das massas à vontade de uma mente soberana. "Seguia-se a escrita." "Os elementos da aritmética também eram ensinados, mas apenas com o objetivo de calcular os dias da igreja e festivais."[2] Uso Precoce do Latim "O latim começava muito cedo (aparentemente imediatamente após ter conhecimento do saltério), com o aprendizado de cor das declinações e conjugações e listas de vocábulos. A regra era usar o latim na escola para conversar. [...] No século 11, se não antes, os livros de conversação em latim [...] não eram apenas lidos, mas, como tudo o mais, aprendidos de cor."[3] O método deles de estudar latim enfatiza o conceito do modo formal e abstrato de ensino, que tendia ao conservadorismo e à sujeição mental. "A memória é a faculdade que subordina o presente ao passado, e seu treinamento extensivo desenvolve um hábito mental que mantém o que é prescrito e se afasta do novo e não experimentado. Em suma, o currículo educacional que dá grande ênfase à memorização produz uma classe de pessoas conservadoras."[4] As escolas papais empregavam métodos que, por si mesmos, no curso de algumas gerações, desenvolveriam um pensamento dependente em vez de independente; portanto, os métodos são tão importantes quanto o assunto ensinado. Resultado da Língua Universal Além disso, é bom lembrar que houve um propósito profundo em tornar universal a língua latina. Foi uma das maneiras pelas quais o papado manteve o controle de todas as nações e línguas. Draper explica assim: "A unidade da igreja, e, portanto, seu poder, exigia o uso do latim como língua sagrada. Por meio disso, Roma assumiu uma atitude estritamente europeia e foi capaz de manter uma relação internacional geral. Isso deu a ela muito mais poder do que sua autoridade celestial declarada. [...] Seus oficiais podiam passar sem dificuldade por todas as nações e se comunicar sem constrangimento uns com os outros, da Irlanda à Boêmia, da Itália à Escócia." Fábulas e Tradições Humanas O caráter do jovem se formava, diz Painter, a partir da memorização "das fábulas de Esopo e coleções de máximas e provérbios. Depois disso, Virgílio era geralmente o livro-texto e era tratado no mesmo estilo". Os Estudos das Escolas Monásticas Das escolas monásticas, Mosheim diz: "Na maioria das escolas, as chamadas sete artes liberais eram ensinadas. O aluno começava com a gramática, passava então para a retórica e depois para a lógica ou dialética. Tendo assim dominado o trivium, como era chamado, aqueles que aspiravam a maiores realizações prosseguiam com passos lentos pelo quadrivium [um curso que incluía aritmética, música, geometria e astronomia] até chegarem à honra de homens perfeitamente eruditos."[5] Diz Painter: "Sete anos eram dedicados à conclusão do curso de artes liberais [o trivium e o quadrivium]. [...] A dialética ou lógica era baseada um tanto remotamente nos escritos de Aristóteles. Em um período posterior, a lógica foi rigidamente aplicada ao desenvolvimento da teologia e deu origem a uma classe de estudiosos chamados de escolásticos. [...] A aritmética era ensinada de maneira imperfeita, atribuindo-se importância às supostas propriedades secretas dos números. A geometria era ensinada de forma resumida, enquanto a astronomia não diferia, em essência, da astrologia. O estudo da música consistia principalmente em aprender a cantar os hinos da igreja."[6] Maior Ênfase na Lógica Mosheim continua assim sua descrição do trabalho das escolas no século 11: "Esse programa de estudos, adotado em todas as escolas do Ocidente, mudou significativamente a partir de meados desse século, pois a lógica, [...] tendo sido aprimorada pela reflexão e habilidade de certos pensadores cuidadosos, e sendo ensinada de forma mais completa e intensa, adquiriu tal ascendência na mente da maioria que a gramática, a retórica e as outras ciências, desde as mais estruturadas até as mais obscuras, foram negligenciadas, e os educadores passaram a devotar toda a existência à dialética ou a discussões lógicas e metafísicas. Pois quem quer que estivesse bem familiarizado com a dialética, ou o que chamamos de lógica e metafísica, já possuía conhecimento suficiente e nada perdia por ser ignorante em todos os outros ramos do conhecimento. [...] Nessa época, a filosofia dos latinos era confinada totalmente ao que eles chamavam de dialética; e os outros ramos da filosofia eram desconhecidos até mesmo pelo nome. Além disso, a dialética deles era insuportavelmente seca e estéril."[7] Geografia Patrística Isso é suficiente, talvez, no que diz respeito ao uso da linguagem e da lógica, e nos voltaremos para a geografia e algumas das ciências. Até mesmo as crianças de hoje sorririam com os ensinamentos de alguns dos pais da igreja sobre o assunto da geografia. Diz Draper: "Na geografia patrística a terra é uma superfície plana ladeada pelas águas do mar, em cujo suporte maleável repousa a cúpula cristalina do céu. Essas doutrinas eram em sua maioria apoiadas por passagens das Sagradas Escrituras, perversamente arrancadas de seu significado adequado. Assim, Cosme Indicopleustes, cuja Geografia Patrística foi uma autoridade por quase 800 anos, em triunfo eliminou a esfericidade da terra, exigindo de seus defensores que explicassem como, no dia do julgamento, os homens do outro lado do globo poderiam ver o Senhor descendo pelo ar!"[8] O Trabalho Proveitoso dos Exploradores Foi em oposição a tais teorias e a uma centena de absurdos concernentes ao oceano, às águas ferventes do equador, às serpentes no oeste, etc., que Colombo, Vasco da Gama e outros exploradores tiveram de discutir; e um dos efeitos mais maravilhosos do trabalho desses navegadores foi o golpe dado à educação papal. Ela recebeu então uma ferida incurável. Se, na mente do leitor, surge a pergunta: Por que as escolas papais deveriam ensinar essas coisas?, simplesmente considere que todo o sistema de teologia papal tinha como objetivo fazer as pessoas sentirem que o mundo era o centro do universo e que o papa era o centro do mundo. Cristo e Sua posição na criação foram usurpados pelo cabeça da igreja. Isso era o papado. As Escolas Modernas se Apegam aos Métodos Papais Isso poderia ser conseguido unicamente pela educação e só poderia ser mantido enquanto geração após geração fosse ensinada, desde a infância até a velhice, a colocar a fé no homem, não em Deus. Não apenas as matérias ensinadas, mas a maneira de ensiná-las servia bem ao propósito do papado. Apenas nos últimos anos, comparativamente falando, nossas próprias escolas viram a necessidade de romper com algumas daquelas relíquias do sistema educacional da Idade Média. Constatação de Métodos Errôneos O exercício da memória, puro e simples, deu lugar em grande medida à pesquisa e à experimentação, mesmo nas séries iniciais. O alfabeto não é mais levado à mente infantil pela palmatória, nem mantido lá pela mera força da repetição. Os métodos avançados para lidar com a mente são um passo na direção certa. A pena é que os educadores, enquanto tateiam em busca de luz, enquanto jogam fora algumas das vestimentas roídas pelas traças de eras passadas, deixaram de ver a causa do mal e lidaram de modo extenso com os resultados em vez de remover a causa. O mal começou quando se renunciou às Escrituras e à fé no Livro Sagrado como parte da educação. O espírito e o poder acompanharão a reforma somente quando elas forem recolocadas em seu devido contexto. Novos Livros Enquanto os educadores do mundo estão percebendo a necessidade de uma mudança nos métodos, é hora de eles verem também a necessidade de uma mudança nas matérias estudadas e nos livros didáticos. Especialmente os protestantes devem despertar para os tempos. Se o estudo do paganismo, em vez do cristianismo ou da verdade, produziu a Idade das Trevas, e se métodos errados mantiveram cativa a mente dos homens e prolongaram essa escuridão, proibindo que a luz brilhasse, está na hora de esses métodos e conteúdos serem totalmente mudados nas escolas de hoje. A Ciência nas Escolas Papais Podemos com proveito notar a atitude das escolas papais para com algumas das ciências, tomando por exemplo o mais prático dos ramos modernos, a ciência da medicina. Qual foi o trabalho do médico durante a Idade Média? Draper diz: "Os médicos eram vistos pela igreja com aversão e considerados ateus pelo povo, que se apegava firmemente às lições que haviam aprendido, de que as curas devem ser realizadas por relíquias de mártires e ossos de santos, por orações e intercessões."[9] A Verdadeira Cura Abandonada É bom lembrar que Cristo foi o Grande Médico, curando não apenas enfermidades da alma, mas também enfermidades físicas; e aos apóstolos foi dada a comissão de curar os enfermos e restaurar a visão aos cegos. Gradualmente, porém, conforme o poder do evangelho em sua pureza foi perdido como resultado da substituição da verdade pelo erro, os líderes da igreja introduziram curas milagrosas e pregaram a eficácia dos ossos dos santos, etc., na cura de doenças. Isso se tornou popular e aumentou durante a Idade Média. Estudo da Medicina Desencorajado Draper descreve o fanatismo das escolas monásticas e, finalmente, atribui uma razão por que o estudo da fisiologia e anatomia e da ciência da medicina foi excluído nelas. Ele diz: "O corpo estava sob algum cuidado espiritual -- a primeira junta do polegar direito estava sob os cuidados de Deus Pai, a segunda sob os cuidados da Santíssima Virgem, e assim por diante em relação a outras partes. Para cada doença havia um santo. Uma pessoa com feridas nos olhos devia invocar Santa Clara, mas se fosse uma inflamação em outro lugar, devia recorrer a Santo Antônio. [...] Para a propiciação desses seres celestiais, era necessário o pagamento de taxas, o que conduziu à prática de fraudes -- a medicina se tornou uma grande fonte de lucro. Em tudo isso não havia outra intenção senão a de extrair dinheiro."[10] Médicos em Segredo Enquanto eram esses os ensinamentos do papado, os judeus e os muçulmanos estavam obtendo um sucesso maravilhoso e fazendo descobertas de benefício duradouro para a humanidade na Espanha e na Ásia Menor. "Bispos, príncipes, reis e papas tinham seu médico particular hebreu, embora todos entendessem que se tratava de um luxo contrabandeado, em muitos países proibido por lei de forma explícita e absoluta. No século 11, quase todos os médicos da Europa eram judeus." Uma razão para isso era: "A igreja não tolerava interferência em seus métodos espirituais de tratamento de doenças, que constituíam uma de suas fontes de ganho mais produtivas; e o estudo da medicina foi formalmente introduzido nas escolas rabínicas".[11] A Proibição de Médicos Judeus O amargo ódio do papado contra a independência de espírito é bem ilustrado no tratamento que os médicos judeus receberam dos papas. Draper diz: "A escola de Salerno ainda enviava seus médicos. Em Roma, os médicos judeus eram numerosos, e os próprios papas os empregavam. [...] Nesse período, a Espanha e a França estavam repletas de judeus eruditos; e talvez em parte por exercerem demasiada influência sobre as classes mais altas com as quais entravam em contato (pois o médico de um príncipe cristão era muitas vezes o rival de seu confessor), e em parte porque a prática da medicina, como eles a exerciam, interferia nos ganhos da igreja, o clero ficou alarmado e fez com que as leis antigas fossem promulgadas novamente ou fossem aplicadas. O Concílio de Béziers (1246 d.C.) e o Concílio de Alby (1254 d.C.) proibiram todos os cristãos de recorrer aos serviços de um médico israelita."[12] Ódio para com Médicos Para mostrar que se tratava de um assunto que preocupava as escolas, e como prova da afirmação de que as escolas papais ainda aderiam ao formalismo, à cura milagrosa e ao culto às relíquias, basta notar que "a faculdade de Paris, finalmente despertando ao perigo da situação, incitou, em 1301 d.C., a publicação de um decreto proibindo tanto homens quanto mulheres da religião de Moisés de praticarem a medicina em qualquer pessoa da religião católica. Um curso semelhante foi seguido na Espanha. Nessa época, os judeus se encontravam reconhecidamente à frente da medicina francesa. Foi a nomeação de um de seus membros, Profatius, como regente da faculdade de Montpellier, em 1300 d.C., que atraiu sobre eles a ira da faculdade de Paris." Os Judeus são Banidos "A animosidade dos eclesiásticos franceses contra os médicos judeus levou finalmente ao banimento de todos os judeus da França, em 1306 d.C."[13] As universidades papais não estavam dispostas a ensinar medicina, e descobrindo que as escolas judaicas de ciência estavam enfraquecendo enormemente a autoridade papal na França, essa raça foi completamente banida. Posição da Fisiologia Comparando essa história com o trabalho atual da comunidade médica e, especialmente, com aquela classe de estudantes de medicina cuja missão de vida é espalhar o evangelho enquanto aliviam o corpo, entende-se melhor que a fisiologia deve ser a base de todo esforço educacional, o lugar que ela e outras ciências afins devem ocupar nos cursos de instrução realizados por nossos filhos, jovens e mentes mais maduras; e também a causa da escuridão espiritual que agora paira sobre o mundo e por séculos manteve a Europa em suas garras; mas essas trevas serão atravessadas pela educação cristã. O Método Papal de Enfrentar a Oposição O papado, em caso de oposição que ameaçasse sua autoridade, tinha dois métodos de ação. O primeiro consistia em tentar aniquilar a perturbação e os perturbadores. Assim, ele simplesmente baniu todos os judeus da França para que as próprias universidades da igreja não fossem ofuscadas pela luz da verdade. Seu segundo método de ação era realizar uma contrarreforma, ou seja: se uma reforma na educação surgisse fora da igreja e ameaçasse minar suas doutrinas, ela poderia ser enfrentada por uma reforma parcial dentro de suas fronteiras; nesse caso, a reforma era efetuada somente dentro do absolutamente necessário para satisfazer os anseios das mentes que ousavam pensar por si mesmas. O Papado Pode Transigir Nem sempre foi possível esmagar completamente uma reforma ou os reformadores; e como acontecia com frequência nas escolas, matérias que não podiam ser banidas por completo eram ensinadas, mas da maneira que melhor atendesse as necessidades da igreja. Não se pode negar o fato de que o direito, assim como a medicina, eram ensinados nas escolas papais de ensino superior. Mosheim diz: "As sete artes liberais [o trivium e o quadrivium] foram aos poucos incluídas no termo filosofia, às quais foram acrescentadas a teologia, a jurisprudência e a medicina. E assim essas quatro faculdades, como são chamadas, se tornaram, no século seguinte, em universidades."[14] Os Estudos em Medicina são Corrompidos Mas no estudo da medicina, como na filosofia ou no direito, o trabalho da memória desprovido de compreensão -- a forma sem o espírito -- era a marca. Assim como os santos e mártires da teologia tomaram o lugar dos deuses e deusas gregos, no estudo de outros ramos estabele- ceu-se uma infinidade de termos pagãos, revestidos com o que então era conhecido como "espírito cristão", a fim de satisfazer o desejo por uma verdadeira cultura mental. A simplicidade do evangelho foi posta de lado. O que Deus revelou passou a ser visto como algo muito complexo para a mente humana, e as coisas ocultas, conhecidas apenas por Deus, foram detidamente investigadas. Na teologia, a dialética ou lógica tornou-se o estudo marcado por perguntas intermináveis, silogismos difíceis e subterfúgios sem sentido. Homens ficavam encantados em propor perguntas como: "Quantos anjos podem ficar na ponta de uma agulha?" E outros se orgulhavam da perspicácia de seus poderes de raciocínio para argumentar tais questões. Da mesma forma, na medicina, o estudo das necessidades simples do corpo e o tratamento racional das doenças foi obscurecido por centenas de termos latinos, e estes eram memorizados em detrimento da filosofia simples dessa ciência. É com essa multidão de nomes, envelhecidos pela idade, e com o forte sabor de sua origem pagã, que o estudante de medicina ainda é compelido a lutar. Os Árabes como Educadores A história da ascensão das universidades europeias lança luz sobre a atitude do papado em relação à educação. Enquanto a Europa estava envolta em trevas espirituais e intelectuais, Deus usou outro povo para disseminar a verdade. Quando a fé em Deus foi perdida e substituída pela fé cega no homem e pela obediência à igreja, numa época conhecida na história europeia como a era da fé, o aprendizado foi propagado pelos árabes. Aquele poder que havia fracassado em conquistar o mundo pela espada, agora conquistava pela cultura intelectual o que as armas de Maomé e seus sucessores imediatos falharam em alcançar. A Espanha, enquanto nas mãos dos mouros, contribuiu mais para a civilização europeia do que em qualquer outra época de sua história; e foi como educador e por meio da influência de suas escolas que o papado recebeu o golpe do sul que a fez sucumbir mais prontamente à revolta da Alemanha sob Lutero. Pelos árabes, "escolas prósperas foram estabelecidas em todas as principais cidades, e de forma notável em Bagdá e Damasco, no leste, e em Córdoba, Salamanca e Toledo, no oeste. Ali, gramática, matemática, astronomia, filosofia, química e medicina eram estudadas com grande ardor e sucesso. Os árabes criaram a química, descobrindo o álcool e os ácidos nítrico e sulfúrico. Eles deram à álgebra e à trigonometria sua forma moderna; aplicaram o pêndulo ao cálculo do tempo; averiguaram o tamanho da Terra medindo um grau e fizeram catálogos das estrelas."[15] E tudo isso foi feito quando a Europa como um todo jazia nas trevas, quando o químico era considerado um mago, quando a astronomia era meramente astrologia e qualquer aprendizado que existia era formal e sem vida. Escolas Árabes e Papais Mas as descobertas dos professores árabes não puderam ficar só com eles, e é com a difusão de suas ideias nas escolas por meio dos alunos que nos preocupamos. "Por um tempo, eles [os árabes] foram os líderes intelectuais da Europa. Suas escolas na Espanha eram em grande parte frequentadas por jovens cristãos de outros países europeus, que levaram consigo a ciência árabe a sua terra natal, e, por meio dela, estimularam a atividade intelectual nas nações cristãs [papais]."[16] Árabes e Universidades A especialização em estudos como teologia, medicina ou filosofia, junto com o impulso derivado dos muçulmanos na África e dos árabes na Espanha, levou ao estabelecimento das universidades, que eram, como já foi dito, compostas por quatro faculdades. "Elas surgiram como entidades independentes da igreja e do Estado." A Universidade de Paris "tornou-se a sede de aprendizagem mais ilustre da Europa. Houve uma época em que mais de 20 mil alunos a frequentavam." O Papado se Apropria das Universidades O crescimento das universidades foi muito rápido, e elas ameaçavam revolucionar velozmente a sociedade europeia e derrubar a hierarquia papal. "A influência e o poder das universidades foram logo reconhecidos", diz Painter; "e embora originalmente fossem associações livres, logo foram colocadas em relação com a igreja e o Estado, dos quais recebiam autorização e financiamento oficiais." Se o aprendizado não pode ser suprimido, então deve ser controlado pela igreja; e a "igreja buscou anexá-las [as universidades] a si mesma, a fim de unir ao poder da fé o poder do conhecimento. Os primeiros privilégios que as universidades receberam vieram dos papas." "Embora Roma não fosse a mãe, ela era, todavia, a ama-seca das universidades." A essa altura, a investigação científica havia recebido tal impulso de jovens que haviam sido alunos nas escolas árabes que a igreja não tinha esperança de esmagá-lo. A única esperança do papado era cercar a verdade de fábulas e mistérios e conduzir as escolas de tal modo que mais uma vez o espírito de progresso se perdesse em suas andanças labirínticas por formas vazias. O monopólio na educação causa estragos da mesma forma que o monopólio no comércio leva à opressão. E assim foi. O Caráter dos Alunos "Os alunos levavam uma vida livre e descontrolada, buscando e encontrando proteção em suas próprias autoridades universitárias e até mesmo do poder civil."[17] Origem dos Cursos e Diplomas Os jovens a partir dos 12 anos frequentavam essas universidades, sendo necessário que elas ministrassem os estudos secundários, que terminavam no bacharelado. "Os moços [...] frequentavam a universidade parisiense apenas para receber instrução em [...] gramática, retórica e dialética; e depois de três ou quatro anos de estudo, recebiam o título de Baccalaureus." "Quando o aluno atingia [...] a idade de 17 ou 18 anos, ele então começava seus estudos para o mestrado."[18] Vale lembrar que as escolas estabelecidas pela igreja primitiva foram marcadas pela simplicidade de seus métodos e pela singeleza de propósito. Seu objetivo era educar obreiros para a propagação do evangelho. O plano de instrução era organizado para o cumprimento desse objetivo, e estudantes eram enviados ao mundo comissionados por Deus, como o foram os discípulos após sua ordenação. Não havia uma convocação para a concessão de títulos. Esses, na verdade, eram usados nas escolas pagãs e indicavam que o detentor deles havia sido iniciado, após anos de estudo, nos mistérios ocultos da sabedoria grega. Entre os pagãos, de fato, o princípio dos graus e diplomas datava dos dias da supremacia egípcia e babilônica, sendo indicativos de participação nas formas mais grosseiras de licenciosidade. A Grécia, país que uniu a ciência da Babilônia e a sabedoria do Egito e as ofereceu à Europa na forma do platonismo, naturalmente fez uso de diplomas e graus. E o fato de sua sabedoria ser de natureza tão complicada tornou necessário passar longos anos para se ter o domínio de suas ciências. Além disso, o paganismo tem apenas um modelo para todos as pessoas; seu objetivo é sempre esmagar a individualidade e moldar todos da mesma forma. Para tanto, as escolas organizaram seus estudos em disciplinas, exigindo que cada aluno passasse pelo mesmo terreno. Isso é característico de todos os sistemas educacionais, exceto o da verdadeira educação, que vem de Deus. Se você olhar para a China, você encontrará o sistema pagão lá, na maneira como ela prepara os discípulos de Confúcio; A Índia educa seus brâmanes da mesma maneira; os sacerdotes e sábios do Egito eram ensinados em escolas de tipo semelhante. Os judeus haviam imitado a moda do mundo pagão, e foi para deixar esse costume que Cristo chamou seus discípulos. Um dos sinais mais seguros de que as escolas estabelecidas nos dias da pureza cristã perderam o espírito que caracterizava o ensino apostólico é o fato de as escolas da Idade Média terem adotado esse costume pagão. Os alunos eram chamados para as universidades quando meros meninos e, às centenas e milhares, passavam pela "tortura" que chamamos de "curso de instrução" e eram dispensados ao final de dez, 20, e às vezes até 40 anos, com um título, que, em dignidade, correspondia aos anos despendidos na conclusão do curso. Verdadeira Educação e Títulos Esse costume é papal. Isso se opõe ao próprio espírito do cristianismo; e qualquer instituição de ensino que condescende em aceitar a aprovação do Estado, ao mesmo tempo que se passa por uma instituição cristã, não está apenas se vinculando ao papado, mas também ao paganismo. De Seus seguidores Cristo diz: "Eles não são do mundo, como também Eu não sou" (Jo 17:16). "Os alunos mais velhos, de modo especial os da faculdade de teologia, com seu curso de estudos de 15 ou 16 anos, alcançavam, em razão disso, notoriedade muito maior. Na idade de 30 ou 40 anos, o aluno da universidade ainda era um aprendiz."[19] A ideia de cursos longos não é, então, moderna, e as faculdades americanas podem verdadeiramente encontrar na universidade de Paris o precedente para esse fato bem como alguns outros. Na concessão de diplomas, outro assunto interessante é abordado. Laurie continua: "Até meados do século 12, qualquer pessoa formada nas jovens universidades achava que tinha o conhecimento necessário. [...] Na segunda metade do século 12, quando bispos e abades, que atuavam, pessoalmente ou por meio de seus representantes, como chanceleres das escolas universitárias nascentes, quiseram assumir o direito exclusivo de conceder títulos, [...] o papa Alexandre III os proibiu, alegando que a habilidade para o ensino era dom de Deus."[20] Isso, no entanto, deve ter sido o trabalho de um papa liberal, pois antes, isto é, em 1219, "o papa Honório III interferiu na colação de graus; e para impor um controle sobre os abusos, ordenou que fossem conferidos com a permissão, e não por ele próprio, do arcediago, e sob sua presidência."[21] A igreja havia ganhado o controle das universidades e, por meio de seu representante, geralmente o chanceler, concedia diplomas. Então, para manter a autoridade em suas próprias mãos, ninguém tinha permissão para ensinar, a menos que tivesse uma licença concedida pela universidade após um exame. Assim, o monopólio educacional se desenvolveu, e a mão de ferro de Roma, embora oculta em luva de seda, conquistou vitórias e se esforçou para esmagar todos os oponentes. Os Títulos e o Papado Os títulos acadêmicos modernos, como B.Sc [Bachelor of Science]., M.A. [Master of the Arts], LL.D. [Doctor of Laws -- Doutor em Direito], D.D. [Doctor of Divinity -- Doutor em Divindade], etc., foram adotados nas universidades nesse estágio da história educacional. Diz Laurie: "Itter nos informa que [...] um curso universitário completo era representado por quatro graus -- bacharelado, mestrado, licenciado e, finalmente, doutorado, e este último era geralmente cursado aos 30 ou 35 anos de idade." "O desenvolvimento seguinte do sistema de graduação foi a introdução dos graus de bacharel e mestre, ou licenciado, em cada um dos cursos superiores -- teologia, direito e medicina. Assim, um homem que concluía seus estudos gerais preliminares, geralmente aos 21 anos, e desejava se especializar em teologia, medicina ou direito, tinha que passar pelos estágios de bacharel em teologia, ou em medicina, ou em direito, e então de mestre ou licenciado, antes de obter o título de doutor. O bacharelado em medicina ou direito era alcançado em três anos, o de teologia em sete. Quatro anos de estudos adicionais conduziam ao título de doutor."[22] "A concessão de graus [ou diplomas] originou-se com um papa."[23] O monopólio educacional parecia bastante completo; e tendo adquirido a forma de piedade e o poder civil, o antigo esquema de neutralizar a essência da vida, e colocar no lugar coisas que reconhecessem a hierarquia papal, foi novamente introduzido. Os principais educadores estão despertando para a verdadeira situação. Somente a educação cristã pode libertar. A Forma Substituiu a Vida "O tom moral das universidades era baixo", diz Painter. "Havia brigas, revoltas e imoralidades abomináveis. 'Os alunos', afirmam os estatutos de Viena, 'não devem gastar mais tempo bebendo, lutando e tocando violão do que em física, lógica e nos cursos regulares de aulas; e eles não deverão organizar danças públicas nas ruas. Os briguentos, os devassos, os bêbados, os que fazem serenatas à noite ou os que passam o tempo a seguir mulheres obscenas; ladrões, os que insultam cidadãos, jogadores de dados -- se, depois de terem sido devidamente advertidos, não se corrigirem, além da punição ordinária prevista em lei para esses delitos, serão privados de seus privilégios acadêmicos e expulsos'. Essas proibições nos dão uma visão clara da vida universitária da época, pois não era pior em Viena do que em Paris e em outros lugares."[24] Se alguns desses estudantes medievais pudessem ser ressuscitados e colocados em algumas das universidades do século 19, eles poderiam se sentir em casa, não apenas no que diz respeito aos programas de estudo e concessão de diplomas, mas em festas, diversões ruidosas, etc., a julgar pelos relatos de trotes, bebedeiras e farras em geral dos estudantes em nossas cidades universitárias.[25] A conduta dos alunos é o reflexo da instrução ministrada. Não é, portanto, de se admirar que a instrução das universidades, contendo a forma sem a vida, deixasse de desenvolver estabilidade de caráter em seus alunos. "A verdadeira atitude católica para com todas as investigações era, e é, a de admitir grandes avanços em todos os departamentos de ensino, ao mesmo tempo em que reprimia toda genuína liberdade de pensamento."[26] A North American Review de outubro de 1842 expressa em linguagem concisa a relação dos alunos e das escolas com o governo geral e o consequente estado da sociedade. Ela diz: "Nas faculdades é determinado o caráter da maioria das pessoas que devem exercer as profissões, ensinar nas escolas, escrever os livros e desempenhar a maior parte dos negócios referentes à legislação para todo o povo. A tendência geral da literatura e da política, os hábitos e os modos de pensamento predominantes em todo o país estão nas mãos de homens cuja posição social e vantagens iniciais lhes deram uma influência de cuja magnitude e permanência os próprios possuidores dificilmente têm consciência." Reconhecendo esse fato, o papado controlou a educação na Idade Média e está procurando fazer a mesma coisa hoje. Lutero e outros reformadores, também reconhecendo o fato, procuraram derrubar a tirania do papado estabelecendo novas escolas onde a liberdade de pensamento fosse promovida por meio da fé na Palavra de Deus. Uma Grande Obra para Os Protes tantes de Hoje Os protestantes de hoje, ao olharem para o sistema de educação como existe agora e observarem os mesmos longos programas de estudos dos clássicos e das ciências, os mesmos graus conferidos à semelhança do que se fazia na Idade Média, o livro-texto contendo as mesmas teorias, os mesmos termos, as mesmas doutrinas de filosofia, a mesma tendência para o monarquismo, ou o monopólio da educação por parte de certas universidades, e, através delas, por parte do mesmo poder que havia dominado, deveriam estabelecer suas próprias escolas para o bem de seu governo e para o bem de sua fé. Assim como o papado, pela sujeição do pensamento, constrói uma monarquia no lugar da democracia; assim como ele igualmente destrói a fé em Deus, substituindo-a por fé no homem ou na igreja, assim também as escolas protestantes deveriam educar as crianças nos princípios puros daquela liberdade evangélica que reconhece a igualdade de cada homem aos olhos do Céu e possibilita que o governo seja do povo, para o povo e pelo povo, desenvolvendo o caráter cristão por meio da fé em Jesus Cristo. Notas: 1. Rise and Constitution of Universities, p. 55. 2. Ibid., p. 56. 3. Ibid. 4. W. T. Harris, U. S. Commissioner of Education. 5. Church History, século 11, parte 2, cap. 1, seção 5. 6. History of Education, p. 100. 7. Church History, século 11, parte 2, cap. 1, seção 5. 8. Intelectual Development of Europe, vol. 2, p. 159. 9. Intellectual Development of Europe, vol. 2, p. 121. 10. Ibid. 11. Ibid. 12. Ibid., p. 125. 13. Ibid., p. 125, 126. 14. Church History, século 12, parte 2, cap. 1, par. 4 15. History of Education, p. 114. 16. Ibid. 17. Laurie, Rise and Constitution of Universities, p. 168. 18. Ibid., p. 219, 220. 19. Ibid., p. 169. 20. Ibid., p. 103. 21. Ibid., p. 227. 22. Ibid., p. 220. 23. Rev. B. Hartman, Religion or No Religion in Education, p. 43. 24. History of Education, p. 115, 116. 25. Ver Students in Riot, na Universidade de Chicago, Chicago Record, 2 de dezembro de 1899. 26. Rise and Constitution of Universities, p. 288. Capítulo 12 A Reforma do Século 16: Uma Reforma Educacional Ao acompanharmos a história da educação durante a Idade Média, muitas vezes temos sido compelidos a reconhecer que uma influência estava em ação, lenta mas seguramente, minando a estrutura que o papado estava erguendo com a maior perseverança -- uma estrutura cujo propósito estabelecido por esse poder era resistir a todos os ataques contra si. O papado havia calculado bem; ele, ao absorver o sistema educacional da época, colocou suas mãos na própria raiz da sociedade e, por meio de sua educação, bem como de suas doutrinas, teceu sobre a raça humana as malhas que somente o Príncipe dos céus poderia rasgar com a espada da verdade eterna. O Segredo da Força Papal O mundo nunca viu um sistema tão duradouro como o papado. Moldado de uma forma tão próxima da verdade de Deus, e semelhante, tanto no governo eclesiástico quanto nos princípios educacionais, ao plano entregue à nação escolhida, que somente um especialista, guiado pelo Espírito da verdade, poderia julgar entre o verdadeiro e o falso, tal poder tinha, como os judeus antes deles, substituído a vida pela mera forma. Todavia, a fundação estava assentada com tanta firmeza e as paredes construídas de forma tão sólida, que por séculos ela frustrou todas as tentativas de derrubada. Essa estrutura tinha como base um sistema educacional; a argamassa que segurava os tijolos na parede eram os métodos educacionais, e se o edifício devesse ruir, o próprio alicerce teria que ser atacado. Como poder civil, o papado era periodicamente atacado por reis e príncipes ambiciosos; mas seu trono era tão firme que esses choques dificilmente perturbaram a serenidade da liderança papal. A espada dos muçulmanos foi quebrada em Tours; e o Crescente, em vez de avançar por completo circundando o Mediterrâneo, diminuiu à medida que sua luz recuou para as costas da África e o oeste da Ásia. O Renascimento da Aprendizagem O que os turcos não conseguiram fazer com a força das armas, fizeram de outra maneira. Em 1453, Constantinopla caiu nas mãos do califa, mas isso não afetou a força da hierarquia papal. Mas quando os turcos chegaram à Grécia, a arte e a literatura gregas fugiram para a Itália. Aqui está o ataque ao papado que veio do leste. Painter diz: "O renascimento da aprendizagem clássica, que teve seu ponto central na queda de Constantinopla em 1453, exerceu uma influência favorável. Abriu os tesouros literários da Grécia e de Roma, proporcionou uma nova cultura para a mente, despertou a insatisfação com o ensino escolar da igreja e tendeu a emancipar o pensamento da sujeição à autoridade eclesiástica."[1] A tomada de Constantinopla contribuiu ainda mais para apressar a Reforma. Veneza havia controlado o comércio do Mediterrâneo oriental, mas a supremacia turca nessas águas transferiu esse poder para sua rival, Gênova, do outro lado da Itália; e deste último centro começou a busca por uma passagem ocidental para as Índias Orientais que levou à descoberta acidental da América. Clássicos Gregos Além disso, "o reavivamento do saber tinha uma relação tão íntima com a Reforma e com o progresso educacional daquela época, que se faz necessário atentar para alguns detalhes. Ele teve sua origem na Itália. [...] Ávidos eruditos da Inglaterra, França e Alemanha sentaram-se aos pés de mestres italianos, a fim de levarem depois para além dos Alpes a semente preciosa da nova cultura."[2] No entanto, essa cultura grega, ou novo saber, não era nada mais nada menos do que um renascimento do estudo do paganismo grego. Apesar desse fato, uma vida e entusiasmo acompanharam esse estudo atraindo estudantes das universidades papais e levando os homens a viajar centenas de quilômetros para se sentarem aos pés dos mestres dos clássicos gregos. Essa foi a tentativa de reforma do papado feita pela literatura clássica. Seus resultados não podem deixar de nos interessar. Painter diz ainda: "O renascimento das letras produziu resultados diferentes em diferentes países. Em todos os lugares, contribuiu para a emancipação da mente humana, mas na Itália tendeu fortemente a paganizar seus adeptos." Tenha em mente que os clássicos estavam tentando reformar o papado. Aqui estava o resultado na Itália. Sem dúvida, as escolas italianas precisavam de reforma, pois as palavras de Lutero ao descrever as escolas alemãs são aplicáveis a todas as instituições papais. Ele afirma o seguinte sobre elas: "O que eles aprenderam nas universidades e conventos, senão a se tornarem pessoas tapadas? Um homem chega a estudar 20, 40 anos e não aprende latim nem alemão." Mas por mais que reformas fossem necessárias, os clássicos gregos "na Itália tenderam fortemente a paganizar seus adeptos". Portanto, não podemos esperar que os clássicos viessem a cristianizar os papistas italianos. O Grego nas Escolas Alemãs Mas, enquanto "na Itália o novo saber se tornou um ministro da infidelidade, na Alemanha [tornou-se um ministro] da religião". Por que essa diferença? A obra de Erasmo, Lutero e Melâncton, ao introduzirem o estudo das Escrituras em grego e hebraico nas escolas alemãs, responderá o porquê. Os italianos estudaram os clássicos gregos por causa do pensamento e paganizaram seus adeptos; os alemães estudaram o Novo Testamento grego, traduzindo-o para a língua materna, e ele se tornou uma das maiores ajudas na difusão da Reforma do século 16. Isso é o suficiente sobre a tentativa de reforma pelos clássicos gregos. Eles desempenharam sua parte, mas não puderam derrubar o papado; e por que deveríamos esperar isso quando a educação papal foi, em primeiro lugar, construída sobre os mesmos clássicos e a filosofia dos escritores gregos? O Papado e a Educação Árabe Agora nos voltamos para o ataque do sul ao sistema papal. Este também foi um ataque educacional. Já vimos as escolas árabes na Espanha. Antes do século 11, a juventude cristã frequentava essas escolas, levando através dos Pirineus a ciência dos mouros. O papado vacilou diante desse ataque e, para diminuir sua força, as ciências dos árabes foram adotadas nas universidades papais. Isso, como já vimos, foi feito na medicina e na matemática. Mas novamente a forma foi mantida sem a vida. A França, por causa de seu ciúme com relação aos médicos judeus, por influência da Universidade de Paris, baniu todo judeu de suas fronteiras. Um ataque científico não poderia derrubar o papado. A Ciência e a Des coberta da América No entanto, os mouros prosseguiram calmamente nas suas descobertas científicas; e quando a queda de Constantinopla fechou a rota oriental para o Oceano Índico, e Gênova quis uma rota ocidental, a Espanha estava preparada para oferecer aos marinheiros os mapas necessários, bússolas e outros instrumentos marítimos. Seus estudos astronômicos, mapas celestes e medições dos graus na superfície da Terra incentivaram viagens tanto para o sul como para o oeste, em contradição direta com as teorias das geografias patrísticas. Quando Colombo pediu ajuda à corte espanhola para preparar os navios para a travessia do Atlântico, é estranho notar que a esposa do rei da Espanha, que tirou dos mouros as chaves de entrada em Granada e expulsou os árabes e seu saber da Europa, foi a mesma mulher que prometeu suas joias a este homem -- um homem que, dependendo da investigação científica árabe, descobriu um mundo onde essas mesmas verdades poderiam ser plantadas e amadurecer livres da tirania papal. Eu digo que isso foi mais do que uma coincidência. A mão de Deus estava nisso; e, como diz D'Aubigné: "Ele prepara lentamente e de longe aquilo que pretende realizar. Ele tem eras nas quais operar." A Ciência e a Reforma Embora o conhecimento científico não pudesse derrubar o papado, ele teve seu papel a desempenhar junto com os clássicos. Quando os homens estavam espiritualmente mortos e a Palavra de Deus oculta, as mentes foram libertadas da escravidão papal pelo trabalho do cientista e do estudante clássico. Mas lembre-se que os clássicos somente ajudaram pelo fato de proporcionarem a entrada das Escrituras; e a ciência somente ajudou abrindo a mente do povo para a recepção das verdades da Palavra de Deus. Poderosas forças estavam em ação: a própria terra deveria ser movida, e o ponto de apoio sobre o qual repousava a alavanca pela qual deveria ser girada em sua órbita era o trono de Deus, e a Palavra do Eterno era a força motriz. Homens, fracos em si mesmos, mas decididos em propósito, foram os instrumentos nas mãos de Deus para cumprir uma tarefa que os séculos haviam esperado e os principados e potestades nos lugares celestiais haviam ansiado ver. A Reforma e a Educação A Reforma não foi uma obra de um ano, nem de um homem, mesmo na Alemanha. Foi o trabalho gradual de um sistema de educação, e esse sistema era o mesmo que havia sido anteriormente dado a Israel, conforme havia sido exemplificado e ampliado na vida de Cristo, e estava na época da Reforma para ser revelado, pouco a pouco, à medida que a mente humana, há muito obscurecida pela opressão, fosse capaz de compreendê-la. Precursores da Reforma Agrícola, conhecido como o pai do humanismo alemão, foi um dos primeiros reformadores, e sua atitude como professor e suas expressões a respeito da educação comprovam o fato de que a Reforma começou nas instituições educacionais. Esse homem foi por um tempo "aluno de Thomas Kempis; ele passou vários anos na universidade de Louvain; posteriormente, ele estudou em Paris e depois na Itália ", de modo que ele estava bem familiarizado com as instituições da época. Ele se tornou professor em Heidelberg. Aos 41 anos começou a estudar hebraico para ler a Bíblia hebraica. As Ideias de Johannes Agricola sobre a Escola Foi solicitado que ele assumisse uma escola em Antuérpia, mas ele recusou, manifestando sua opinião sobre a escola neste conselho enviado às autoridades: "É necessário ter o maior cuidado na escolha de um diretor para a escola de vocês. Não levem em consideração um teólogo nem um suposto retórico, que pensa ser capaz de falar de tudo sem compreender nada de eloquência. Essas pessoas exercem o mesmo papel, de acordo com o provérbio grego, que um cachorro exerce numa banheira. É preciso procurar um homem parecido com a fênix de Aquiles; ou seja, alguém que sabe ensinar, falar e agir ao mesmo tempo. Se vocês conhecem tal homem, contratem-no a qualquer preço; pois o assunto envolve o futuro de seus filhos, cuja tenra juventude recebe com a mesma facilidade a impressão de bons e maus exemplos." Ele Reconhece Erros do Sistema Papal Suas ideias a respeito dos métodos eram tão claras quanto as expressas sobre o assunto das escolas e o caráter do professor. Era evidente sua capacidade de ver além de seu tempo; tendo o espírito de um profeta, pode verdadeiramente ser classificado como um dos precursores da Reforma. Em outra carta ele escreve: "Quem deseja estudar com sucesso deve exercitar- se nestas três coisas: obter visões claras de um assunto; fixar na memória o que compreendeu; e produzir algo com seus próprios recursos." Cada uma das três coisas especificadas desfere um golpe certeiro nos métodos empregados nas escolas papais, tão necessários para a estabilidade daquela hierarquia. Este foi o início da Reforma testemunhada na educação. Pensamento Versus Mera Forma Mais uma citação da carta de Agrícola enfatiza o pensamento de que as escolas estavam, na época, sendo conduzidas num ambiente em que a forma árida e o trabalho de memória abstrato estavam dando lugar ao pensamento -- pensamento original. "É necessário", diz ele, "exercitar-se na composição; quando não produzimos nada, o que aprendemos permanece morto. O conhecimento que adquirimos deve ser como a semente lançada na terra, germinando e dando frutos."[3] Reuchlin Aconselha o Ensino da Bíblia Reuchlin, um dos professores de Melâncton, reconheceu o melhor meio de conquistar os oponentes para abraçarem a verdade. Ele disse: "A melhor maneira de converter os israelitas seria estabelecer dois professores de hebraico em cada universidade que fossem capazes de ensinar os teólogos a ler a Bíblia em hebraico e assim refutar os doutores judeus." O fato de que tal posição expôs Reuchlin à violenta oposição dos monges e mestres papais mostra que ele corretamente previu como obter a cura da opressão papal; e o fato de ele recomendar que a Bíblia fosse colocada nas universidades para estudo dos teólogos sinalizava que uma reforma se aproximava. Há uma fenda nas nuvens, e em breve o sol aparecerá. Mas "os homens amaram mais as trevas do que a luz". Por quê? Erasmo Erasmo, reconhecido por todos como reformador, fez seu trabalho publicando o Novo Testamento em grego. "O trabalho foi realizado no interesse de um cristianismo mais puro." Reuchlin e Erasmo "É meu desejo", disse ele, "levar de volta essa disputa fria sobre as palavras, chamada teologia, à sua verdadeira fonte. Queira Deus que esta obra dê tantos frutos para o cristianismo quanto me custou trabalho e aplicação." Aqui temos um golpe direto ao estudo da dialética nas universidades. As disputas sem sentido que constituíam o curso de teologia deveriam, segundo Erasmo, ser substituídas pela palavra viva de Deus. A Reforma estava se aproximando e o papado estremeceu com essa perspectiva. Gradualmente, o Espírito estava voltando, e isso é visto cada vez mais à medida que passarmos a considerar a vida de Lutero. A estrada havia sido desobstruída pelos precursores já mencionados. O Protestantismo Promove a Educação "Os princípios fundamentais do protestantismo são favoráveis à educação", diz Painter. "Tendo como guias as Escrituras e sua consciência, todo homem é elevado à liberdade e à dignidade de ordenar sua própria vida religiosa. O sentimento de responsabilidade individual é despertado e o espírito de investigação incentivado. A inteligência se torna uma necessidade. A Bíblia deve ser estudada; professores devem ser providenciados; escolas devem ser estabelecidas. O protestantismo se torna a mãe da educação popular."[4] De novo o mesmo autor diz: "[O cristianismo] não afasta o homem das vocações e relações comuns da vida; faz dele um mordomo de Deus no mundo, e exalta seu trabalho diário no lar, na sala de aula, na oficina, na fazenda ao nível de um serviço divino. A visão protestante restaura a natureza, como objeto de investigação, a seus direitos. Todo o círculo de conhecimento -- tudo o que é edificante, tudo o que prepara para uma vida útil -- é considerado honrado. As escolas primárias e secundárias são incentivadas; os melhores métodos de instrução, baseados no estudo da natureza do homem e não nos interesses da igreja, são buscados. O protestantismo é amigo da aprendizagem universal." Um erudito francês diz: "A Reforma tomou sobre si a obrigação de colocar todos em condição de salvarem a si mesmos lendo e estudando a Bíblia. A instrução tornou-se então o primeiro dos deveres da caridade; e todos os que tinham responsabilidade por almas, desde o pai de família ao soberano do Estado, foram chamados [...] a favorecer a educação popular."[5] Lutero, o Professor Não é de admirar, então, que muito do tempo e ambição de Lutero tenham sido gastos na causa da educação. Painter diz: "As necessidades da Reforma deram a Lutero um intenso interesse pela educação. As escolas da época, já inadequadas em número e defeituosas no método, foram prejudicadas durante os primeiros estágios da Reforma pela condição agitada e instável da sociedade. Uma nova geração estava crescendo sem educação. O estabelecimento de escolas tornou-se uma medida necessária para o sucesso a continuidade da Reforma. O apelo de retorno à Palavra de Deus havia sido feito, e era necessário ensinar as massas a lê-la. Pregadores e professores eram necessários para a promulgação e defesa do evangelho. [...] Já em 1524, Lutero fez um veemente e extraordinário apelo às autoridades das cidades alemãs para o estabelecimento de escolas. Se considerarmos seu caráter pioneiro, em conexão com sua declaração de princípios e recomendações admiráveis, seu pronunciamento deve ser considerado o tratado educacional mais importante já escrito."[6] Deus o havia treinado para sua posição. O Apelo de Lutero para o Estabelecimento de Escolas Aqui estão as palavras do reformador. Julguem por si mesmos se elas não deveriam expressar o sentimento de todo verdadeiro protestante hoje! D'Aubigné diz: "Ele escreveu às assembleias de todas as cidades da Alemanha, conclamando-as a fundar escolas cristãs." Disse Lutero: "Prezados senhores. Anualmente gastamos tanto dinheiro em arcabuzes, estradas e diques; por que não deveríamos gastar um pouco para providenciar um ou dois professores a nossos pobres filhos? Deus está à porta e bate; seremos bem-aventurados se a abrirmos para Ele! Agora a Palavra de Deus é abundante. Ó meus queridos alemães, comprem, comprem, enquanto o mercado está aberto diante de suas casas. A Palavra de Deus e Sua graça são como chuva que cai e passa. Ela esteve entre os judeus; mas passou, e agora eles não a têm mais. Paulo a levou para a Grécia; mas também nesse país ela já passou, e os turcos agora reinam lá. Veio para Roma e o império latino; mas lá também já passou, e Roma agora tem o papa. Ó alemães, não esperem ter esta Palavra para sempre. O desprezo demonstrado por ela irá afastá-la. Por essa razão, quem deseja possuí-la, tome posse dela e guarde-a." "Ocupem-se com as crianças; pois muitos pais são como avestruzes: são insensíveis para com os filhos e, satisfeitos por terem posto o ovo, não se importam com ele depois. [...] A verdadeira riqueza de uma cidade, sua segurança e sua força, reside em ter muitos cidadãos eruditos, sérios, dignos e bem-educados. E a quem devemos culpar pelos poucos que existem no momento, exceto os magistrados de vocês que têm permitido que a juventude cresça como árvores na floresta?"[7] D'Aubigné diz com razão: "Não foi apenas o culto público que a Reforma foi convocada a mudar. A escola foi logo colocada ao lado da igreja, e essas duas grandes instituições, tão poderosas para regenerar as nações, foram igualmente reanimadas por ela. Foi por uma estreita aliança com o saber que a Reforma entrou no mundo; na hora de seu triunfo não esqueceu seu aliado."[8] Lutero "sentiu que para fortalecer a Reforma era necessário realizar uma obra com os jovens, melhorar as escolas e propagar por toda a cristandade o conhecimento necessário para um estudo profundo das Sagradas Escrituras. Este foi um dos resultados."[9] As Escolas Fortalecem a Igreja Painter, descrevendo o trabalho educacional do grande Reformador, diz: "Com Lutero, a educação não era um fim em si mesma, mas um meio para um serviço mais eficaz na igreja e no Estado. Se as pessoas ou governantes negligenciam a educação dos jovens, eles causam um dano à igreja e ao Estado; tornam-se inimigos de Deus e do homem; avançam a causa de Satanás e trazem sobre si a maldição do Céu. Este é o pensamento principal que fundamenta todos os escritos de Lutero sobre educação."[10] As Escolas Não Devidamente Valorizadas Lutero expressa um resumo de seus pontos de vista nestas palavras: "O homem comum pensa que tem a obrigação para com Deus e o mundo de mandar seu filho para a escola. Todos pensam que são livres para criarem seus filhos como quiserem, não importa o que aconteça com a Palavra e a ordem de Deus. Sim, até mesmo nossos governantes agem como se estivessem isentos do mandato divino. Ninguém pensa que Deus zelosamente desejou e ordenou que as crianças fossem criadas para o Seu louvor e obra -- algo que não pode ser feito sem escolas. Pelo contrário, todos correm com seus filhos em busca de ganhos mundanos."[11] As palavras de Lutero ecoando ao longo dos séculos devem ser repetidas por todos os verdadeiros protestantes de hoje. Onde estão os homens com a coragem de reformadores educacionais? Os Planos Educacionais de Lutero "Lutero não se preocupava apenas com a educação do clero. Era seu desejo que o conhecimento não se confinasse à igreja; ele propôs estendê-lo aos leigos, que até então haviam sido privados dele. [...] Ele emancipou a instrução das mãos dos sacerdotes, que a haviam monopolizado, como os do Egito nos tempos antigos, e a colocou ao alcance de todos."[12] Lutero compreendeu com maravilhosa clareza o verdadeiro significado da educação cristã, e é difícil encontrar algo dela que ele tenha deixado intocado. Os Métodos de Lutero: um Modelo Dittes declara: "Se examinarmos a pedagogia de Lutero em toda a sua extensão, e a imaginarmos plenamente realizada na prática, que quadro esplêndido as escolas e a educação do século 16 apresentariam! Devemos ter cursos, livros, professores, métodos, princípios, procedimentos disciplinares, escolas e regulamentos escolares que possam servir de modelo para nossa época." Conceitos de Lutero sobre os Professores O reformador escreve: "De onde viriam pregadores, advogados e médicos se as artes liberais não fossem ensinadas? Desta fonte todos devem vir. Digo que ninguém pode jamais remunerar a contento o professor dedicado e piedoso que educa com fidelidade. [...] No entanto, as pessoas desprezam vergonhosamente esse chamado entre nós, como se não fosse nada, e ao mesmo tempo pretendem ser cristãos! Se eu fosse obrigado a deixar de pregar e outras obrigações, não há cargo que preferiria ter do que o de professor; pois sei que esta obra é, com a pregação, a mais útil, a maior e a melhor; e não sei qual dos dois é o preferido. Pois é difícil fazer com que cães velhos se tornem dóceis, e velhacos, piedosos; mas este é o trabalho com que o ministério se ocupa, em grande parte, em vão; mas as árvores novas, embora algumas possam quebrar, são dobradas e treinadas com mais facilidade. Portanto, que uma das maiores virtudes da Terra seja educar com fidelidade os filhos de outros que negligenciam essa tarefa."[13] A Alemanha Despertada Escolas Estabelecidas na Alemanha A Alemanha foi despertada. "Em 1525 ele foi comissionado pelo Duque de Mansfield para estabelecer duas escolas em sua cidade natal, [...] uma para a educação primária e outra para a secundária." Não eram dirigidas à maneira das escolas papais, diferindo apenas no fato de o professor ser protestante. "Tanto no programa de estudos como nos métodos de ensino, essas escolas tornaram-se modelos a partir dos quais muitas outras foram moldadas. [...] Em poucos anos, a parte protestante da Alemanha recebeu escolas. Elas ainda tinham defeitos, [...] mas, ao mesmo tempo, eram muito superiores a qualquer outra que as havia precedido. Embora nenhum sistema completo de instrução popular tenha sido estabelecido, o fundamento para ele foi lançado. Para esse grande resultado, Lutero contribuiu mais do que qualquer outro homem de seu tempo; e esse fato o torna o principal reformador educacional do século 16."[14] Sem Transigência As mudanças operadas por Lutero não foram meras mudanças superficiais e formais. Como movimento religioso, a Reforma deu um golpe mortal no papado; como movimento educacional, ela foi diametralmente contrária aos métodos estabelecidos de educação popular. Significou uma mudança nos cursos, uma concepção diferente de graduação, uma mudança nos livros didáticos, nos métodos de ensino, nos métodos de estudo e no caráter dos professores. O Estudo da Natureza Valorizado Ele foi talvez o primeiro dos reformadores a reconhecer o valor do estudo da natureza. Ele disse uma vez: "Estamos no alvorecer de uma nova era; pois estamos começando a recuperar o conhecimento do mundo externo que perdemos desde a queda de Adão. Erasmo é indiferente a isso; ele não se importa em saber como a fruta se desenvolve a partir da semente. Mas, pela graça de Deus, já reconhecemos na flor mais delicada as maravilhas da bondade divina e da onipotência de Deus. Vemos em Suas criaturas o poder de Sua palavra. Ele ordenou, e a coisa permaneceu firme. Veja essa força se manifestar no caroço de um pêssego. Ele é muito duro e a semente contida nele é muito macia; mas, quando chega o momento, o caroço deve se abrir para deixar sair a jovem planta que Deus chama à vida."[15] À primeira vista, pode parecer estranho que o homem ousado e valente que despertou o mundo com suas teses pregadas na porta da igreja tenha um caráter ao qual a gentileza da natureza fez um apelo tão forte. Mas Lutero foi um verdadeiro pregador na mesma medida em que foi um professor. Que maravilha o fato de que seu trabalho foi duradouro! Chega perto da obra à qual seu Mestre, Jesus, dedicou toda a Sua vida -- o Instrutor enviado por Deus. Melâncton, Companheiro de Lutero na Educação Antes de levar a obra de Lutero adiante, é necessário apresentar um novo personagem, que, ao que parece, nasceu no momento em que suas qualidades mentais especiais eram mais necessárias, e foi preparado pelo Céu para estar ao lado de Lutero como auxílio e conforto na terrível tempestade pela qual ele teria que passar. Refiro-me a Melâncton. Deus o escolheu como professor e lhe concedeu, em um grau extraordinário, o dom do Espírito. Alguns trechos de D'Aubigné mostrarão com clareza como ele foi guiado pelos caminhos da Reforma, para se tornar um dos maiores trabalhadores dessa causa. Ele nasceu em 1497; portanto, quando Lutero começou seu trabalho em 1517, Melâncton era um jovem de 20 anos. "Ele foi notável pela excelência de sua compreensão e sua facilidade em aprender e explicar o que havia aprendido." "Melâncton, aos 12 anos, foi para a Universidade de Heidelberg [...] e concluiu seu bacharelado aos 14 anos." "Em 1512, Reuchlin [o reformador mencionado em uma página anterior] o convidou para ir a Tubinga. [...] As Sagradas Escrituras atraíram especialmente sua atenção. [...] Rejeitando os sistemas vazios dos escolásticos, ele aderiu à palavra clara do evangelho."[16] Erasmo escreveu: "Eu nutro as expectativas mais distintas e esplêndidas a respeito de Melâncton. Que Deus permita que este jovem permaneça vivo por muito tempo depois de nós. Erasmo ficará completamente ofuscado diante dele." Melâncton Começa a Ensinar "Em 1514 foi nomeado doutor em filosofia e depois começou a lecionar. Ele tinha 17 anos. A graça e o encanto com que revestia suas aulas contrastavam de forma muito notável com o método insípido que os doutores, e acima de tudo os monges, haviam seguido até então." Melâncton vai para Wittemberg Frederico recorreu a Erasmo e Reuchlin em busca de um instrutor para a Universidade de Wittemberg. Melâncton foi recomendado. Ao chegar à universidade, ele não causou a mais favorável impressão em Lutero e outros professores, "quando viram sua juventude, sua timidez e modos acanhados". Após seu discurso de abertura, no entanto, Lutero e outros se tornaram seus admiradores fervorosos. Lutero escreveu: "Não peço nenhum outro mestre de grego. Mas temo que seu corpo delicado não seja capaz de suportar nosso estilo de vida e que não possamos mantê- lo por muito tempo devido à pequenez de seu salário." O espírito do cristianismo e da educação cristã havia atraído duas almas, e o sucesso da obra daquele tempo em diante dependia em grande parte dessa união. Diz D'Aubigné: "Melâncton foi capaz de responder ao afeto de Lutero. Ele logo encontrou nele uma bondade de disposição, uma força de espírito, uma coragem, uma discrição que ele nunca tinha encontrado até então em qualquer pessoa. [...] Toda admiração é pouca quando vemos como Deus, em Sua bondade e sabedoria, uniu duas pessoas tão diferentes e ainda assim tão necessárias uma à outra. Lutero possuía calor, vigor e força; Melâncton, clareza, discrição e brandura. Lutero deu energia a Melâncton; Melâncton moderou Lutero. Eles eram como substâncias em um estado de eletricidade positiva e negativa, que agem de forma recíproca uma sobre a outra. Se Lutero não tivesse Melâncton, talvez a torrente tivesse transbordado suas margens; Melâncton, quando Lutero foi tirado dele pela morte, hesitou e cedeu, mesmo onde não deveria ter se rendido." Se você questionar por que me detenho assim na vida e no caráter de Melâncton, eu respondo: porque dessa união de duas almas fluiu a grande reforma educacional do século 16. Os dois fizeram o que nenhum deles poderia ter feito sozinho; e o estudo da vida deles por si só revela o segredo do sucesso da educação cristã atual. Melâncton Revoluciona Wittemberg Foi um dia notável para Wittemberg quando Melâncton chegou. "A esterilidade que a escolástica lançara sobre a educação estava no fim. Uma nova maneira de ensinar e estudar começou com Melâncton. 'Graças a ele', diz um ilustre historiador alemão, 'Wittemberg tornou-se a escola da nação.'" Queda na Educação Papal "O zelo dos professores [Lutero e Melâncton] logo foi comunicado aos discípulos. Foi decidido reformar o método de instrução. Com o consentimento do eleitor [Frederico], certos cursos que possuíam importância meramente escolástica foram suprimidos; e ao mesmo tempo o estudo dos clássicos recebeu novo impulso. [Lembre-se, no entanto, de que esse estudo dos clássicos correspondia ao estudo das Escrituras gregas e hebraicas.] A escola em Wittemberg foi transformada e o contraste com outras universidades tornou-se cada dia mais notável."[17] Resultado das Mudanças Os resultados dessas mudanças não foram menos maravilhosos do que as próprias mudanças. O último autor citado diz: "[Wittemberg] floresceu cada vez mais a cada dia e estava eclipsando todas as outras escolas. Uma multidão de estudantes vinha de todas as partes da Alemanha para ouvir esse homem extraordinário, cujo ensino parecia abrir uma nova era na religião e no ensino. Esses jovens, vindos de todas as províncias, paravam assim que avistavam as torres de Wittemberg à distância; levantavam as mãos ao céu e louvavam a Deus por ter feito resplandecer a luz da verdade naquela cidade, como em Sião nos tempos antigos, e de onde se espalhava até mesmo aos países mais distantes Vida e energia, até então desconhecidas, animavam a universidade." Tal escola não reunia uma classe de alunos descuidados nos hábitos e apáticos no estudo; pois a alimentação, como antes observado, era escassa e não havia grande exibição externa. Aqueles que compareciam vinham em busca da verdade; e quando a alma deles se enchia de alimento espiritual, voltavam para seus lares, "até mesmo aos países mais distantes", para divulgar as verdades da educação cristã. O próprio Lutero escreveu: "Nossos alunos aqui estão tão ocupados quanto formigas." Dois mil estudantes de todas as partes da Europa lotavam a sala de aula de Melâncton. A Visão de Melâncton sobre a Educação A vida e a obra desses dois vigorosos personagens em Wittemberg não podem ser medidas por nenhum padrão terreno. Melâncton disse: "Eu me dedico apenas a uma coisa, a defesa das letras. Por nosso exemplo, devemos estimular os jovens à admiração do saber e induzi- los a amá-lo por si mesmo, e não pela vantagem que dele possam usufruir. A destruição da conhecimento traz consigo a ruína de tudo que é bom -- religião, moral e todas as coisas humanas e divinas. Quanto melhor um homem, maior seu ardor na preservação do saber; pois ele sabe que, de todas as pragas, a ignorância é a mais perniciosa." "Negligenciar os jovens em nossas escolas é como tirar a primavera do ano. Os que permitem o declínio das escolas tiram, de fato, a primavera do ano, porque a religião não pode ser mantida sem elas. " Livros Didáticos Preparados por Melâncton Lutero havia declarado que uma reforma nos métodos e programas de estudo era necessária. Melâncton ajudou nessa obra. Ele fez ainda mais. O fato de terem rompido com o sistema educacional das universidades do mundo, e terem fundamentado a instrução na Palavra de Deus, exigiu a preparação de novos livros didáticos. Melâncton aplicou-se com grande diligência a esse dever. Era um estudioso árduo, muitas vezes levantando- se às três da manhã, e muitas de suas obras foram escritas entre essa hora e o amanhecer. Além das gramáticas grega e latina, é autor de obras sobre lógica, retórica, física e ética. "Essas obras, escritas de forma clara e científica, logo se popularizaram, e algumas delas mantiveram seu lugar nas escolas por mais de cem anos." O estudo de teologia havia sido degradado na busca de argumentos sutis e controvérsias inúteis. Melâncton escreveu uma obra sobre teologia dogmática, publicando-a em 1521. Sobre essa obra, Lutero escreveu: "Quem deseja se tornar um teólogo agora goza de grandes vantagens; pois, em primeiro lugar, tem a Bíblia, que é tão clara que pode ser lida sem dificuldade. Então que ele leia em adição os Loci Communes de Melâncton [...]. Se ele tiver essas duas coisas, é um teólogo de quem nem o diabo nem os hereges podem tirar nada." Escolas Preparatórias A vida de Melâncton não foi devotada apenas à educação dos alunos que pudessem frequentar Wittemberg, tampouco suas mudanças no sistema educacional foram aplicáveis apenas às escolas superiores e universidades. Stump diz: "Em meio a todas as distrações e ansiedades desse período, Melâncton direcionou firmemente seus esforços para o avanço da educação e a construção de boas escolas cristãs. Durante um período de muitos anos, ele encontrou tempo, apesar de seus vários outros compromissos, para dar instrução elementar a vários jovens que viviam com ele em sua própria casa. Fez isso por causa da lamentável falta de escolas preparatórias adequadas. Ele não perdeu nenhuma oportunidade, no entanto, de suprir essa falta, sempre que achou possível." "Na primavera de 1525, com a ajuda de Lutero, ele reorganizou as escolas de Eisleben e Magdeburg. Foi para Nuremberg e ajudou na criação de um ginásio [Ensino Médio] naquela cidade; e na primavera seguinte voltou a Nuremberg e abriu formalmente a escola. Ele fez um discurso em latim, no qual discorreu sobre a importância da educação e o crédito que os idealizadores desse empreendimento mereciam. Ele declarou que [...] 'a causa da verdadeira educação é a causa de Deus.'"[18] Tanto escolas paroquiais quanto escolas superiores, que ofereciam instrução para alunos que se preparavam para as universidades, foram organizadas por Melâncton. Mudanças Receberam Ferrenha Oposição Esse trabalho não teve permissão para prosseguir sem alguns ataques severos dos escolásticos e representantes da educação papal. Para ilustrar o fato, temos as palavras de D'Aubigné: "As escolas, que durante cinco séculos haviam dominado a cristandade, longe de ceder ao primeiro golpe do reformador [Lutero], ergueram-se com altivez para esmagar o homem que ousou derramar sobre elas a torrente de seu desprezo." "O doutor Eck, o célebre professor de Ingolstadt, [...] era um doutor das escolas e não da Bíblia; bem versado nos escritos escolásticos, mas não na Palavra de Deus [...] Eck representava os escolásticos." "Eck era um adversário muito mais formidável que Tetzel [o vendedor de indulgências], Prierio ou Hochstraten; quanto mais seu trabalho superava o deles em erudição e sutileza, mais perigoso era."[19] Assim, os inimigos mais ferrenhos de Lutero foram aqueles que uma vez foram seus amigos calorosos, e aqueles que ofereceram a mais forte oposição ao seu trabalho foram os professores nas universidades da Alemanha. Lutero às vezes era quase dominado pelo desânimo pela ingratidão demonstrada, e a respeito do Dr. Eck ele escreveu uma vez: "Se eu não conhecesse os pensamentos de Satanás, ficaria espantado com a fúria que levou este homem a romper uma amizade tão doce e tão recente, e isso, ademais, sem me avisar, sem me escrever, sem dizer uma única palavra." O Plano Escolar da Saxônia Foi para enfrentar a oposição oferecida pelos escolásticos e para firmar a Reforma em bases sólidas que Lutero e Melâncton formularam o plano escolar da Saxônia e reorganizaram as escolas alemãs. Stump diz: "No ano de 1527, Melâncton participou com Lutero na visita às escolas e igrejas da Saxônia. Já era hora de dar esse passo. Os negócios estavam em péssimas condições. Em muitos lugares, nenhuma instrução religiosa era dada, porque não havia pastores e professores no local, ou aqueles que estavam lá eram completamente ignorantes. A maior desordem imaginável reinava em quase toda parte. [...] A situação financeira de muitas das igrejas era igualmente ruim. [...] O objetivo da visita era pôr ordem nesse caos. Melâncton foi encarregado de começar na Turíngia. A angústia espiritual que descobriu quebrou seu coração, e frequentemente se afastava e chorava pelo que via." "Em 1528, Melâncton elaborou 'o plano escolar da Saxônia', que serviu de base para a organização de muitas escolas em toda a Alemanha." Reformas Defendidas por Esse Plano De acordo com esse plano, os professores deveriam evitar "sobrecarregar as crianças com uma multiplicidade de estudos que não eram apenas infrutíferos, mas até prejudiciais". Além disso, "O professor não deve sobrecarregar as crianças com muitos livros" e "é necessário que as crianças sejam divididas em turmas". "Recomendam-se três classes, ou séries", e as disciplinas ministradas devem ser adaptadas à idade e condição do aluno. Assim, evitem muitos estudos para crianças e jovens; não coloquem muitos livros em suas mãos; agrupem-nos de acordo com a capacidade deles. Esse "plano" parece resistir ao sistema de saturação mental tão universalmente seguido hoje, quase que com o mesmo vigor com que se opôs às escolas papais do século 16. Resultados, se os Planos de Lutero Tivessem Sido Cumpridos Uma grande obra foi iniciada -- uma revolução que afetaria os tempos que se seguiram. No breve espaço da vida de um homem, planos foram traçados, especialmente no trabalho educacional, que, se concretizados por seus sucessores, teriam colocado a Alemanha em posição de governar o mundo. Em vez de retornar à cova de onde havia sido escavada, suas escolas e universidades poderiam ter sido modelos dignos de imitação em toda a Europa e na América. Lutero morreu, e Melâncton, seu colaborador, não pôde levar avante a obra. Teólogos, pastores, ministros, em cujas mãos a obra da Reforma caiu por direito, em vez de multiplicar as escolas cristãs e levar à perfeição os métodos de instrução introduzidos por Lutero e Melâncton, negligenciaram a maior obra da época e, devido a lutas e disputas teológicas, perderam a batalha duramente conquistada. As sementes da verdade haviam sido plantadas no republicanismo e no protestantismo, e essas duas instituições deveriam ter sido mantidas na Alemanha. Só a educação -- a educação cristã -- poderia mantê-los ali. Isso foi negligenciado; e como filhos perdidos, os dois foram de mãos dadas para a Holanda, para a Inglaterra e, finalmente, para a América, em busca de uma mãe adotiva - um sistema puro de educação. O espírito e a vida, tão manifestos no ensino dos grandes reformadores, passaram adiante, deixando a Europa com a forma. Uma casa vazia, varrida e enfeitada não permanece por muito tempo. A forma foi ocupada pelo espírito do papado, e a Europa recaiu em uma posição da qual ela só poderá ser recuperada por uma renovação dos planos dos reformadores do século 16 - um sistema de educação cristã. Notas: 1. History of Education, p. 119. 2. Ibid., p. 121. 3. History of Education, p. 125-128. 4. History of Education, p. 138. 5. Ibid., p. 139, 140. 6. History of Education, p. 142, 143. 7. Ibid. 8. History of the Reformation, livro 10, cap. 9. 9. Ibid. 10. History of Education, p. 143. 11. Ibid. 12. D'Aubigné, livro 10, cap. 9. 13. Citado em History of Education, p. 145. 14. History of Education, p. 149. 15. Ibid., p. 135. 16. History of the Reformation, livro 4, cap. 3. 17. History of Reformation, livro 4, cap. 3. 18. Life of Melancthon, p. 81. 19. History of the Reformation, livro 3, cap. 9. Capítulo 13 A Reação após a Reforma Educacional Efeitos Generalizados da Reforma O evento mais importante da história do mundo, com exceção do nascimento do Redentor, foi a Reforma do século 16. Grandes movimentos religiosos ocorreram antes e depois, mas foram eclipsados pelo brilho e resultados de longo alcance deste. Mais pessoas foram alcançadas, mais vidas revolucionadas do que pelas forças combinadas de todas as mudanças nos círculos civis e domésticos desde aquela época. O fato é que, quando as causas das mudanças políticas no mundo moderno são consideradas, deve ser reconhecido por todo pensador sincero que essas mudanças são devidas de uma forma ou de outra à atitude assumida pelas pessoas preocupadas com a Reforma que foi posta em movimento pelo monge de Wittemberg. Cristo havia sido esquecido e voltou ao mundo nos dias de Lutero. Algumas citações de Ranke mostram até que ponto a Reforma se estendeu no breve espaço de 40 anos; e visto que estamos lidando com as causas dessa rápida disseminação, é gratificante ver que esse autor dá, de uma maneira muito natural, o devido crédito à influência das escolas. Duas coisas, então, devem ser observadas ao ler essas seleções: primeiro, a extensão do território coberto pelos princípios protestantes; segundo, o papel desempenhado por escolas e professores na conversão das nações. Trata-se do ano de 1563. "Nos reinos escandinavos, eles [os protestantes] se estabeleceram de forma mais inexpugnável, porque ali sua introdução coincidiu com o estabelecimento de novas dinastias e a remodelação de todas as instituições políticas. Desde o início foram saudados com alegria, como se houvesse em sua natureza uma afinidade primitiva com os sentimentos nacionais." "No ano de 1552, os últimos representantes do catolicismo na Islândia sucumbiram." "Na costa sul, também, do Báltico o luteranismo alcançou total predominância, pelo menos entre a população de língua alemã." Na Polônia foi dito: "Um nobre polonês não está sujeito ao rei; deve ele ser ao papa?" Na Hungria, "Fernando I nunca poderia forçar a dieta [assembleia legislativa] a quaisquer resoluções desfavoráveis ao protestantismo". "O protestantismo não apenas reinou supremo no norte da Alemanha, onde se originou, e nos distritos da alta Alemanha onde sempre se manteve, mas seu domínio foi estendido muito mais amplamente em todas as direções." "Em Wurzburgo e Bamberg, de longe, a maior parte da nobreza e dos funcionários episcopais, os magistrados e os burgueses das cidades, pelo menos a maioria deles, e o grosso da população rural passaram para o partido reformador." Na Baviera, "a grande maioria da nobreza havia adotado a doutrina protestante, e uma parte considerável das cidades estava decididamente inclinada a ela". "Muito mais do que isso, entretanto, havia sido feito na Áustria. A nobreza daquele país estudava em Wittemberg; todas os faculdades da nação estavam repletas de protestantes." Não nos surpreendemos, portanto, ao ler que: "Dizia-se que, possivelmente, não mais do que a 30ª parte da população permaneceu católica: passo a passo, uma constituição nacional se desdobrou, formada sobre os princípios do protestantismo." "Em Rauris e Gastein, em St. Veit, Tamsweg e Radstadt, os habitantes exigiram em voz alta a taça sacramental, e sendo-lhes recusada [a fim de obrigá-los a permanecer católicos], pararam completamente de frequentar o sacramento. Também retiraram seus filhos das escolas [católicas]." "A nobreza renana desde cedo abraçou o protestantismo. [...] Em todas as cidades já existia um partido protestante. [...] Os habitantes de Mainz, também, não hesitaram em enviar seus filhos para escolas protestantes. Em suma, de oeste a leste, e de norte a sul, em toda a Alemanha, o protestantismo teve, sem dúvida, a preeminência." Realizado pela Educação "As noções protestantes estenderam suas energias vivificantes aos cantos mais remotos e esquecidos da Europa. Que domínio imenso elas conquistaram no espaço de 40 anos! Da Islândia aos Pireneus, da Finlândia às alturas dos Alpes italianos. Mesmo além das últimas montanhas, opiniões análogas haviam outrora, como sabemos, prevalecido. O protestantismo abrangeu toda a extensão da igreja latina. Ele havia conquistado a vasta maioria das classes mais altas e das mentes que participavam da vida pública; nações inteiras se apegaram a ele com entusiasmo, e Estados foram remodelados por ele. Isso é o que mais merece nossa admiração, visto que o protestantismo não foi de forma alguma uma mera antítese, uma negação do papado ou uma emancipação do seu domínio; foi, no mais alto grau positivo, uma renovação de noções e princípios cristãos que influenciam a vida humana até os mais profundos mistérios da alma."[1] Observe novamente que isso foi devido às ideias educacionais propagadas pelos protestantes, e a razão pela qual o papado estava perdendo com tanta rapidez sua posição é porque ainda não tinha aprendido que esta Reforma, que começou nas escolas, e foi levada adiante pelas escolas cristãs, devia ser derrotada nas escolas e pelos professores. Por 40 anos os protestantes tiveram o direito de passagem na educação, e os resultados foram estupendos. Uma Obra de 40 Anos A Vitória das Escolas Protestantes em Todos os Lugares Ranke diz: "As opiniões protestantes triunfaram nas universidades e estabelecimentos de ensino. Aqueles velhos campeões do catolicismo [os professores] que haviam resistido a Lutero estavam mortos, ou em idade avançada. Os jovens capazes de suprir seus lugares ainda não haviam surgido. Vinte anos se passaram em Viena desde que um único aluno da universidade recebera a ordenação sacerdotal. Mesmo em Ingolstadt, preeminentemente católica, nenhum candidato competente da faculdade de teologia se apresentou para ocupar os lugares que até então haviam sempre sido ocupados por eclesiásticos. A cidade de Colônia fundou uma escola mantida por doações; mas quando todas as providências para isso foram feitas, descobriu-se que o diretor era protestante. O cardeal Otto Truchess estabeleceu uma nova universidade em sua cidade, Dilligen, com o propósito expresso de resistir ao progresso do protestantismo. A reputação dessa instituição foi mantida por alguns anos por alguns teólogos espanhóis ilustres; mas assim que estes a deixaram, nem um único erudito pôde ser encontrado em toda a Alemanha para assumir a posição deles, e mesmo essas vagas foram igualmente preenchidas por protestantes. Por volta desse período, os professores na Alemanha eram todos, quase sem exceção, Protestantes. Toda a nova geração que estava surgindo sentou-se aos pés deles e absorveu o ódio pelo papa com os primeiros rudimentos do saber."[2] Sucesso da Reforma Graças às Escolas A ênfase não é colocada em seu ódio ao papa, mas no fato de que a nova geração sentou-se aos pés de professores protestantes em toda a Alemanha; que os pais recusavam enviar seus filhos às escolas papais, embora fosse necessário que deixassem o lar para serem educados; e, finalmente, que o papado estava morrendo e o protestantismo estava se espalhando por meio do trabalho das escolas. Quem dera essas escolas tivessem conservado sua pureza e simplicidade primitivas! Nenhum poder na terra poderia ter retardado o progresso do protestantismo e, em vez de apenas modificar a história de muitos países, ele acabaria varrendo da terra todas as formas de tirania, tanto civil quanto religiosa, pois respirava a liberdade do evangelho, e nenhuma opressão poderia resistir a ela. É tão impossível resistir à educação cristã pura quanto o é resistir a Cristo, cujo poder é sua vida e força. Educação pela fé Os Protestantes não Conseguiram Reconhecer a Força Dela É com uma pontada de dor que somos forçados a rastrear, nesse movimento, aquele capítulo, repetido com frequência, sobre história da humanidade. Assim como o líder de Israel teve permissão para ver a terra prometida do topo de Pisga, mas teve de deixar de lado sua armadura e dormir o sono da morte por causa de um afastamento dos princípios corretos, assim o protestantismo, por meio de suas escolas, olhou para o outro lado do Jordão, mas falhou em manter o princípio de fé que poderia, no momento crucial, ordenar que as águas se abrissem. A Educação pela Fé é Perdida Uma razão para o declínio é assim declarada por Painter: "Em seus esforços para dar à doutrina cristã uma forma científica [isto é, formulá-la], eles perderam o espírito dela. Perdendo sua primeira liberdade e vitalidade, o protestantismo degenerou em grande medida, tornando-se o que tem sido chamado de 'ortodoxia morta'. [...] A vida cristã contava pouco, e o mundo protestante se dividiu em facções opostas. Diz Kurtz, que se mostra disposto a se desculpar por este período tanto quanto possível: 'Assim como se deu com a escolástica medieval, em sua preocupação com a lógica, a teologia também quase perdeu a vitalidade. A ortodoxia degenerou em ortodoxismo; externamente, não apenas discernindo diversidades essenciais, mas desconsiderando a ampla base de uma fé comum e entrando em polêmica odiosa e desenfreada; internamente, apegando-se à forma da doutrina pura, mas negligenciando abraçá-la com cordialidade e viver de forma consistente com ela."[3] O Escolasticismo Matou as Escolas Protestantes Quão estreita é a linha entre a verdade e o erro! Como é fácil para aqueles que comeram da árvore da vida recorrerem à árvore do conhecimento do bem e do mal! Que pena que os educadores protestantes não puderam permanecer fiéis ao seu dever! Quando, às vésperas do sucesso, se voltaram para os velhos caminhos, e "deram origem a uma escolástica dialética que de forma alguma foi inferior àquela do período mais florescente da Idade Média".[4] Os princípios papais são papais, sejam defendidos por católicos ou protestantes; tendo deixado a fonte das águas puras da fé, eles se voltaram para a única outra fonte acessível de conhecimento -- o mundo pagão. O sistema de educação introduzido por Lutero e Melâncton, baseado nas Sagradas Escrituras, e por intermédio delas observando as ciências, matemática e literatura e as usando apenas como meio para ilustrar a Palavra de Deus, foi substituído pela escolástica da Idade Média. Surge a pergunta involuntária: "Quantas vezes, ó Israel, voltarás ao Egito?" A Forma Tomou o Lugar da Vida Esse declínio é descrito nas seguintes citações retiradas de Painter, que não precisam de comentários: "Durante o período que vai de meados do século 16 ao início do século 18, três tendências principais são evidentes na educação. Estas podem ser caracterizadas como teológica, humanística e prática. [...] Uma grande parte da força intelectual da época foi voltada para a teologia. Cada fase da verdade religiosa, particularmente em seus aspectos doutrinários e especulativos, foi posta sob investigação. A teologia foi elevada à condição de ciência, e os sistemas doutrinários foram desenvolvidos com precisão lógica e estendidos a sutilezas irrelevantes."[5] Nas investigações da Bíblia, eles coavam para encontrar mosquitos, enquanto engoliam o camelo. A vida foi perdida no púlpito e nas escolas de teologia. Instaurou-se novamente o ensino de "doutrinas que são preceitos de homens" (Mt 15:9). Retorno Adicional aos Métodos Papais Painter diz ainda: "As escolas, que estão em estreita relação com a religião, foram naturalmente 'influenciadas em grande medida pelas tendências teológicas da época. Os interesses teológicos impunham às escolas uma estreita gama de assuntos, um método mecânico de instrução e uma disciplina cruel. O princípio da autoridade, exigindo uma submissão cega do aluno, prevalecia nas escolas de todos os graus. Os jovens eram considerados não como plantas tenras a serem cuidadosamente nutridas e desenvolvidas, mas como animais indomados a serem reprimidos ou subjugados."[6] Observe o surgimento das mesmas características da educação papal mencionadas com tanta frequência até agora: (1) estreita gama de assuntos; (2) instrução mecânica -- trabalho de memória desprovido de compreensão; (3) governo arbitrário, como visto na questão da disciplina. A isso devemos acrescentar aquilo que é o acompanhamento natural na instrução papal: o ensino do latim. Diz Painter, citando Dittes: "'Nas instituições superiores, e mesmo nas miseráveis escolas urbanas, o latim era o Moloque diante do qual incontáveis mentes deixavam suas oferendas em troca da bênção concedida a alguns. Um conhecimento morto das palavras substituiu um conhecimento vivo das coisas. Os livros escolares de latim suplantaram o livro da natureza, o livro da vida, o livro da humanidade. E nas escolas populares, a mente dos jovens era torturada por causa do livro de ortografia e do catecismo. O método de ensino era quase em toda parte, tanto nas escolas primárias como nas superiores, um exercício mecânico e obrigatório de fórmulas indecifráveis. Os alunos eram obrigados a aprender, mas não educados para ver e ouvir, pensar e provar, e não eram conduzidos a uma verdadeira independência e perfeição pessoal. Os professores tinham como missão o ensino do texto prescrito, não o desenvolvimento harmonioso do jovem de acordo com as leis da natureza -- um processo, além disso, que estava sob a proibição da ortodoxia eclesiástica.'"[7] O Sistema de Saturação e a Memorização É fato notável que houve um processo de saturação mental nos estudos semelhante ao sistema seguido por qualquer escola do século 20. "A disciplina correspondia ao conteúdo e ao espírito da instrução. [...] O princípio era adestrar os alunos, não educá-los. Deviam manter-se imóveis, para que os exercícios escolares não fossem perturbados. O que acontecia na mente do alunos e como suas variadas personalidades eram constituídas, os pedagogos doutrinadores não entendiam nem apreciavam." A Escola de Sturm: um Meio-termo A fim de avaliar a rapidez com que ocorreu a recaída do sistema educacional introduzido por Lutero para os princípios e métodos medievais, nossa atenção se dirige à escola de John Sturm. Esse homem, "considerado o maior educador que a Igreja Reformada produziu durante este período", morreu em 1589, menos de 70 anos após a Dieta de Worms; portanto, seu trabalho se enquadra dentro de meio século após aqueles 40 anos de prosperidade incomum para o protestantismo, conforme já observado. Seu trabalho é contemporâneo ao da primeira escola jesuíta da Alemanha. O declínio é visível em todas as características de sua obra. John Sturm presidiu por 40 anos o ginásio de Estrasburgo e se gabava de que sua instituição "reproduzia os melhores períodos de Atenas e Roma; e, de fato, ele conseguiu dar à sua cidade adotiva o nome de Nova Atenas". A escola de Sturm ficou a meio caminho entre as escolas cristãs e as escolas puramente papais dos jesuítas; contudo, considerando que a transigência sempre coloca uma pessoa ou instituição do lado errado, ao pesar o valor de sua escola, a balança necessariamente pende a favor do papado. O Programa de Estudos na Escola de Sturm Percebe-se no programa de estudos, conforme descrito por Painter, que se tratava de uma mistura da literatura clássica medieval com uma fina fatia das Escrituras ensanduichada para impressionar. A escola estava dividida em dez turmas cobrindo dez anos, mas chamaremos a atenção apenas para o necessário a fim de mostrar o caráter dos estudos: "Décima turma -- o alfabeto, leitura, escrita, declinações e conjugações latinas, catecismo alemão ou latino." "Nona turma -- continuação das declinações e conjugações latinas. Memorização de palavras latinas." A oitava e a sétima turmas são quase iguais. Na sexta, começava o grego. A quinta turma abrangia o seguinte: "estudo de palavras, [...] versificação, mitologia, Cícero e éclogas de Virgílio, vocabulário grego. [...] No sábado e no domingo, uma das epístolas de Paulo".[8] As quatro turmas restantes envolviam muito "aprendizado de cor", retórica, epístolas de Paulo, discursos de Demóstenes, a Ilíada da Odisseia; memorização e recitação da Epístola aos Romanos, dialética e continuação da retórica; Virgílio, Horácio, Homero, Tucídides, Salústio, entretenimentos teatrais semanais e, novamente, uma leitura das epístolas de Paulo. Tal curso de instrução foi adequado para preencher o abismo entre o papado e o protestantismo. Estava absorvendo talvez inconscientemente o espírito das novas escolas papais. "História, matemática, ciências naturais e a língua materna são ignoradas. Uma grande lacuna é deixada entre o ginásio e a vida -- uma lacuna que não poderia ser preenchida nem mesmo pela universidade. Com o objetivo de reproduzir a Grécia e Roma no meio da civilização cristã moderna, o esquema de Sturm envolve um vasto anacronismo."[9] A Influência da Escola de Sturm O ginásio de Estrasburgo chegou a ter vários milhares de alunos representando a Dinamarca, Polônia, Portugal, França e Inglaterra. "A influência de Sturm estendeu-se à Inglaterra e, a partir daí, à América." Um escritor inglês diz: "Ninguém familiarizado com a educação dada em nossas principais escolas clássicas, Eaton, Winchester e Westminster, 40 atrás, pode deixar de ver que o currículo delas foi estruturado em grande grau segundo o modelo de Sturm."[10] Todavia, admite-se que seu "sistema envolve um amplo anacronismo". As Escolas modernas Seguem Sturm Para mostrar que Sturm é o pai de boa parte da instrução agora ministrada em nossos colégios e universidades, Rosenkranz diz: "John Sturm, de Estrasburgo, muito antes de Comênio, lançou as bases do que se tornou o programa tradicional de instrução e métodos de estudo nas escolas clássicas para preparação para a faculdade."[11] Reação Vista na Disciplina O declínio na questão da instrução foi acompanhado por um retrocesso correspondente na moral dos estudantes universitários. Painter nos diz que "o estado da moral nas universidades dos séculos 16 e 17 era muito baixo. Ociosidade, embriaguez, desordem e licenciosidade prevaleciam em um grau sem paralelo. A prática do trote era universal, e os novos alunos eram submetidos a indignidades chocantes." O duque Albrecht, da universidade de Jena, escreveu em 1624: "'Costumes antes inéditos, indesculpáveis, irracionais e totalmente bárbaros passaram a existir.'" Em seguida, ele fala dos nomes insultuosos, dos jantares caros e das farras dos alunos, até que "pais em lugares distantes ou decidiam não mandar seus filhos para essa universidade, [...] ou os levava de volta para casa".[12] O protestantismo perdeu muito porque deixou de educar seus filhos. Se o protestantismo tivesse permanecido fiel a seus primeiros princípios de educação, sua queda teria sido impossível. Ele pavimentou o caminho para sua própria queda, afastando-se gradualmente do evangelho e inclinando-se cada vez mais para os clássicos e a escolástica. Inácio de Loyola Resolve o Problema Foi esse declínio da parte do protestantismo, causado pelo trabalho insidioso dos jesuítas, que tornou possível as grandes vitórias dessa ordem nos anos posteriores. Foi quando Roma viu sua juventude escorregar de suas mãos para as escolas protestantes e, como resultado, alguns anos mais tarde, encontrou nações inteiras recusando a obediência e construindo para si novas formas de governo, que, em sua angústia, ela agarrou a oferta feita por Loyola. E embora o poder que ele representava em sua organização se colocasse acima do papa, tornando-se, por assim dizer, um papado do papado, ela ainda assim aceitou a oferta, e o movimento de contrarreforma educacional começou. Os Jesuítas se organizaram para combater a reforma nas linhas educacionais. Ao falar dos Jesuítas, Painter diz: "Esta ordem, estabelecida por Inácio de Loyola [em 1534], teve como missão especial o combate à Reforma. Como o meio mais eficaz de deter o progresso do protestantismo, visava controlar a educação, especialmente entre os ricos e nobres. Em rivalidade com as escolas dos países protestantes, desenvolveu uma imensa atividade educacional e conquistou para suas escolas grande reputação." O mesmo escritor afirma ainda: "Mais do que qualquer outra agência, ela deteve o progresso da Reforma e até conseguiu reconquistar territórios já conquistados pelo protestantismo. Embora empregando o púlpito e o confessionário, trabalhou principalmente por meio de suas escolas, muitas das quais estabeleceu e controlava. A educação em todos os países católicos aos poucos passou às suas mãos." As Escolas Jesuítas Para entender a razão do sucesso dos jesuítas como professores, é necessário olhar para o plano de estudos elaborado em 1588 a partir de um rascunho do próprio Loyola. "Cada membro da ordem", diz Painter, "tornava-se um professor competente e prático. Ele recebia um curso completo de clássicos antigos, filosofia e teologia. Durante o progresso dos estudos posteriores, ele era obrigado a ensinar." As escolas jesuítas continham dois cursos: o inferior, correspondendo muito de perto ao trabalho de Sturm. Rosenkranz dá uma excelente descrição do sistema educacional dos Jesuítas. Ele diz: "No ensino, eles desenvolveram um mecanismo tão preciso que ganharam a reputação de ter regulamentos escolares modelo, e até mesmo os protestantes mandavam seus filhos para suas escolas. Desde o final do século 16 até o presente, eles têm fundamentado seus ensinamentos no Ratio et institutio studiorum Societatis Jesu de Claudio Acquaviva. Em seguida, deram destaque a dois programas de ensino, um superior e um inferior. O inferior só incluía um conhecimento externo da língua latina e algum conhecimento desarticulado da história da antiguidade e da mitologia. A memória era cultivada como um meio de manter em níveis baixos a livre atividade do pensamento e a clareza de julgamento. O curso superior compreendia dialética, retórica, física e moral. A dialética era exposta como a arte do engano. Na retórica, eles favoreciam o estilo polêmico e enfático dos pais africanos da igreja com sua belíssima fraseologia; na física, seguiam Aristóteles de perto e encorajavam especialmente a leitura dos livros De Generatione et Corruptione e De Coelo, sobre os quais comentavam à maneira deles; finalmente, na moral, o ceticismo casuístico era seu ponto central. Eles faziam uso extensivo da retórica, por conta de seus sermões, dando-lhe atenção cuidadosa. Enfatizavam a declamação e a introduziram em seus vistosos exames públicos por meio da apresentação de comédias escolares latinas, divertindo, assim, o público e predispondo-o ao consentimento, e, ao mesmo tempo, treinava inocentemente o aluno na arte da dissimulação ao assumir o papel de algum personagem fictício." "A conduta diplomática tornou-se necessária aos alunos dos jesuítas, tanto por sua rígida disciplina militar quanto por seu sistema de desconfiança mútua, espionagem e informação. A obediência implícita isentava os alunos de toda responsabilidade quanto à justificação moral de seus atos. Esse cumprimento exato de todos as ordens e a abstenção de qualquer crítica quanto aos princípios criaram uma indiferença moral; e a partir da necessidade de ter consideração pelas peculiaridades e caprichos do superior, de quem todos os demais dependiam, surgiu o serviço prestado somente sob vigilância. A frieza da desconfiança mútua surgiu da necessidade que cada um sentia de estar em guarda contra o outro, no caso de ser um mexeriqueiro. O resultado foi a hipocrisia mais deliberada e o prazer na intriga meramente pela intriga -- o veneno mais sutil da corrupção moral. O jesuitismo não tinha apenas interesse no lucro material, o qual, depois de corromper as almas, fazia parte de seu quinhão, mas também tinha interesse no processo educativo de corrupção. Com absoluta indiferença quanto à ideia de moralidade [...] ou da qualidade moral dos meios usados para atingir seu fim, regozijava-se com a eficácia do sigilo, do entendimento completo e calculista, bem como em enganar os crédulos por meio de sua linguagem moral graciosa e aparentemente escrupulosa."[13] Objetivo das Escolas Jesuítas Propagação do Catolicismo por meio de Escolas Esta é uma descrição desse papado do papado. Novamente eu digo: se o protestantismo tivesse permanecido fiel aos princípios, mesmo este sistema não poderia ter efetuado sua derrubada; mas visto que a verdade foi negligenciada pelas escolas protestantes, o sistema dos jesuítas com facilidade conquistou todos os países nos quais foi introduzido. "O sistema jesuíta de educação [...] tinha como objetivo fazer oposição à influência ativa do protestantismo na educação. Foi um sucesso notável, e durante um século [após 1584] quase todos os homens mais importantes da cristandade vieram de escolas jesuítas. Em 1710, eles tinham 612 faculdades, 157 escolas normais, 24 universidades e um imenso número de escolas preparatórias. Essas escolas deram grande ênfase à emulação [ou espírito competitivo]. Seus experimentos nesse princípio são tão extensos e prolongados que fornecem uma fase muito valiosa na história da pedagogia apenas nesse aspecto. Em matéria de supervisão, eles também são dignos de estudo. Eles tinham um sistema quíntuplo, cada subordinado sendo obediente ao seu superior. Além disso, existia um sistema completo de vigilância e fiscalização por parte dos professores e monitores dos alunos."[14] Métodos das Escolas Jesuítas Acerca do espírito competitivo, usado nas escolas dos Jesuítas, Painter nos fornece as seguintes reflexões: "Os jesuítas deram muita importância à emulação e, no seu desejo ávido de promovê-la, adotaram meios que não podiam deixar de despertar o ciúme e a inveja. Diz o Plano de Estudos: 'Aquele que sabe como esti- mular a emulação [competição] encontrou o auxiliar mais poderoso em seu ensino. Que o professor, então, aprecie muito este valioso auxílio e que estude para fazer o uso mais sábio dele. A emulação desperta e desenvolve todos os poderes do homem. Para manter a emulação, será necessário que cada aluno tenha um rival para controlar sua conduta e criticá-lo; também magistrados, inquiridores, censuradores e monitores devem ser nomeados entre os alunos. Nada será considerado mais honroso do que superar um colega, e nada mais desonroso do que ser superado. Os prêmios serão distribuídos aos melhores alunos com a maior solenidade possível. Fora da escola, o lugar de honra em todos os lugares será dado aos alunos mais ilustres.'"[15] Assim como o Colosso de Rodes se erguia bipartido sobre as águas gregas, as escolas jesuítas se posicionavam imponentes sobre o abismo da educação. Um pé estava na Grécia em meio a seus clássicos (pois "Aristóteles forneceu os principais livros didáticos"), o outro em solo cristão, tendo a forma de piedade; mas, como os semideuses da Grécia, não era humano nem divino. Os resultados do sistema educacional dos jesuítas estão bem resumidos em outro parágrafo de Painter: "O sistema jesuíta de educação, baseado não no estudo do homem, mas nos interesses da ordem, era necessariamente limitado. Buscava resultados pomposos para deslumbrar o mundo. Um desenvolvimento completo não significava nada. O princípio da autoridade, suprimindo toda liberdade e independência de pensamento, prevalecia do começo ao fim. O orgulho religioso e a intolerância eram estimulados. Enquanto nossos sentimentos mais vis eram altamente estimulados, o lado mais nobre de nossa natureza era totalmente negligenciado. O amor ao país, a fidelidade aos amigos, a nobreza de caráter, o entusiasmo por belos ideais eram suprimidos de maneira pérfida. Quanto ao resto, adotamos a linguagem de Quick: 'Os Jesuítas não pretendiam desenvolver todas as faculdades dos seus alunos, mas apenas as faculdades receptivas e reprodutivas. Quando o jovem tinha adquirido um domínio completo da língua latina para todos os fins; quando ele estava bem versado nas opiniões teológicas e filosóficas de seus mentores; quando era hábil na disputa e podia fazer uma exibição brilhante com os recursos de uma memória bem abastecida, havia alcançado os pontos mais altos para os quais os jesuítas procuravam conduzi-lo. Originalidade e independência de espírito, amor à verdade por si mesma, o poder de refletir e formar julgamentos corretos não eram meramente negligenciados, mas suprimidos no sistema dos jesuítas. Mas naquilo a que se propuseram realizar, foram grandemente bem-sucedidos, e seu sucesso contribuiu muito para garantir sua popularidade.'"[16] Pontosem que as Escolas Jesuítas são Dignas de Imitação Não se pode condenar sem reservas o sistema jesuítico de educação, pois todos os sistemas falsos contêm alguns pontos de verdade, e a força de todos esses sistemas reside em sua imitação íntima do verdadeiro. Portanto, podemos concordar com estas palavras: "Quaisquer que sejam seus defeitos como sistema de educação geral, ele era admiravelmente adequado aos propósitos jesuítas e, em alguns aspectos, incorporava princípios valiosos." "À medida que se acompanha o progresso do papado, por meio das escolas jesuítas, em um país e depois em outro, é de se admirar a constância e o autossacrifício daqueles que dedicaram a vida à ordem. Se os protestantes tivessem tido a metade da diligência em defender os princípios da educação cristã que os professores jesuítas tiveram em neutralizar a influência da Reforma, resultados muito diferentes seriam vistos hoje no mundo." Disseminação de Escolas Jesuítas Ao traçar o crescimento das escolas dos jesuítas, começamos com a Alemanha, o coração do movimento da Reforma, e seguimos com muito cuidado a história contada por Ranke: "O bispo Urbano conheceu Le Jay e ouviu dele, pela primeira vez, a respeito das faculdades que os jesuítas haviam fundado em várias universidades." Faculdade Jesuíta em Viena "Diante disso, o bispo aconselhou seu mestre imperial [Fernando I] a fundar uma faculdade semelhante em Viena, vendo o quanto a teologia católica na Alemanha estava em decadência. Fernando acolheu com entusiasmo a sugestão. Em uma carta que escreveu a Loyola sobre o assunto, ele declara sua convicção de que o único meio de defender a causa do declínio do catolicismo na Alemanha era dar à nova geração católicos eruditos e piedosos como professores." Podemos entender os motivos para essa decisão quando nos lembramos da declaração de que, por volta de 1563, foi dito que "vinte anos se passaram em Viena desde que um único aluno da universidade recebera a ordenação sacerdotal". "O arranjos prévios", diz Ranke, "foram feitos com tranquilidade. No ano de 1551, 13 jesuítas, entre eles o próprio Le Jay, chegaram a Viena, e Fernando, em primeira instância, lhes concedeu uma residência, capela e pensão, e pouco tempo depois foram incorporados à universidade e até mesmo receberam a incumbência de inspecioná-la." "Logo depois disso, eles passaram a ser considerados em Colônia", mas por algum tempo tiveram pouco sucesso. Em 1556, a escola mantida por doações, já mencionada antes e cujo diretor era protestante, "deu-lhes a oportunidade de obter uma base mais firme. Visto que havia um partido na cidade empenhado acima de tudo em manter o caráter católico da universidade, o conselho dado pelos patronos dos jesuítas de entregar o estabelecimento a essa ordem foi recebido com atenção." "No mesmo período, eles também ganharam uma base firme em Ingolstadt." "Desses três centros metropolitanos, os jesuítas se espalham então em todas as direções." Essas escolas eram, pelo menos algumas delas, centros de treinamento de professores católicos; pois Ranke fala de um certo homem na Hungria, de nome Olahus, dedicado na infância à igreja, o qual, "contemplando a decadência geral do catolicismo na Hungria, viu que a última esperança que lhe restava era manter seu domínio sobre as pessoas comuns, que ainda não haviam se desviado totalmente de seu governo. Para esse fim, no entanto, faltavam professores dos princípios católicos, e para formar estes, ele fundou uma faculdade jesuíta em Tyrnau no ano de 1561." "Dois conselheiros particulares do eleitor Daniel, de Mainz, [...] compreenderam igualmente que a admissão dos jesuítas era o único meio que prometia a recuperação da Universidade de Mainz. Apesar da oposição feita pelos cônegos e proprietários feudais, fundaram um colégio da ordem em Mainz, e uma escola preparatória em Aschaffenburg." Escola em Heidelberg Os jesuítas avançaram seguindo o curso ascendente do Reno. "Eles cobiçavam particularmente um assentamento em Espira, tanto porque [...] havia muitos homens ilustres [reunidos lá] sobre os quais poderiam exercer grande influência, e também porque queriam se posicionar perto da Universidade de Heidelberg, que naqueles dias gozava da mais alta reputação por causa de seus professores protestantes. Eles gradualmente cumpriram seu intento." É interessante notar como eles seguiram de perto as escolas protestantes, como se, como um parasita, lhes sugassem a vida. "A fim de trazer de volta ao seu propósito original a Universidade de Dillingen, que pertencia ao Cardeal Truchess, este resolveu demitir todos os professores que ainda ensinavam lá e entregar o estabelecimento inteiramente aos Jesuítas." Crescimento Rápido de Escolas Jesuítas Para mostrar a rapidez com que os jesuítas trabalharam, Ranke diz: "No ano de 1551 eles ainda não tinham nenhuma posição fixa na Alemanha;" "em 1556, eles haviam se estendido sobre a Baviera e o Tirol, a Francônia e a Suábia, uma grande parte da Renânia e a Áustria, e haviam penetrado na Hungria, na Boêmia e na Morávia." Fiel ao propósito da ordem, "seus trabalhos eram, acima de tudo, voltados para as universidades. Eles ambicionavam rivalizar com a fama dos protestantes." Escolas Preparatórias dos Jesuítas "Os jesuítas não mostraram menos assiduidade na condução de suas escolas latinas. Uma das máximas principais de Lainez era que as escolas elementares preparatórias deveriam ser fornecidas com bons professores, uma vez que as primeiras impressões exercem a maior influência sobre toda a vida futura do indivíduo." Os jesuítas estavam dispostos a dedicar a vida a essa fase da educação. "Verificou-se que os jovens aprendiam mais com eles em meio ano do que com os outros em dois anos; até mesmo os protestantes chamaram de volta seus filhos de escolas distantes e os colocaram sob os cuidados dos jesuítas." Com base nesta última frase, duas coisas devem ser observadas. Os protestantes haviam perdido de vista a importância da educação e suas escolas haviam se deteriorado enormemente, do contrário não teriam confiado seus filhos aos jesuítas. Embora os jesuítas começaram trabalhando nas universidades, "escolas para os pobres, modalidades de ensino adaptadas para crianças e catequização se seguiram". Reputação das Escolas Jesuítas "A instrução dos jesuítas foi transmitida inteiramente no espírito daquela devoção entusiástica que desde o início caracterizou de forma tão peculiar a sua ordem." Isso teve seu efeito, pois o trabalho sério e de todo o coração por parte do professor, mesmo que os métodos possam ser errados e o material falso, certamente terá um impacto na vida dos alunos. Vendo o trabalho dos professores jesuítas, alguém pode ficar inclinado a dizer: "Visto que vocês são tão dedicados, quem dera que estivessem do nosso lado!" E assim, "não demorou para que os filhos, que frequentavam as escolas dos jesuítas em Viena, fossem distinguidos por sua recusa resoluta em comer, nos dias de jejum, as carnes proibidas que seus pais comiam". Os Jesuítas Conquistaram a Alemanha por meio de Suas Escolas Os professores tinham mais peso com as crianças do que os próprios pais e se tornaram líderes dos membros mais velhos da família, de modo que "os sentimentos assim gerados nas escolas foram propagados por toda a população por meio da pregação e da confissão". Sobre os resultados finais na Alemanha, este é o relato de Ranke: "Eles ocuparam as cadeiras dos professores e encontraram alunos que se apegaram às suas doutrinas. Eles conquistaram os alemães em seu próprio solo, em sua própria casa, e arrancaram deles uma parte de sua terra natal."[17] Isso é o suficiente sobre a Alemanha e suas escolas jesuítas. Escolas Jesuítas na França A respeito da captura da França pelos jesuítas, não é necessário dizer muito. Ranke apresenta alguns parágrafos fortes, mostrando o trabalho da ordem como professores. Os protestantes da França cometeram um grande erro e desacreditaram sua causa, especialmente em Paris, pegando em armas em um momento de comoção, e Ranke diz: "Apoiado por esse estado de sentimento público, os jesuítas se estabeleceram na França. Eles começaram lá em uma escala um tanto pequena, sendo constrangidos a se contentar com faculdades que lhes foram abertas por alguns eclesiásticos. [...] Eles encontraram no início a mais obstinada resistência nas grandes cidades, especialmente em Paris, [...] mas finalmente forçaram seu caminho através de todos os obstáculos e alcançaram, no ano de 1564, o privilégio de ensinar. Lyon já os havia recebido. Quer tenha sido o resultado fruto de boa sorte ou de mérito, eles foram capazes de produzir alguns homens de talentos brilhantes dentre eles. [...] Em Lyon, especialmente, os huguenotes foram completamente derrotados, seus pregadores exilados, suas igrejas demolidas e seus livros queimados; enquanto, por outro lado, um esplêndido colégio foi erguido para os jesuítas em 1567. Eles também tiveram um professor ilustre, cuja exposição da Bíblia atraía multidões de jovens encantados e atentos. A partir dessas principais cidades, eles se espalham então pelo reino em todas as direções."[18] Por meio da influência adquirida como educadores, 3.800 cópias do Catecismo de Angier foram vendidas no espaço de oito anos somente em Paris. A França não se inclinou mais para o protestantismo. Ela havia sido recuperada pelas escolas jesuítas. Escolas Jesuítas na Inglaterra A respeito da obra na Inglaterra comentaremos mais, e nossa própria conexão com aquele reino [como norte-americanos] exige que um peso maior seja dado à história da educação na Inglaterra. Thompson diz: "Durante o reinado de Elizabeth, as autoridades papais renovaram seus esforços para pôr fim ao protestantismo na Inglaterra e enviaram mais jesuítas para esse fim." O que eles não puderam realizar por meio de intrigas e políticas civis, tinham mais certeza de obter por meio das escolas; daí Thompson diz: "Eles conseguiram uma coisa, que foi levar consigo vários jovens nobres ingleses, para serem educados pelos jesuítas em Flandres, a fim de prepará-los para traição contra seu próprio país -- repetindo com isso a experiência que Loyola fizera na Alemanha. [...] Os jesuítas se esforçaram para se tornar os educadores dos jovens ingleses como fizeram com os da Alemanha. [...] O papa, portanto, estabeleceu um colégio inglês em Roma, para educar jovens ingleses." Faculdade Inglesa em Roma Desta faculdade, Ranke nos diz ainda: "William Allen foi o primeiro a conceber a ideia de unir os jovens católicos ingleses que residiam na Europa continental para o prosseguimento de seus estudos e, principalmente com o apoio do papa Gregório, estabeleceu uma faculdade para eles em Douai. Isso, entretanto, não pareceu ao papa ser adequado para o propósito em vista. Ele desejava proporcionar àqueles fugitivos sob seus próprios olhos um refúgio mais tranquilo e menos perigoso do que aquele que poderia ser encontrado na conturbada Holanda; consequentemente, ele fundou um colégio inglês em Roma, e o entregou aos cuidados dos jesuítas. Ninguém era admitido nessa faculdade sem se comprometer, ao concluir seus estudos, a retornar à Inglaterra e pregar ali a fé da Igreja Romana."[19] Os Jesuítas como Professores na América A América foi colonizada quando o poder dos jesuítas estava no auge. Os professores que penetraram na Alemanha sem medo e se infiltraram secretamente na Inglaterra quando não era seguro serem identificados, seguiram de perto os caminhos da descoberta e da colonização. "No início do século 17 encontramos", diz Ranke, "a imponente estrutura da Igreja Católica na América do Sul totalmente desenvolvida. [...] Os Jesuítas ensinavam gramática e artes liberais, e um seminário teológico estava ligado ao colégio de San Ildefonso. Todos os ramos do estudo teológico eram ensinados nas universidades do México e Lima."[20] Os Jesuítas nos Estados Unidos Na América do Norte,a vigilância deles não foi menos acentuada. "Em 1611, missionários jesuítas chegaram e trabalharam com notável zelo e sucesso na conversão dos índios." Em Maryland, uma colônia católica desde o início, eles mantiveram controle ilimitado. Falando da época do Lord Baltimore, Thompson diz: "Naquela época, na Inglaterra, os papistas estavam principalmente sob a influência dos jesuítas, cuja vigilância estava muito desperta para permitir que a oportunidade de implantar sua sociedade no Novo Mundo escapasse de suas mãos."[21] O trabalho deles foi feito em silêncio desde o início, e alguns pensam que por causa do decreto papal de 1773, suprimindo a ordem, eles cessaram suas atividades. Isso, entretanto, é um erro, pois "Gregório 16, cujo pontificado começou em 1831, foi o primeiro papa que parecia encorajado com a ideia de que o papado acabaria por se estabelecer nos Estados Unidos. Sua principal confiança, como meio de concretizar essa esperança, estava nos jesuítas, em cuja devoção total aos princípios do absolutismo ele podia confiar com segurança."[22] Mas os jesuítas sempre realizam sua obra em grande parte por meio da educação; portanto, podemos esperar que usem as mesmas táticas em nosso país que se mostraram tão grandemente bem-sucedidas em sua causa na Inglaterra e na Alemanha. O Objetivo das Escolas Jesuítas na América "O principal alvo dos jesuítas", como escreve Gressinger, "era conseguir o controle absoluto da educação, de modo que, colocando os jovens em suas mãos, pudessem moldá-los segundo seu próprio padrão". Tem sido o objetivo declarado dos jesuítas erradicar o protestantismo e, com isso, o republicanismo. Neste país, onde esses dois princípios foram proeminentemente notáveis, e unidos de forma tão íntima que tudo o que mata um mata o outro, é duplamente verdade que, ganhando o controle do sistema educacional, a ordem poderia operar, em favor do papado, a ruína total da América, tanto do ponto de vista religioso quanto civil. Desde os primórdios da nossa história houve dentro de nossas fronteiras, mesclando-se com nossos fiéis cidadãos, uma classe de educadores que cumprem esse princípio descrito por Thompson. "Os jovens católicos romanos estão proibidos pelo sistema papal de aceitar como verdadeiros os princípios da Declaração de Independência ou da Constituição dos Estados Unidos."[23] Leão XIII, que foi educado como jesuíta [Thompson], permanece fiel aos seus princípios. Seu biógrafo diz "que a 'falsa educação' e 'treinamento anticristão' dos jovens que prevalecem nos Estados Unidos e entre os povos liberais e progressistas do mundo devem ser eliminados, abandonados e 'Tomás de Aquino [um católico do século 13] deve mais uma vez ser entronizado como o 'anjo das escolas'; seus métodos e doutrinas devem ser a luz de todo ensino superior, pois suas obras são unicamente verdades reveladas apresentadas à mente humana em sua forma mais científica.'"[24] O Progresso dos Princípios Papais É desnecessário declarar o grande número de escolas estabelecidas por católicos nos Estados Unidos que foram colocadas sob o controle dos jesuítas; nem é necessário rastrear as tentativas que foram feitas pelo papado, em períodos irregulares de nossa história, para obter o controle de nosso sistema de escolas públicas. Os acontecimentos em Stillwater, Minnesota, e em Farabault, no mesmo estado, embora malsucedidos, foram cata-ventos mostrando a direção do vento -- foram provocações para testar o pulso do público, e mostram com toda certeza a política do papado em questões educacionais. De muito maior importância para nós, como protestantes, é o fato de que os princípios jesuíticos podem prevalecer, e de fato o fazem, em nosso sistema popular de educação, e esses princípios, sejam executados por jesuítas, ou pelo professor comum que não tem consciência da presente condição das escolas e do resultado dos métodos ali empregados, provocam a queda do protestantismo e do republicanismo. Nossa nação repudiou seus princípios fundamentais; nossas igrejas protestantes estão fazendo o mesmo? A história das instituições educacionais dos Estados Unidos, que serão discutidas nos próximos capítulos, mostrará como o plano de trabalho agora seguido em nossas universidades, faculdades e escolas de graus inferiores está sendo moldado de acordo com o padrão de Sturm, e como essas instituições estão retrocedendo para um tempo distante, ao ponto de unir o século 20 com a escolástica da Idade Média. É sem o menor sentimento de animosidade em relação aos jesuítas ou ao papado que esses fatos são rastreados. Ambos fazem por sua causa o que melhor servirá para edificá-la. Seus métodos, na medida em que alcançam o objetivo desejado, devem ser elogiados e seu zelo sempre admirado. Uma Questão Educacional para os Protes tantes O único problema que cabe aos protestantes resolver é se devem aceitar a educação jesuítica papal e, assim, tornar-se papal, formando "uma imagem à besta" -- para usar a linguagem do Apocalipse --, ou se vão seguir os princípios da educação cristã e permanecer fieis ao nome protestante. O leitor pode até esquecer os nomes, mas deve lembrar-se de que existem apenas dois princípios no mundo, quando se leva em conta o padrão da verdade eterna: um exalta a Cristo e dá vida eterna; o outro exalta o homem, e sua vida é somente para este mundo. A educação de acordo com o segundo, em seus métodos, diminui, enfraquece e deprecia. Ele enfatiza o que não é importante e passa por alto a verdade sem nem mesmo vê-la de relance. Ele prepara a mente para o absolutismo tanto no governo quanto na religião. A educação de acordo com o primeiro princípio será baseada em métodos que desenvolvem, em cada particular, o ser humano. É uma educação mental, moral e física, e seu objetivo é educar de tal forma que, por fim, cada uma dessas três naturezas assuma a relação correta com as outras duas, e novamente, como no Monte da Transfiguração com o Filho de Deus, "a divindade interna brilhe para se encontrar com a divindade externa". Notas: 1. History of the Popes, tradução de Kelley, livro 5, p. 132-135. 2. Ibid., p. 134. 3. History of Education, p. 155. 4. Ibid. 5. History of Education, p. 154, 155. 6. Ibid. 7. Ibid., p. 156. 8. History of Education, p. 160. 9. Ibid., p. 162. 10. Ibid., p. 163. 11. Philosophy of Education, p. 267. 12. History of Education, p. 165, 166. 13. Philosophy of Education, p. 270. 14. Ibid., p. 171, 172. 15. History of Education, p. 171, 172. 16. Ibid., p. 172, 173. 17. History of the Popes, livro 5, p. 134, 137-139. 18. Ibid., p. 146. 19. History of the Popes, livro 5, p. 152. 20. Ibid., p. 252. 21. Papacy and Civil Power, p. 685. 22. Ibid. p. 98. 23. Footprints of the Jesuits, p. 419. 24. Ibid., p. 408. Capítulo 14 Os Estados Unidos da América e o Problema Educacional Protestantismo e republicanismo, nascidos da Reforma, alimentados por escolas. Como que erguidos do seio das profundezas pela poderosa mão de Deus, os Estados Unidos da América se levantaram para receber os princípios da liberdade religiosa e civil nascidos da Reforma em solo alemão. Ao governo alemão foi oferecida pela primeira vez a oportunidade de desenvolver ao máximo o movimento de reforma. Esse desenvolvimento pleno e completo significaria liberdade religiosa para todos e um governo do povo -- protestantismo e republicanismo. Esses dois sistemas andam de mãos dadas e estão em ligação mais íntima do que quaisquer outros princípios existentes. A morte de um significa a morte do outro, pois o mesmo sangue alimenta a ambos. A Alemanha começou bem. Houve príncipes que possuíam mente e governo liberais os quais aceitaram a nova religião e apoiaram os reformadores durante toda a sua carreira agitada por tempestades. Deus levantou esses homens para aquele tempo e lugar, tão certo quanto chamou Nabucodonosor ou designou uma obra para Ciro. O protestantismo havia fincado raízes firmes e, como já vimos, durante os primeiros 40 anos de sua existência, sua vitalidade era tão forte que os homens e as nações se curvavam diante dele. Os primeiros reformadores, especialmente Lutero e Melâncton, conectaram o movimento com a fonte da vida quando introduziram um sistema de educação cristã. E os capítulos anteriores deixam claro a verdade de que a vida de todo o movimento em seu duplo aspecto -- protestantismo e republicanismo -- dependia de um sistema educacional correto. Quando a massa de jovens alemães sentou-se aos pés de mestres alemães, e esses professores foram fiéis aos princípios da educação cristã, a influência romana diminuiu e sua própria vida foi ameaçada. Foi então que o próprio papado abordou o assunto da educação e, pelo trabalho dos jesuítas, conseguiu matar a Reforma na Alemanha -- na verdade, em toda a Europa. "Um dia de grande escuridão intelectual mostrou-se favorável ao sucesso do papado. Ainda será demonstrado que um dia de grande luz intelectual é igualmente favorável para o seu êxito." Protestantismo Morto por Escolas Jesuítas Os jesuítas plantaram escolas próprias à sombra das escolas protestantes; eles entraram nas escolas protestantes como professores; eles sugaram o sangue vital da criança, que desbotou e morreu. Os princípios da Reforma encontraram corações honestos na Holanda. Os holandeses abordaram a questão da educação; mas os jesuítas estavam novamente no encalço e, como diz Ranke, "eles pouco a pouco levaram a cabo seu intento". A Reforma cruzou o Canal da Mancha, para encontrar os corações dos ingleses que ansiavam por maior liberdade. O lolardismo, iniciado por Wycliffe 200 anos antes, renasceu no coração dos puritanos, até que, no reinado de Henrique VIII, mais da metade da população inglesa era protestante. Finalmente, a Comunidade Britânica das Nações [The Commonwealth] foi estabelecida. A Inglaterra Perde Sua Oportunidade de Ouro À Inglaterra foi oferecida a oportunidade de mostrar ao mundo os frutos perfeitos da Reforma em sua religião protestante e um governo republicano. Mas, infelizmente, a história se repete! A juventude inglesa caiu nas mãos de jesuítas. Um colégio inglês foi fundado em Roma, e professores, ministros e colportores voltaram à sua terra natal com o propósito declarado de seus educadores, os jesuítas, de derrubar a Reforma. E a Inglaterra caiu! Essas palavras familiares da pena de Lutero, que aparecem em sua carta pedindo ajuda para o estabelecimento de escolas protestantes, ecoam também pela Inglaterra: A Palavra de Deus e Sua graça são como chuva que cai e passa. Ela esteve entre os judeus; mas passou, e agora eles não a têm mais. Paulo a levou para a Grécia; mas também nesse país ela já passou, e os turcos reinam lá agora. Veio para Roma e o império latino; mas lá também já passou, e Roma agora tem o papa. Ó alemães, não esperem ter esta Palavra para sempre." Se este homem de Deus tivesse saído de seu túmulo um século depois e olhado sobre sua amada Alemanha, e sobre a Inglaterra, ele teria acrescentado esses nomes aos dos países onde a Palavra de Deus e Sua graça estiveram, mas passaram. Será que o nome da América deve ser adicionado à lista acima? Que os protestantes sejam despertados antes que seja tarde demais! O Êxodo Puritano Ao descobrir que a Inglaterra havia fechado suas portas para o progresso, os puritanos buscaram maior liberdade na Holanda. Ficaram desapontados, pois não podiam educar seus filhos como o protestantismo lhes ensinava que deviam ser educados. Como peregrinos, procuraram um novo lar na América, encontrando um refúgio nas costas desoladas da Nova Inglaterra. O Protestantismo Atinge a América Agora é nosso dever rastrear o crescimento e declínio do protestantismo em nossa própria terra [Os Estados Unidos da América]. A prosperidade do protestantismo em todos os outros países foi proporcional à adesão dele aos princípios corretos de educação; seu declínio foi, sem exceção, o resultado de um sistema errado de educação. Como é nos Estados Unidos? Nenhum estudante de história, e especialmente de história profética, duvida por um momento sequer que o caminho foi divinamente preparado para o protestantismo cruzar o Atlântico, e é igualmente evidente que essa mesma Mão estava sustentando esses princípios depois que alcançaram essas costas. A Palavra de Deus falou com frequência ao coração humano, levando-o a elaborar planos, aprovar leis, estabelecer instituições e, de várias maneiras, trabalhar para que Suas verdades pudessem crescer aqui com uma perfeição que nunca alcançaram no Velho Mundo. Por outro lado, os ensinamentos que frustraram os princípios do protestantismo na Europa são vistos em ação na América desde a primeira colônia estabelecida até os dias atuais. Esse elemento gerador de força era a educação cristã; essa influência contrária era a educação falsa ou papal. Esses dois são o assunto deste capítulo. História da Educação dos Estados Unidos A história dos Estados Unidos está entrelaçada com a história da educação. Os fundadores dessa nação, especialmente das colônias da Nova Inglaterra, têm sua origem em um centro educacional na Inglaterra; e assim como a história inicial da Nova Inglaterra gira em torno de Harvard, os pais e defensores dessa instituição tiveram sua origem nos condados da Ânglia Oriental na Velha Inglaterra, onde a Universidade de Cambridge teve influência. "Dos primeiros 600 que desembarcaram em Massachusetts, dizem que um em cada 30 havia se formado na Cambridge inglesa. Esses e seus companheiros eram homens raros. Eles tiveram a escolaridade para um serviço cuja execução ocorreu com tanta integridade e bom senso que o mundo jamais viu igual."[1] "Com sabedoria incomparável eles uniram os pilares da liberdade e saber em uma aliança perpétua e sagrada, comprometendo-se a que o segundo abençoasse todas as crianças com a instrução, crianças estas que o primeiro investe com os direitos e deveres da cidadania. Eles tornaram a educação e a soberania coextensivas, tornando ambas universais."[2] John Fiske amplia esse pensamento. A "maior receptividade da Universidade de Cambridge, Inglaterra, em relação a novas ideias" é proverbial, e os próprios nomes, Lincolnshire, Norfolk, Suffolk e Essex, Cambridge e Huntingdon, familiares na geografia da Nova Inglaterra, contam uma história da educação protestante". Puritanos Radicais e Conservadores Por mais fortes que parecessem os puritanos ao denunciarem a Igreja de Roma e aderirem ao protestantismo, que, no início do século 17, mais do que nunca, significava separação da igreja estabelecida e das formas estabelecidas de governo, eles não estavam unidos em pensamento. Havia duas classes: os puritanos e uma subclasse deles representada por homens como Richard Hooker. Dos puritanos, diz Fiske: "Alguns teriam parado com o presbiterianismo, enquanto outros sustentavam que 'o novo presbítero era apenas um antigo padre com um nome maior', e assim avançavam rumo à independência."[3] Essa diferença de opinião sobre questões religiosas é perceptível quando representantes de ambas as classes, misturando-se na sociedade de Boston, começaram o trabalho educacional da América. Os que estavam inclinados a permanecer sob a bandeira do presbiterianismo insultavam os outros, conhecidos como brownistas ou separatistas, que seguiram William Brewster para a América, rotulando-os de anarquistas, simplesmente porque acreditavam em cumprir plenamente os princípios pelos quais todos estavam dispostos a lutar. Assim, desde o início, nossa obra educacional caiu nas mãos de duas classes de homens -- uma classe disposta a transigir a fim de manter a paz, e uma classe ousada e corajosa, que advogava avançar na verdade, independentemente do que pudesse acontecer. O Congregacionalismo e a Educação Havia um grande problema educacional diante da igreja. Os episcopais falharam em assumir essa obra na Inglaterra; e foi do meio deles que William Brewster, formado em Cambridge, John Robinson, que também se formou em Cambridge em 1600, e William Bradford, posteriormente governador de Plymouth por 30 anos, retiraram-se para formar o núcleo da Igreja Congregacional, que teve sua origem em Scrooby, Inglaterra, e chegou até Plymouth. O que o episcopalismo havia negligenciado na questão da educação na Inglaterra, agora se tornou o dever e o privilégio da nova igreja começar no solo virgem da América. A Teocracia da Nova Inglaterra O leitor está familiarizado com o fato de que os puritanos, deixando a Inglaterra por causa da opressão civil e religiosa, resultado de uma união entre igreja e Estado, vieram para a América em busca de liberdade e, ao contrário do que se poderia esperar, especialmente com um olhar superficial, eles aqui desenvolveram uma teocracia. "O objetivo de Winthrop e seus amigos ao vir para Massachusetts era a construção de um Estado teocrático que deveria ser para os cristãos [...] tudo o que a teocracia de Moisés, Josué e Samuel tinha sido para os judeus. [...] Em tal sistema, não havia espaço para a liberdade religiosa. [...] O Estado que eles iriam fundar consistiria em um corpo unido de crentes; a própria cidadania deveria ficar no mesmo patamar da filiação à igreja."[4] Teocracia e Educação O Trabalho Educacional Rompe a Teocracia É igualmente conhecido, entretanto, que essa forma teocrática logo foi quebrada; e embora os Estados Unidos estejam começando a se aproximar novamente desse modo de governo, é um fato notável, e bem digno de nossa mais atenta consideração, que a antiga teocracia da Nova Inglaterra foi quebrada pelo poder do sistema educacional ali introduzido. Quando isso for lido nas páginas que se seguem, que o leitor responda à pergunta: Será que tanto o repúdio dos princípios protestantes quanto o repúdio dos princípios do republicanismo pelos Estados Unidos no século 19 se devem ao sistema educacional atual? Tenha em mente essa pergunta à medida que prosseguirmos. A título de conveniência, a história educacional dos Estados Unidos pode ser estudada em três fases: (1) a colonial, (2) a revolucionária e (3) a do século 19.[5] A Fundação de Harvard 1. O período Colonial Visto que a Faculdade de Harvard, a Cambridge americana, "realizou", como diz Boone, "um trabalho muito necessário, com múltiplas reações benéficas sobre a sociedade e o governo, de modo que foi afirmado, com demonstração de verdade, que 'a fundação da Faculdade de Harvard apressou a Revolução meio século'",[6] nosso estudo das escolas do período colonial se concentrará nessa instituição. Pode-se afirmar com segurança que a história de Harvard, seus líderes e sua atitude variada em relação aos diferentes problemas coloniais lançam luz sobre o desenvolvimento da questão da educação na época em que foram firmados os fundamentos de nosso governo nacional. Quando Boston tinha apenas seis anos, os planos foram traçados para a primeira faculdade da América. "Entre os primeiros líderes educacionais", diz Boone, "estavam homens como o Rev. Thomas Shepherd, John Cotton e John Wilson Jr.; todos clérigos e todos com sólida formação acadêmica; Stoughton; Dudley, o vice-governador, e, acima de tudo, 'Winthrop, o governador, o guia e o mentor da colônia'. Esses eram os homens [...] da jovem colônia. [...] Aqui havia erudição e caráter; sabedoria das coisas seculares e refinamento de coração; cultura ampla e integral, tal como poderia por si só justificar a ousadia de seu empreendimento."[7] A instituição nasceu na pobreza, com 400 libras votadas pelo povo. O grande motivo que levou a esse esforço foi "um zelo ilimitado por uma educação que para eles parecia mais necessária do que desejável, para que 'a luz do saber não se apagasse, nem o estudo da Palavra de Deus perecesse'". O Alvo de Harvard era Treinar Ministros O objetivo da escola, como sustentado pelos fundadores, é bem descrito por um cidadão de Boston, que escreveu assim em 1643 para alguns de seus amigos: "Depois de construirmos nossas casas, fornecermos o necessário para nosso sustento, criarmos locais convenientes para o culto e estabelecermos o governo civil, uma das próximas coisas que almejamos e nos empenhamos foi promover o conhecimento e perpetuá-lo para a posteridade, temendo deixar um ministério iletrado para as igrejas, quando nossos ministros atuais jazessem no pó. E enquanto estávamos pensando e consultando como realizar essa grande obra, agradou a Deus despertar o coração de um certo Sr. Howard (um cavalheiro piedoso e amante do saber, que então vivia entre nós) para dar a metade de seus bens [...] para a construção de um faculdade e toda a sua biblioteca." Ao planejarem a fundação de uma faculdade, o pensamento principal daqueles nobres homens era como obter um ministério instruído. Esse objetivo foi perdido de vista. "É preciso lembrar", escreve Boone, "que por 60 anos a instituição foi pouco mais que uma escola de formação de ministros, administrada como um seminário teológico, tendo a religião, de tipo mais ou menos bem definida, como a base e o principal objetivo. No entanto, como disse o professor Emerson: 'é uma das coisas mais notáveis na história de Harvard que, em todas as constituições da escola, não há nada que restrinja a liberdade ou seja de natureza sectária; nada que controle a busca mais livre da verdade nas questões teológicas e em tudo o mais; e isso, também, ao mesmo tempo em os fundadores da faculdade possuíam uma ortodoxia severa e estrita, muitas vezes exclusivos em suas próprias opiniões, e ao mesmo tempo em que o objetivo deles era sem dúvida alguma prover a educação completa dos ministros do evangelho em pontos de vista semelhantes aos seus.'" "A própria ideia fundamental da instituição", diz Boone em outro parágrafo, "era a necessidade teológica." "Os presidentes e membros da corporação eram no geral os eruditos proeminentes, os teólogos e os líderes políticos da comunidade e da época. A faculdade naturalmente se tornou a arena na qual, ou em cujo interesse, eram travadas aquelas terríveis e estéreis batalhas sobre dogma e doutrina. Essas exigiam a melhor erudição, a intuição mais astuta e as mentes mais políticas da época -- e nada disso faltava." Isso talvez explique aquela declaração anterior de que a educação de ministros por Harvard teve, mais que qualquer outra coisa, a ver com a derrubada da teocracia estabelecida em Boston. Um Declarado Espírito de Democracia É interessante, também, notar o espírito de democracia que esta instituição fomentou. Ao falar sobre a arrecadação de fundos para a construção do prédio, Boone diz: "A colônia se apropriou do entusiasmo dele [Sr. Harvard], [...] e todos fizeram algo, até os indigentes. Um contribuiu com várias ovelhas; outro, com nove xelins em tecido; um, com um jarro de estanho de dez xelins; outros, com uma fruteira, uma colher de açúcar, uma jarra com ponta de prata, etc. [...] Nenhuma posição, nenhuma classe de homens deixou de ser representada. A escola era do povo."[8] Ela "foi alimentada pela democracia" e, por sua vez, alimentou a democracia. Certamente o Espírito de Deus estava apelando aos homens para que estruturassem sua principal instituição educacional de tal forma que os princípios da Reforma fossem perpetuados. O Primeiro Programa de Estudo em Harvard O programa de estudos para esta escola de ministros, conforme descrito por Emerson, era notavelmente isento de sectarismo e liberal em pensamento. "A Bíblia era sistematicamente estudada durante os três anos inteiros, de maneira específica Esdras, Daniel e o Novo Testamento. Um ano era dedicado à doutrina catequética."9 Os alunos eram obrigados a assistir ao culto duas vezes ao dia, quando as Escrituras eram lidas em hebraico ou grego, e pedia-se então que traduzissem o trecho. A história recebia alguma atenção, mas as ciências eram praticamente desconhecidas e "toda a literatura profana era excluída". Por meio de tudo isso pode-se discernir o esforço de educar para a causa de Cristo. Com esse início, o que poderia ter sido realizado se o plano, com a verdade não adulterada, tivesse sido seguido! O trabalho realizado nos anos posteriores pelas escolas, sob a direção do Estado, é apenas uma indicação do amplo campo que se estendia a Harvard e instituições semelhantes, caso a igreja tivesse permanecido em seu território como educadora de seus próprios filhos. O Declínio de Harvard Indicações dos Princípios Papais Desde a própria fundação de Harvard podem ser vistos indícios de que havia ao lado desses princípios da educação cristã um pouco de ensino medieval, que, a menos que fosse descoberto e banido, agiria como fermento, permeando todo o pão. Por exemplo, quando a faculdade tinha menos de 20 anos, encontramos este anúncio com o seguinte requisito de admissão: "Quando qualquer acadêmico for capaz de ler Cícero ou qualquer outro autor clássico em latim, sem preparo prévio, e produzir e falar o verdadeiro latim em verso e prosa e definir perfeitamente os paradigmas de substantivos e verbos na língua grega, então poderá ser admitido na Faculdade. Ninguém poderá solicitar admissão antes dessas qualificações." Isso, é claro, seguia o padrão das universidades europeias, e o sistema deles era papal. Esta foi a Harvard dos tempos coloniais. À medida que entramos no período revolucionário, podemos encontrar mudanças como resultado dos princípios corretos e incorretos abrigados. Estaria Harvard, com todas as suas maravilhosas instalações, treinando tantos para o serviço evangélico hoje quanto antes? Yale, a segunda escola congregacional, seguiu de perto os planos e objetivos de Harvard. Educação na Virgínia Monárquica William e Mary, a segunda faculdade dos Estados Unidos, foi fundada em circunstâncias diferentes. Nasceu no meio da riqueza e foi favorecida por cavaleiros e cortesões. "As raízes", diz Boone, "estavam profundas no grande sistema eclesiástico inglês", e ainda assim o objetivo declarado era "que o colégio, quando estabelecido, fosse um 'seminário para a formação de bons ministros.'" Apesar das boas intenções, misturou ensinamentos escolásticos, pois seguia "a ordem dos estudos clássicos de Oxford: o abstrato como fundamento do concreto, tudo pela disciplina e as línguas antigas antes das modernas." Jefferson se formou nessa escola, e mais tarde será visto como esse homem, cuja mente compreendia tão claramente os princípios da liberdade religiosa, se esforçou para romper com essa mistura na educação e defendeu uma educação decididamente laica nas escolas que eram mantidas pelo Estado, evitando assim em tais instituições a mistura de formação secular e religiosa. Até agora, vemos a escola episcopal, William e Mary, profundamente enraizada no sistema eclesiástico inglês e incapaz de receber os princípios de educação da Reforma pura e simples. As duas escolas congregacionais, Harvard e Yale, aproximaram-se mais do ideal protestante, mas sendo incapazes de quebrar totalmente o vínculo da escolástica, deram grande ênfase no trabalho preparatório nos clássicos. Problemas Educacionais nos Tempos Coloniais Alguns dos problemas educacionais com os quais nossos pais coloniais tiveram que lutar foram 'responsabilidade dos pais, a perversidade geral da indolência, a função educativa do trabalho, a relação do Estado com as necessidades individuais, emprego e escolaridade obrigatórios, o domínio estatal sobre a vida das crianças" e, acima de tudo e incluindo tudo, a relação que a igreja mantinha com as escolas, até que ponto a educação secular poderia ser oferecida nas escolas cristãs e até que ponto a igreja poderia pedir ajuda do Estado na condução das escolas religiosas. Eram questões de peso sobre as quais dependia, e ainda depende, o destino de uma nação. Nenhuma linha divisória nítida pode ser traçada entre os períodos colonial e revolucionário. A obra iniciada no período colonial preparou os homens para desempenhar um papel nobre no período revolucionário. A verdade do sistema educacional daria frutos, mas o erro que já observamos corria grande perigo de adquirir força suficiente para sufocar os princípios puros. Meras acusações são de pouca importância. Basta seguir a história do progresso educacional ao longo do próximo século. Os resultados falam por si. 2. O período revolucionário Além da instrução dada por piedosos pais puritanos a seus filhos no próprio lar, um número limitado de escolas comuns ou religiosas foi estabelecido no período colonial. A posição das escolas de ensino médio, à medida que se desenvolvem no período revolucionário, é significativa. Descobrimos que, "ao lado de cada uma das primeiras faculdades, com frequência antes delas, às vezes fazendo parte da organização, estava a escola de gramática.[10] Essas escolas, vinculadas a Harvard, Yale, Princeton, William e Mary e outras, preparavam para as universidades e complementavam o trabalho das escolas primárias ou comuns. Aqui está um ponto vital. Eles tinham escolas domésticas, escolas primárias, ou seja, de nível fundamental, e faculdades. Era impossível que essas escolas primárias equipassem os alunos para a vida universitária quando tais escolas exigiam que o aluno "lesse Cícero ou qualquer outro autor latino clássico, sem preparo prévio, e produzisse e falasse o verdadeiro latim em verso e prosa e definisse perfeitamente os paradigmas de substantivos e verbos na língua grega", conforme um anúncio de Harvard, já citado. As Universidades Exigiam os Clássicos As universidades fundadas pela igreja estavam, então, elaborando um programa de estudos para essas escolas de gramática ou academias, como logo foram chamadas; e uma vez que a demanda era por uma escola preparatória clássica, naturalmente seus cursos foram "ajustados ao currículo das faculdades, já consagrado pelo tempo. Elas ensinavam muito latim e grego, um curso expandido de matemática e eram geralmente fortes no campo das humanidades, isto é, dos estudos clássicos, filosóficos e literários". Esse sistema educacional refletia o modelo de Rugby, Eton e outras escolas inglesas notáveis, ou as escolas clássicas de treinamento da Alemanha, que, como vimos antes, eram escolas com marcas decididas de ensino jesuíta. Se um jovem se preocupasse em prosseguir seus estudos além do ensino fundamental, sua única oportunidade de fazê-lo seria em uma das academias [nosso equivalente ao ensino médio], onde os clássicos formavam a essência suprema do ensino. A tendência de voltar às formas estabelecidas da educação europeia, ou sistema papal, é clara e visível. Pegadas da Educação Papal As primeiras faculdades foram implantadas para fornecer uma formação cristã e, sem dúvida, tiveram um início que poderia ter resultado em maior força para a igreja e para a nação, como consequência; mas a introdução dessas escolas de gramática ou academias, com um programa de estudos dos clássicos exigidos pelas universidades, lançou a maioria dos jovens em uma linha de instrução clássica em vez de prática. Olhando para essa conjuntura de um ponto de vista, nenhum movimento mais sábio poderia ter sido feito para virar a maré da reforma educacional novamente em direção à educação papal. Podemos aqui rastrear as pegadas dos jesuítas, cuja política desde os dias de Loyola tinha sido derrubar o protestantismo por um falso sistema de educação? Protestantismo e Republicanismo Enfraquecidos O efeito da mistura dos métodos puros e impuros, percebidos em linhas indistintas no início, agora assumia proporções mais definidas. O crescimento das academias foi notavelmente rápido, e quando se volta a atenção para homens como Franklin, os Adams, John Hancock e a geração de "76", que receberam a maior parte de sua educação nessas escolas, pode parecer pura presunção condenar a trabalho deles. Os resultados, porém, conforme vistos em anos posteriores, justificam a acusação de que naquela época foi dado um longo passo para longe dos princípios da Reforma, o que significou para este país um enfraquecimento tanto no protestantismo quanto no republicanismo. União dos Sistemas Cristão e Papal Essas academias eram denominacionais, é verdade; ainda assim, elas ofereciam esse curso prescrito de instrução. Quase de imediato aparecem os sinais do resultado dessa união da educação cristã com a escolástica. Por exemplo, lemos que "a Universidade Brown, embora fundada como instituição batista, foi, no entanto, uma das primeiras escolas do período a enfatizar o sentimento crescente de uma formação universitária totalmente não denominacional". Por que uma faculdade denominacional deveria dar um programa de instrução não denominacional, e por que, acima de todas as denominações, os batistas deveriam fazê-lo, para quem tamanha enchente de luz tinha vindo, e que sempre com orgulho apontava para Roger Williams e o estado de Rhode Island como ancestrais e a encarnação de tudo o que é protestante e republicano? Mas essa não é a única indicação desse declínio dos primeiros princípios. Harvard Perde de Vista o Propósito Original Por volta de 1793, Harvard assumiu o nome de universidade. Boone diz: "Sinais de liberalidade também aparecem, no sentido de que os alunos não eram mais obrigados a assistir às palestras de cunho religioso, exceto se estivessem se preparando para o ministério. [...] Sociedades literárias, associações voluntárias para a cultura social e geral se multiplicaram". Declínio em Outras Escolas "A primeira fraternidade grega,11 a Phi Beta Kappa, a mãe das organizações de estudantes universitários da América, secretas ou abertas", foi formada em William e Mary em 1776. Esta é outra indicação da introdução furtiva de princípios opostos à democracia e que tendem a quebrar o preconceito existente contra as organizações secretas do papado. Além disso, "Yale, também, embora nominalmente de fundamento congregacional, recebeu ajuda (1792) do Estado e deu lugar em sua corporação a representantes do governo". A apostasia educacional estava começando; declínio religioso se seguiria. As Escolas Solicitam Apoio do Estado Boone fornece outro parágrafo que em poucas palavras conta uma história de muito significado, talvez mais do que o autor percebeu, pois estava apenas narrando a história da educação e não procurando a filosofia dela. Ele diz: "A faculdade, antes um apêndice da igreja, passou a ser vista, diante dos perigos iminentes do Estado, como tendo o mesmo valor para a nação." Isso certamente é verdade, porque o estado democrático dependia, para seu sustento e existência, das ideias educacionais propagadas em suas escolas. Mas o escritor continua: "Primeiro encorajada porque proporcionava um ministério instruído, estava começando a ser reconhecida uma opinião, apesar das deficiências da cultura, de que a educação é algo mais -- que ela tem um valor em si mesma; que as escolas podem muito bem ser mantidas separadas da igreja como organização, sem que sua utilidade seja de alguma forma diminuída."12 Aqui estava o desafio. A Educação Pertence à Igreja Deus colocou nas mãos de Sua igreja o direito e o privilégio de educar os jovens. Ao fazer isso, ele fez mais; pois, ao educar os jovens, a igreja está à direita de Deus para guiar a nação nos caminhos da retidão. Isso não pode ser feito unindo-se as mãos, pois a igreja e o Estado devem, para que cada um seja livre, estar separados para sempre. Ainda assim, o pilar sobre o qual a nação deve se firmar, o único sobre o qual ela pode se sustentar, é um verdadeiro sistema de educação, e este é um dom divino dado à igreja, um sistema fruto da Reforma. A Igreja Fracassa no Trabalho Educacional A mensagem de educação foi pregada por Lutero para a Igreja Luterana. A Igreja Episcopal recebeu essa "palavra e graça de Deus", como Lutero se expressa; mas passou deles, e eles voltaram para a escolástica. Oxford, Cambridge, Eton, Rugby, todas as escolas inglesas são testemunhas disso. A mensagem foi passada para a Igreja Congregacional, e Harvard, Yale e outros começaram no caminho certo, mas, diante das glórias do mundo, perderam de vista seu objetivo original. Harvard, fundada para educar ministros, enviou no ano de 1896, de uma classe de 400 graduados, apenas seis ministros. A Igreja Presbiteriana teve sua oportunidade, assim como a Batista e a Metodista. Rapidamente a educação, o cetro com o qual a América seria governada, estava escorregando das igrejas. "Das quatro faculdades estabelecidas durante a guerra, duas não possuíam afiliação religiosa, assim como 75% das 16 faculdades fundadas nos 20 anos após 1776." Um momento importante foi alcançado. Não apenas as colônias deveriam organizar um governo que surpreenderia o mundo, mas o povo dessas colônias estava à beira de um precipício educacional, e grandes interesses estavam em jogo. Fruto dos clássicos Vimos que das academias clássicas surgiram as mentes que, por uma ou duas gerações, dominaram enquanto a nação passava seu período crítico. Havia os Adams e Jefferson, Franklin, Webster, De Witt Clinton, Horace Mann, Joseph Henry, Everett e Story; Guilford, de Ohio; Grime, da Carolina do Sul; Frelinghuysen, de Nova Jersey; Wayland, em Rhode Island; e Shaw, na Virgínia; além de Kent, Clay, Marshall e Randolph, que estavam, muitos deles, não apenas resolvendo problemas políticos, mas também exercendo influência nos sistemas escolares planejados para seus vários estados. Muitos desses eram homens com formação nas academias clássicas, e só nos resta esperar que a educação recebida nessas escolas afetaria os sistemas que eles criariam em seus vários estados. Se as faculdades tivessem permanecido fiéis ao seu dever para com a educação cristã, as academias teriam sido escolas preparatórias para faculdades cristãs, e os egressos dessas instituições teriam alcançado um firme fundamento nos princípios da educação cristã, saindo para todos os estados da União a fim de fundarem escolas cristãs que, por sua vez, formariam jovens zelosos e valentes, fiéis ao protestantismo e fiéis ao republicanismo. Quando a igreja falha em educar, os homens se voltam para o Estado. Esses homens "divergiam em seus pontos de vista sobre a Constituição e discutiam sobre os perigos da centralização; os melhores homens temiam as investidas da escravidão e os perigos para o comércio", diz Boone, "mas todos concordavam que a inteligência era necessária para a cidadania." Washington disse: "Na medida em que a estrutura de um governo dá força à opinião pública, é necessário que a opinião pública seja esclarecida", e Jefferson defendia que "a difusão da luz e da educação são os recursos mais confiáveis para a melhoria da sociedade, promovendo a virtude e favorecendo a felicidade do homem". Existe uma demanda pelo tipo mais elevado e prático de educação. Os estadistas veem que os estadistas e os cidadãos são necessários. As faculdades denominacionais deixaram de educar cristãos, e os cidadãos precisavam ser educados em outro lugar. "Em 1805, a Sociedade de Escolas Públicas, da cidade de Nova York, foi formada; as reivindicações em prol da educação primária pública foram feitas em Boston em 1818; e Nova York fornecia a supervisão das escolas do condado. No início do século 19 foram introduzidas as primeiras escolas de ensino médio, ou discutia-se a respeito delas, as escolas de treinamento manual, os institutos de mecânica, as associações de professores, as publicações pedagógicas, as escolas profissionais e as bibliotecas públicas gratuitas. Entramos assim no terceiro período. Notas: 1. Boone, Education in The United States, p. 8. 2. Beginnings of New England, p. 62, 63. 3. Ibid., 66. 4. Beginnings of New England, p. 146. 5. Esse livro foi originalmente escrito no início do século 20. Portanto, não inclui o agravamento do sistema educacional ocorrido posteriormente. 6. Education in the United States, p. 30. 7. Ibid., p. 20. 8. Education in the United States, p. 23, 24, 29. 9. Ibid., p. 25. 10. Grammar School ou escola de gramática: uma escola secundária preparatória para a universidade, com ênfase no latim. 11. Greek fraternity ou fraternidade grega: associação de estudantes em uma universidade. 12. Education in the United States, p. 76, 77. Capítulo 15 Os Estados Unidos da América e o Problema Educacional (continuação) 3. O Século 19 O problema da educação preparatória elementar saiu das mãos das igrejas e foi assumido pelo Estado. Qual é o caráter da educação que o Estado pode apoiar com legitimidade? Uma questão importante, de fato; mas antes de considerá-la, investiguemos as escolas que o Estado organizou, apoiou e ainda apoia. Havia uma demanda urgente por educação liberal, e vários estados se apropriaram de terras para um fundo escolar. Já em 1786 "o estado de Nova York separou dois terrenos em cada município das terras desocupadas, para 'fins evangélicos e escolares'" e, numa moção com cerca de 1.800 votos de aprovação, dedicou os rendimentos de meio milhão de acres de terras desocupadas para apoiar as escolas comuns. Outros estados seguiram o mesmo plano geral, alguns em rápida sucessão, outros mais lentamente. Uma coisa era fato estabelecido: a educação das pessoas comuns, ignorada pelas igrejas, fora assumida pelo governo. Horace Mann e as Escolas Públicas Nessas circunstâncias, não é surpreendente que em 1837, Horace Mann, presidente do Senado de Massachusetts, se interessasse pelo assunto da educação. Desse homem é dito: "É raro que grande habilidade, devoção altruísta e brilhante sucesso se unam de tal forma no decorrer de uma única vida." Esse homem se tornou o pai do sistema de escolas públicas dos Estados Unidos e começou uma obra que muito antes deveria ter sido iniciada pelas igrejas populares da América. Contudo, foi negligenciada por elas, e será proveitoso para nós observar o desenvolvimento do maior sistema de escolas já organizado -- um sistema que, se o assunto da educação cristã pudesse ser abandonado e visto apenas do ponto de vista político, conduziu os Estados Unidos à proeminência como centro educacional entre as nações do mundo. No entanto, uma vez que o republicanismo repousa no seio do protestantismo, e o protestantismo é sustido pela educação cristã, no momento em que as marcas distintivas da educação cristã são deixadas de lado, e o sistema afirma ser civil (mas na verdade nunca é), nesse momento perde sua vitalidade real e força genuína. Mas voltemos ao Sr. Mann e seu maravilhoso trabalho. As Igrejas e Escolas Públicas Boone diz: "Os nós da madeira, em crescimento havia um século, deveriam ser aplainados; nem todas dentre o grande número de escolas particulares estavam de acordo com o novo movimento, e era natural que as igrejas estivessem vigilantes quanto às invasões da educação não sectária."[1] Essa expressão descreve as escolas das igrejas tendo quase a mesma atitude assumida pela enfraquecida igreja cristã nos dias de Constantino; e da mesma forma que a igreja daqueles dias, em busca de ajuda, estendeu as mãos para um poder mais forte [ou seja, o Estado], pelo fato de ela haver perdido seu suprimento individual de força -- o Espírito de Deus --, assim agora essas escolas das igrejas observavam com olhares de suspeita o progresso das escolas públicas e, incapazes de manter sua designada posição anterior em virtude de força inerente, elas estenderam as mãos para os cofres públicos e receberam ajuda. Yale fez isso antes dos dias de Horace Mann; muitas outras fizeram o mesmo desde então. Mann e Bernard Melhorias feitas por Horace Mann Boone continua: "Professores incompetentes estavam receosos, políticos criticavam e o conservadorismo geral prejudicado" pelos avanços do Sr. Mann. "Muito havia a ser realizado, também, dentro da escola. Os professores precisavam ser aprimorados, o interesse despertado, métodos racionalizados e tudo ajustado aos recursos disponíveis. Além disso, a arquitetura escolar teve que ser estudada. Tudo isso o Sr. Mann fez." Quão grande foi a oportunidade que os grupos religiosos da América perderam! Algumas das coisas que foram realizadas nos anos seguintes são assim relatadas: "Um sistema de escolas normais foi criado. A dotação anual para escolas foi duplicada; dois milhões de dólares gastos em casas e móveis; o número de professoras aumentou; institutos foram introduzidos e sistematizados; as bibliotecas escolares se multiplicaram; educação fornecida para as classes dependentes e jovens infratores, e a primeira lei de escolaridade obrigatória do estado promulgada." Henry Bernard Henry Bernard, um jovem advogado de Connecticut, fez para seu estado um trabalho semelhante ao de Horace Mann em Massachussetts. Ele era um homem de visão aguçada e atacou a raiz de muitos males. Ao descobrir que o dinheiro público era mal aplicado e muitas crianças do ensino primário negligenciadas, começou a empreender uma reforma. "Professores foram despertados, associações para o aperfeiçoamento mútuo foram formadas. [...] Ele estabeleceu um periódico educacional", totalmente às suas próprias custas. Em 1843, esse homem de coração forte e sensato foi chamado pelo estado de Rhode Island para endireitar os emaranhados de seu sistema educacional. Desse início cresceu o sistema de escolas públicas como visto hoje. Ele está entrelaçado nas malhas de nossa história nacional de Boston a São Francisco e de St. Paul a Nova Orleans. Reação em Faculdades As faculdades tornaram necessárias as academias -- as escolas preparatórias clássicas, de onde saíram homens que modelaram as escolas secundárias segundo o programa de estudos das academias. As faculdades cristãs foram as primeiras a definir o ritmo; então, encontrando-se ultrapassadas na corrida para atender às necessidades, o século 19 testemunha uma mudança gradual, mas não menos decidida, em seus cursos de instrução. Aqui estão algumas das mudanças, com suas razões. Diz Boone: "A atual e recente ampliação das humanidades, o crescente reconhecimento de um espírito altruísta e cooperativo na vida civil, social e política, a crescente complexidade das forças sociais, os novos aspectos do governo, a unidade fundamental de toda a vida e a consequente ideia de solidariedade da sociedade humana criaram para o aluno novas linhas de investigação."[2] Como é verdade! Quão ampla foi a separação entre o ideal existente antes do início de Harvard e aquele da Harvard de hoje. "A consequente ideia de solidariedade da sociedade humana" como uma nova linha de investigação para os estudantes parece quase uma zombaria quando vemos os princípios fundamentais do governo se afrouxando e prontos para desmoronar com a aplicação de alguma força inesperada. Outras Mudanças O mesmo afastamento do estudo da Palavra de Deus e do registro de seus tratos com os homens e nações -- Deus na história e na política - é perceptível no currículo de cada faculdade e universidade moderna. Citamos Boone novamente: "A história de costumes e instituições, o crescimento de opiniões e sentimentos cristalizados em formas sociais, o estudo de governos e religiões, da arte e da indústria estão clamando por um lugar no currículo. A filologia comparada, com o interesse ampliado das línguas modernas, pertence ao período atual." Tal currículo não pode deixar de ter peso em moldar a mente humana, e a história que estamos fazendo hoje é apenas o resultado dos pensamentos incutidos em nossas faculdades modernas. O Ensino da Evolução A cadeira de ciências foi grandemente ampliada: as ideias sobre a evolução defendidas por Darwin, Huxley e Dana se infiltraram nos cursos e, tendo sido recebidas, decidiram ficar. Boone diz: "Tem sido dito que o estudo sobre biologia [nas universidades] começou com Huxley na Inglaterra e mais tarde neste país." "Dos vários cursos em Harvard, 30% são em ciências e, na maioria das outras instituições contemporâneas, obtém-se uma grande proporção semelhante. Isso teve sua influência sobre o currículo aceito." Essa ciência seria denominada pelo apóstolo Paulo de "falsamente chamada ciência" (1Tm 6:20, ARC). Multiplicação de Cursos "Grandes mudanças ocorreram nos 20 anos [desde 1868] na multiplicação de cursos e nas respectivas especializações de estudo." Talvez os números sejam mais impressionantes nesse ponto do que meras palavras. Boone afirma que "das 47 instituições superiores cujos relatórios são dados pelo Dr. Adams, incluindo Harvard, Columbia e Brown, e dez universidades estaduais importantes, 46 relatam um total de 189 cursos na área de história e estudos intimamente relacionados." Cornell agora oferece tantos cursos que, caso um aluno tentasse fazer todos eles, seria necessário mais do que a vida natural de um homem para concluí-los. Um Sistema de Saturação para Crianças Não é com nenhum espírito de condenação que declaramos essas coisas, mas todos podemos perceber que há um significado que inevitavelmente se liga a essas mudanças. A multiplicidade de matérias ensinadas levou a um impressionante estudo livresco, e toda a vida de um aluno é gasta na tentativa de colocar na cabeça os pensamentos que outros escreveram para ele. O espírito das universidades foi absorvido pelas academias e pelas escolas secundárias e se reflete até mesmo nas séries iniciais. Trata-se do início do processo de saturação que hoje é denunciado fortemente por alguns verdadeiros educadores. Os leitores de nossas revistas estão familiarizados com as ideias expressas pela Sra. Lew Wallace em "The Murder of the Modern Innocents" [O Assassinato dos Inocentes Modernos], pelo editor do Ladies' Home Journal e outros. Considero suficiente citar o Sr. Edward Bok, que surpreendeu os lares americanos ao afirmar que, "em apenas cinco cidades de nosso país, durante o último período escolar, mais de 16 mil crianças com idades entre oito e 14 anos foram retiradas das escolas públicas porque o sistema nervoso delas estava destruído, e suas mentes se encontravam incapazes de prosseguir no sistema infernal de saturação que existe hoje em nossas escolas. [...] Foi planejado pela natureza que entre os sete e 15 anos a criança deveria ter descanso -- não o descanso que venha a interromper todo crescimento mental e físico, é claro --, [...] mas o ritmo da criança deve ser controlado para permitir que ela se recupere da tensão que seu sistema acabou de sofrer." "Mas o que realmente acontece com a criança de sete anos? Ela recebe esse período de descanso? Na verdade, não! Ele entra na sala de aula e se torna vítima de longas horas de confinamento -- note que esse é o primeiro esforço mental que a criança tem. O desgaste nervoso começa; a criança está apenas começando a desfrutar (Viva a recompensa das boas notas!) do grande sistema educacional da América. [...] Sistemas especiais de 'notas', que equivalem a prêmios, são introduzidos, servindo apenas para estimular ainda mais a criança descomunalmente brilhante, que precisa de tranquilidade mais que de outras coisas, e para desencorajar a criança que está abaixo da média de inteligência. É saturação, saturação, saturação! Uma certa quantidade de 'conteúdo precisa ser coberto', como se costuma dizer. Não importa se a criança é ou não fisicamente capaz de se dedicar a todo esse esforço. E não para por aí! As pobres crianças são obrigadas a carregar para casa uma pilha de livros para estudar, em geral depois do jantar e pouco antes de irem dormir, e essa é a parte mais bárbara de todo o sistema."[3] Isso é o suficiente para mostrar que o sistema é reconhecido como aquele que utiliza métodos que não estão de acordo com as leis da natureza, que são as leis de Deus. Tais métodos são o resultado do sistema à frente do qual estão as faculdades e universidades que delineiam o trabalho para todos os que estão abaixo deles. Os pais leem essas declarações com admiração e horror, mas apenas alguns percebem que as escolas de ensino fundamental e médio são responsáveis pelos métodos destruidores de saúde e entorpecedores do cérebro empregados em nossas escolas públicas. A causa do presente sistema e método deve ser buscada nas mudanças que o tempo operou nas escolas simples plantadas pelos pais puritanos que buscavam a liberdade. Melhor dizendo, o protestantismo oferecia um sistema de educação cristã que, se tivesse sido seguido, teria impedido de chegarmos ao problema educacional atual. Reformadores Modernos É gratificante descobrir que o declínio não prosseguiu sem críticas. Sua história não se desenrolou como um rio de fluxo suave. De tempos em tempos, surgiram homens oferecendo ideias educacionais adiante da época em que ensinavam. Esses homens foram Comenius e Pestalozzi, que introduziram o estudo do objeto no lugar do trabalho de memória consagrado pelo tempo; e Froebel, cujos pacientes trabalhos para as crianças do jardim da infância não apenas o tornaram estimado pelo verdadeiro professor, mas fizeram dele um benfeitor da humanidade, ao suscitar dúvidas a respeito dos métodos de instrução da mente humana. Esses homens, buscando a verdade, vislumbraram os princípios da verdadeira educação ensinados por Cristo. Os discípulos desses homens, em vez de tomar deles uma luz emprestada, têm o privilégio de ir novamente à fonte da verdadeira sabedoria -- o "Mestre vindo da parte de Deus". Aqui está o segredo do sucesso para os reformadores educacionais do século 20. Efeitos da Educação Moderna A maré manteve uma vazante e um fluxo constante. Quando a tendência foi crescendo para os clássicos, as ciências naturais reviveram e o espírito de investigação rompeu a faixa que o trabalho da memória estava tecendo. A ciência, não contente com campos legítimos de exploração, está agora mergulhando na metafísica e enviando ao mundo uma raça de céticos e incrédulos; ou, no caso de professos cristãos, os alunos são evolucionistas convictos, deixando de lado a Palavra de Deus pelas teorias da geologia, astronomia ou biologia. O limitado sistema de saturação no ensino por meio do trabalho da memória estava matando a vida intelectual das crianças quando o estudo das ciências naturais foi introduzido. Isso foi realmente uma melhoria, pois esses estudos são geradores de pensamento; mas aqui a maré se move na direção oposta, e a fé em um Criador é destruída. Como ocorreu com Jerusalém, o mesmo ocorre com as igrejas de agora: elas são destruídas porque a educação dos filhos é negligenciada. Onde está a segurança do pai cristão e de seu filho? A criança tem direito à educação cristã. Onde deve ser obtida? O Estado pode fornecê-la? Não poderia, mesmo se quisesse. As igrejas protestantes estão educando seus próprios filhos? Na verdade, poucas são as escolas cristãs, e hoje as igrejas estão colhendo o resultado de seu longo período de retrocesso. As palavras do Dr. James M. Buckley, editor do Christian Advocate, o principal órgão do metodismo, expressam o sentimento geral. Ele diz em parte: "O fato de a Igreja Metodista Episcopal, com quase três milhões de membros e um vasto exército de alunos da escola dominical, ter acrescentado menos de sete mil ao número de membros em 1899 é algo surpreendente. E o fato de, no mesmo período, ela ter mostrado um declínio de 28.595 nos candidatos declarados e aceitos, conhecidos como noviços, é sinistro. Tal situação não tem sido frequente em nossa história. [...] Nenhuma pessoa reverente pode lançar a culpa desse declínio sobre Deus, o Pai Todo-Poderoso, sobre nosso Senhor Jesus Cristo, Seu único Filho, ou sobre o Espírito Santo, em quem a igreja declara sua fé sem cessar. A culpa, portanto, jaz à porta de cada igreja."[4] Essa afirmação é muito verdadeira; todavia, apesar de Deus, Cristo e o Espírito Santo ficarem livres de qualquer culpa no assunto, é triste notar que homens proeminentes no ministério falham em ver que as igrejas estão perdendo seu domínio sobre a humanidade porque renunciaram a seu direito, como protestantes, de educar as crianças. As igrejas são dignas de pena; mas há apenas um remédio, e a igreja que assumir seu negligenciado dever na educação receberá a recompensa. Para os estudantes de profecia, é um fato significativo que esse estado de coisas tenha piorado deploravelmente desde cerca do ano de 1843 ou 1844. Crescimento do Sistema Eletivo As oscilações que ocorreram nos currículos de nossas escolas principais já foram mencionadas antes, mas se tornam mais marcantes se considerarmos um pouco a introdução das disciplinas eletivas. Quando o programa de instrução se tornou decididamente complexo, exigindo anos para ser concluído, e a multiplicação de disciplinas inviabilizou a conclusão do curso, conforme delineado, pela maioria dos alunos, surgiu o privilégio de opção na escolha dos estudos em muitos cursos. Isso também foi necessário nas faculdades devido à organização de muitas escolas técnicas em todo o país. "Os primeiros esforços para estabelecer institutos de trabalho manual e mecânica são interessantes, pois marcam uma reação contra o domínio da linguagem e da metafísica e expressam um apelo bem planejado para o amplo reconhecimento das ciências físicas." Isso levou, em alguns casos, à substituição do alemão, ou de alguma outra língua moderna, e a um aumento da matemática no lugar dos clássicos, ficando os alunos livres para escolher. A Liberdade da Universidade da Virgínia Esse espírito de liberdade, que quase foi arrancado, pode-se dizer, de muitas das instituições de ensino superior, às vezes influenciou os primeiros educadores. Lemos com grande prazer a história da fundação da Universidade da Virgínia, cujo idealizador foi Thomas Jefferson. O leitor ficará interessado em um parágrafo de Boone: "Já em 1779, enquanto o 'Antigo Domínio' [a Virgínia], com seus estados irmãos, estava envolvido em uma guerra duvidosa; e novamente em 1814, após inúmeras derrotas e oposição constante por parte da já estabelecida Faculdade William e Mary, das igrejas protestantes e da maioria dos líderes políticos da época, o Sr. Jefferson e seus amigos procuraram fornecer ao estado, junto com o sistema geral de educação, uma universidade, na qual deveria ser ensinado, no mais alto grau, 'cada ramo do conhecimento, seja com o propósito de enriquecer, estimular e adornar o entendimento, ou para ser útil nas artes e nos negócios práticos de vida'. Cinco anos depois (1819), uma lei da Assembleia foi promulgada estabelecendo a Universidade da Virgínia. Quando, seis anos depois, foi inaugurada, após amplo conhecimento e estudo cuidadoso das instituições mais progressistas dos Estados Unidos, descobriu-se que, em disciplina e instrução, em constituição e meios, diferia de forma relevante de todas elas."[5] Libertação de Outras Características Ques tionáveis A visão de longo alcance do principal promotor do empreendimento é vista quando notamos onde reside essa diferença relevante. Thomas Jefferson escreveu: "Há uma prática da qual certamente diferimos, embora tenha sido copiada por quase todas as faculdades e escolas preparatórias de ensino médio dos Estados Unidos; isto é, a matrícula obrigatória de todos os alunos em um determinado curso de leitura e a proibição de que os alunos se dediquem com exclusividade aos ramos que devem qualificá-los para a vocação particular a que estão destinados. Devemos, ao contrário, permitir-lhes que escolham, sem restrição, as aulas a que desejam assistir e exigir deles somente as qualificações elementares e idade suficiente."[6] Este foi um passo incrível para a época em que ocorreu e indica como o Espírito de Deus dirige a mente humana. A maior liberdade ocasionada pela adoção do sistema eletivo é sentida em todos os centros educacionais de nosso país. A Universidade Johns Hopkins concede o grau de bacharelado em quatro dos seis cursos sem os clássicos. Isso nos leva, entretanto, a considerar a questão sugerida várias páginas atrás: Que matérias podem ser ensinadas com legitimidade nas escolas mantidas por recursos públicos? Deveria o Estado Patrocinar a Educação? A educação, pura e simples, na amplitude de seu significado, é o desenvolvimento do caráter. O Estado, como tal, não pode julgar os motivos, portanto, não pode educar o homem interior. As duas fases da Reforma foram protestantismo e republicanismo; a primeira trata da natureza espiritual, e através desta atinge o homem todo, formando um caráter simétrico; a parte governamental lida apenas com o mental e físico -- as manifestações externas. À igreja foi confiado o encargo do homem espiritual, e a comissão de "ensinar todas as nações", dada ao pequeno grupo que observava a ascensão do Senhor, foi repetida à igreja no século 16; e esse fardo, com significativo peso, foi colocado sobre os ombros de homens e mulheres norte-americanos. O Estado precisa de homens para levar avante seus empreendimentos; e para a formação puramente secular de tais indivíduos, ele tem o perfeito direito, até mesmo o dever, de fornecer um fundo comum. Um curso estritamente mecânico, secular ou de negócios pode, portanto, ser oferecido em nossas escolas públicas; mas com tal educação poucos pais se contentam. A natureza moral precisa de desenvolvimento; argumenta-se que, para ser bons cidadãos, alguma parte do sistema de ética que se baseia nas doutrinas de Cristo deve ser inculcada. As escolas cristãs, e somente essas, podem dar uma educação espiritual. Este é o dilema em que se encontrava o sistema educacional na época da Revolução, e a questão, em vez de chegar a uma solução satisfatória, piorou cada vez mais. As igrejas falharam em prover a formação cristã; e o Estado sentiu que algo deveria ser feito pelas crianças. Escolas públicas foram estabelecidas; mas estas, por direito, não podem ensinar moralidade ou qualquer coisa relacionada a ela. Mas elas o fazem. Consequentemente, a igreja, com seu fracasso, forçou o Estado a tentar fazer o trabalho dela -- uma tarefa impossível. Mais uma vez, as igrejas e as escolas denominacionais, não querendo ser superadas pelas instituições estatais, ampliaram seus interesses e esticaram os braços ao ponto de oferecerem, não as disciplinas que edificam o caráter, mas sim aquelas que as capacitarão a competir com as instituições estatais. Percebe-se aqui, mais uma vez, um afastamento da educação cristã e uma mistura que seria difícil chamar de outro nome senão o de "papal". Títulos, uma Marca Papal Além disso, o Estado põe seu selo sobre o trabalho feito em instituições por ele apoiadas, e as escolas cristãs -- as de nome, pelo menos -- não só aceitam dinheiro público, mas permitem que o Estado coloque seu selo no trabalho delas ao conferirem diplomas literários e títulos. Este é o resultado natural da união da educação mundana com os princípios da educação cristã que temos seguido ao longo de dois séculos, e ainda hoje dificilmente há uma escola que se declara cristã em seus princípios que ouse levantar a voz contra os costumes de suas instituições irmãs. A União da Educação com Estado: Res ultado Papal "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", seria repetido, caso o autor dessas palavras entrasse em pessoa nas instituições de ensino que afirmam levar Seu nome. Uma união de igreja e Estado é descrita como papado; uma união entre educação (o fundamento da igreja) e Estado é testemunhada sem qualquer voz discordante. O Trabalho Educativo dos Católicos Até agora neste capítulo, o trabalho educacional da Igreja Católica nos Estados Unidos nem sequer foi mencionado -- não porque essa organização tenha sido menos ativa aqui do que nos países europeus, mas porque é tão predominante a ideia de que um sistema de educação para ser papal deve emanar da Igreja Romana. Ideias contrárias a esta foram enfatizadas repetidamente nestas páginas. Em nosso próprio país, não podemos deixar de ver que, além do trabalho da igreja Católica, se desenvolveu um sistema papal de instrução. Os degraus que unem o presente às eras obscuras do passado, quando o Egito ou a Grécia dominavam o mundo por meio da ciência ou da filosofia, podem em alguns lugares estar ocultos; mas os produtos da filosofia grega e da sabedoria egípcia, temperados com os conceitos do escolasticismo medieval, ou a mistura mais sutil da educação cristã moderna com o sistema papal, como exemplificado por Sturm, a qual recebe o selo de aprovação do Estado, nos confrontam de tempos em tempos, à medida que nossas escolas enviam seus egressos. As Escolas Católicas Os católicos, entretanto, não têm visto o crescimento de nosso sistema educacional sem fazer um esforço vigoroso. Desde os tempos coloniais, quando os jesuítas se aglomeraram nessas costas e ensinaram as escolas e missões estabelecidas, até os dias atuais, quando a nova universidade para a educação da juventude católica está em pleno funcionamento em nossa capital nacional, essa organização não poupou esforço. Como Boone diz: "Todos os outros serviços denominacionais na educação são parciais e irregulares em comparação com o alcance abrangente da Igreja Católica." A Influência das Escolas Católicas Boon continua: O objetivo dessas instituições é abrangente e não leva em conta nenhum outro órgão. Ignorando a escola pública, seu plano é tão amplo quanto o número de seus adeptos. Com um quinto de todos os seminários teológicos e um terço de todos os seus alunos; com um quarto das faculdades, quase 600 escolas de ensino médio (academias) e 2.600 escolas paroquiais (elementares), instruindo mais de meio milhão de crianças, a igreja é vista como uma força que, considerada da perspectiva educacional, não é igualada por nenhum outro órgão, exceto o governo."[7] O sistema pelo qual esse trabalho é realizado é assim descrito: "As doze províncias católicas [...] estão subdivididas em 79 dioceses. Estas últimas têm em média de 35 a 40 paróquias, e cada uma delas possui uma escola para a formação elementar dos filhos. Na verdade, 93% delas mantêm escolas paroquiais, nas quais são educados, geralmente pelo sacerdócio, os 511.063 alunos. Além dessas, há 588 academias [escolas de ensino médio], geralmente para meninas, e 91 faculdades." Isso foi escrito há seis ou sete anos, mas os números falam por si. Com a extensa propagação em nossa nação de escolas cujo objetivo declarado é a aniquilação do protestantismo e do republicanismo; com nosso próprio sistema de escola pública, tão grande em muitos aspectos, mas cedendo tanto a ponto de se tornar efetivamente papal, não é estranho que as congregações metodistas e presbiterianas estejam lamentando seu número cada vez menor. Os protestantes devem educar seus próprios filhos? A história fala em linguagem enfática, sim! O papado diz: Se você deseja que tenhamos seus filhos, não! "Deus está à porta e bate; bem-aventurados seremos nós se a abrirmos para Ele" (Lutero). Notas: 1. Education in the United States, p. 104. 2. Education in the United States, p. 158, 159. 3. Ladies' Home Journal, 1900. 4. The Christian Advocate, fevereiro de 1900. 5. Education in the United States, p. 190. 6. Ibid. 7. Education in the United States, p. 267, 268. Capítulo 16 A Educação Cristã Depois de observar a luta educacional que já perdura por eras entre a verdade e o erro, e constatar que dificilmente um século se passou sem testemunhar uma controvérsia considerável entre os métodos de ensino cristão e papal, qualquer um está pronto para acreditar que se trata de um assunto inseparavelmente ligado à história das nações. Sendo isso verdade, devemos esperar nos encontrar no meio da controvérsia hoje. É necessário apenas um olhar superficial na história atual para confirmar esse fato; pois mentes estão perturbadas por causa dos males existentes, e os corações estão abertos para a verdade educacional. Se estamos inclinados a pensar que os princípios da educação cristã são novos e nunca antes ouvidos, temos apenas que captar os pensamentos que têm influenciado os verdadeiros educadores desde o tempo de Cristo até os dias atuais, para saber que o mesmo espírito tem estado em operação em todas as épocas para atrair o coração dos homens a Deus. Educação Cristã Exemplificada por Cristo O advento de Cristo foi um evento estupendo. "E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós" (Jo 1:14). Para que o homem pudesse contemplar as obras de Deus em carne humana, e ver nisso a manifestação da verdade, Cristo nasceu. Sua obra foi acima de tudo uma obra de educação, e Seu sistema foi a educação cristã. Por esse meio, o Céu novamente alcançou a terra e a apertou junto ao peito. Os homens, em sua miopia, estavam incapazes de compreender os ensinos espirituais do Filho de Deus, e muitas vezes Suas lições mais poderosas não eram apreciadas pelas multidões e até mesmo pelos apóstolos. O Espírito Santo, o Professor Por maior que tenha sido a obra realizada por Cristo em favor do mundo, nunca houve um homem, ou uma nação, que seguisse totalmente seus ensinamentos. O erro sempre foi misturado com a verdade, e os educadores do mundo deixaram de ver a concretização de suas esperanças por causa dessa compreensão apenas parcial da verdade. Cristo, quando rejeitado pelo mundo, não se retirou por completo e deixou o ser humano entregue ao próprio destino, mas enviou Seu Espírito, o Espírito da Verdade como educador, conduzindo as mentes à verdade. Essa operação do Espírito é vista com clareza, pois um homem é direcionado para um aspecto da verdadeira educação, enquanto outro, talvez um militante contemporâneo, ou talvez um sucessor, quem sabe um conterrâneo, ou alguém a uma grande distância, pega outro fio na meada e desenvolve outro pensamento para o mundo. A Verdadeira Educação Sempre Representada O mundo nunca ficou muito tempo sem algum representante da educação cristã. Na tentativa de definir o termo que constitui o assunto deste capítulo, chama-se a atenção para a obra parcial de reforma que foi realizada por homens que o mundo reconhece como educadores. Os erros de uma falsa educação, tão prevalecentes em tempos passados, e ainda reconhecidos como parte dos sistemas educacionais agora em voga, contrastam fortemente com as ideias corretas defendidas por esses homens em várias épocas. O Latim e o Estudo de Palavras nas Escolas Papais Os homens cujas ideias são apresentadas neste capítulo viveram e trabalharam segundo os princípios da Reforma; e a fim de revelar o erro contra o qual labutavam, é necessário considerar os métodos de instrução encontrados nas escolas papais. Pensamentos semelhantes são encontrados nas páginas anteriores, mas, para fins de contraste, são aqui repetidos. Painter diz: "Quando o jovem tinha adquirido um domínio completo da língua latina para todos os fins; quando ele estava bem versado nas opiniões teológicas e filosóficas de seus mentores; quando era hábil na disputa e podia fazer uma exibição brilhante com os recursos de uma memória bem abastecida, havia alcançado os pontos mais altos para os quais os jesuítas procuravam conduzi-lo. Originalidade e independência de espírito, amor à verdade por si mesma, o poder de refletir e formar julgamentos corretos não eram meramente negligenciados, mas suprimidos no sistema dos jesuítas.[1] Karl Schmidt também comprova esse fato com as seguintes palavras: "Livros, palavras eram os assuntos da instrução. [...] Faltava o conhecimento a respeito das coisas. Em vez de ensinarem sobre as coisas em si, eles ensinavam palavras a respeito destas coisas." "Aprender fazendo" é a regra na educação cristã. Uma grande quantidade de latim e grego foi, e ainda é, a regra no sistema educacional papal, e essas línguas eram ensinadas, não por causa do pensamento, mas apenas pelas palavras. O Latim e o Grego A Oposição dos Reformadores ao Mero Estudo da Linguagem O mundo havia ficado preso por um século ao estudo dos clássicos. Essa escravidão foi quebrada pela Reforma, mas o mundo voltou para ela novamente. Milton, o poeta do século 17, escreveu: "A linguagem é apenas o instrumento que nos transmite coisas úteis a conhecer. Embora um linguista se orgulhe de conhecer todas as línguas resultantes da divisão em Babel, se ele não estuda as coisas concretas desses idiomas como também as palavras e léxicos, ele não chega ao nível de erudição de um agricultor ou comerciante que conheça bem apenas seu dialeto materno. [...] Seria um erro demorar sete ou oito anos aprendendo a mesma quantidade de latim e grego que poderia ser aprendida com facilidade e prazer em apenas um ano."[2] O Estudo das Coisas em vez da Linguagem Ratich, um educador alemão do século 16, disse: "Somos escravos do latim. Os gregos e sarracenos nunca teriam feito tanto pela posteridade se tivessem passado a juventude aprendendo uma língua estrangeira. Devemos estudar nossa própria língua e, em seguida, as ciências." "Tudo primeiro na língua materna" e "nada por mera autoridade" eram regras em sua sala de aula. Comenius, o renomado mestre, costumava dizer: "Se tanto tempo deve ser gasto apenas com a língua [latina], quando deverá o menino saber sobre as coisas -- quando aprenderá filosofia, e quando religião, e assim por diante? Ele consumirá sua vida no preparo para a vida." O Ensino Mecânico é Papal Com que exatidão isso se aplica ao estudo das palavras por parte de nossos moços e moças atualmente! Não importa se é gramática latina ou inglesa; na verdade, pode ser algum outro modo de expressão -- algum sistema matemático -- em que tempo e energia são devotados meramente ao processo. O fracasso em tornar o desenvolvimento do pensamento -- na verdade, o pensamento independente -- o principal objetivo da instrução identifica qualquer método de ensino como papal, não importa por qual nome seja conhecido, ou por quem as matérias são ensinadas. O trabalho de toda a vida de Comenius foi neutralizar essa tendência, como mostram os princípios a seguir. Ele insistiu que "nada deve ser ensinado que não seja de utilidade concreta". "Nada deve ser aprendido de cor que não seja totalmente compreendido primeiro." "Teólogos e médicos deveriam estudar grego." "O fazer só pode ser aprendido fazendo." Veremos mais adiante que os reformadores educacionais de hoje estão defendendo esses mesmos princípios. Isso faz parte da educação cristã. A Edificação do Caráter como Objetivo na Verdadeira Educação John Locke, educador inglês do século 17, tinha a verdade sobre o assunto da educação. Dos idiomas, ele diz: "Quando considero o barulho que se faz a respeito de um pouco de latim e grego, quantos anos são gastos nisso, todo o aclamado esforço nisso sem nenhum propósito, dificilmente posso deixar de pensar nos pais de crianças que ainda vivem com medo da vara do mestre-escola, considerada o único instrumento de educação, como se um ou dois idiomas fossem seu negócio." O caráter era valorizado por esse homem, e sua declaração quanto à importância relativa do estudo é valiosa para pais e professores. "Considero a leitura, a escrita e o aprendizado algo necessário, mas não o principal empreendimento. Imagino que você considera como muito tola uma pessoa para quem o valor de um homem virtuoso ou sábio não é infinitamente maior do que o de um erudito. Sem dúvida, penso que o aprendizado é de grande utilidade para ambos, caso tenham mentes bem-dispostas; mas, ainda assim, devo confessar também que em outros não tão dispostos, ele os ajuda apenas a ser homens mais tolos ou piores." O Critérios de Locke para Escolher um Professor "Eu digo o seguinte: quando você considera a criação de seu filho e está procurando por um professor, ou um tutor, você não teria, como é de costume, apenas o latim e a lógica em seus pensamentos. O aprendizado deve ser levado em conta, mas em segundo lugar, apenas como algo subordinado a qualidades maiores. Procure alguém que saiba como moldar com discrição suas maneiras; coloque-o nas mãos de quem possa lhe garantir, tanto quanto possível, a inocência dele, que desenvolva e alimente o que é bom, que corrija e elimine quaisquer inclinações ruins, e que o firme em bons hábitos. Este é o ponto principal; e se isso for proporcionado, o aprendizado pode ser incluído na barganha." Até que ponto os protestantes estão seguindo esse excelente conselho? Em que escolas para rapazes e moças protestantes a inocência é valorizada? Onde o bem é nutrido? Onde as más inclinações são eliminadas com mansidão e os bons hábitos firmados neles? Onde essas coisas são colocadas à frente do aprendizado de livros? "A virtude", continua Locke, "como o primeiro e mais necessário dos dotes que pertencem a um homem ou cavalheiro tinha como base a religião. Como fundamento disso, desde muito cedo deveria ser impresso em sua mente uma verdadeira noção de Deus." Aqui se encontra uma concepção clara da educação cristã, que os pais de hoje fariam bem em estudar. O Sistema de Saturação: Um Método Papal O estudo dos clássicos, junto com o trabalho de memória -- a principal característica desses estudos -- não foi o único defeito na educação papal; portanto, não é o único erro do qual os educadores, guiados, como se deve acreditar, pelo espírito da verdade, de vez em quando se afastam. O sistema de saturação, denunciado com toda a justiça pelas mentes pensantes como um dos defeitos de maior alcance do atual sistema escolar, é uma marca da educação papal onde quer que seja encontrada. É provável que nenhuma geração se passou sem que tenha ouvido uma voz que tenha sido erguida contra essa prática perniciosa da sala de aula. O Deus do Céu reconhece que a mente humana contém as possibilidades mais elevadas da Terra; e quando métodos errados de educação são usados no tratamento de mentes em desenvolvimento, Ele, a cabeça do corpo, do qual somos membros, sente a dor; portanto, a educação cristã procede da mente de Deus. Montaigne, falando da educação no século 16, dizia: "É costume dos professores trovejar eternamente nos ouvidos de seus alunos, como se estivessem despejando em um funil, enquanto a tarefa dos alunos é apenas repetir o que seus mestres disseram." Ele ensinou que "um tutor [...] deve, de acordo com a capacidade do aluno com o qual se relaciona, colocar [a mente da criança] à prova, permitindo que o próprio aluno experimente e saboreie as coisas, e por si mesmo as escolha e tenha discernimento delas. [...] Muito aprendizado sufoca a alma, assim como as plantas são sufocadas por muita umidade e as lâmpadas por muito óleo. Nossos pedagogos formalistas roubam o conhecimento dos livros e o carregam na ponta dos lábios, assim como os pássaros carregam as sementes para alimentar seus filhotes. [...] Nós labutamos e trabalhamos apenas para encher a memória, mas deixamos a consciência e o entendimento desprovidos e vazios." O Sistema de Saturação das Escolas do Século 20 Em janeiro de 1900, Edward Bok, editor do Ladies' Home Journal, escreveu sobre o processo de saturação nas escolas populares: "Será que os cidadãos e cidadãs americanos percebem que em apenas cinco cidades de nosso país, durante o último período escolar, mais de 16 mil crianças com idades entre oito e 14 anos foram retiradas das escolas públicas porque o sistema nervoso delas estava destruído, e suas mentes se encontravam incapazes de prosseguir no sistema infernal de saturação que existe hoje em nossas escolas? [...] Os médicos conservadores que dedicaram a vida ao estudo das crianças estimam que o número de pessoas cuja saúde é prejudicada pelo excesso de estudos seja de mais de 50 mil a cada ano. [...] É saturação, saturação, saturação! Uma certa quantidade de 'conteúdo precisa ser coberto', como se costuma dizer. Não importa se a criança é ou não fisicamente capaz de se dedicar a todo esse esforço." O escritor discorre sobre os males do estudo noturno e continua: "A verdadeira reforma sempre começa na raiz de todos os males, e a raiz do mal do estudo em casa está no sistema de saturação". A Sra. Lew Wallace Falando Sobre o Sistema de Saturação A Sra. Lew Wallace diz: "Entre em qualquer escola pública e você verá meninas pálidas como lírios e meninos com peito achatado e a pele semelhante a cera, que recebeu o nome de tez escolar. Todo incentivo e estímulo é oferecido; medo da culpa, amor ao elogio, prêmios, medalhas, distintivos, o cobiçado floreio dos jornais -- a tensão nunca diminui. [...] O fardo são os livros. As tarefas impostas aos jovens são terríveis. O esforço parece ser tornar os livros didáticos tão difíceis e complicados quanto possível, em vez de suavizar a colina tão alta e difícil de escalar." Em seu estilo característico, a Sra. Wallace condena os métodos usuais de ensino de aritmética e linguagem: "Disse uma mãe: 'Dois e dois são o quê?'" "O menino hesitou." "'Certamente você sabe que dois e dois são quatro.'" "'Sim, mamãe; mas estou tentando me lembrar do processo.'" "Ah, o processo, é verdade! [...]" "Um dia, Maria estava curvada sobre uma tábua escrevendo palavras em ambos os lados de uma linha reta, como numeradores e denominadores multiplicados." "'O que você está fazendo agora?' Perguntou a vovó." "Maria respondeu com orgulho: 'Estou fazendo diagramas.' 'Mas o que são diagramas?' 'Fazem parte da disciplina mental. A senhorita Cram diz que tenho uma mente excelente que precisa ser desenvolvida. Olha aqui, vovó, esta é a colocação correta dos elementos. Oitenta e sete estão unidos pela palavra e, uma conjunção copulativa conectiva subordinada. Modifica anos, o atributo da preposição. Atrás é um verbo modal do tempo passado. A raiz da primeira oração é....'" "'Ora, esse é o discurso de Lincoln em Gettysburg. Eu o mantenho na minha cesta de trabalho e sei de cor.'" "'De fato! Bem, nosso é um pronome possessivo.'" "'Já basta. Se o presidente Lincoln tivesse crescido com coisas desse tipo, aquele discurso nunca teria sido escrito. Ele chamou um substantivo de substantivo e fim de papo.'"[3] Montaigne dificilmente poderia ter dado uma descrição mais vívida se tivesse visto o moedor que é a educação moderna, onde as séries são estritamente mantidas e todas as crianças, tanto as fortes quanto as fracas, são forçadas a passar pelo mesmo processo. E não há como escapar disso, exceto se a criança cair pela doença que prende seus tentáculos ao corpo humano. Todos os reformadores educacionais lutaram contra esse sistema, mas ele ainda permanece conosco. Os pais cristãos, se pudessem ver o valor relativo da alma e da cultura mental, exigiriam o estabelecimento de uma nova ordem de coisas. Somente a educação cristã pode efetuar a cura. O Estudo da Natureza: O Antídoto contra a Saturação Comenius se esforçou para corrigir esse erro introduzindo o estudo da natureza. Ele diz: "A correta instrução dos jovens não consiste em saturá-los com uma imensa quantidade de palavras, frases, sentenças e opiniões coletadas de autores, mas em desenvolver o entendimento de maneira que muitos pequenos riachos possam fluir dele como de uma fonte viva. [...] Por que não abrirmos o livro vivo da natureza em vez de livros mortos? Não as sombras das coisas, mas as próprias coisas, que impressionam os sentidos e a imaginação, devem ser apresentadas à juventude. É pela observação real, não por uma descrição verbal das coisas, que a instrução deve começar. As pessoas devem ser levadas, tanto quanto possível, a extrair sua sabedoria, não de livros, mas de uma consideração do céu e da terra, carvalhos e faias; isto é, devem saber e examinar as coisas por si próprias, e não simplesmente se contentar com as observações e testemunhos de outros." Seus princípios fundamentais eram: "A educação é o desenvolvimento do homem todo" e "Devemos evitar os muitos estudos por enfraquecerem a força mental." O Estudo da Ciência Moderna e a Dúvida Um longo passo foi dado por Comenius no sentido de romper com o ensino mecânico do papado. O erro em que caem seus seguidores é fazer da natureza o tudo em todos, deixando de reconhecer a Palavra de Deus como o único guia e intérprete dos fenômenos naturais. Esse erro levou as escolas modernas a assumir a posição nos estudos de ciências descrita nas seguintes palavras por Frank S. Hoffman, professor de filosofia em uma das principais escolas de teologia da América: "Todo ser humano, pelo fato de ser humano, é dotado de poderes para formar julgamentos, e ele é colocado neste mundo para desenvolver e aplicar esses poderes a todos os objetos com os quais entra em contato."[4] Com tais palavras, ele afirma claramente que a razão humana é o meio pelo qual o homem deve alcançar sabedoria. Em seguida, segue sua explicação do método de procedimento quando a razão é assim exaltada. Estas são suas palavras: "Em toda esfera de investigação ele [o ser humano] deve começar com a dúvida, e o estudante que tiver adquirido bem a arte de duvidar, fará o mais rápido progresso." Suponha, agora, que o assunto em consideração seja algum fenômeno natural recém-descoberto, e o estudante da natureza deseja investigá-lo. De acordo com o professor Hoffman, um teólogo moderno e, portanto, um professor, ele deve "começar com a dúvida, e fará o mais rápido progresso o aluno que tiver adquirido a arte de duvidar bem". A educação cristã, em contraste com esse método, diz: "Pela fé entendemos" (Hb 11:3). Métodos em Ciências e Teologia Este método de estudo -- começar com dúvida -- é aplicado não apenas às ciências naturais, mas também ao estudo das verdades espirituais, conforme as palavras do professor Hoffman: "Pedimos que todo estudante de teologia assuma o assunto exatamente como faria com qualquer outra ciência: que comece com a dúvida e pese cuidadosamente os argumentos de cada doutrina, aceitando ou rejeitando cada afirmação de acordo com o equilíbrio das probabilidades a favor ou contra ela. [...] Cremos que até mesmo os ensinamentos de Jesus devem ser vistos desse ponto de vista e devem ser aceitos ou rejeitados com base em sua razoabilidade inerente." Assim, o espírito de dúvida com que a criança é ensinada a estudar a natureza a acompanha durante todos os anos de escola; desenvolve-se à medida que ela cresce; e se ela entra em uma escola teológica para se preparar para o ministério, ali será confrontada pelo mesmo método na investigação dos ensinos de Cristo. Seria de admirar que os resultados da educação moderna sejam uma classe de irreligiosos e céticos? Vale a pena repetir as palavras do presidente Harper, da Universidade de Chicago: "É difícil profetizar quais serão os resultados de nosso método atual de educar os jovens daqui 50 anos. Estamos treinando a mente nas escolas públicas, mas o lado moral da natureza da criança é quase totalmente negligenciado." Não apenas é negligenciado, mas a fé é espezinhada, humilhada, e a razão humana exaltada acima dela. "Quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra?" (Lc 18:8). Uma pergunta realmente apropriada para os educadores responderem. O Método da "Dúvida" é Socrático Esse método da dúvida é papal e pode ser rastreado diretamente até Sócrates, o grego. Sobre ele, lemos: "Sócrates não era 'filósofo', nem mesmo 'professor', mas sim 'educador', tendo como função 'despertar, persuadir e repreender. [...] A teoria de educação de Sócrates teve por base uma concepção profunda e consistente."[5] A mesma autoridade declara o seguinte sobre o método de Sócrates ao lidar com seus alunos: "Partindo de algum princípio ou proposição aparentemente trivial com a qual o respondente concordava de imediato, Sócrates extraía disso uma consequência inesperada, mas inegável, que era claramente inconsistente com a opinião contestada. Desta forma, ele levava seu interlocutor a condenar a si mesmo e o reduzia a um estado de dúvida ou perplexidade. 'Antes de eu conhecer você', diz Mênon, em um dos diálogos de Platão que recebeu o nome do próprio Mênon, 'disseram-me que você gastava seu tempo duvidando e levando outros a duvidar; e é um fato que suas feitiçarias e encantamentos me trouxeram a essa condição. Você é como o dardo -- ele entorpece quem quer que se aproxime dele e o toque; e você faz igual.'" Podemos com facilidade rastrear a conexão entre o método socrático de duvidar e o mesmo método defendido pelo professor da escola de teologia, pois "sua prática [de Sócrates] levou ao renascimento platônico", e o sistema platônico de educação e sua introdução nas escolas modernas já foram discutidas minuciosamente nas páginas anteriores, de modo que não precisamos repetir esses conceitos novamente. A "Dúvida" Ensinada nas Escolas Modernas O método socrático de ensino -- o desenvolvimento da dúvida -- parece caracterizar muito do ensino de hoje, se podemos julgar por um artigo que apareceu no Outlook, escrito pelo editor Lyman Abbott. O trabalho educacional é assim descrito: "Os processos educacionais de nosso tempo -- possivelmente de todos os tempos -- são amplamente analíticos e críticos. Baseiam-se principalmente em análise dos assuntos trazidos ao aluno para exame, separando- os em suas partes constituintes, considerando como foram juntados e julgando a estrutura finalizada ou o processo pelo qual foi construída." "Assim, todo ou quase todo o estudo é analítico, crítico -- um processo de questionamento e investigação. O processo pressupõe um estado do espírito questionador, senão cético. A dúvida é a pedagoga que conduz o aluno ao conhecimento." "Ele estuda o corpo humano? Dissecação e anatomia são as bases do seu estudo. Química? O laboratório fornece-lhe os meios de análise e investigação das substâncias físicas. História? Ele questiona as declarações até então inquestionáveis, vasculha bibliotecas em busca de autoridades em volumes antigos e documentos mais remotos. Literatura? O poema que leu apenas para desfrutar é submetido agora ao bisturi; ele indaga se é realmente belo, por que é belo, como deve ser classificada sua métrica, como foram construídas suas figuras. Filosofia? Ele submete sua própria consciência a um processo de dissecação em vida, na tentativa de averiguar a fisiologia e a anatomia do espírito humano; traz sua alma para o laboratório para que ele possa aprender seus constituintes químicos." "Enquanto isso, o processo construtivo e sintético é relegado a um segundo plano, ou totalmente perdido de vista. Ele estuda medicina? Ele dá mais atenção ao diagnóstico do que à terapia; à análise da doença do que ao problema de como superá-la. Lei? Ele passa mais tempo analisando casos do que desenvolvendo o poder de apreender grandes princípios e aplicá-los na administração da justiça em condições diversas. Os clássicos? É estranho se na graduação ele não tiver passado mais semanas na sintaxe e na gramática da língua do que horas na aquisição e avaliação do pensamento e do espírito dos grandes autores clássicos. Foi dito com acerto e muita verdade sobre o estudante moderno que ele não estuda gramática para entender Homero, ele lê Homero para aprender a gramática grega. Seu estudo histórico deu-lhe dados, eventos, um mapa mental da história; talvez, também, tenha dado a ele a capacidade de um erudito para discriminar entre o verdadeiro e o falso, o histórico e o mítico nas lendas antigas, mas a muitos não deu uma compreensão do significado dos eventos, nem uma compreensão do verdadeiro significado da vida do homem na Terra, ou mesmo uma nova luz sobre isso. Ele tem estudado filosofia? Feliz é ele se, como resultado de sua análise da autoconsciência, não tiver se tornado mórbido a respeito de sua própria vida interior, ou um cético cínico em relação à vida interior dos outros." "É sem dúvida no campo da ética e da religião que se veem os resultados desastrosos de um processo analítico muito exclusivo e de um espírito crítico igualmente exclusivo. Levando o mesmo espírito para a investigação da religião e aplicando nela os mesmos métodos, a Bíblia torna-se para ele simplesmente uma coleção de literatura antiga, cujas fontes, estrutura e formas ele estuda, cujo espírito, ele, pelo menos por enquanto, esquece; a adoração é um ritual cuja origem, surgimento e desenvolvimento ele investiga; cujo verdadeiro significado expressando penitência, gratidão e consagração ele perdeu completamente de vista. A fé é uma série de princípios cujo desenvolvimento biológico ele traça; ou uma forma de consciência cuja relação com a ação do cérebro ele investiga; ou cujo crescimento mediante processos evolutivos a partir de estados anteriores ele se esforça para reconstruir." "É quase certo que a vivissecção [operação em animal vivo] se torna, mais cedo ou mais tarde, uma autópsia; e o alvo dela, seja uma flor, um corpo, um autor ou uma experiência, geralmente morre sob o bisturi. É por essa razão que tantos alunos na escola elementar, nas escolas de ensino médio e na faculdade perdem não apenas sua teologia, o que talvez não seja uma grande perda, mas sua religião, que é uma perda irreparável, enquanto adquirem uma educação."[6] Ministros Aceitam o Raciocínio Socrático Esse espírito de dúvida caracteriza os ensinamentos dos teólogos modernos da alta crítica. O Dr. Newton nos diz que o estudo crítico da Bíblia "descartou para sempre a afirmação de que um oráculo de Deus é algo a que podemos submeter nossos intelectos sem questionar". "O Dr. Briggs diz que existem três autoridades coordenadas -- a igreja, a Bíblia e a razão. 'Mas quando elas discordam, qual será a última instância de apelação?' Pergunta o Dr. Newton. 'Elas discordam amplamente atualmente.' O Dr. Newton acredita que o último tribunal de apelação é a razão -- não a razão de Thomas Paine e a dos racionalistas realistas de hoje, mas sim a 'Razão Divina' de Sócrates e Platão. [...] Razão, nesse sentido, significa não meramente ou principalmente a capacidade de raciocínio, mas a natureza moral -- todo o ser espiritual do homem. 'É o que a consciência ensina, bem como o que o intelecto afirma, que, junto com a voz do coração, formam a trindade da verdadeira autoridade -- a da razão.'"[7] Esta é realmente a exaltação da razão. Em tal sistema, não há lugar para a fé. Métodos Seculares e Verdades Religiosas W. T. Harris, Comissário de Educação dos Estados Unidos, escrevendo sobre as escolas dominicais, atribui seu declínio à adoção, pelos professores da escola dominical, dos métodos empregados nas escolas seculares. Algumas palavras dele serão suficientes. Ele diz: "Com o espetáculo da organização sistemática das escolas seculares e o aperfeiçoamento dos métodos de ensino diante deles, os líderes eclesiásticos têm se empenhado em aperfeiçoar os métodos de instrução religiosa dos jovens. Eles encontraram os seguintes perigos que se colocaram em seu caminho, a saber: primeiro, o perigo de adotar métodos de instrução na religião que eram adequados e apropriados apenas para a instrução secular; segundo, a seleção de assuntos religiosos para o programa de estudos que não conduziam de maneira mais direta à religião vital, embora de imediato assumissem uma forma pedagógica."[8] A fim de mostrar a razão pela qual os métodos perfeitamente adequados na educação secular não são apropriados à instrução religiosa, o Sr. Harris explica: "A escola secular dá instrução positiva. Ela ensina matemática, ciências naturais, história e linguagem. O conhecimento dos fatos pode ser preciso e exato, e pode-se chegar a um conhecimento semelhante dos princípios. A ação individual do aluno é [...] exigida pelo professor da escola secular. O aluno não deve assumir as coisas com base na autoridade, mas deve testar e verificar. [...] Ele deve investigar as demonstrações matemáticas. [...] Deve aprender o método de investigação dos fatos. [...] O espírito da escola secular, portanto, é de caráter esclarecedor, embora não da mais alta ordem." Toda a tendência da educação secular, de acordo com o Sr. Harris, é desenvolver um espírito de investigação e prova. Isso, diz ele, é um meio de esclarecimento ou iluminação, mas não da mais alta ordem. O meio mais elevado de iluminar a mente é pela fé. Este é o método de Deus. As escolas cristãs devem evitar os métodos seculares de instrução, adotando em seu lugar a mais elevada forma de esclarecimento -- a fé. Isso separa as escolas cristãs das escolas seculares tanto nos métodos como nas matérias ensinadas. Métodos Seculares Exigem Prova Concreta Este método secular de investigação mina a vida espiritual e é responsável pelo declínio do protestantismo moderno. O Sr. Harris continua: "A educação religiosa, obviamente a que proporciona os melhores resultados de pensamento e vida aos jovens, deve se apegar à forma de autoridade, e não tentar emprestar da escola secular os métodos da matemática, ciência e história. Esse empréstimo resultará apenas em dar aos jovens uma confiança arrogante na palavra final de seus próprios julgamentos imaturos. Eles se tornarão presunçosos e superficiais. [...] Contra esse perigo de minar ou solapar toda autoridade na religião, pela introdução dos métodos da escola secular que enfatizam a atividade própria da criança, a escola dominical não tem sido suficientemente protegida nos anos mais recentes de sua história." Se a adoção de métodos seculares de ensino na escola dominical, onde as crianças são ensinadas um dia apenas na semana, enfraqueceu tanto o protestantismo, qual não será o resultado quando as crianças são diariamente ensinadas nas escolas públicas por métodos cuja tendência é sempre exaltar a razão humana acima da fé? Não é de se admirar que a instrução de cinco dias não possa ser neutralizada pela melhor instrução semanal na igreja, mesmo nas escolas dominicais que não adotaram métodos seculares no ensino da Bíblia. Os protestantes devem aprender com isso que, ao iniciarem escolas cristãs, não podem adotar os métodos seguidos nas escolas seculares. Aqui está a pedra de tropeço sobre a qual muitos estão inclinados a cair. A instrução religiosa exige métodos de ensino que desenvolvam a fé. A Escola de Comenius A Religião nas Escolas de Comenius Não posso deixar de recorrer aos ensinamentos de Comenius, uma vez que se opunham fortemente aos métodos de educação seguidos por aqueles que, hoje, afirmam ser seus discípulos. James H. Blodgett diz: "Comenius, antecipando líderes mais modernos na filosofia e na arte da educação, preparou um esboço da Escola Pansófica por volta de 1650, na qual o trabalho de uma educação completa foi dividido em sete turmas. A escola comum deveria passar a primeira hora da manhã em hinos, leitura da Bíblia e orações."[9] "Classe III, a Atrial", segundo o mesmo escritor, "deveria ter a seguinte inscrição: 'Só pode entrar quem conseguir falar'. Nessa classe, os meninos devem começar a ler a Bíblia. [...] O conteúdo de história dessa classe são os famosos feitos da narrativa bíblica." Sobre a Classe IV, lemos: "Uma coleção especial de hinos e salmos deve ser arranjada para esta classe; também um resumo do Novo Testamento, que deve abranger um relato ininterrupto da vida de Cristo e Seus apóstolos, compilado a partir dos quatro evangelhos. [...] O estudo suplementar é o grego. [...] É comparativamente fácil aprender a ler o Novo Testamento [em grego], e esta é a principal utilidade do estudo." O estudo da Bíblia constituía um aspecto importante do trabalho da Classe V, sobre cujo trabalho lemos: "Um Manual da Bíblia, também, chamado de Porta do Santuário, deve ser colocado nas mãos dos alunos. Deve conter toda a história das Escrituras nas palavras da Bíblia, mas condensada de tal forma que possa ser lida em um ano." A classe VII era teológica; e o leitor notará de pronto a diferença entre o programa de instrução traçado para ela por Comenius e o sugerido pelo professor Hoffman para estudantes de teologia no século 20. "Inscrição sobre a porta: 'Proibido entrada para irreligiosos'. [...] O livro para as aulas deve ser uma obra que lide com a última etapa da sabedoria na Terra, ou seja, a comunhão das almas com Deus. A história universal deve ser estudada e, em particular, a história da igreja para cujo benefício o mundo existe. [...] O futuro ministro deve aprender como se dirigir a uma congregação e deve aprender as leis da oratória sacra." Deve-se lembrar que Comenius era um bispo da Igreja dos Irmãos Morávios, uma denominação conhecida por seu extenso trabalho missionário e suas missões espalhadas por todo o mundo. Sua atividade na obra da igreja pode ser facilmente explicada por seu sistema educacional. Qualquer igreja protestante que deseje sobreviver, e deseje a propagação de seus princípios, deve cuidar para que seus filhos sejam educados espiritualmente, bem como mental e fisicamente. A Educação Cristã Enfatiza a Prática Agora somos levados a considerar outra fase muito importante da educação -- a relação do desenvolvimento mental com o físico. Falsos sistemas sempre exaltaram o desenvolvimento mental em detrimento do físico. Cristo combinou os dois, e [muitos] educadores a partir do século 17 têm apresentado visões corretas sobre o assunto. Locke começa sua obra Reflexões sobre a Educação com estas palavras: "Mente sã em corpo são é uma descrição curta, mas completa, de um estado de felicidade neste mundo." "A obtenção dessa condição feliz", observa Painter, "é o alvo da educação. [...] Em sua opinião [de Locke], a função da educação era formar homens nobres bem habilitados para os deveres da vida prática."[10] Uma alma pura em um corpo sadio deve preceder o estudo de meros fatos. As ideias de Locke sobre educação são descritas desta forma por Quick: "O objetivo dele era dar a um menino uma mente robusta em um corpo robusto. Seu corpo deveria suportar a dureza, sua razão deveria ensinar-lhe a abnegação. Mas esse resultado deveria ser obtido pela liderança e não pela coação. Ele deveria ser treinado, não para a universidade, mas para o mundo. Bons princípios, boas maneiras e discrição deviam ser firmados em primeiro lugar; inteligência e atividade intelectual a seguir; e o conhecimento efetivo por último. [...] O exercício predominante de gramática das línguas clássicas deveria ser abandonado, e a língua materna deveria ser cuidadosamente estudada. [...] Em tudo, o papel que caberia ao aluno desempenhar na vida deveria ser constantemente mantido em vista." E ainda na atualidade, quando o editor de uma de nossas revistas propôs que nossos estudantes universitários discutissem a questão: "Que ordem de estudos é mais adequada para preparar o homem médio para suas obrigações no mundo de hoje?" Ou: "Qual é a importância relativa dos vários ramos da educação em preparar um homem para garantir sua própria felicidade e torná-lo um cidadão e um próximo útil?", o reitor da Universidade de Yale respondeu: "Alguns homens hesitam em dar a sanção oficial da universidade a um debate em curto prazo sobre questões das quais a maioria dos competidores sabe muito pouco. Por que nossos estudantes universitários não deveriam conhecer e escolher os estudos práticos? Se eles não os conhecem, por que não?"[11] Treinamento Manual e Matemática Mas há educadores dispostos a romper com o conservadorismo do passado, e que defendem uma mudança de métodos nas escolas de ensino fundamental. Estes são os pensamentos apresentados pelo superintendente de ensino público do estado de Michigan, em um manual publicado em maio de 1900. Há bom senso nos parágrafos seguintes, que chamarão a atenção de todos os que consideram as necessidades mentais de uma criança. Ele diz: "É dever das escolas produzir um desenvolvimento paralelo de todas as faculdades, deixando o aluno livre para entrar no campo de sua escolha, sem gostos distorcidos ou faculdades atrofiadas. O treinamento manual contribui para esse desenvolvimento paralelo." "Nós nos lembramos de quando as ciências eram ensinadas inteiramente a partir do texto. Mais tarde, os princípios de Pestalozzi entraram na sala de aula, e ficamos com os olhos e a mente abertos, enquanto as verdades da ciência eram demonstradas com o aparato adequado nas mãos do professor. Mas hoje a ideia de Froebel tomou conta, e o aluno realiza o experimento. É sua mão que cria as condições; é seu olho que observa as mudanças, sua mão que as nota. O ensino de ciências, portanto, adotou a ideia do treinamento manual; e tais são os resultados que latim, grego e matemática não são mais considerados as únicas disciplinas intelectivas para o treinamento universitário." "O que a ideia de treinamento manual fez para o ensino de ciências fará para matemática e outras matérias afins. É generalizada a insatisfação entre profissionais e homens de negócios quanto ao ensino de coisas práticas em nossas escolas. Isso é especialmente verdadeiro em relação à aritmética, caligrafia, ortografia e linguagem. Qualquer pessoa que duvide disso precisa apenas entrar nos locais de negócios de sua própria cidade e indagar a respeito. Há um sentimento bem fundamentado de que o domínio da aritmética é uma disciplina intimamente ligada àquela necessária nas atividades da vida; e quando um pai descobre que seu filho de 16 ou 17 anos não tem noção de questões práticas de negócios e tem pouca habilidade em processos analíticos, ele acusa a escola de ineficiência. A dificuldade, porém, é que o aluno não teve oportunidade de perceber na prática a aritmética. Para ele, medidas e valores são ideias indefinidas. Ele guarda os fatos na memória e cegamente tenta resolver os problemas. Se sua memória e imaginação forem boas, ele se sairá bem e receberá uma nota alta. Mas ainda assim o trabalho é vago; não afeta sua vida ou experiência; não tem significado. Coloque esse aluno em uma escola de treinamento manual -- o menino na loja, a menina na cozinha [a experiência prática tem demonstrado que a menina também tem um lugar na loja] --, e imediatamente os fatos matemáticos tornam-se conceitos claros." "Entre na oficina de uma escola de treinamento manual [ou entre na cozinha bem-organizada] e observe o menino com um projeto diante dele passando pelas etapas que conduzirão sua mente à perfeição final do trabalho." "Primeiro, ele deve estudar projeto com cuidado." "Em segundo lugar, ele deve projetá-lo e fazer um desenho dele. Isso imediatamente coloca a matemática em suas mãos e também em sua cabeça. Ele deve usar esquadro, compasso e lápis. Medidas exatas devem ser feitas, divisões e subdivisões calculadas, linhas cuidadosamente desenhadas." "Terceiro, ele deve selecionar o material de dimensões e fibras adequadas, e então deve refletir sobre como aplicá-lo ao esboço feito para que não haja desperdício." "Quarto, ele deve aplainar e serrar a linha, corrigir e ajustar; em suma, deve criar o projeto que se originou em sua mente e apenas no papel. É aí então que sua aritmética começa a pulsar com vida, seu julgamento a ter o controle e seu senso ético a se desenvolver." Este é o testemunho de professores que fizeram uma aplicação prática da aritmética e da geometria na carpintaria. Crianças de 12 e 14 anos de idade resolvem problemas em proporção, em raiz quadrada, em medidas e em números concretos, que confundem a habilidade de uma pessoa comum formada no ensino médio. Isso também faz parte da educação cristã. Sem dúvida, o próprio Cristo ganhou a maior parte de seu conhecimento matemático na bancada de carpinteiro. "A educação mais prática", diz Hiram Corson, "(mas essa geração que pensa ser tão prática parece não saber disso), é a educação do homem espiritual; pois é isso, e não a educação do homem intelectual, que constitui, deve constituir (a menos que o cristianismo tenha cometido um grande erro) a base do caráter; e é ao caráter individual [...] que a humanidade deve seu sustento." A combinação apropriada, então, de formação religiosa e trabalho manual prático no ensino de matemática ou linguagem desenvolverá estabilidade de caráter, e este é o fim e o objetivo da educação cristã. A Carpintaria não é o Único Educador Prático Há, entretanto, neste século 20, várias outras maneiras de tornar a educação prática; e visto que esses métodos são um fator no preparo cristão dos jovens, devem receber atenção. Deus não se enganou quando deu a Adão a tarefa de arar o solo. Desde os dias do Éden, os homens que evitaram as cidades e preferiram morar em distritos rurais, via de regra, chegaram mais perto do coração do Criador. O verdadeiro método de estudar as ciências consiste em entrar em contato com a natureza. Cristo Escolheu o Campo Nesse sentido, temos também o exemplo de Cristo. "Preparando Seus discípulos, Jesus buscou de preferência afastar-Se da confusão da cidade para o sossego dos campos e colinas, como estando mais em harmonia com as lições de abnegação que lhes desejava ensinar. E durante Seu ministério apreciava reunir o povo em torno de Si, sob o céu azul, em alguma relvosa encosta, ou na praia do lago. Ali, circundado pelas obras de Sua própria criação, podia dirigir o pensamento dos ouvintes do artificial para o natural. No crescimento e desenvolvimento da Natureza, revelavam-se os princípios de Seu reino. Ao erguerem os homens o olhar para as montanhas de Deus, contemplando as maravilhosas obras de Suas mãos, poderiam aprender preciosas lições de verdade divina. Os ensinos de Cristo ser-lhes-iam repetidos nas cenas da Natureza. [...] As coisas da Natureza evocam as parábolas de nosso Senhor e repetem-Lhe os conselhos."[12] O professor que deseja enobrecer o caráter de seus alunos buscará um lugar onde a natureza, em sua linguagem silenciosa, proporcione lições que nenhuma língua humana pode proferir. Os pais que desejam o melhor para seus filhos e filhas, irão, quando a luz da educação cristã despontar no seu entendimento, apressar-se para o campo, para que a mente juvenil sob seus cuidados possa ser influenciada pelo natural e não pelo artificial. O Valor da Agricultura na Educação Não é surpreendente que os melhores educadores que abriram a mente para a verdade tenham ensinado que o cultivo do solo, junto com o desenvolvimento dos sentidos e das habilidades manuais na oficina, deve acompanhar a disciplina mental. O Prof. James R. Buchanan, diz: "Abençoado é o filho do lavrador. [...] A presença do trabalho diligente e sistemático, não limitado ao artesanato, mas abrangendo todas as formas de esforço útil, é a base essencial de uma verdadeira educação, visto que assegura, se conduzido corretamente, um caráter digno, uma constituição saudável, um intelecto sólido e uma capacidade para o sucesso prático; pois dá vigor a todo o cérebro e uma disciplina mental revigorante muito melhor do que a que se pode obter nos livros. O rapaz que constrói uma carroça, ou escrivaninha, ou cultiva uma pequena lavoura, conforme as instruções, tem mais independência de espírito e originalidade do que aquele que estudou apenas livros didáticos. Os meninos de Lancaster, Ohio, que dedicaram metade de seu tempo ao trabalho manual, progrediram melhor nos estudos acadêmicos do que os alunos comuns, que tinham todo o seu tempo para estudar; eles também apresentaram um modelo de conduta inigualável em todos os sentidos quando comparados a qualquer escola deste país que não tenha o trabalho manual como parte do programa escolar."[13] A adesão estrita ao livro-texto é o método papal de ensino, e é um acompanhamento necessário dos cursos prescritos, enquanto a tendência humanística se encontra bem desenvolvida. As escolas cristãs, por causa das verdades que defendem, são forçadas a abandonar a ordem estabelecida no mundo educacional, e sua educação torna-se prática unindo a agricultura e a escola. Este método de ensino já é seguido em alguns lugares, mostrando que o sistema com muita frequência designado de educação cristã não é algo de nascimento recente, nem é produto da mente de algum homem. Seus princípios vêm sendo divulgados de tempos em tempos, e esses princípios estão sendo seguidos com maior ou menor cuidado em todos os períodos da história do mundo. Hortas Escolares da Europa Moderna A combinação de cultivo do solo e estudo é algo prático, e não uma mera teoria, conforme atestam as palavras do Cônsul-geral dos Estados Unidos John Karel, que relata o seguinte sobre "as hortas escolares na Rússia": Muitos países da Europa Ocidental, especialmente na Alemanha, Áustria, França, Bélgica, Suíça e, em parte, na Suécia, as escolas públicas de vilarejos têm pedaços de terra que lhes são destinados, quer para uso dos professores, que se beneficiam dos lucros dessas terras, ou para o estabelecimento de hortas escolares. As hortas escolares na Europa Ocidental possuem, em certa medida, um caráter científico. As crianças são levadas a realizar nelas na prática o que aprendem na teoria." As Hortas Escolares na Rússia "Na Rússia [...] era bem sabido que os proprietários de terras e camponeses precisavam muito de instrução agrícola; consequentemente, escolas de todos os tipos foram estabelecidas pelo ministério da agricultura em todo o país. [...] Para o desenvolvimento da horticultura, escolas foram fundadas primeiro em Penza, na Bessarábia, [...] e em 1869 uma escola de horticultura e viticultura foi fundada em Nikitsk. O trabalho da escola em Nikitsk estava dividido da seguinte forma: Durante o semestre de inverno, eram três horas de aulas por dia e quatro horas e meia de estudo prático na horta, na vinha e na adega. Durante o semestre de verão, as aulas em classe duravam apenas uma hora, ou às vezes duas horas, mas os estudos práticos ocupavam seis ou até oito horas por dia."[14] Os professores dessas escolas podem se sustentar, pelo menos em parte, com a venda de frutas, frutas vermelhas, verduras, mel, etc., mas esse não foi o principal incentivo para iniciar as hortas escolares. O último escritor citado continua: "O desejo de acrescentar algo aos baixos salários dos professores das escolas da aldeia e, por outro lado, de familiarizar o máximo possível, não só as crianças, mas também os adultos, com a horticultura, a sericicultura e a apicultura causou um aumento, nos últimos dez anos, no número de hortas escolares, apiários e incubatórios de bicho-da-seda. Em 1892, havia cerca de 2 mil hortas escolares na Rússia. Atualmente, existem 7.521, com 532 apiários e 372 incubadoras de bicho-da-seda. " "O Sr. Mescherski, chefe de um dos departamentos de agricultura e um dos principais defensores das hortas escolares na Rússia, declarou o objetivo das hortas escolares e seu significado da seguinte forma: As hortas escolares [...] são importantes pelos seguintes motivos: (1) promovem a saúde, por ser um local de trabalho físico ao ar livre, tão necessário para o professor e os alunos; [...] (2) são centros científicos e educacionais, pois familiarizam as crianças com a vida das plantas úteis, desenvolvendo a mente delas pelo estudo da natureza e promovendo na geração emergente um respeito pelo trabalho e um sentimento mais moral e estético em relação às árvores; (3) beneficiam a economia geral [...] e (4) promovem a economia pessoal ", uma referência aqui ao sustento do professor. Os Cristãos Deveriam Encorajar a Vida Rural Se o governo russo, com a libertação de seus servos e camponeses da coroa, considerou tão vantajoso estabelecer hortas escolares, que benefício duradouro elas representariam para os cristãos! Protestantes, em vez de se amontoar nas cidades, onde o trabalhador está sujeito aos sindicatos, cartéis e monopólios comerciais, devem buscar para si alguns acres de terra e providenciar para que escolas sejam estabelecidas para a educação de seus filhos, onde o trabalho mecânico dos livros didáticos seja substituído pelo estudo da vontade de Deus conforme revelado em Sua Palavra e obras. Os estudos da natureza assim conduzidos, em vez de desenvolver o ceticismo, fortalecerão a fé do aluno, e os alunos de tais escolas serão qualificados para a cidadania não apenas nos governos da Terra, mas no Reino de Deus. Isso também faz parte do sistema de instrução conhecido como educação cristã. Notas: 1. History of Education, p. 173. 2. Citado por Painter, History of Education, p. 191. 3. The Murder of the Modern Innocents [O Assassinato dos Inocentes Modernos], Ladies' Home Journal, fevereiro de 1900. 4. North American Review, abril de 1900. 5. Encyclopedia Britannica, artigo Sócrates. 6. Outlook, 21 de abril de 1900. 7. Literary Digest, 26 de maio de 1900. 8. Relatório do anos de 1896 e 1897, vol. 1, Introdução. 9. Report of the Commissioner of Education, 1896-97, vol. 1, p. 369. 10. History of Education, p. 217. 11. Ver Cosmopolitan, fevereiro de 1900. 12. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 198. 13. ? 14. Relatório do Comissário de Educação, 1897-98, vol. 2, p. 1632, 1633. Capítulo 17 A Educação Cristã (Continuação) A Definição de Educação de Pes talozzi O século 19 não foi deficiente em mentes que compreenderam, pelo menos em parte, os princípios da educação cristã. Assim escreve Pestalozzi: "Uma boa educação se me apresenta simbolizada por uma árvore plantada perto de águas fertilizantes. [...] Na criança recém-nascida estão ocultas as faculdades que se desenvolverão durante a vida. Os órgãos individuais e separados de seu ser formam-se gradualmente em um todo harmônico e constroem a humanidade à imagem de Deus."[1] A definição que Milton dá sobre a educação concorda com isso: "Então, o propósito do aprendizado consiste em reparar as ruínas de nossos primeiros pais, recuperando o correto conhecimento de Deus, e a partir desse conhecimento amá-Lo, imitá-Lo, ser como Ele, o máximo que pudermos, enchendo nossa alma da verdadeira virtude, a qual, unida à graça celestial da fé, constitui a mais alta perfeição." Esses pensamentos se assemelham à definição de educação dada pela autora do livro Educação: "Restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação -- tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida."[2] A educação cristã, então, é uma educação espiritual. Nesse sentido, as comoventes palavras de Pestalozzi no enterro de sua esposa estão carregadas de significado. Voltando-se para o caixão, disse ternamente: "Éramos evitados e desprezados por todos; a doença e a pobreza nos curvaram; e comemos pão seco com lágrimas. O que foi que, naqueles dias de severa provação, deu a você e a mim forças para perseverar e não perder a esperança?" Colocando uma cópia da Palavra de Deus em seu peito, continuou: "Desta fonte você e eu tiramos coragem, força e paz."[3] Os defensores da educação cristã podem hoje encontrar o mesmo tipo de rejeição do mundo; mas a Palavra de Deus permanece como um guia, expressando os princípios a serem seguidos pelo educador. A Bíblia como Educador Charles W. Dabney Jr., presidente da Universidade do Tennessee, em um discurso proferiu estas palavras: "A Bíblia é o melhor livro didático de educação, como de muitas outras ciências. Nela lemos o que Paulo diz a Timóteo, seu 'amado' e 'verdadeiro filho na fé': que 'toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra'" (2Tm 3:16, 17). "Em nenhum lugar da literatura ou da filosofia existe uma expressão melhor ou mais clara do verdadeiro propósito da educação do que esta. O objetivo da educação não é prazer, conforto ou ganho, embora tudo isso possa e deva resultar disso. O único propósito verdadeiro na educação é preparar o homem para 'boas obras'. É uma coisa nobre desenvolver uma alma perfeita, a fim de suprir completamente o corpo, mente e coração. [...] A construção do caráter, a formação da consciência, então, é o principal objetivo da educação. O professor não ousa negligenciar o caráter, nem a faculdade o seu dever de providenciar o desenvolvimento dele. Devemos sempre e em toda parte, em cada programa e projeto de estudo, fornecer os métodos e instrumentos que desenvolverão o caráter do aluno junto com suas outras faculdades. Como, então, devemos desenvolver o caráter em nossos alunos? Quais são os métodos e as agências para realizar isso? Esta é a questão crucial desta época, como de todas as épocas. A esta pergunta todas as eras dão apenas uma resposta: o cristianismo. O mundo tem presenciado muitos mestres das ciências, arte e filosofia, mas apenas um mestre da justiça, e Este foi Jesus Cristo, o Filho de Deus." Os muitos mestres de ciência, arte e filosofia, por meio de seus sistemas de educação, afastaram os homens do conhecimento de Deus, a sabedoria que é a vida eterna. Se a educação de Cristo deve ser aceita, como sugerido pelo professor Dabney, Sua palavra, a Bíblia, deve ser reconhecida como o Livro dos livros, o guia em toda investigação, o intérprete de todos os fenômenos. A Necessidade de Escolas Cristãs Muito se fala a respeito da educação moral que toda criança deve receber. Os pais percebem que o menino ou a menina que chegam à maturidade com apenas uma educação física ou intelectual, ou se tornam pugilistas ou então bons candidatos à penitenciária; portanto, os pais insistem que a natureza espiritual deve receber alguma atenção. Mas onde essa educação espiritual pode ser obtida? As escolas do Estado não têm o direito de ministrar tal formação; na verdade, elas não estão em condições de fazer isso. É verdade que elas têm tentado, mas o resultado é um infeliz fracasso. Os protestantes não deveriam mais fazer essa exigência. É chegado o tempo de verem que devem estabelecer escolas cujo objetivo seja desenvolver o caráter. Essas escolas deveriam ser sustentadas de modo independente do Estado; elas deveriam ficar livres para seguir métodos inteiramente diferentes do formalismo do sistema papal; seu programa de instrução deve atender às necessidades individuais dos alunos e ser do tipo que forme cristãos. Para alcançar tais resultados, a Palavra de Deus deve ser tirada do pó e colocada no currículo, não como mero livro de referência das antiguidades judaicas, mas, como é de fato e em verdade, a luz cujos raios circundam o mundo. "As Sagradas Escrituras devem ser o Alfa e o Ômega das escolas cristãs", escreveu Comenius. Cristo deve ser o professor. Os homens até agora citados seguiram a luz que brilhou em seu caminho. Hoje podemos reunir as dispersas gemas da verdade deixadas por eles; mas, o que é muito melhor: podemos ir direto à própria Palavra, e o Espírito da verdade nos guiará para os caminhos da educação cristã. Conforme o ensinamento de Froebel, "o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento físico não ocorrem de forma separada na infância; os dois têm ligação íntima um com o outro". A Natureza Tríplice do Ser Humano O ser humano tem uma natureza tríplice -- a física, a mental e a espiritual; e a educação cristã desenvolve esses aspectos de tal maneira que possam manter a relação adequada uns com os outros. A natureza espiritual era o poder controlador no homem feito à imagem de Deus. Na degeneração da raça, ele perdeu sua visão espiritual e passou primeiro para a esfera intelectual, depois para a esfera física. Isso é visto na história antes do dilúvio. A vida no Éden era uma existência espiritual. A vida de Adão após a queda foi menos espiritual e, gradualmente, seus descendentes passaram a viver na esfera mental. Havia mentes superiores no mundo antediluviano. De tão potente que era a memória e tão aguçada a percepção, os homens não precisavam de livros. Pelo aumento da desobediência, por meio de uma educação que fortaleceu a razão ao invés da fé, os homens se afundaram na esfera física em vez de subir à espiritual, até que no devido tempo a Terra foi destruída pela água. Educação desde a Época de Cristo As mesmas esferas de existência são distinguíveis em todas as eras desde o dilúvio, mas somente Cristo ascendeu ao nível puramente espiritual. Israel, como nação, poderia ter vivido assim se os verdadeiros métodos educacionais tivessem sido seguidos. Com a queda de Israel, a oferta foi feita à igreja cristã. Era após era, esse corpo se recusou a viver uma vida espiritual, ou, aceitando o dom oferecido, tentou se levantar sem cumprir as condições necessárias -- fé absoluta na Palavra de Deus e estrita obediência aos Seus mandamentos. A Reforma novamente voltou os olhos dos homens para uma educação espiritual, e os protestantes americanos tiveram a melhor oportunidade já oferecida ao ser humano para retornar ao desígnio original do Criador. Fracasso é mais uma vez o veredicto do anjo relator. O tempo prossegue velozmente em seu curso, e a última mensagem do evangelho está indo para o mundo; mas antes que um povo possa ser preparado para o estabelecimento do reino de Cristo, tal povo deve ser educado de acordo com os princípios da educação cristã, pois este é o fundamento de todo governo, bem como de toda religião. O que é educação cristã? Visto que o objetivo dela é treinar o indivíduo para a vida eterna, e que tal existência consiste na vida espiritual, a característica espiritual precisa ser o ponto predominante na educação. Quando o espiritual lidera, o intelectual e o físico assumem seus devidos lugares. O homem interior ou espiritual se alimenta apenas da verdade, da verdade absoluta; não de teoria nem de especulação, mas da verdade. "A Tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). Então a Palavra de Deus deve ser a base de toda a educação cristã, e a ciência da salvação deve ser o tema central. O Teste Visto que Deus revela seu caráter de duas maneiras, em Sua Palavra e em Suas obras, a Bíblia deve ser o primeiro livro na educação cristã, e o livro da natureza vem em seguida. Muitos educadores têm visto o valor do livro da natureza, e hoje o estudo da natureza constitui uma grande parte do programa de instrução em todas as séries escolares. Pode-se perguntar: não é isto, então, educação cristã? Nós respondemos: Ela restaura nos homens a imagem de Deus? Se a resposta for sim, ela passa no teste. Mas não se pode dizer que faça isso e, portanto, é insuficiente. Então onde reside a dificuldade no ensino moderno da natureza, ou nas ciências em geral? Leia alguns de nossos livros modernos de ciência. Eles prontamente revelam a resposta. A Astronomia como É Ensinada Nega a Bíblia O livro Astronomia Geral de Young diz: "Seção 908. Origem da hipótese nebular. Agora, esta [a condição presente] é evidentemente um bom arranjo para um sistema planetário; portanto, alguns inferiram que a Divindade o fez assim, perfeito desde o início. Mas para quem considera a maneira pela qual outras obras perfeitas da natureza geralmente chegam à perfeição -- seus processos de crescimento e desenvolvimento --, essa explicação parece improvável. Parece muito mais provável que o sistema planetário tenha se desenvolvido em vez de ter sido criado de uma vez só. [...] A concepção principal de que o sistema solar existiu uma vez como massa nebulosa, e atingiu seu estado atual como resultado de uma série de processos puramente físicos, parece se provar correta e constitui a base de todas as especulações atuais sobre o assunto." "Seção 909. A teoria de La Place. (a) Ele supôs que em algum momento passado, que pode ser tomado como um ponto de partida da história do nosso sistema, [...] a matéria concentrada no Sol e planetas estava na forma de uma nebulosa. (b) Essa nebulosa era uma nuvem de gás intensamente aquecido, talvez, como ele supôs, mais quente do que a temperatura do sol atual. (c) Essa nebulosa, sob a ação de sua própria gravitação, assumiu uma forma aproximadamente globular, com uma rotação em torno de seu eixo ", etc., etc. O aluno deve decidir se vai basear seu estudo dos céus e da terra -- o estudo da astronomia, geografia e geologia, bem como da zoologia e botânica indiretamente -- nessa hipótese, que, dizem, "constitui a base de todas as especulações atuais sobre o assunto"; ou se ele se desviará dessas explicações razoáveis para a existência das coisas e aceitará a clara Palavra da verdade, que diz: "Os céus por Sua palavra se fizeram"; "Pois Ele falou e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir" (Sl 33:6, 9), junto com a explicação dada em Gênesis e em outras partes das Escrituras. A fé e a razão finita se enfrentam; a educação do mundo requer razão, a educação cristã se baseia na fé na Palavra de Deus. Qual irá desenvolver o caráter? Por que o estudo da ciência moderna não leva a Deus? No ensino evolutivo da hipótese nebular você tem uma resposta. A Evolução como ensinada em zoologia Pegando um livro comum de zoologia, lemos: "O primeiro membro da série que conduziu diretamente ao cavalo foi o eohippus, uma forma eocena mais antiga, do tamanho de uma raposa, que tinha quatro dedos bem desenvolvidos, os rudimentos de um quinto em cada antepé e três dedos atrás. Em camadas eocenas posteriores, apareceu um animal de tamanho semelhante, mas com apenas quatro dedos na frente e três atrás. Em camadas mais novas, isto é, no mioceno inferior, são encontrados os restos do mesohippus, que era do tamanho de uma ovelha e tinha três dedos e a fíbula de outro em cada antepé. [...] As formas seguintes eram ainda mais parecidas com cavalos."[4] Em seguida, eles encontram um animal parecido com um burro e, mais tarde, "um verdadeiro equus, tão grande quanto o cavalo existente, aparece logo acima do horizonte, e a série está completa".[5] Se o grupo dos cavalos evoluiu de um animal parecido com a raposa, não é de admirar que os homens atribuam sua própria origem à tribo dos macacos; mas aqueles que desejam o caráter de Deus recebem pela fé a declaração de que "à imagem de Deus o criou". Essas teorias formam a base para a classificação geralmente adotada de todo o mundo vegetal e animal. A educação cristã exige novos livros didáticos, baseados nas verdades da Palavra de Deus. Dana sobre a Origem das Espécies Citamos agora as seguintes frases de Dana, autoridade reconhecida em geologia: "A vida começou, entre as plantas, nas algas e terminou em palmeiras, carvalhos, olmos, na laranja, na rosa, etc. Entre os animais, começou nas lingulas (moluscos que se firmam sobre um caule como uma planta), nos crinoides, vermes e trilobitas e provavelmente mais cedo nos protozoários simples sem sistema, terminando no homem." Para esse desenvolvimento, ele diz: "O tempo é longo." Em um parágrafo sobre "Progresso, sempre o desdobramento gradual de um sistema", se encontram estas palavras: "Havia espécies superiores e inferiores aparecendo ao longo de todas as eras, mas as populações sucessivas ainda eram, em sua distribuição geral, de grau cada vez mais alto; e assim o progresso era sempre ascendente. O tipo ou sistema de vegetação e os quatro grandes tipos ou sistemas de vida animal, os radiários, os moluscos, os articulados e os vertebrados, todos se desenvolveram sob uma multidão de grupos e espécies, com classificação cada vez superior com o passar do tempo [...]. O progresso deles deve ser visto, como atesta a história zoológica, em termos de desenvolvimento, desdobramento e evolução." No estudo dessa evolução da vida animal, ele afirma, "o progresso no sistema de vida é um progresso na cefalização", e ele fornece várias ilustrações, como a passagem do girino à rã; da lagosta ao caranguejo, do verme ao inseto, etc. Esses professores falam sempre da evolução das formas de vida inferiores para as superiores, mas deixam o retrocesso inteiramente fora de suas considerações. Aos que apresentam o registro sagrado em oposição às suas supostas provas geológicas, Dana diz: "O estudioso da Bíblia encontra, no primeiro capítulo do Gênesis, uma afirmação positiva a respeito da criação dos seres vivos. Mas essas declarações costumam ser mal interpretadas, pois eles, na maior parte das vezes, realmente deixam em aberto a questão quanto ao funcionamento das causas naturais, como afirma Agostinho, entre os pais da igreja, e alguns intérpretes bíblicos dos dias atuais [...]. Levando em conta todo o assunto, o seguinte parece representar as conclusões mais prováveis de serem sustentadas por pesquisas futuras: a evolução do sistema de vida avançou por meio do surgimento de espécies, uma derivando a partir de outra, de acordo com métodos naturais, ainda não claramente compreendidos, e com poucas ocasiões para intervenção sobrenatural", etc. Assim, as verdades no grande livro didático de Deus sobre a natureza foram mal interpretadas. Foi um passo na direção certa quando os exercícios mecânicos dos clássicos foram abandonados e os estudos da natureza colocados no lugar; mas a Palavra de Deus deve tomar o seu lugar como o intérprete da natureza e dos fenômenos naturais, ou a teoria da evolução é o resultado natural. Tal não deve fazer parte da educação cristã. Pais protestantes, estão seus filhos aprendendo a ver nas coisas visíveis ao redor deles os emblemas do invisível, até mesmo o poder eterno e a Divindade? Se não, por que vocês não os colocam onde possam ver? Esta é a salvação deles. Princípios Fundamentais Negligenciados A exaltação dos detalhes e a depreciação dos princípios é um erro comum nos sistemas educacionais. Isso é visto em todos os ramos de aprendizagem. Isso é exemplificado não somente na exaltação do mental e do físico acima do espiritual, mas o mesmo método é empregado no trabalho detalhado da sala de aula. Esta é, em essência, a educação papal. A educação cristã requer que os professores invertam a ordem ao longo de todo o programa de instrução. Para ilustrar o pensamento: Existem alguns princípios fundamentais que governam o universo. A verdade expressa na declaração "O amor de Cristo nos constrange" (2Cr 5:14) contém dentro de si toda a explicação da força da gravidade, adesão, coesão, atração molecular, afinidade química, amor humano e a lei do sexo, sendo, portanto, ilustrada na física, química, mineralogia, biologia -- na verdade, em todas as ciências. Além disso, o segundo grande mandamento, "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", consiste na declaração de um princípio implícito a toda a história, governo civil e ciência política e social. Se seguido, resolverá todas as dificuldades internacionais, bem como evitará animosidade pessoal; apagará os males da sociedade, rompendo a barreira entre a pobreza e a riqueza; cartéis nunca existiriam, sindicatos comerciais seriam desnecessários e monopólios desconhecidos, se tão somente a lei de Jeová fosse aprendida. De quão maior valor, então, é o estudo de tais princípios do que todas as teorias que podem ser propostas por homens para arbitragem internacional, ou todas as leis que podem ser aprovadas nas assembleias legislativas sobre a igualdade de direitos humanos e os meios adequados de governar os Estados, Territórios ou possessões adquiridas. Mas esta é a educação cristã, e lições como essa são aprendidas somente quando a verdade é escrita no coração pela pena do Espírito. É assim que uma educação espiritual, o nascimento superior de que falou o Salvador, eleva- se acima da educação do mundo, tanto quanto o céu está acima da terra. Quando esses e outros princípios semelhantes se tornam o pensamento central, todos os fatos que o aluno possa aprender durante a vida servirão apenas para imprimir a verdade com mais firmeza em sua vida. As Deduções a partir de Fatos nem Sempre São Corretas Todos os fatos que o homem pode reunir durante a vida, somados a todos os que são reunidos geração após geração, são apenas ilustrações de alguns princípios. O ensino moderno lida quase inteiramente com fatos; requer que as crianças, desde o momento em que entram na escola até a formatura, juntem os fatos. O processo é o grande tema da matemática; fatos, fatos, fatos constituem o alvo supremo em todo o campo das ciências naturais. A história é apenas o estudo de outros fatos ainda; e quando se fazem generalizações ou classificações, trata-se de teorias formuladas a partir da coleta de fatos. Mas o homem nunca é capaz de coletar todos os fatos; ele nunca está certo de que suas conclusões alcançaram a verdade absoluta. A verdade é que as classificações assim formadas são apenas parcialmente corretas, e a descoberta de mais alguns fatos derruba as teorias complicadas dos melhores cientistas. Isso é um fato constante na astronomia, na botânica, na zoologia e na biologia. Por causa de novas descobertas, o médico de ontem está totalmente errado aos olhos do médico de hoje. Amanhã, a luz brilhante de hoje será substituída por alguma outra luminária. Este é o resultado do raciocínio indutivo baseado na percepção dos sentidos. Esse pensamento é bem expresso por Hinsdale, que diz: "Observamos e registramos fenômenos, classificamos fatos, deduzimos conclusões e leis e construímos sistemas; mas na ciência e na filosofia voltamos ao assunto repetidamente; buscamos verificar nossos fatos e testar nossas conclusões e, quando terminamos, não temos certeza, exceto em uma esfera limitada, de nossos resultados. Algumas das ciências mais conhecidas foram amplamente reorganizadas nos últimos anos. Temos a 'nova química', a 'nova astronomia', a 'nova economia política' e até a 'nova matemática'. Particularmente no campo do comportamento humano, onde a vontade humana é a faculdade governante, muitas vezes não temos certeza de nosso caminho e às vezes estamos totalmente perdidos."[6] Percepção dos Sentidos Com Frequência Incorreta O fundamento mutável sobre o qual repousa tal conhecimento é bem ilustrado pelos testes que o ser humano é capaz de fazer com os órgãos dos sentidos. A água numa temperatura de 37º Celsius é quente para a mão que está acostumada a uma temperatura de 7º, mas fria para a mão que acaba de ser retirada de uma água a 44º. Uma laranja é doce para a pessoa que acabou de comer um ácido mais forte, mas azeda para o paladar acostumado ao açúcar. O olho que foi usado em uma sala mal iluminada é ofuscado pelo brilho do meio-dia e, a julgar pelo tamanho de uma estrela pela visão, não a conceberíamos como um sol. O conhecimento adquirido pelos sentidos é apenas parcialmente verdadeiro -- não é verdade absoluta; e as teorias científicas propostas por mentes que raciocinaram a partir desses dados imprecisos certamente ficam aquém da verdade absoluta. Isso pode ser conhecimento, mas não é sabedoria. A Fé é um Certeza, não uma Teoria A educação cristã aborda a natureza na direção oposta. Com a mente aberta para receber a verdade, ela apreende pela fé a declaração de um princípio universal. A lei espiritual é o que se busca, e a lei física correspondente é comparada a ela. Uma vez encontrada, cada fato aprendido, cada observação feita, nada mais é do que uma demonstração mais clara do funcionamento dessa lei no mundo espiritual. Para tal ensino, a fé é um atributo indispensável. A experiência não é desencorajada, mas fortemente estimulada; a razão não é posta de lado, mas a mente é chamada a raciocinar sobre assuntos mais grandiosos e nobres do que quaisquer deduções que possam resultar da maneira oposta de abordar a verdade. Este é o ideal da educação cristã, o ponto para o qual o professor cristão está conduzindo seus alunos. Em caso de incredulidade, ou no trato com os pagãos, a mente deve primeiro ser abordada por meio das avenidas dos sentidos, até que o Espírito de Deus desperte a visão interna da fé. Isso é apenas preliminar e não deve continuar por muito tempo. As crianças não recebem crédito por terem a fé que realmente possuem e, portanto, são mantidas no método indutivo pelos educadores muito tempo depois de suas mentes e corações serem capazes de compreender a verdade, e quando se poderia constatar que o método dedutivo produziria um desenvolvimento da capacidade mental e espiritual muito mais rápido do que o que agora se vê. O Profess or Cristão Isso implica que um professor precisa ter as qualificações. Lembrando que esta educação é de natureza espiritual, o próprio professor deve estar conectado com a verdade por uma fé inabalável. Quando Nicodemos, o representante do ensino superior nas escolas de Jerusalém, entrevistou Cristo, o novo Mestre que aparecera no meio deles, e cujo ensino foi assistido por um poder desconhecido para os educadores da época, o homem erudito disse: "Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus" (Jo 3:2). "Como pode suceder isto" (v. 9). O Mestre celestial delineou para ele os segredos de Seu sistema educacional, dizendo a Nicodemos que este não se baseava na visão, mas na fé; que o espiritual estava em primeiro lugar e, quando assim feito, o resto viria. Então veio a pergunta: "Como pode suceder isto?" Ao que Cristo respondeu: "Se, tratando de coisas terrenas, não Me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?" "Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?" (v. 12, 10). Em vista desses pensamentos, não é estranho que o estudo das ciências em uma escola cristã seja amplamente diferente do programa oferecido no mesmo departamento de ensino em uma instituição onde o objetivo da educação é totalmente diferente. Fisiologia, a Ciência Central Ao descartar a teoria da evolução, que permeia o ensino de todas as instituições onde a educação não é em sua totalidade baseada na Palavra de Deus, o homem, criado à imagem de Deus, é reconhecido como a mais alta manifestação do poder criativo. A vida de Deus é o primeiro estudo; essa vida, tal como se manifesta no homem, é o próximo, e a fisiologia assume seu lugar como o centro de todo o estudo da ciência. Este é um estudo da vida em todas as suas manifestações, começando com o espiritual e estendendo-se ao mental e físico. Aqui, como em outros lugares, as leis que governam a natureza espiritual também estão representadas nas outras duas naturezas; e uma vez que a verdade central da vida, uma abundância de vida, é compreendida, o estudo da fisiologia torna-se não o estudo das formas mortas, meros fatos, mas um estudo da alma, que inclui o lar do homem interior e todo o maquinário que a alma controla. Assim considerado, do centro (da fisiologia) se estendem os raios, como os raios de uma roda, cada um representando outra ciência, até que dentro desse amplo círculo, representado por esses raios, estejam incluídas todas as ciências físicas, bem como todas as ciências metafísicas. Ver-se-á que este modo de correlacionar as ciências cura de imediato o erro da nossa época -- o sistema de saturação --, fruto da negligência do treinamento manual e do estudo de uma multiplicidade de livros repletos de fatos a serem armazenados na mente do aluno. Correlação de Ciências Ao colocar a fisiologia como o centro do círculo e correlacionar com ela todas as outras ciências, surge outra vantagem, pois esse círculo inclui em si as linguagens e a matemática. Estes últimos são apenas auxílios no estudo de assuntos carregados de conceitos -- a Bíblia e as ciências; e, em vez de serem estudados como assuntos principais, devem ser usados como um meio para um fim. Ler, escrever, soletração, gramática, retórica, literatura e matemática, da aritmética à geometria geral e cálculo, são apenas meios de expressar verdades obtidas no estudo da Palavra revelada e do livro da natureza. A simplicidade do sistema agradará a mente de qualquer educador, pois é um plano há muito procurado. A única coisa que falta entre aqueles que experimentaram esses métodos é o assunto central, a Palavra de Deus. Tendo a verdade como base para a correlação, o problema, no que diz respeito aos métodos, está praticamente resolvido. A grande e urgente necessidade é de professores que possam executar o plano. Nenhuma mente estreita estará à altura da tarefa. Além disso, a partir do momento em que se adota um sistema de verdadeira educação, vê-se a posição exaltada para a qual são chamados os que ensinam. A Base de Todo Esforço Educacional Antes de deixar o assunto de fisiologia, é bom considerar o significado da expressão de que este assunto "deve ser a base de todo esforço educacional". O estudo de fisiologia em livros didáticos obviamente não pode cobrir esse requisito. O fato é que o estudo de livros é apenas uma pequena parte da educação cristã. A verdadeira educação é vida, e quem aprende muito deve viver muito. A comida ingerida, a maneira de se vestir, o estudo, o exercício, os hábitos mentais, os hábitos físicos, o treinamento manual, na verdade, cada fase da vida faz parte do estudo da fisiologia e dos princípios de saúde e higiene, e todos esses assuntos devem receber a devida consideração por parte do educador cristão. Treinamento Manual e Educação O treinamento manual está se tornando popular em muitas de nossas escolas municipais, mas o trabalho oferecido em uma escola cristã será diferente do oferecido por uma escola secular neste ponto: a escola secular está treinando apenas a mão ou os sentidos, e a escola cristã está construindo o caráter, proporcionado um ofício que permite ao aluno ser autossuficiente e independente. Como os objetivos são diferentes, os métodos devem ser distintos, embora a matéria ensinada possa, em muitos casos, ser idêntica. Dieta Saudável e Vestimenta A vida saudável está recebendo atenção em muitas escolas. A escola cristã, embora ensine o mesmo assunto, terá por objeto a preparação para a vida eterna. O assunto, ensinado sem fé, trará apenas aumento da atividade física e mental. A natureza espiritual pode ser alcançada somente pela educação fundamentada na fé. Necessidade de Livros Uma simples investigação superficial do assunto da educação cristã revela a necessidade de livros para orientação dos professores que se comprometem a dirigir o crescimento da criança. Com livros de estudo adequados, baseados nos princípios eternos da verdade revelados nas Escrituras, a obra que agora está dando seu primeiros passos faria um progresso muito mais rápido e substancial. A Escola do Lar Os pais que percebem que recai sobre eles a responsabilidade de criar os filhos para o reino dos céus estão ansiosos por saber quando e onde os princípios da educação cristã podem ser cumpridos. A beleza do sistema não pode ser retratada de modo mais vívido do que no reconhecimento que ele dá ao lar e ao dever dos pais para com os filhos em matéria de educação. Apesar de muito se falar sobre a importância de educar para o Estado, as palavras de Herbert Spencer dão uma ideia clara do lar como centro do verdadeiro sistema. Ele diz: "Como a família vem antes do Estado em termos de tempo; como a educação dos filhos é possível antes que o Estado exista, ou quando ele deixa de existir; considerando que o Estado se torna possível apenas pela educação dos filhos, segue-se que os deveres dos pais exigem mais atenção do que os do cidadão." O plano da educação cristã vai um pouco mais longe e, reconhecendo a família terrena como um tipo da celestial, coloca os pais no lugar de Deus em relação aos filhos pequenos; portanto, o lar deve ser a única escola e "os pais devem ser os únicos mestres de seus filhos até que eles cheguem à idade de oito ou dez anos".[7] Lições para a Escola do Lar "A mãe deve [...] tomar tempo para cultivar, em si mesma e em seus filhos, o amor dos belos botões e flores a desabrochar. [...] A única sala de aula para as crianças de oito a dez anos deve ser ao ar livre, entre as flores a desabrochar e os belos cenários da natureza. Seu único livro de estudo deveria ser os tesouros da natureza."[8] A Escola da Igreja Com esse treinamento, nos primeiros dez anos a criança deve desenvolver um corpo e uma mente fortes. Ela deve então ser capaz de passar os próximos cinco ou seis anos sob a instrução de um professor cristão consagrado em uma escola de ensino fundamental, onde o professor e os pais podem cooperar. A natureza tríplice deve ser desenvolvida de modo que, quando a idade da masculinidade ou da feminilidade for atingida, a força de caráter também tenha sido adquirida. A Escola Industrial O jovem deve, então, continuar sua cultura mental em alguma escola industrial [escola técnica ou profissionalizante], localizada no interior, onde haja libertação dos males da vida da cidade e onde a natureza física em rápido desenvolvimento possa ser corretamente orientada em linhas de deveres práticos que o habilitem para a vida real. Nesse período, a cultura mental e o treinamento espiritual continuam, pois o caráter está sendo formado para a eternidade. Escola de Treinamento para Obreiros Cristãos O rapaz ou a moça de 20 ou 22 anos deve estar preparado para escolher uma obra vitalícia, e o preparo especial necessário pode ser recebido numa escola de preparo, que na educação cristã será para obreiros cristãos. Essa escola será necessária, pois a educação assim delineada, que se estende desde a infância até os 20 anos, certamente desenvolverá o caráter daquele que escolhe o trabalho cristão como ocupação vitalícia. Um breve treinamento em uma instituição superior, que, em essência, é uma escola de profetas, deve completar a natureza já em formação de modo que o jovem saia como embaixador de Cristo, disposto a ser usado em qualquer função pelo Comandante do exército celestial, seja na fazenda, na bancada de carpinteiro ou no púlpito, pois sua alma está unida ao Rei do Céu, como a de Davi à de Jônatas. Esse aluno está preparado para o serviço ativo, seja na Terra ou no reino de nosso Deus, pois ele é um com o Pai e Seu Filho. "Comenius dividiu os primeiros 24 anos de vida em quatro períodos, a cada um dos quais atribuiu uma escola especial, assim: "1. Para os primeiros anos, a escola deve ser o joelho da mãe." "2. Para a infância, a escola deveria ser a escola vernácula." "3. Para a adolescência, a escola seria a escola latina ou ginásio." "4. Para os jovens, a universidade e as viagens." "Deve haver uma mãe em cada casa, uma escola vernácula em cada vila e aldeia, um ginásio em cada cidade e uma universidade em cada reino ou em cada província. [...] A mãe e a escola vernácula abrangem todos os jovens de ambos os sexos. A escola latina oferece uma educação mais completa para aqueles que aspiram mais do que a oficina; enquanto a universidade forma os professores e os homens eruditos do futuro, para que nunca faltem a nossas igrejas, escolas e Estados líderes adequados." No sistema conhecido como educação cristã, a divisão é quase a mesma, os anos de vida estudantil estendendo-se talvez até a idade de 30 anos em vez de 24, com esta divisão: os primeiros dez anos são passados na escola do lar; de dez a 15 anos, a vida escolar deve ocorrer na escola paroquial; dos 15 aos 20, na escola industrial, e dos 20 aos 25 anos, ou mesmo 30, o jovem deve dedicar-se ao estudo e ao trabalho ativo na escola de formação de obreiros. Os Protestantes Devem Educar? Estamos agora no tempo em que os verdadeiros protestantes precisam exigir educação cristã, num tempo em que nenhum sacrifício será considerado grande demais para a realização desse objetivo. A profecia de Zacarias, registrada no capítulo 9, versículos 12 e 13, apresenta as palavras de Deus a respeito da peleja que aconteceria perto do fim dos tempos entre os filhos da Grécia e os filhos de Sião: "Voltai à fortaleza, ó presos de esperança; também, hoje, vos anuncio que tudo vos restituirei em dobro. Porque para Mim curvei Judá como um arco e o enchi de Efraim; suscitarei a teus filhos, ó Sião, contra os teus filhos, ó Grécia!" A Grécia é reconhecida nas Escrituras como um símbolo da sabedoria mundana (cf. 1Co 1), mas por essa sabedoria o mundo não conheceu a Deus; na verdade, por essa sabedoria o mundo foi afastado de Deus. Deus, então, levantará os filhos de Sião, os representantes de Sua sabedoria -- a filosofia divina -- contra os filhos da Grécia, ou os estudantes da sabedoria do mundo; e no conflito final, quando a verdade vencer, será evidente que aqueles que são contados com os vencedores trocaram a sabedoria da Grécia pela sabedoria de Deus. Não é teoria, mas o fato mais solene, que a preparação para uma vida com Deus exige que nós e nossos filhos recebamos uma educação muito diferente da que foi oferecida no passado. Se desejamos a cultura mais elevada, se ansiamos pelo desenvolvimento da alma, nossa educação deve ser de natureza espiritual; devemos deixar as águas turvas e baixas do vale e buscar pelas águas nevadas do Líbano. Esta é a educação cristã. Os protestantes hoje veem seus filhos escorregando do rebanho. Todo incentivo na forma de entretenimentos, forma, cerimônia e oratória é usado para atrair os jovens para a igreja, mas ainda assim o mundo os atrai. Os ministros estão começando a buscar a razão disso, e estão atribuindo-a ao caráter da educação agora ministrada em nossas escolas; ao dizer isso, eles atacam a raiz do problema. O protestantismo está morrendo; a aparência de piedade, que nega o poder dela, está espalhando seu manto escuro sobre a terra. É trabalho inútil chamar a atenção para edifícios majestosos ou teólogos notáveis; se não podemos reconhecer a dificuldade, isso apenas prova que estamos sob a nuvem, e a recuperação é quase impossível. Falamos da difusão do cristianismo; damos de nossos recursos para a conversão dos pagãos, enquanto nossos filhos morrem em nosso próprio lar. O espírito e poder de Elias, que acompanharia a pregação do reino de Cristo, era "converter o coração dos pais aos filhos" (cf. Ml 4:6).. O profeta Joel clama: "Congregai as crianças, e os que mamam; [...]. Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio, para que os gentios o dominem" (Jl 2:16, 17, ACF). Ministros, pais, mães, cuidem do bem-estar de seus filhos, ou a causa do protestantismo estará perdida nos Estados Unidos da América. Assuma o seu primeiro e mais importante dever, e dê a seus filhos uma educação cristã, e em vez de um declínio no número de membros da igreja, como o que agora se vê, haverá um aumento; em vez de formalismo, haverá vida. Este será o meio de trazer os pagãos à sua porta e levá-los ao conhecimento do evangelho. "Levanta os olhos ao redor e olha: todos estes que se ajuntam vêm a ti. Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor, de todos estes te vestirás como de um ornamento e deles te cingirás como noiva. Pois, quanto aos teus lugares desertos e desolados e à tua terra destruída, agora tu, ó Sião, certamente, serás estreita demais para os moradores; [...] Até mesmo os teus filhos, que de ti foram tirados, dirão aos teus ouvidos: Mui estreito é para mim este lugar; dá-me espaço em que eu habite. E dirás contigo mesma: Quem me gerou estes, pois eu estava desfilhada e estéril, [...]? Quem, pois, me criou estes? Fui deixada sozinha; estes, onde estavam? Assim diz o Senhor Deus: Eis que levantarei a mão para as nações e ante os povos arvorarei a minha bandeira; eles trarão os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros. Reis serão os teus aios, e rainhas, as tuas amas; diante de ti se inclinarão com o rosto em terra e lamberão o pó dos teus pés; [...] porque Eu contenderei com os que contendem contigo e salvarei os teus filhos" (Is 49:18-25). Como Ele vai salvar os filhos? -- "Todos os teus filhos serão ensinados do Senhor" (Is 54:13). Quando os gentios virão trazendo seus filhos para suprir os lugares daqueles agora perdidos? Quando os protestantes puderem mostrar aos gentios que eles têm um sistema de educação que está livre dos erros agora tão prevalecentes; quando eles puderem ensinar a verdade aos gentios. "Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o Senhor. Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; a tua posteridade possuirá as nações [gentios]" (Is 54:1-3). Quando serão essas coisas? O mesmo capítulo de Isaías responde. Quando "todos os teus filhos [forem] ensinados do Senhor". Quando os protestantes educarem de acordo com os princípios do verdadeiro protestantismo, então as palavras do mesmo profeta, registradas no capítulo 60, serão cumpridas. "Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz [...]. As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu. [...] Teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são trazidas nos braços" (Is 60:1-4). Cristo veio, cumprindo em cada detalhe as profecias citadas. "Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo" (Jo 17:18), são as palavras de Cristo a Sua igreja. Assim como Cristo foi um mestre, a igreja que faz a obra que a igreja cristã deve fazer terá um sistema de educação, e seus membros serão realmente educadores. A respeito de Cristo como mestre está escrito: "Ele se elevou acima de todos os outros a quem milhões hoje consideram seus maiores mestres. Buda, Confúcio, Maomé, para não falar dos sábios gregos e romanos, não são dignos de serem comparados a Cristo." Diz Paroz: "Jesus Cristo, ao fundar uma nova religião, lançou as bases de uma nova educação no seio da humanidade." Assim escreve o Dr. Schaff: "Em humildade e sem pretensão, na forma de um servo quanto à carne, embora refulgente com a glória divina, o Salvador saiu de um desprezível canto da Terra; destruiu o poder do mal em nossa natureza; realizou em Sua vida imaculada e em Seus sofrimentos o mais elevado ideal de virtude e piedade; ergueu o mundo de sua aflição com Suas mãos traspassadas; reconciliou os homens com Deus e deu uma nova direção a todo o fluxo da história." A educação que Ele ensinou, que foi Sua própria vida mesmo nas cortes do Céu, é a mesma que os protestantes são agora instados a aceitar. "Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações" (Hb 3:15). Onde estão os protestantes fiéis ao nome? Onde estão as escolas que ensinam as coisas de Deus? Onde estão os professores que abandonaram os métodos seculares, como fizeram os reformadores, para se tornarem professores de Cristo? A terra com seus habitantes é para o coração de Deus a parte mais preciosa da criação. Como um filho desgarrado atrai com mais força a simpatia dos pais, o mundo também; por causa da pecaminosidade do pecado, céu e terra se tocaram. O universo vê jorrando do trono raios de luz e amor, apontando para o único ponto em toda a criação onde o pecado é abundante. Eles contam a história da cruz. A perfeita harmonia que forma a "música das esferas",[9] que foi prejudicada quando o homem caiu, novamente invadirá todo o espaço quando o plano da salvação estiver completo e nossa Terra novamente se juntar ao grande coro dos filhos de Deus. Verdade Revelada nos Últimos Dias Por seis mil anos a criação geme, esperando por nossa redenção. A conclusão do plano se aproxima, e para a luta final tudo está assumindo uma intensidade nunca antes vista. Venha para as Águas Vivas Princípios da verdade, por séculos ocultos ou conhecidos apenas em parte, voltarão a brilhar em seu esplendor original. A sabedoria de todos os tempos se manifestará na era final da história do mundo. É verdade que essa sabedoria muitas vezes parecerá apenas "loucura" aos olhos daqueles que se opõem à verdade; mas as coisas espirituais são discernidas espiritualmente, e o Espírito do Deus santo irá mais uma vez pairar sobre toda a Terra, estabelecendo Sua morada nos corações que batem em uníssono com a melodia celestial. A educação cristã liga a Terra ao Céu. Os sábios de coração retornarão ao sistema de educação dado por Deus, escolhendo "o manancial de águas vivas" em vez de cavar "cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas" (Jr 2:13). Notas: 1. History of Education, p. 1. 2. Ellen G. White, Educação, p. 15, 16. 3. Ibid., p. 274. 4. Brief Course de Packard, p. 277, publicado por Henry Holt & Co. de Nova York. 5. Marsh. 6. Jesus as a Teacher, p. 48. 7. Ellen G. White, Fundamentos da Educação Cristã, p. 21. 8. Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 3, p. 137. 9. A música das esferas, também conhecida como harmonia das esferas ou música universal, é um antigo conceito definido pelos gregos que postula a existência de uma harmonia divina e matemática entre o macrocosmo e o microcosmo.